Wednesday, October 31, 2012

POR QUEM NÃO VOTAM OS EUROPEUS

Em princípio, ao começo da próxima quarta feira, a Europa saberá quem os norte-americanos elegeram seu presidente para o quadriénio de 2013 a 2017. A menos de uma semana das eleições, as sondagens prognosticam uma ligeira vantagem de Romney sobre Obama no voto popular, mas porque a composição do colégio eleitoral que, ulteriormente, elegerá o presidente  não é proporcional ao número total de votos angariado pelos delegados de cada um dos candidatos a nível nacional - os votos dos delegados no colégio eleitoral de cada estado representam apenas os votos do candidato vencedor nesse estado - a vantagem final parece ainda pender para Obama. Poderá assim repetir-se a situação observada em 2000 quando Al Gore, candidato dos democratas, que obteve a maioria com mais 500 mil votos a nível nacional perdeu no colégio eleitoral por cinco votos, após uma renhida e confusa recontagem de votos que se prolongou (vd aqui) quase até à data limite do mandato do presidente cessante (Bill Clinton).
 
A eleição de um presidente dos EUA tem sempre repercussões que extravasam largamente os interesses dos que decidem com o seu voto quem deve governar a América. Não é, obviamente, indiferente para o mundo em geral, e para a Europa em particular, que na próxima terça-feira vença Romney ou Obama, sendo também óbvio que não é indiferente para os norte-americanos, e desde logo para o seu presidente, a evolução da situação política, económica e financeira na Europa. Aliás, a avaliação que os norte-americanos fizerem no próximo dia 6 da administração Obama no crítico sector da economia não valorizará um factor que também condicionou em certa medida o comportamento da economia norte-americana durante o seu mandato: a turbulência que assaltou a União Europeia, condicionando gravemente o seu crescimento económico e colocando em risco o sistema financeiro a nível mundial depois da grande erupção de um sistema minado pela ganância dos banqueiros e a gula dos políticos  observada nos EUA ainda durante o mandato de George W Bush.
 
A grande diferença, contudo, entre a capacidade de os norte-americanos, mal ou bem, escolherem quem deve presidir aos destinos do seu país durante quatro anos e a incapacidade dos europeus votarem democraticamente naqueles que decidem os caminhos do seu futuro próximo e, indirectamente, do seu futuro a longo prazo, não pode ser mais evidente. Roomney ou Obama, um deles será presidente eleito em conformidade com a Constituição  aprovada em 1787. A União Europeia é, de facto, governada pelo voto ou pelo veto dos mais fortes, liderados pela Alemanha.
 
Obama ou Romney, qual deles será a melhor opção para os interesses europeus, e sobretudo dos países mais fragilizados? Martin Wolf, prestigiado analista de política económica e financeira no insuspeito de enviesamento à esquerda Financial Times, considera no seu mais recente artigo publicado - Romney would be a backward step - que se Romney ganhar as eleições no próximo dia 6, os EUA regressarão a um tempo e a um modo de governo que se demonstrou desastrado. É certo que Romney inflectiu nas últimas semanas da campanha o seu discurso para o centro com o objectivo de ganhar votos ainda indecisos, mas a sua base de apoio é outra, e dela, Romney, se for presidente não poderá esquivar-se.
 
Mergulhada numa crise em que ninguém vislumbra sequer o começo do fim, para a União Europeia, e sobretudo para os países fragilizados do sul, a eleição de Obama será mais agregadora da unidade na Europa, porque a sua missão é mais solidária do que o radicalismo de liberalismo económico que dominará a acção de Romney como presidente. Entre Wall Street e Main Street só votam pela primeira os mais beneficiados e os mais prejudicados, neste caso, inconscientemente, por ela.
 

ALIÁS

Tuesday, October 30, 2012

DEMAGOGIA & DEMAGOGIA, ILIMITADA

Passava pouco das 10 quando abriu na Assembleia da República a exibição demagógica, que a televisão transmite e amplifica, a propósito da discussão na generalidade do OE para 2013.
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Os discursos são previsíveis, os tiques dos actores conhecidos. PCP e BE repetem-se porque, às voltas dos seus labirintos, não saem deles porque não sabem de saídas. Os dos partidos que têm governado Portugal prometem saídas que não sabem aonde nos conduzem. Entretanto, vão-se mimoseando uns aos outros entre as culpas do passado e a ausência de projectos verosímeis e consensuais, mobilizadores, para o futuro. São horas e horas de demagogia repetida ad nauseam  dirigida aos partidários que, objectivamente, não convergem para os interesses do país mas para a propaganda partidária e o narcisismo individual de cada um dos discursantes.
 
Se o primeiro-ministro pretendesse seriamente congregar a participação dos principais partidos, sem a qual não há mudança decisiva para resgatar Portugal, e recuperar a sua soberania possível no contexto da União Europeia, não escolheria a discussão do OE para o próximo ano sem previamente ter garantido, longe da praça pública, o máximo denominador comum entre os partidos necessários ao suporte imprescindível a essa mudança. A exibição pública das divergências, a sua transmissão televisiva, inevitavelmente e irremediavelmente, afasta quando, considerando as circunstâncias de vulnerabilidade em que o país se encontra, a ultrapassagem das dificuldades ou se faz encontrando compromissos que permitam safar o barco ou ele continuará abalroado e a submergir em cada dia que passa. Se, como defende o Governo, a solução do imbróglio em que nos meteram  não passa, e há muito tempo que anoto que não passa, pelo prolongamento do prazo de ajustamento e pelo aumento da dívida, é elementar que também não passa sem a reestruturação da dívida, significando isto a negociação (honrosa, chamou-lhe Cadilhe) de prazos de amortização de parte da dívida a muito longo prazo e o pagamento de juros suportáveis pelo crescimento económico.
 
Se os líderes dos três partidos que subscreveram o memorando de entendimento com a troica estão de boa fé, a redução da despesa pública que todos preconizam só é possível se, a partir de um acordo do nível global que essa redução deve atingir descortinarem em conjunto as áreas onde consensualmente as parcelas dessa redução global devem ser feitas. Mas, obviamente, esse consenso não é só inantingível em exibições televisivas como essa exibição contribui para ressentimentos que, pelo menos aparentemente, tornam irreversíveis as posições proclamadas publicamente.
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Na sequência do anúncio da intenção do primeiro-ministro refundar o memorando de ajustamento, o líder do PS apressou-se a afirmar que nunca aceitará apoiar qualquer medida que reduza o âmbito do Estado Social e, a partir daí, o tema passou a ocupar o centro das discussões. E todos persistem a considerar despesa pública, no sentido de um serviço prestado pelo Estado, aquilo que realmente não é. As pensões dos reformados da segurança social (privados) são suportadas pelas contribuições daqueles que estão no activo como os primeiros contribuiram para o pagamento das pensões daqueles que se reformaram antes deles. A gestão da redistribuição através do recebimento das contribuições para a segurança social de empregadores e empregados e do pagamento das reformas não determina receita nem despesa pública. Se existe consolidação dessas contas na contabilidade pública a razão encontra-se na apropriação que ao longo de muitos anos foi feita pelos governos dos superavits da segurança social para a redução défice estrutural do Estado. E ou há redução deste através da redução efctiva da despesa pública ou a redução do défice através do continuado e progressivo confisco das pensões é mais um atentado à confiança dos cidadãos no Estado.

QUEIXE-SE À POLÍCIA!

Senhor Zeinal Bava
Presidente da PT - Portugal Telecom
 
Acordam-me às duas da madrugada. Vou atender, e ninguém responde. Não é a primeira vez que isto acontece. Desta vez ocorreu às duas da manhã, já tem acontecido às mais variadas horas do dia.
Leio no visor: 21 04 08 600. Desligo e tento ligar para quem me acordou a horas tardias, e a cena repete-se: ninguém responde.
 
No dia seguinte ligo o 16200 (apoio a clientes PT), exponho a situação, e solicito que me indiquem quem me telefonou. Respondem-me que não podem, porque é um telefone confidencial. Peço-lhe que procedam ao barramento desse número. Respondem que não podem fazer barramento de números individuais. Além do mais porque desconhecem quem seja o operador, pode ser outro que não a PT. Que devo fazer, então? Queixe-se à polícia!
 
