Sunday, February 28, 2016

O NOVO BURACO

Do Novo Banco o que se conhece sobre os resultados da gestão, desde a separação dos activos tóxicos dos aproveitáveis, até agora, está neste press release e nesta apresentação power point de quarta-feira passada. E ficámos a saber, além do mais, que por enquanto é muito pouco mas o suficiente para nos preocuparmos mais uma vez com a nossa carteira, que 

"O resultado do exercício foi de -980,6M€ reflexo do elevado nível de provisionamento essencialmente para crédito a clientes, títulos e imóveis (1054,4M€) e da anulação da totalidade dos prejuízos fiscais reportáveis relativos ao ano de 2013 no valor de 160,0M€."

Contas feitas, o Novo Banco registou em 2015 perdas que rondaram os 3 milhões de euros por dia, incluindo sábados, domingos, feriados e dias de guarda. Como o Novo Banco, disse o sr. Carlos Costa na altura,  herdou uma situação limpa, sem activos tóxicos, que ficaram do lado de lá dos espíritos santos, são surpreendentes as notícias de que, depois da revelação feita o ano passado, de um balúrdio de imparidades idêntico ao deste ano, nada nos garante que o Novo Banco não continue a juntar parcelas à soma da factura que um dia, diz o agora célebre sr. Costa, não a podendo mandar para a lua terá de a mandar para a caixa do correio do costume.

Estranho é, contudo, que, à volta do Novo Banco, ande meio mundo cismando excitado entre vendê-lo ou nacionalizá-lo. Mas vender o quê, nacionalizar o quê, se o NB continuar a acumular perdas ao ritmo observado até agora?
O sr. Carlos Costa continua a garantir que há interessados porque o NB é um activo muito interessante, mas não lhe arranjou comprador quando do NB ainda não havia notícia de mais quase mil milhões de resultados negativos. Conseguirá agora, porquê?

Mais valia  que, para já, pensassem nisto.

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A propósito,
é ainda intrigante que ninguém pergunte, onde estas coisas devem ser perguntadas, por que razão continua a Caixa Geral de Depósitos a acumular perdas sucessivas sem que ninguém tenha sido até agora interpelado nem condenado pelas manobras que a levaram a uma situação de falência técnica, considerando a sua incapacidade em solver os compromissos assumidos perante o Estado no âmbito de um processo de recapitalização, que agora parece requerer nova dose. 
Sobre o assunto imitou o actual primeiro-ministro o seu antecessor: estranhou o incumprimento e ficou-se por aí.
Entretanto, o anterior caixeiro-mor instalou-se regaladamente na presidência da associação de bancos.
Dos outros deixámos de ter notícias.

Saturday, February 27, 2016

AS GOLPADAS DE WALL STREET


O título original - The big short - já era demasiado complacente para a história contada. O título em português - A Queda de Wall Street - é equívoco, porque nem Wall Street caiu  nem os que de lá sobrevoam em volteios de rapina viram reduzidos com a crise, antes pelo contrário, os resultados das suas golpadas. A níveis inferiores, imitam-nos discípulos menores por toda a parte onde seja intenso o perfume do dinheiro. 

Este é outro filme que conta uma sucessão de logros que abalaram os EUA, atingindo duramente os mais desprotegidos, e desencadearam a erupção de uma crise na União Europeia, de que ainda não se vislumbra o fim, e que tombou sobre as costas dos contribuintes. Que me recorde, do mesmo filão já foram retiradas pelo menos mais duas fitas - Inside Job e Wolf of Wall Street.

Vale a pena ver. 
Apesar de alguma intenção didáctica do realizador, o relato exige atenção desperta do espectador. 

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Thursday, February 25, 2016

GRANDESSÍSSIMOS COMUNISTAS

Apesar do extraordinário desenvolvimento económico da China nas últimas décadas, o país mais populoso do mundo ocupa uma posição modesta (a 90ª.) no ranking do Programa para o Desenvolvimento Humano das Nações Unidas (PNUD). Ainda assim, a sua posição relativa beneficia de um PIB/capita de 12547 dólares (cerca de 25% do valor calculado para os EUA) em termos de paridade de poder de compra, sete posições acima do seu posicionamento no Índice de Desenvolvimento Humano (HDI) que conta com os indicadores de educação e saúde.

