Primeiro Acto - O ministro da Defesa convida o senhor Francisco Van Zeller para presidir à comissão especial de acompanhamento da reprivatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e o senhor Van Zeller aceita a incumbência. O que é que terá levado o ministro Aguiar-Branco, ou alguém por ele, a lembrar-se do ex-presidente da CIP, um engenheiro de 74 anos, sem credenciais de gestor industrial acima da mediania, para acompanhar (e o que é isso, perguntar-se-á?) uma empresa publicamente conhecida como problemática em todos os sentidos, é um mistério insondável aos olhos do cidadão comum. Que o senhor Van Zeller, um homem a quem não devem faltar recursos para atravessar a crise, tenha aceitado a incumbência, sabendo o que o esperava, é outro intrigante mistério.
Segundo Acto - O senhor Van Zeller declara, em entrevista à Antena 1, na terça-feira, 16, que os ENVC têm um passivo gigante mas que havia um passivo pior: a mão-de-obra muito antiga, muito desactualizada e com maus hábitos além de um sindicato comunista muito violento que está enquistado na empresa. (cf aqui). Admitamos, sem grandes reservas, que o senhor Van Zeller disse meia dúzia de duras verdades. Qual era o objectivo do senhor Van Zeller? Prevenir os potenciais interessados de que a fruta que o tinham incumbido de vender estava bichada? Sabotar a reprivatização? Provocar a sua demissão depois de tomar conhecimento daquilo que ele, segundo os seus critérios de avaliação, não podia ignorar quando aceitou o convite? Outro mistério.
Terceiro Acto - A Comissão de Trabalhadores ( i. e., o sindicato comunista muito violento enquistado na empresa) pede a demissão do senhor Van Zeller, e este pede a demissão. O ministro aceita e procura agora outro actor. Que, das duas uma, ou demonstra que o aviso do senhor Van Zeller foi uma calúnia contra os trabalhadores que, por não passar duma calúnia, não prejudicou o valor de reprivatização nem o futuro da empresa, ou não, e subscreve, implicitamente, as declarações de Van Zeller. Aposto que, na primeira hipótese o ministro convidou o senhor Carvalho da Silva e, na segunda, o senhor Ferraz da Costa.
A factura, que já era pesada, continuará a engordar, e continuará a pagamento pelos senhores contribuintes, sem defesa contra a inimputabilidade do senhor Van Zeller e do senhor ministro da dita.
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