À polícia?, perguntei incrédulo.
Sim, à polícia judiciária
 
Ligo para a ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicações, e exponho o absurdo da resposta dada pelo Apoio ao Cliente da PT. Não podemos fazer nada. É um problema entre o cliente e a empresa. Aqui só tratamos de assuntos entre as operadoras. Podemos é informá-lo que o número que refere foi inicialmente atribuído à PT Prime. De resto, não podemos fazer mais nada.
 
Volto a ligar para o 16200 da PT. Informo-os que da ANACOM confirmaram que o número em questão está a atribuido a um cliente da PT e que, portanto, é à PT que compete evitar que anonimamente e repetidamente me incomodem, por vezes mesmo durante a noite. Respondem-me que, mesmo assim, não há alternativa senão queixar-me à Judiciària, ou, talvez expondo o assunto por escrito. A quem? Por escrito?, pergunto eu. À PT pago serviços de telefone, internet e televisão, o enjoativamente badalado MEO e, quando quero que não que me incomodem com telefonemas anónimos, da PT recomendam-me que me queixe à polícia ou me dirija à PT através dos Correios!
 
Ou, em alternativa, sugerem-me ainda, que cancele o número do telefone para onde me incomodam!
 
Senhor Zeinal Bava,
 
Ao pessoal da empresa que o senhor preside e da qual sou cliente, em serviço no apoio ao cliente, entregaram uma cartilha com respostas absurdas que nenhuma razão, por mais serena e límpida, consegue demover. De modo que, correndo o risco de participar numa diligência ridícula, se outra alternativa o senhor não mandar os seus serviços sugerirem-me, terei de participar o assunto à Polícia Judiciária. Como, porém, desconheço quem me incomoda, e, portanto, só o senhor pode mandar barrar-lhe o abuso, pretendo que dê a quem entender instruções adequadas ou terei que, absurdamente, fazer queixa à Judiciária de si.  
 
Atentamente,

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Act.- Afinal havia outra via de envio: através de um formulário indicado no site do MEO que pelo vistos não consta da cartilha distribuida aos que trabalham no Apoio ao Cliente. Descobri-o ao fim da enésima tentativa.
Act.- Informou-me um comentador que o número em causa pertence à Marktest. Já telefonei e prometeram-me retirar o meu telefone da lista. Afinal um segredo de polichinelo que o Apoio ao Cliente da PT também desconhecia.

Monday, October 29, 2012

POR ONDE ANDA A DONA ESPERANÇA?


A senhora ministra da Justiça, encontrando-se num dos paineis das recentes jornadas parlamentares dos partidos que suportam o Governo com os senhores Miguel Relvas, Miguel Macedo e Aguiar-Branco, defendeu, na oportunidade, (vd aqui) que


"se nós não formos referências, dificilmente os portugueses aceitarão sacrifícios. A classe política tem de ser exemplar, se não perdemos legitimidade"... " a classe política tem de se bater por uma forma de fazer política que não é a tradicional" ... "não há melhor forma de dizer aos portugueses do que dizer aquilo que se fez, aquilo que se mudou".
 
Garantiu ainda que (vd aqui
 
 "tem uma linha muito clara de combate ao crime económico e à corrupção e que a aposta do seu ministério continua a ser o fim de uma lógica cultural de impunidade".
 
Há neste ramalhete de boas intenções da senhora ministra muitas das razões com que se enche o inferno português. Por inércia, imbecilidade colectiva ou ancestral admiração pela patifaria, o português, em geral, não afina os seus critérios morais pelo diapasão da justiça que, aliás, sempre andou desafinado. A avaliação dos políticos feita pelos eleitores raramente recorre à bitola da ética. Os escândalos, que numa democracia de cidadãos civicamente conscientes irradiariam os envolvidos do campo da res publica para averiguações em sede própria, aqui são condenados na praça pública e absolvidos logo a seguir pela banalidade da frequência das ocorrências perante a indolência da Justiça que nem condena os culpados nem reabilita a honra dos que são alvo de insinuações ou acusações improcedentes.
 
Os casos acumulam-se, fardados de nomes pitorescos, os processos arrastam-se num cortejo interminável, frequentemente percorrendo um labirinto infinito até se evaporarem no tempo da prescrição. A lista é tão interminável que seria estultício sequer dar um resumo dela porque um só caso chega para mostrar que as palavras da ministra cairão, como sempre, em saco roto e as suas boas intenções irão para o sítio do costume.
 
O BPN, senhora ministra! O BPN custará aos contribuintes portugueses, segundo cálculos publicados, mas não definitivos, qualquer coisa como 4% do PIB. Manifestam-se os portugueses contra o maior escândalo financeiro de sempre e o maior assalto aos seus bolsos, exigindo que a Justiça acorde e sejam conhecidos os beneficiários das imparidades? Aquelas centenas de milhares que desfilam pela avenida reclamando pelos cortes que individualmente  sentem alguma vez se vão juntar exigindo justiça e reparação de um assalto de que são colectivamente vítimas?
 
Não, senhora ministra. A apreciação pública feita aos agentes da Justiça é péssima. Mas podem dormir descansados porque os portugueses não os acordarão.
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Correl.- Governo quer magistrados avaliados em função de objectivos

Sunday, October 28, 2012

A REFUNDAÇÃO DO GOVERNO

PSD e CDS jornadearam conjuntamente este fim-de-semana.
O primeiro-ministro encerrou os trabalhos afirmando que pretende a refundação do acordo com a troica. O que é que ele quer dizer com isso, perguntou (vd aqui) ontem o líder do PS que, estranhando o termo mas supondo perceber a intenção do eufemismo, avisou logo que o PS não está disponível para colaborar no desmantelamento do Estado Social.
 
Descodificando o discurso do primeiro-ministro a partir dos excertos divulgados pelos media pode entender-se que, por refundação do acordo com a troica, o Governo
 
- pretende realizar uma reforma profunda do Estado;
- antes do cumprimento do programa de ajustamento;
- o programa de ajustamento não deve ser prolongado no tempo nem acrescido nos fundos,
- deverá limitar o Estado aquilo que faz bem e deve fazer muito melhor aquilo que não pode deixar de fazer,
- deve comprometer todos aqueles que assinaram o memorando de entendimento.
 
Se o sr. Passos Coelho é homem de boa-fé, como o testemunhou o exigente critério na matéria do sr. Mário Soares, e não lhe falta sentido de Estado,

a sua intenção de realizar uma profunda reforma do Estado, começando por delimitar o seu perímetro, implica o envolvimento dos partidos que possam politicamente sustentar essa reforma; não por terem assinado o memorando de entendimento mas porque sem uma base de apoio político suficientemente alargada não há reforma que se construa com equilíbrio bastante para perdurar, aguentando sem abrir fissuras os embates partidários,

e, terá, incontornavelmente, que negociar com o sr. Seguro a refundação do Estado que, objectivamente, não requer a refundação do acordo com a troica, se pode ser dispensado, como pretende e garante ser possível, o prolongamento do programa de ajuda.

A troica, se o sr. Passos Coelho garantir que não quer nem mais tempo nem mais dinheiro, terá, certamente, todo o gosto em garantir o cumprimento da promessa feita durante as jornadas pelo sr. Miguel Relvas de nos deixar a contas connosco dentro de 20 meses. De modo que só por lapsus linguae se percebe que tenha sido anunciada uma refundação do acordo com a troica quando a ambição legítima e digna de aplausos do sr. primeiro-ministro o que requer é uma refundação do governo.

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Correl. - Marcelo Rebelo de Sousa: Falar em refundação é um erro político monumental porque um novo acordo com a troica deixa o PS à solta.
Deixa? Há muito tempo que deixou.
 

Saturday, October 27, 2012

EM DEFESA DO SENHOR MIGUEL FERNANDO CASSOLA DE MIRANDA RELVAS

Os jornalistas em geral, e os do Público em particular, não gostam do senhor Miguel Relvas,  Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas, de seu nome completo. Hoje mesmo, os jornais levantam novas suspeitas, mais uma vez certamente infundadas, uma vez que a PGR já esclareceu (vd aqui) todos os mal entendidos,  acerca da legalidade da licenciatura que a Universidade Lusófona lhe atribuiu.
 