Cuba, o outro país que se reclama comunista, ocupa a 67ª. posição apesar do seu PIB per capita (7301 dólares) não atingir 60% do valor do PIB/capita na China. A vantagem de 47 posições no ranking do HDI é conseguida com os excelentes indicadores nas áreas da saúde e da educação. 
Da Coreia do Norte, o outro país que se diz comunista, não há indicadores no ranking do PNUD.

Ocorreram-me estas observações a propósito desta notícia : Pequim ultrapassou Nova Iorque e é a cidade dos super ricos.
Se a China ainda é um país comunista, é um país de muito pequenos, pequenos, médios, grandes e grandessíssimos comunistas.

Wednesday, February 24, 2016

O JOGO DA CABRA CEGA

O magistrado era especialista em crimes económicos e fiscais. Saiu para o grupo Millennium-Bcp, com licença sem vencimento,  para  a área de "compliance", onde é suposto controlarem-se os movimentos clandestinos de capitais, e aplicou os conhecimentos adquiridos no Ministério Público para passar-se para o inimigo. A corporação tinha-lhe ignorado a rota mas alguém o denunciou e o trânsfuga está agora detido, acusado por suspeitas de corrupção e branqueamento de capitais.

Nada de novo. 
É rara a semana em que, neste país, onde a palavra honestidade ficou obsoleta, não venha à tona um escândalo económico, financeiro ou fiscal, geralmente tudo no mesmo pacote.
E, agora, o que é que acontece?
Analisando a tendência é difícil não concluir que não acontecerá nada. 
(vd. aqui)

"ex-PGR, Pinto Monteiro diz ter defendido que "nenhum magistrado deveria poder sair de um departamento em que houvesse processos – ou outra matéria de risco – para alguma das instituições que estivessem envolvidas nesse processo", apontando "pelo menos um período de dois anos de nojo" para isso ser permitido. Questionado sobre por que não avançou com essa sugestão que diz ser "importante para não haver aproveitamento nem suspeitas", alegou que "não [teve] grande apoio do CSMP".

Nojo, sugere o ex-PGR!
Quem tem a deliberada intenção de uma golpada não tem nojo de nada.
Só há uma forma de contrariar esta situação imunda que nos afoga de escândalos: julgar e penalizar de forma exemplar,  a tempo e horas, os criminosos. Isto é, aquilo que o Ministério Público e os Tribunais deveriam garantir e, provadamente, não garantem.

Tuesday, February 23, 2016

"THE BREXIT" NA IMPRENSA BRITÂNICA

Se os britânicos prestassem atenção ao que dizem os oráculos financeiros da terra, o Reino Unido continuaria do outro lado do Canal da Mancha sem veleidades de embarcar para outras paragens. Mas como durante anos a fio ouviram dizer, até pelos mesmos opinion makers, que todas as moléstias que aportaram às Ilhas lhes vieram sopradas de Berlim, Frankfurt, Bruxelas, Paris, Roma, Varsóvia, Atenas, e outras paragens continentais,  corroendo-lhe a alma soberba e invicta, as desde sempre frágeis amarras à União Europeia estão agora por um fio, prestes a partir-se pela força dos fumos de um orgulho imperial perdido.


Não é, obviamente, unânime a opinião da imprensa britânica sobre as consequências de uma eventual saída do Reino Unido da União Europeia, mas a maioria pende claramente para considerar o Brexit uma calamidade para a City, que é onde palpita o coração da economia do reino.
David Cameron não tinha alternativa senão prometer e cumprir o referendo para permanecer no lugar e travar o avanço, que de outro modo seria imparável, dos euro-cépticos. Os dardos estão lançados e Cameron avisou, mas é um aviso frouxo, que o referendo é irrepetível qualquer que seja o resultado de 23 de Junho. Irá a lendária fleuma britânica sobrepor-se à emoção pelo sentimento de uma independência fantástica? 

De qualquer modo, se o sim ao Brexit afastar o Reino da União, um dia, o Reino voltará à União.
Se a União ainda existir.

