A União Europeia enfrenta hoje o período mais difícil da sua história. Nunca o seu futuro esteve tão ameaçado, nunca a probabilidade dos europeus voltarem a engendrar um novo conflito bélico global foi tão elevado depois da segunda guerra mundial. A continuação da situação de desagregação social observada em alguns do seus membros é insustentável a prazo. A carga usurária que impende sobre os países mais fragilizados num contexto de contracção económica potencia o crescimento exponencial da dívida. A coexistência na mesma união de membros que pagam juros insuportáveis porque a outros chegam fundos daqueles oferecidos a taxas até negativas, não augura a perdurabilidade da paz entre uns e outros.
É neste ambiente de desconfiança mútua que ameça abalar de novo o continente europeu que o Nobel da Paz foi hoje atribuído à União Europeia.
O Nobel da Paz é o único dos prémios atribuídos pela Fundação Nobel que é entregue em Oslo, na Noruega. Os outros são entregues em Estocolmo. Não sendo a Noruega membro da União Europeia nem se perfilando a sua adesão, é no mínimo irónico que o Nobel da Paz seja este ano, de mais a mais por demais atribulado na vida da União, atribuído a uma instituição à qual a grande maioria dos noruegueses não reconhece interesse em participar.
Acresce ainda o facto, de algum modo insólito neste caso, de o laureado pelo Nobel da Paz ser o único dos Nobel escolhido pelo Comité Nobel norueguês, cujos membros são nomeados pelo Parlamento norueguês. É difícil não meditar, nestas circunstâncias, na densidade de hipocrisia que vai pairar no ar no acto de entrega do galardão.
E entrega, a quem? é a dúvida que imediatamente se coloca.
Esperemos que a guerra não comece por aí.
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Act.- Ouço num noticiário televisivo que o parlamento norueguês já contestou a escolha do Comité Nobel
Act.- Ouço num noticiário televisivo que o parlamento norueguês já contestou a escolha do Comité Nobel
1 comment:
Caro Rui,
Não entendi bem: os membros do Comité Nobel norueguês «são nomeados pelo Parlamento Norueguês» e «o Parlamento Norueguês já contestou a escolha do Comité Nobel».Então o P.N. contestou-se a si mesmo?
Quanto à atribuição à UE: para mim é o mesmo que o professor dar as melhores notas aos alunos mais ricos. Em que é que a UE contribuiu para a paz?...Nem sequer é essa a sua missão (se é que tem alguma e a cumpre).
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