Garantem  os plumitivos que o senhor Miguel Relvas teve equivalência a quatro cadeiras que não existiam, pretendendo, talvez, com esta notícia, introduzir novos dados entrópicos susceptíveis de reabrir o processo e, por esta via, provocarem a anulação do grau atribuído. O senhor Miguel Relvas, lê-se na notícia, além de ter precisado de fazer apenas 4 das 36 cadeiras da licenciatura na Universidade Lusófona, teve também equivalência a cadeiras que não existiam, insinuando com estas linhas ter havido embuste onde houve um voo científico.
 
Senão, vejamos:
 
O curriculum vitae do cidadão Miguel Relvas suportou o reconhecimento dos conhecimentos científicos em 32 cadeiras das 36 que fazem parte (ou faziam, estas coisas mudam com frequência) do plano do curso em que ele foi considerado licenciado. Das 32, acabamos de saber agora, algumas não constavam (na altura) do referido plano de curso. Poderá o Ministério Público retomar o processo e concluir agora, por esta razão, que há crime onde anteriormente não havia? De modo algum.
 
Portugal, lamentavelmente, não ocupa os primeiros lugares do ranking do desenvolvimento humano e as suas universidades estão longe de pedir meças às mais prestigiadas universidades do mundo. É natural, portanto, que o licenciado Miguel Relvas possa ter apresentado uma folha de serviço cientificamente muito avançada relativamente conteúdos de um curso de uma universidade portuguesa, de mais a mais privada, mas perfeitamente compatível com um mestrado na especialidade em Harvard, por exemplo.
 
Em conclusão: o grau de licenciado atribuído ao senhor Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas não foi uma benesse mas uma  sovinice. Aprendam, senhores jornalistas!
 
 

Friday, October 26, 2012

A CULPA DA COR

Há quatro anos, os norte-americanos supreendiam o mundo ao eleger o candidato democrata Barack Hussein Obama , um afro-americano, filho de um economista queniano e de uma antropóloga norte americana, preterindo o candidato republicano, John McCain, um herói da Segunda Grande Guerra. Um acontecimento só possível nos EUA, foi o comentário mais generalizado na altura.
 
Tanto ou mais surpreendente foi a atribuição do Nobel da Paz um ano depois, geralmente considerado, e reconhecido implicitamente pelo laureado no seu discurso em Oslo, como prematuro.  Quando Obama tomou posse os Estados Unidos debatiam-se numa situação de descalabro financeiro só comparável com a Grande Depressão entre as duas guerras mundiais e o prestígio da nação mais poderosa do mundo  tinha-se sido afundado com o comportamento errático do seu presidente, o republicano George W. Bush.
 
Durante os quase quatro anos na presidência de Obama, os EUA recuperaram em grande medida o prestígio perdido internacionalmente, a economia, não tendo recuperado de modo impressivo apresenta indicadores de vitalidade não superados pelas outras economias ocidentais, nomeadamente a União Europeia, incluindo o Reino Unido, sempre mais seguidor do rumo do outro lado do Atlântico do que do Continente ao lado. A situação financeira, por outro lado, se não pode considerar-se garantidamente consolidada deixou de pesar sobre ela a iminência de uma catástrofe imparável. No campo das relações internacionais, onde o papel de Hillary Clinton tem sido decisivo, os EUA eliminaram Osama Bin Laden desferindo um golpe, espera-se que irrecuperável na Al-Qaeda, reduziu ao mínimo a presença de tropas no Iraque, prometeu uma estratégia idêntica no Afeganistão. No campo social, qualquer que seja a rota futura, a sua marca ficará para sempre impressa na segurança social garantida a 30 milhões de concidadãos seus.
 
Contrariamente a Bush, muitas vezes alvo de chacota da opinião pública, e a Bill Clinton, enlameado em cenas sórdidas, Barack Obama transmitiu ao longo do seu mandato uma atitude de grande seriedade, serenidade e capacidade de decisão. Ainda há pouco mais de um mês as sondagens lhe prognosticavam a reeleição.
 
No próximo dia 6 de Novembro, os norte-americanos irão votar o seu presidente para os próximos quatro anos. Na reta final, o candidato Mitt Romney está, segundo as últimas sondagens, posicionado à frente de Obama e será, se o voto popular confirmar as previsões, o próximo presidente dos EUA.
E porquê? Pelas piores razões. Inesperadamente, os norte-americanos que há quatro a nos surpreenderam o mundo elegendo um negro como presidente, irão negar-lhe um segundo mandato por (vd aqui) culpa da cor.

O racismo, como o escalracho, tem raízes profundas e volta a rebentar sempre que o tempo lhe correde feição.
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Correl.- GDP rises 2 percent showing a slow but durable recovery
Romney, Obama could split popular and electoral college vote polls suggest
Better faster than slower
Obama centra sus esperanzas en su maquinaria de movilización del voto
Romney seeks Virginia coal country edge

GOOD BYE EURO

O Financial Times publica hoje um artigo da directora editorial nos Estados Unidos, Gillian Tett, que não pode deixar de merecer a reflexão de todos quantos se interessam minimamente por descortinar os caminhos por onde, possivelmente, poderá passar o futuro dos europeus e, muito particularmente, daqueles que hoje têm o euro como moeda.
 
Em "A Finnish parallel currency is imaginable ", Gillian Tett descobre e discorre sobre as congeminações em curso na Finlândia de simulação dos cenários exequíveis para uma saída do euro, com reintrodução da markka sem abandono, pelo menos temporário, do euro. Ainda que, pelo menos por enquanto, a saída da Finlândia da zona euro não seja um tema recorrente na discussão política finlandesa e a maioria, por agora, continue a considerar que essa eventual saída poderá nunca vir a concretizar-se, o tema não é tabu e há informações públicas de que há trabalhos de preparação para essa eventualidade.
 
Não há nada de substancialmente novo neste artigo do FT. A hipótese da saída do euro por cima há muito que vem sendo abordada em artigos de opinião, reportando-se em geral há possibilidade da saída da Alemanha que, inevitavelmente, rebocaria no mesmo sentido os países em situação financeira confortável. Sair de uma moeda forte, mas ameaçada, para uma moeda garantidamente forte, não colocará nunca problemas operacionais relevantes. Complicadíssima, é a operacionalidade da  saída de uma moeda forte (o euro) para uma moeda fraca (o drakma, o escudo, a peseta, a lira) ou mesmo a coexistência num mesmo país de uma moeda forte (o euro) e uma moeda fraca (o escudo, por exemplo).
 
Gillian Tett termina o seu escrito recomendando a Draghi que visite a Finlândia, mas a sugestão é metafórica. Draghi não ignora, ninguém minimamente informado ignora, que, à medida que o tempo passa e tarda a implementação das medidas que poderão ajudar a ultrapassar a crise financeira na Europa, o stress social a norte e a sul, por razões opostas, encaminha os europeus para um confronto de consequências incalculáveis.
 
Porque o assunto não é, nem poderá nunca ser escamoteado da opinião pública, a erosão da confiança entre os que, a sul, pagam juros com língua de palmo e aqueles que, a norte, se sentam confortavelmente nos depósitos  e investimentos e cobram juros pelo abrigo, potencia-se com estas notícias. Daí, até à desintegração da zona euro e o consequente desmembramento da União Europeia pode ir um passo que hoje todos dizem não querer dar mas amanhã pode ocorrer de um dia para o outro.
 