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Correc. - in Financial Times de hoje, 24/02

Sunday, February 21, 2016

GOOD BYE UK

Leio em todo o lado que  se os britânicos decidirem no referendo de 23 de Junho a sua saída da UE, a União Europeia ficará mais fragilizada e divida e o Reino Unido pagará cara a sua dissensão.
As últimas sondagens acentuam a tendência do "não" à UE, e David Cameron não consegue sequer o apoio da totalidade dos membros do seu governo. Estará a Europa perante a iminência de um desastre com consequências dramáticas e irreparáveis?

Não me parece.
Admito até que o melhor resultado para a Europa, incluindo o UK, será uma vitória do "não" à UE.
Os britânicos nunca se sentiram confortavelmente no seio de um clube em que não eram  primus inter pares, e cada directiva era vista como uma afronta à sua individualidade colectiva. Nunca entraram de corpo inteiro e foram, com o tempo, atravessando a porta de saída. O acordo agora consentido pelos 27 à maior parte das pretensões de Cameron tem apenas virtualidades de desarmadilhar ressentimentos que um desacordo poderia fazer perdurar no futuro. De resto, salvo as restrições ao acesso de apoios sociais e emigrantes com menos de quatro anos de permanência no UK, o acordo, se for sufragado pelos britânicos, é quase inconsequente. Não querem entrar no euro. Não querem um exército único. Não querem obrigar-se a ser parte de uma UE mais integrada. Não querem participar em resgates de países membros endividados. Querem o que sempre quiseram: fazer parte de uma zona económica sem obediência a outras leis salvo as leis dos mercados. 

Os resultados do referendo de 23 de Junho resultarão das circunstâncias envolventes, mas as circunstâncias mudam e o Reino Unido não deixará de ser parte da Europa por mais que lhe palpite o coração pelo outro lado do Atlântico. Se o sr. David Cameron for suficientemente persuasivo para convencer os eleitores a votarem "sim" à UE e garantir a sua permanência como primeiro-ministro, a questão da permanência do UK na UE não ficará resolvida mas apenas suspensa. Os eurocépticos continuarão ininterruptamente em campanha.

Obs. - O "sim " à Europa será votado no referendo com "não" à saída da UE.

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Correl. - Taking Europe´s pulse

Friday, February 19, 2016

POR 500 MILHÕES DE DÓLARES

Foram comprados por Kenneth C. Griffin, um multi-bilionário norte-americano, no Outono, mas o negócio só foi conhecido ontem à noite, dois quadros - Interchange (1955) de Willem de Kooning, e Number 17 (1949) de Jackson Pollock - supondo-se que o primeiro terá sido adquirido por 300 milhões e o segundo por 200 milhões de dólares. O quadro de de Kooning passa, deste modo, a deter o recorde do valor mais elevado atingido por uma obra de arte contemporânea nunca antes transaccionada.


















"Nafea Faa Ipoipo" (Quando é que casamos?)  de  Paul Gauguin, pintado em 1892 - vd. aqui -,  também foi transaccionado por 300 milhões de dólares em Fevereiro de 2015.  O que marca a diferença é o facto de Interchange (1955) de de Kooning ter atingido o mesmo valor recorde na primeira transacção. 

Segundo um artigo publicado hoje no FT - Auction houses: Art market on the block - "depois de uma década de recordes, a Sotheby´s e a Christie´s confrontam-se agora com uma escassez de obras primas".  

Uma afirmação que nos coloca desde logo perante uma dúvida: O que é uma obra-prima?

Thursday, February 18, 2016

OS CARLOS E OS COSTAS

Lê-se aqui que o Banco de Portugal aceita falar de papel comercial (emitido por sociedades do grupo GES) com o Governo e a CMVM.

Aceita? O que significa, neste caso, aceitar? 
Conhecendo-se as divergências publicamente evidenciadas entre os srs. Carlos Costa e Carlos Tavares, a propósito de vários assuntos sensíveis que exigiam deles discrição, bom senso e consenso, não admira os termos tardios e em tons ressabiados com que o sr. Carlos Costa anunciou hoje aceitar falar com quem já devia ter falado há muito tempo, e não apenas no dia seguinte a ter ouvido da parte do sr. António Costa mais uma reprimenda inoportunamente pública.