Gillian Tett não vai tão longe, mas, como súbdita de sua magestade britânica, sentir-se-á uma observadora distante e imune às consequências destes potenciais confrontos entre continentais. Definitivamente, hoje, a ligação mais substantiva do Reino Unido ao Continente é o túnel sob o Canal da Mancha.
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Correl.- Desemprego ultrapassa os 25% em Espanha.
Juros a dez anos sobem para 8% após quinta avaliação da troica
Vai Portugal conseguir pagar a dívida pública?
32,4 mil-milhões de euros voaram para fora do pais nos primeiros nove meses do ano
Louçã diz que Portugal não devia pagar juros da dívida
Berlim nega que haja hoje uma decisão final sobre a permanência da Grécia no euro

Thursday, October 25, 2012

À ESPERA DE UMA REVOLUÇÃO

O presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP) afirma que, (BPI Expresso Imobiliário, de 20/10)
 
 "Nos últimos 60 dias, em cada dois desempregados, um era do sector da construção e do imobiliário. Se este desemprego continua, não vamos ter taxas de desemprego de 16% no final do ano, mas sim de 20%"  

Provavelmente, o presidente da APEMIP exagera propositadamente nas previsões para reforçar os seus argumentos contra as medidas tomadas pelo Governo, que induziu mais instabilidade nas perspectivas de eventuais compradores com o anúncio do aumento/recuo da TSU, provocando quebras na procura de imóveis de 50% durante aquela semana de indecisão, e desanimou os eventuais compradores ao aumentar de modo avassalador o IMI.
 
São argumentos frouxos e contraditórios os do presidente da APEMIP: primeiro, porque é inacreditável que uma quebra de 50% das vendas de imobiliário numa semana, a ter existido, possa ter algum reflexo significativo nas vendas anuais. Isso acontece com a venda de gelados, por exemplo, se houver ruptura de stocks no verão. Com casas, não; segundo, o anunciado aumento do IMI pode potenciar a queda, em curso, independentemente do aumento do IMI, dos preços do imobiliário. Não será, portanto, em consequência do aumento de preço - que não vai acontecer tão cedo - que os eventuais compradores desistirão de comprar. Se o mercado está estagnado as causas são conhecidsa: stock excessivo de casas à venda, restrição drástica do crédito, expectativas negativas para a economia no futuro proximo e a médio prazo.
 
Mas há no discurso do presidente da APEMIP um dado que não é negligenciável e é mesmo dramático, embora fosse mais que previsível: a embriaguez de cimento que tomou conta da economia portuguesa durante muitos anos provocou a crise em que o sector se encontra e, pior que isso, arrastou com o seu peso desmesurado toda uma economia desde sempre estruturalmente débil .  
 
E agora, que podem fazer 300 mil desempregados do sector, como poderão eles subsistir quando os prazos de atribuição de subsídios se esgotarem? Alguns emigrarão, outros retornarão aos seus países de origem, mas haverá muitos que continuarão à espera da reanimação de uma actividade em coma.
 
Não há nada a fazer? Há. Há muitos prédios degradados, muitos prédios em escombros, muitas ruínas a pedir aproveitamento. A reabilitação tem sido uma promessa recorrente dos políticos mas só muito pontualmente cumprida. Para avançar são precisos fundos? Mais do que isso é preciso imaginação e capacidade que mobilize os recursos disponíveis, à espera de incentivos que podem não custar um cêntimo ao Estado. À espera de uma revolução que derrube obstáculos e promova a eficiência da propriedade expectante ou simplesmente parada.

Wednesday, October 24, 2012

QUEM FALA ASSIM É O SENHOR ULRICH

O banqueiro Ulrich é, contrariamente ao padrão da corporação, uma personalidade extrovertida.Volta e meia, fala e dá que falar.
 
Ontem, durante a apresentação dos resultados do terceiro trimeste do BPI, afirmou que "os consultores financeiros, maioritariamente estrangeiros, contratados pelo Ministério das Finanças e Banco de Portugal, nomeadamente para inspecções às carteiras de crédito, no âmbito do plano de recapitalização, e pagos pela banca privada, já extorquiram 5,3 milhões de euros ao BPI em apenas 12 meses." E acrescentou, visando algum alvo encoberto: "Não percebo porque é que há este entusiasmo com consultores estrangeiros que não têm trazido qualquer valor acrescentado. São extorsões a instituições privadas". Na mesma ocasião, acrescentou ainda, relativamente ao mesmo tema que "Se a exposição à dívida fosse actualizada, o BPI podia de imediato reembolsar a ajuda do Estado"

Percebe-se bem que o banqueiro Ulrich, a quem não falta tarimba em matéria de consultadoria banqueira, se indigne com o emprestador (forçado pela troica), a quem paga um juro exorbitante, lhe sobrecarregue a conta com facturas de consultadoria que, em princípio, deveria ser realizada pelos serviços de inspecção do Banco de Portugal. Indignação à parte, o que salta de insólito nas palavras de Ulrich é aquela frase sibilina onde o banqueiro afirma que "não percebe este entusiasmo (do Ministério das Finanças ou do Banco de Portugal, ou dos dois?) com consultores estrangeiros."
 
Dito por um qualquer cidadão comum, percebe-se que não perceba. Dito por Fernando Ulrich trás água no bico e, aquele entusiasmo, poderá insinuar o contrário do que afirma.  Um dia mais tarde, se for caso disso, se saberá o que é que ele queria alvejar.
 
Fica-me por perceber como é que a actualização da dívida num período tão curto (três anos, se bem me lembro) vale mais do que o pagamento antecipado para escapar aos juros elevadíssimos do contrato.
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Correl.- Privatizações causam mal estar entre BPI e BESI

O APRENDIZ DE FEITICEIRO E A SUA SOMBRA

O sr.* Passos Coelho afirmava há dias que está indisponível para ser queimado em lume brando, reagindo ao silêncio do sr. Paulo Portas sobre a votação favorável do CDS do OE 2013 na Assembleia da República.
 
Há nesta afirmação do sr. Passos Coelho uma ingenuidade imensa ou uma ignorância sem limites. O sr. Passos Coelho não está ser queimado em lume brando porque, por razões que só ele saberá explicar mas nós somos capazes de adivinhar, se bateu para agarrar num testemunho que não estava apenas sobreaquecido porque pegou, supõe-se que conscientemente, num tição a arder. Mas não se limitou a agarrar no tição em chamas a cair das mãos do anterior incendiário. Não: prometeu mundos e fundos para garantir o poder de manobrar o chuço incendiado.
 
O sr. Passos Coelho tinha, à partida, algumas boas razões para combater o fogo em que se quis envolver limitando as consequências a queimaduras de primeiro grau. Tinha garantido uma maioria absoluta na AR, tinha um memorando de entendimento negociado pelo seu antecessor e o compromisso conjunto do seu parceiro de coligação e daquele que tinha suportado o principal fautor do incêndio. Primeiro erro dele: dispensou do combate ao incêndio o principal incendiário.
 
Segundo erro: desviou-se do compromisso assinado pelo trio e das promessas feitas para que lhe fosse entregue o testemunho incandescente. Tendo prometido não aumentar impostos e cortar das gorduras do Estado, tendo assumido ajustar o défice às exigências da troica, contribuindo a redução da despesa com 2/3 do esforço e o aumento das receitas com 1/3, o sr. Passos Coelho fez mais do que o contrário.
 
Terceiro erro: Considerou redução de despesa o corte de salários e pensões aos funcionários públicos e aos reformado da segurança social colocando-os perante o dilema de aceitarem os cortes ou verem os salários e pensões suspensos, sem cuidar da constitucionalidade da medida. Foi contrariado pelo Tribunal Constitucional e obrigado a anunciar uma enorme subida de impostos que, atingindo quem não sente as consequências do efeito imediato de um corte de financiamento externo, alastrou o incêndio.
 
É neste contexto crescentemente ao rubro que uns reclamam a intervenção do sr. Cavaco Silva, outros recomendam que ele não se mexa, ou se se mexer que não se note, e o senhor Seguro, como o incumbente, por ingenuidade ou ignorância sem limites se diz preparado para governar o incêndio mas só após eleições, antecipadas, supõe-se.
 
Tanto o sr. Passos Coelho como o sr. Seguro foram guindados aos lugares que ocupam por minorias partidárias que se auto promovem na base de compromissos sobre vantagens futuras. O sistema democrático encontra-se, deste modo, inquinado à partida por uma prática partidária entregue a poucos indivíduos preparados para governar e a uns poucos milhares de arrivistas. Tendencialmente, ganham os líderes destes, e os portugueses são obrigados a votar num deles. O sr. Francisco Assis, durante as últimas eleições directas do secretário-geral do PS denunciou, não interessa neste caso a razão última, o entorse democrático do sistema. Foi derrotado.
 
Resultado: Quando um dia destes o sr. Passos Coelho estiver politicamente esturricado, o sr. Seguro que promete fazer o que não sabe, conseguirá o que mais deseja na vida - governar, nem que seja por um dia.
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Nota - O designativo - sr.- é incomum em Portugal e, por isso mesmo, distintivo na abundância de doutores-da-mula-ruça. O doutor Alfredo Barroso não é um senhor, por peremptória reivindicação que ia fulminando a senhora Teresa Caeiro.
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Correl. - Depois do CDS afirmar que não concorda com o OE 2013 mas votará favoravelmente a sua aprovação por uma questão de interesse nacional, também o PSD, invoca o mesmo argumento para justificar idêntica posição. O PS, também por uma questão de interesse nacional, votará contra. Obviamente, PCP e BE, aspas, idem aspas. Desencontros, em nome do interesse nacional.

Tuesday, October 23, 2012

UM PLANO BESTIAL

Governo tem um mês para apresentar um plano B à Comissão Europeia de redução da despesa, na eventualidade da receita não atingir os valores previstos. Ou, supõe-se, da despesa prevista em alguns items não domináveis pelo Governo, por exemplo os juros da dívida, ser ultrapassada.
 
Ora é, precisamente, por aqui - pelos juros -, que o ministro das Finanças deveria começar, convertendo uma ameaça numa oportunidade. Os senhores querem um plano B de redução da despesa? Pois bem. Reduzam-nos os senhores as taxas de juro até ao nível onde é verosímil que o principal possa começar a ser amortizado. Se não, e as contas são fáceis de fazer, por mais que se corte na despesa, nem a nossa economia recupera nem os credores recebem o que nos emprestaram.
 
Prevenindo o caso, mais que provável, da Comissão Europeia (um eufemismo para dizer Alemanha) não aceitar, o sr. Passos Coelho deve, desde já, convidar o senhor o sr. Seguro (uma diligência que não tem feito em circunstâncias idênticas e, por isso, convém recordá-lo) a analisarem, conjuntamente com o sr. Portas, o conjunto de medidas de redução da despesa - um plano C - que merecesse o acordo dos três partidos que assinaram o memorando de ajuda externa.
 
É tempo do sr. Passos Coelho reconhecer que, se tem legitimidade para governar, carece do apoio sem reservas dos dois outros membros que assinaram o compromisso com a troica para ser minimamente aceite um programa de austeridade ainda sem esperança à vista. O sr. César das Neves garantia ontem que, em democracia, não é possível cortar na despesa pública em Portugal. Talvez tenha razão.
Mas, que diabo, antes de engendrar esta democracia uma ditadura, convinha tentar desmentir o sr. Neves, não?
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Mesmo assim, tomando em consideração a recomendação do geralmente especialista sr. Marcelo Rebelo de Sousa, catedrático constitucionalista, o sr. Cavaco Silva deveria remeter para o Tribunal Constitucional o OE, não vá dar-se o caso de começarem a saltar por todo o lado sentenças de inconstitucionalidade na sequência de apelos individuais ou colectivos. E esta é mais uma razão pela qual o sr. Passos Coelho não dever ir mais além sem cinto e suspensórios se não quizer deixar cair as calças.
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Monday, October 22, 2012

SEMPRE A SUBIR, SEMPRE A DESCER

Segundo Boletim Estatístico do Banco de Portugal publicado hoje, a dívida pública continua a subir, como, aliás, era esperável e subirá sempre enquanto não houver renegociação que envolva o perdão parcial, ou o prolongamento a perder de vista do termo da sua exigibilidade, de pelo menos metade. De qualquer modo, Portugal não tem, realisticamente, nenhuma possiblidade de inverter esta espiral infernal enquanto não for reduzida a carga do custo da dívida. Tal não significa que os portugueses não tenham de mudar de atitude perante a crise, esperando mais deles próprios e menos do Estado, que a despesa estrutural do Estado não tenha de ser radicalmente reduzida e aumentada a eficiência dos serviços públicos, particularmente em sectores, como o da Justiça, onde é raro o dia em que não se observam indicadores confrangedores da nossa menoridade democrática. Mas é estultice contar-se, desta vez, nestas circunstâncias, com um crescimento económico que possa impulsionar o denominador (PIB) a um ritmo muito superior ao das taxas de juro que, independentemente de outras causas, fazem subir exponencialmente a dívida. Toda a gente sabe que assim é, e também a senhora Merkel, o senhor Draghi, o senhor Selassie, o senhor Gaspar, entre outros sabedores vip.

A persistência numa política cujos objectivos estão, à partida, descredibilizados pela aritmética mais elementar, só pode conduzir a uma constestação social a que nenhum governo em regime democrático poderá resistir. É, evidentemente, confortável para a Alemanha, e em geral para o norte da Europa, receber capitais do sul à procura de segurança, a troco de taxas de juro negativas enquanto os outros pagam a usura resultante da sangria. Mais que imoral é uma afronta. Se existia algum capital de razão da contenção do norte relativamente aos perdulários do sul, aliciados pelos banqueiros de um lado e de outro de braço dado com os políticos, esse capital dissolveu-se numa imoralidade infame. Se o senhor Gaspar não ignora isto, por que é que não reclama da carga e insiste no inviável sem nos explicar porquê?  Porque não há alternativa, diz o senhor Gaspar; há alternativa no crescimento e no emprego, diz, sem saber como, o senhor Seguro. E nenhum deles fala da dívida que cresce imparavelmente: o senhor Gaspar porque está à espera que onda passe, mas a senhor Markel não tem pressa, o senhor Seguro porque mais crescimento e emprego implica mais dívida.

Afirma o senhor João César das Neves que em democracia nunca se conseguirá controlar a despesa e atira-se ao Tribunal Constitucional como gato a bofes. Não quero supor que a afirmação do senhor César das Neves decorre do facto de ele vir a ser chamado a contribuir para a caixa de socorro em 2013 mais do que está a contribuir este ano porque não creio que, sendo bom católico, seja ressabiadamente iníquo. Também não quero supor que o senhor César das Neves precreve uma ditadura para colocar a carruagem descarrilada nos eixos.

De modo que fico sem explicação plausível para opor aos argumentos do senhor César das Neves: porque o certo é que, até agora, nem a despesa estrutural baixou e a democracia, se não houver arrepiar de caminho, poderá vir a estar por um fio.  Em Portugal e arredores.
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Correl.- Nomura: Economia vai cair 2,7% em 2013 e dívida pública atinge máximo de 131% do PIB em 2016

Sunday, October 21, 2012

UMA BORRADA EM TRÊS ACTOS

Primeiro Acto - O ministro da Defesa convida o senhor Francisco Van Zeller para presidir à comissão especial de acompanhamento da reprivatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e o senhor Van Zeller aceita a incumbência. O que é que terá levado o ministro Aguiar-Branco, ou alguém por ele, a lembrar-se do ex-presidente da CIP, um engenheiro de 74 anos, sem credenciais de gestor industrial acima da mediania, para acompanhar (e o que é isso, perguntar-se-á?) uma empresa publicamente conhecida como problemática em todos os sentidos, é um mistério insondável aos olhos do cidadão comum. Que o senhor Van Zeller, um homem a quem não devem faltar recursos para atravessar a crise, tenha aceitado a incumbência, sabendo o que o esperava, é outro intrigante mistério.
 
Segundo Acto - O senhor Van Zeller declara, em entrevista à Antena 1, na terça-feira, 16, que os ENVC têm um passivo gigante mas que havia um passivo pior: a mão-de-obra muito antiga, muito desactualizada e com maus hábitos além de um sindicato comunista muito violento que está enquistado na empresa. (cf aqui). Admitamos, sem grandes reservas, que o senhor Van Zeller disse meia dúzia de duras verdades. Qual era o objectivo do senhor Van Zeller? Prevenir os potenciais interessados de que a fruta que o tinham incumbido de vender estava bichada? Sabotar a reprivatização? Provocar a sua demissão depois de tomar conhecimento daquilo que ele, segundo os seus critérios de avaliação, não podia ignorar quando aceitou o convite? Outro mistério.
 
Terceiro Acto - A Comissão de Trabalhadores ( i. e., o sindicato comunista muito violento enquistado na empresa) pede a demissão do senhor Van Zeller, e este pede a demissão. O ministro aceita e procura agora outro actor. Que, das duas uma, ou demonstra que o aviso do senhor Van Zeller foi uma calúnia contra os trabalhadores que, por não passar duma calúnia, não prejudicou o valor de reprivatização nem o futuro da empresa, ou não, e subscreve, implicitamente, as declarações de Van Zeller. Aposto que, na primeira hipótese o ministro convidou o senhor Carvalho da Silva e, na segunda, o senhor Ferraz da Costa.
 
A factura, que já era pesada, continuará a engordar, e continuará a pagamento pelos senhores contribuintes, sem defesa contra a inimputabilidade do senhor Van Zeller e do senhor ministro da dita.

Saturday, October 20, 2012

PRATO DO DIA

Hoje temos um cabritinho assado no forno, acompanhado de batatas, também assadas no forno, e grelos cozidos ou salteados. Com uma sopa de pedra e sobremesa são 12,5 euros, IVA incluido. Se não quiser comer a sopa agora, não tem problema, pode levá-la para casa, temos embalagens próprias, como pode ver, e aguenta sem se estragar uns 15 dias.  
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Obrigado. Ainda bem que gostaram. Sim, agora vem menos gente. Antes, aos sábados, sobretudo no verão, não tínhamos mãos a medir. O ano passado, o verão já foi fracote mas este ano foi um desastre. Nós costumávamos fazer uma média razoável com o aumento das receitas no verão. Apareciam muitos emigrantes, das camadas mais velhas, as mais novas, ou não têm dinheiro ou não gostam de comer bem, ocupavam mesas com quinze e mesmo vinte pessoas. Esta época nem esses apareceram. Culpa do aumento do IVA? Bom, o senhor compreende, o que afasta as pessoas dos restaurantes é a falta de massas ou o receio dessa falta, amanhã. Eu não aumento os preços há cinco anos e também não os aumentei com este aumento brutal do IVA. Até os os estamos a baixar, como o senhor, e bem, constatou. Aliás o aumento IVA foi muito maior do que parece: aumentar de 13% para 23%, o senhor faça as contas e facilmente verificará que foi de mais de 70%! Claro que se os restaurantes não aumentam os preços, mas até os baixam para segurar a clientela, as margens reduzem-se e, em muitos casos, passam a ser negativas. Não vão aguentar, e vão fechar. Em todo o caso muitos fechariam mesmo sem o aumento do IVA porque as pessoas têm menos dinheiro para gastar, os que têm algum. Com o aumento do IVA, fecham mais e mais cedo. Ou então entram para o negro. Os mais pequenos que servem, quanto muito, meia dúzia de refeições por dia, passam para o negro. Não têm dimensão pois não, mas sabe como é, as pessoas têm que viver.
 
Vão para o negro mas eles andam em cima de nós: há dias, entraram-me pela porta dentro o das finanças, o da ASAE, o fiscal do ministério do trabalho e um da guarda republicana. O da ASAE embicou com o sistema de refrigeração, tenho de fazer umas correcções, o GNR multou-me por falta de substituição dos selos de umas garrafas de bebidas brancas que aí estão desde o tempo do meu sogro, há mais de trinta anos! Multa de 150 a 3000 euros! É demais, não acha?
 

Friday, October 19, 2012

UM VÍTOR, DOIS VÍTORES, TRÊS VÍTORES

Vitor (primeiro) Constâncio.
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Depois de ter desempenhado outros cargos, entre os quais, ministro das Finanças e do Plano em 1978 e governador do Banco de Portugal em 1985/86 e entre 2000 e 2009 - é hoje vice-presidente do BCE, responsável pela supervisão bancária (!), com um mandato para oito anos, depois de ter assistido, impávido e sereno, à importação de endividamento externo, público e privado, feita pelos banqueiros, que lhe competia supervisionar, que afogaram os portugueses em dívidas até aos gorgomilos. Nem sequer deu pela construção do maior escândalo financeiro de todos os tempos em Portugal, que custará aos contribuintes portugueses largos milhares de milhões de euros (ainda hoje não se sabe quantos) nem pela exuberância da formação de outro buraco, que se chamou BPP, que os contribuintes têm de tapar com mais umas largas centenas de milhões. Voou para Frankfurt há dois anos. Os processos dos casos que arruinaram Portugal, ou morreram nas cascas da irresponsabilidade geral ou estão entregues ao adormecimento conivente da justiça.
 
Em Fevereiro de 2006, Olivier Blanchard, actualmente economista-chefe do FMI, apresentou durante a 3ª. conferência do Banco de Portugal uma comunicação - Adjustment within the euro. The difficult case of Portugal - antecipadamente discutido com Vítor Constâncio, além de outros. Termina o autor afirmando: "(A proposta de) uma redução nominal dos salários parece estranha mas tem, essencialmente, os mesmos efeitos de uma desvalorização bem sucedida". Era primeiro-ministro José Sócrates. Ninguém mais quis falar do que tinha dito Blanchard (aliás em consonância com os avisos prévios constantes nos documentos constituivos da criação do euro, seis anos antes) até acontecer o inevitável.
 
Vítor (segundo) Bento
 
 
Actualmente, presidente da SIBS, entre outros cargos, foi presidente do Conselho Directivo do Instituto de Gestão do Crédito Público. Em 2009  publicou "Perceber a crise para encontrar o caminho", onde, de forma clara, mostrou as raízes da crise que se revelava já arrasadora. No blog da Sedes escreveu um apontamento resumo - Eppur si muove - das linhas mestras do que publicou em livro e o título era um remoque a todos quantos discordavam das suas conclusões. Contestado sobretudo à esquerda, que persiste numa política sustentada em mais endividamento, que não sabe onde o procurar, ou na saída do euro, acertou no diagnóstico previsto para o desenrolar de uma situação não enfrentada de modo radical como sugerira Blanchard três anos antes: a alternativa inevitável a uma redução pontual e geral dos salários é a redução menos rápida  que atingirá mais profunda e imediatamente os mais desprotegidos.
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Vítor (terceiro) Gaspar
 
 
Chefiava o gabinete de Consultores Políticos da Comissão Europeia quando foi nomeado ministro das Finanças. Conhece, portanto, muito bem os meandros da UE, do BCE e do FMI, razão pela qual muitos reconhecem ser ele o homem certo para negociar com os credores as condições da situação de sujeição a que nos submeteram aqueles que endividaram o país, sobretudo no tempo de Vítor primeiro, e depois ignoraram os avisos de Vítor segundo.
 
Desafiado a consertar uma situação que apresenta fracturas múltiplas, e da reparação da qual dispensaram o partido mais responsável, Gaspar, mesmo que lhe aprovem o OE, não é adquirido que, mesmo sacrificando tudo o resto (desemprego, recessão) consiga reduzir o défice em 2013 para o objectivo prometido à troica. A tentativa de solução simultânea do aumento da competitividade (reduzindo a TSU das empresas) e da redução (insuficiente) do défice (aumentando a TSU dos trabalhadores), habilmente construída era politicamente idiota, e abalou-lhe o prestígio tecnocrático.
 
O banqueiro Ulrich afirmava há dias que "algumas medidas do OE são para ganhar tempo" , e talvez seja o caso. Porque, ou há, a curto prazo, alterações das regras do jogo que permitam uma redução substancial dos custos da dívida, que pode resultar em grande medida da centralização da supervisão bancária e da garantia dos depósitos, ou é impossível vencê-lo. Já não é, de modo algum, exequível, aumentar a competitividade da economia, reduzindo os salários, e reduzir o défice e a dívida, aumentando a carga fiscal. A alternativa, há sempre pelo menos uma alternativa, que nem o banqueiro Ulrich nem os seus pares querem ouvir falar, estará então na renegociação (honrada, para citar Cadilhe) da dívida. A outra, é a bancarrota do sul a incendiar o sistema  todo.
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* Hollande reconhece benefícios dos paises ricos com taxas de juro elevadas dos outros
Hollande reconhece uma evidência.
Allgarve in PoorTugal
Líderes europeus acordam arranque da supervisão bancária comum em 2013.
E a garantia comum dos depósitos?


 

TUDO EM FAMÍLIA


Thursday, October 18, 2012

É DIFÍCIL ENCONTRAR UM BOM ADVOGADO

Há dias, no programa "Olhos nos olhos", Judite de Sousa perguntava a Medina Carreira, ex-ministro das Finanças, como deveria proceder o Governo para reduzir as rendas notoriamente elevadas nas parcerias público privadas (PPP). Respondeu-lhe o fiscalista que tudo o que o Governo precisava era de um bom advogado. Um bom advogado convocaria os parceiros privados do Estado e convidá-los-ia a apresentarem propostas de redução das actuais rendas para limites normais. E, das duas, uma: ou eles apresentavam contrapropostas aceitáveis pelos representantes do Estado ou o teriam de reclamar o cumprimento dos actuais contratos nos tribunais. Judite de Sousa ouviu, sorriu e passou à questão seguinte.
 
Hoje, Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças, durante uma conferência na Fundação Serralves, defendeu a negociação honrada da dívida pública (a que exceda o limite de 60% do PIB), considerando as taxas de juro inicialmente exigidas pela troica como usura ... esta renegociação honrada é distinta de um incumprimento em bancarrota. ´´É ir junto do credor e dizer que estamos com dificuldades em cumprir e que vamos pagar o capital dentro de novos prazos, num alongamento muito extenso, uma quase perpetuidade". "Ter dívidas não é um erro nem uma dresonra. Erro é ter dívidas em excesso, desonra é não pagar".
 
Miguel Cadilhe, ouvi na rádio, terá ainda acrescentado, além do mais, que considera o ministro Vítor Gaspar a pessoa melhor posicionada, nestas circunstâncias, para defender esta renegociação junto dos credores, e que as diligências nesse sentido terão de, forçosamente, decorrer em privado, longe do alcance dos media e da praça pública.
 
Se o ministro Vítor Gaspar aceita a sugestão de Cadilhe e vai proceder em conformidade, não sabemos. O que sabemos é que a sugestão de Cadilhe (várias vezes, e desde há muito tempo, que venho anotando algo de semelhante neste caderno de apontamentos) é a condição necessária, mas não suficiente, para honrarmos os compromissos assumidos e nos mantermos na zona euro e na União Europeia. As contas são fáceis de fazer e hoje mesmo coloquei aqui um manual de instruções para quem tiver dúvidas.

Precisamos de um bom advogado.
Talvez, não o que Medina Carreira sugere. Talvez, Vítor Gaspar.
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Correl.-
- Juntando todas estas contas, e admito que tudo isto é bastante grosseiro, ficamos com um défice de (10.000-5.000+2.275)/(166.500-6.500)*100. Quanto é que dá? Como certamente já adivinharam, isto tudo acaba num défice de 4,5%. E esta?

Mas isso representa uma queda de 3,9% do PIB!
Vai daí e descobrimos que a Gaspar apenas interessa o défice orçamental e não o PIB!
...
A evidencia recente (2009 e 2012) sugere também que para quedas do PIB mais acentuadas a proporção de perda de receita cresce exponencialmente.
Assim:
Uma queda de PIB de 1% pode gerar uma queda de receita 0,4% ou 0,5%;
Mas uma queda de mais 1& já pode gerar uma queda adicional de 0,6 ou 0,7%
Mais um ponto percentual e poderemos acabar muito perto de o efeito de medidas de consolidação que em primeiro impacto reduziriam o défice em 1% do PIB, com o multiplicador em cima e a redução de receita crescente poderem em nada contribuir para a consolidação.
Esse é o drama da ideia da aceleração da consolidação.
Em terreno lamacento acelerar mais só põem o carro a patinar, e a afundar-se, é um esforço que não o faz andar mais depressa. 


(aqui)

POR 26 MILHÕES DE EUROS

Novo recorde para uma obra de um artista vivo
 

AS CONTAS DA LOUCURA

Texto e gráfico original aqui onde podem ser visualizadas as projecções para Portugal

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The maths behind the madness
Our interactive guide to government-debt dynamics
 
 
ALL EYES are on Spain ahead of the European Council's two-day meeting in Brussels beginning on October 18th. In just three short years, the country's horrendous housing bust and subsequent recession have caused government debt to increase from a sustainable 40% of GDP in 2008 to 70% of GDP in 2011. Despite brutal government spending cuts, by the end of this year the IMF forecasts government debt will reach 90% of GDP. The question of whether Spain will seek a bail-out preoccupies markets and policymakers alike.
Our interactive graphic above shows the IMF's latest forecasts (updated in October 2012) for government gross debt as a percentage of GDP through to 2017. It also allows you to input your own long-term assumptions to project the likely path of debt to 2020.
There are two things that matter in government-debt dynamics: the difference between real interest rates and GDP growth (r-g), and the primary budget balance as a % of GDP (ie, before interest payments). In any given period the debt stock grows by the existing debt stock (d) multiplied by r-g, less the primary budget balance (p).
The simple r-g assumption is one of the most important in debt dynamics: an r-g of greater than zero (when interest rates are greater than GDP growth) means that the debt stock increases over time. An r-g of less than zero causes it to fall.
Our interactive model uses the nominal interest rate (i) approximately equivalent to the ten-year bond yield and allows you to input your own inflation rate, π. Inflation helps reduce the total debt stock over time, by reducing the real value of debt. In our model and using approximations, r-g becomes i - π - g. The greater the inflation rate, the lower r-g becomes.
The second consideration is the primary budget balance. A primary budget surplus causes the debt stock to fall, by allowing the government to pay off some of the existing debt. A primary deficit needs to be financed by further borrowing. As European peripheral countries have found out to their cost, interest rates increase when governments run large budget deficits, and as they do it becomes increasingly difficult to reduce r-g to a sustainable level.
In reality, these variables are all related. When inflation rises, for instance, bondholders will expect a higher nominal interest rate on new debt. If a country runs a larger primary surplus, the interest rate it is forced to pay may fall. Adjustments in countries' deficits will also affect their growth rates. To keep matters simple, we have ignored these interactions. Our calculator shows the evolution of a government's debt stock based directly on the values for inflation, growth, interest rates and the primary deficit that you determine.
Spain has lots of work to do. Keeping all things equal, the country would need to grow by 7.7% a year, or nominal bond yields to fall to a Teutonic 0.5% to stabilise government gross debt at its 2011 level of 70% of GDP. Fat chance: the IMF forecasts GDP growth to average just 0.5% a year and bond yields of 7.7% between 2012 and 2017. A bail-out for Spain it seems, is not a case of if, but when.

Wednesday, October 17, 2012

MIGUEL DE VASCONCELOS

A coligação, meus amigos, está (se ainda estiver, a estas horas) por um fio.
Não é que eu tenha acesso a fontes geralmente bem informadas ou esteja bem relacionado com fontes anónimas. Não. Limito-me a olhar para que lado sopram as opiniões de quem tem o dom de antecipar o sítio certo onde se colocar mal pressente a mudança de ventos. Tal é o caso, entre vários outros, por exemplo, do ilustre causídico senhor José Miguel Júdice. Afirmava ele ontem (vd aqui):

"Gosto de chamar ao professor Gaspar 'Miguel Vasconcelos' [...] Vasconcelos era o homem que quem mandava em nós acreditava que devia estar a governar", afirma relacionando com o ministro das Finanças. "Não acho que [Gaspar] seja perverso, acho que faz o que tem de fazer e merece todos os elogios num país onde ninguém faz o que tem de fazer".

São sibilinas as palavras deste Miguel quando evoca o outro. Miguel de Vasconcelos, era o homem que quem mandava em nós (Filipe IV de Espanha) acreditava que devia estar a governar. Tinha 50 anos de idade quando foi atirado pela janela do Paço Real para o Terreiro do Paço. Segundo Júdice, Vítor Gaspar, de 51 anos de idade, estará simplesmente a fazer o que tem de fazer, isto é, obedecer às ordens de quem, efectivamente, (Fräulein Merkel) hoje manda em nós.

Júdice é sibilino, se não é apenas irónico, quando dá a Gaspar o merecimento de todos os elogios num país onde ninguém (excluindo Júdice, supõe-se) faz o que tem de fazer.

Todos ao Terreiro do Paço! O senhor  José Miguel Júdice já vai a caminho.



 

Tuesday, October 16, 2012

SÃO OS JUROS, ESTÚPIDOS!

Vítor Gaspar considerou-se ontem excepcional e longamente preparado para as funções em que foi empossado, respondendo a um jornalista que lhe perguntou se ele se considerava ser remodelável. Dito de outro modo, o ministro das Finanças considera que se for substituido não será por razões de falta de competência sua para o desempenho do cargo. E, no entanto, a contestação à política financeira que defende, e que está plasmada na proposta de OE para 2013 apresentada ontem na AR, não poderia ter um âmbito político mais alargado. De tal modo que se o OE for aprovado e a lei for promulgada pelo PR, o OE 2013 será um instrumento provisório até à queda precoce deste governo porque não existem condições fundamentais internas nem externas para que qualquer dos grandes objectivos (redução do défice, equilíbrio da balança comercial, inflexão da tendência recessiva, inflexão da tendência do aumento do desemprego) seja cumprido. Até o sucesso aparente no reequilíbrio comercial está ameaçado por uma conjuntura externa desfavorável, e, sobretudo muito criticamente para nós, a do nosso maior parceiro e vizinho.
 
A economia portuguesa (pois é aí que residem os problemas mais decisivos e ainda que, aparentemente, menos urgentes) sustentou-se na linha de água durante muitos anos agarrada ao endividamento externo que a banca, de braço dado com os governos, importou, sem olhar a riscos, para a construção civil, obras públicas e sectores protegidos. Era por demais óbvio, mas quem estava sugando não largava a teta, que uma economia não poderia perduravelmente sustentar-se a crédito. À voracidade da banca e dos monopólios de facto aliou-se a demagogia dos governos, que se sustentavam da obra (de cimento) feita, e dos donos dos sindicatos que berravam contra os empresários só quando viam estes levantar a tenda e abalar para sítios onde havia mão de obra barata.
Que o país não podia crescer adoptando um modelo económico sustentado numa política (sem progenitor conhecido) de baixos salários, todos concordavam, e o desemprego crescia.  Quando a construção civil e obras públicas pararam porque o crédito deixou de escorrer, o desemprego disparou. O ciclo da economia de fantasia tinha acabado e os credores decidiram que, a partir daí, mais crédito só com seguro de risco, de prémio elevado. Havia que reduzir o défice para conter a dívida externa, reduzindo a procura e o investimento, e o desemprego subiu mais ainda. Como prémio de consoloção a balança comercial, cronicamente negativa, observava, pela primeira vez há muitos anos, uma clara inversão de tendência.

Mas será essa inflexão suficiente para impulsionar o crescimento, abater dívida e défice, aumentar o emprego? Não creio. A estrutura das exportações portuguesas, apesar da evolução incontestavelmente positiva, para além do contexto internacional desfavorável, não é garantidamente consistente. Suportada em grande medida pela exportação de refinados de petróleo e de forma significativa por reexportaçoes (de fármacos, por exemplo) e actividades deslocalizáveis (Auto Europa, por exemplo), a balança comercial pode, de um momento para o outro, desequilibrar-se mesmo que o garrote fiscal subsista e as importações se contraiam para além da contracção consequente à queda de algumas exportações correlacionadas.

Este país não é, por enquanto, a Grécia, com a qual não queremos que nos confundam, mas também não é a Irlanda, com a qual queremos equiparar-nos. A diferença toda está na estrura económica que nos aproxima a passos largos muito mais dos gregos e nos distancia cada vez mais dos irlandeses. Essa diferença impossibilita-nos de dar o golpe de rins que poderia evitar a reestruração da dívida e a redução dos juros.
Assim, é impossível.

Vítor Gaspar, excepcionalmente capaz para o lugar que ocupa não entende assim ou faz-se desentendido? Em nome de quê? Ou à espera de quê?
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Correl.- Se é assim em 2013 como será 2014? (Bagão Félix)
Metas do défice absolutamente inviáveis (Ferreira Leite)
Estou a retribuir ao país a educação cara que tive (Vítor Gaspar)
Não há margem de manobra para inverter o rumo (Vítor Gaspar)
Ministro desafia deputados a proporem cortes na despesa do Estado
Um ano é pouco para Portugal resolver so seus problemas (F. Ulrich)
Gaspar vai aferir posição oficial do FMI sobre efeitos da austeridade
Previsões do Governo são uma coisa imaginária (Silva Lopes)
Se não fizermos o que é necessário vamos sair do euro mais cedo ou mais tarde (Vítor Bento)
É triste dizê-lo mas Portugal exporta muito pouco (Francisco Van Zeller)
Portugal foi o terceiro país da OCDE que mais empregos destruiu
Gaspar e Cavaco em desacordo sobre FMI
Gostava que este Governo deixasse de estar à direita do FMI e começasse a bater o pé por nós (José Eduardo Martins)
Há espaço para mais corts na despesa (Miguel Relvas)
... não há alternativa - pelo menos para mim, que não consigo vislumbrar futuro fora da zona euro e da União Europeia (Fernando Alexandre)
Algumas medidas do OE são para ganhar tempo  (F Ulrich)
O grande problema está nos bancos (Pedro Lains)
Gosto de chamar ao professor Gaspar "Miguel Vasconcelos" (José Miguel Júdice)
OE é significativamente mau (Tomás Correia)
O OE não é o melhor estímulo para a economia (A Santos Pereira)
Ao segundo dia CDS continua em silêncio (Expresso)
Orçamento é proposta de emêrgencia que vai por coligação e PS à prova (Braga de Macedo)
Presidente da Grécia diz a Merkel que imponha austeridade a outro povo mas não aos gregos
Carga fiscal pode gerar uma septicémia na economia (Bagão Félix)
Não estou disposto a ser cozido em lume brando (Passos Coelho)
Novos cálculos do FMI apontam para queda até 5,3% em 2013 (J Negócios)
Católica prevê uma recessão de 2% (J Negócios)
OE não teve o apoio dos ministros e dos secretários de estado do CDS (vice-presidente do CDS)
Europa tem de perceber que sem crescimento não resolveremos o problema da dívida (A Santos Pereira)
Gaspar pôs o lugar à disposição e Passos responsabiliza Portas por um eventual segundo resgate ( J Negócios)
É uma sorte para Portugal ter Vítor Gaspar como ministro (António Borges)
Portugal está a pagar caro os erros cometidas por outros (François Hollande)
Postos de trabalho na Autoeuropa não estão garantidos (Melo Pires, vice-presidente da Autoeuropa)
CDS vota a favor do orçamento mas quer melhorar a proposta (Paulo Portas)
Previsão do PIB já incorpora o maior impacto da austeridade (Abebe Selassie / FMI)
Espero que o Governo esteja em plenitude de funções depois do OE (Miguel Cadilhe)
Redução do Estado ajuda a cortar 4 mil milhões de euros até final 2014 (J Negócios)
Sacrifícios actuais são peanuts comparados com a saída do euro  (Mira Amaral)
Queda do PIB será muito superior ao previsto (Citigroup)
A troica não vê margem para cortes na despesa ( J Negócios)
É uma verdade de La Palisse que austeridade tem custos no crescimento e no emprego (Passos Coelho)
Há tensões na coligação mas Portugal não deve ter uma crise política (Paulo Portas)
Hollande reconhece vantagens dos países ricos com taxas de juro elevadas dos outros (Público)
O Governo não tem estratégia orçamental (Paulo Trigo Pereira)