Até agora, e também quanto a esta questão, portaram-se todos mal.
Porque nenhum deles tinha o direito de emitir publicamente opiniões sobre um assunto que requeria a máxima reserva estando em causa valores de dimensões consideráveis que, em última instância, poderão vir a ser apresentados  aos contribuintes para pagamento.

Ninguém ignora que o sr. António Costa é crítico da forma como o sr. Carlos Costa tem abordado os dossiers escaldantes que circunstâncias perversas lhe colocaram nas mãos, agravadas por outras, não menos perversas, que ele mesmo criou ou permitiu criar. Aliás, e neste ponto a razão está do lado do sr. António Costa, a recondução do sr. Carlos Costa, pelo governo do sr. Passos Coelho, deveria ter merecido o acordo do então candidato a primeiro-ministro. Como não foi, e o sr. Carlos Costa já vinha de asa derrubada, o sr. António Costa desanca agora no sr. Carlos Costa para agradar a gregos (os "lesados do GES") encontrando-se distraídos os troianos (os contribuintes).

O sr. Carlos Costa meteu-se em apertos quando disse publicamente o que não devia e está bloqueado de um lado entre as regras do BCE, que atribuem à entidade emitente das obrigações as responsabilidades pelo seu pagamento, e a ameaça dos credores institucionais, e, do outro pela pressão demagógica interna sustentada pelos políticos  de serviço e pelo presidente com mandato expirado da CMVM.

Em Agosto de 2014 anotei aqui:

"tendo Ricardo Salgado feito gato-sapato do senhor Carlos Costa  serão os contribuintes portugueses, mais uma vez, chamados a pagar a conta dos estragos das acrobacias do senhor Salgado e as desatenções do senhor Costa. A justiça, essa passa muito vagarosamente ao lado. 
Prr!, senhor Carlos Costa, demita-se! Mostre que resta ainda alguma dignidade no meio desta bandalheira toda!"

Hoje, mudei de opinião.
O sr. Carlos Costa representa agora, neste campo, a única barreira defensora dos contribuintes portugueses, aqueles a quem não cabe nenhuma culpa pelas consequências dos erros que ele, Carlos Costa, cometeu. 

Tuesday, February 16, 2016

O PAPA WOJTYLA E A MULHER

Ontem, foi tornada pública correspondência mantida, ao longo de três décadas, entre o Papa João Paulo II e a filosofa norte-americana Anna Teresa Tymieniecka, nascida na Polónia de uma família aristocrata franco-polaca. Os noticiários televisivos transmitiram excertos dessa correspondência, regalando, certamente, o voyeurismo que habita, com mais ou menos intensidade, em cada indivíduo psicologicamente imaturo. 

Mas o acontecimento, contudo, pode suscitar reflexões que exorbitam da esfera da curiosidade mórbida porque situa-se no plano da interrogação que as relações contraditórias de Wojtyla com as mulheres caracterizadas por um comportamento desinibido demonstrado em muitas situações e circunstâncias e uma posição rigidamente conservadora que nunca reconheceu nem ensaiou qualquer convergência para a igualdade entre sexos na mediação religiosa.

A este propósito publica o El País de hoje um artigo - La conflictiva relación del Papa Wojtyla con las mujeres - que merece ser lido. 

ANA CATARINA

Inteligência, determinação, dedicação, trabalho.



Mais uma vez, parabéns, Ana Catarina

Monday, February 15, 2016

BÁRBARA E O BÁRBARO

"A Associação Portuguesa de Mulheres Juristas tomou conhecimento, pela comunicação social, de algumas das instâncias da Mmª Juíza de Direito que preside à Audiência de Julgamento de Autos de um crime de violência doméstica. Dando por assente que as descrições do ocorrido nessa Sessão de Audiência de Julgamento, constantes desses artigos, correspondem ao teor das expressões utilizadas, a Associação Portuguesa de Mulheres Juristas não quer deixar de expressar publicamente a sua preocupação pelo que estas revelam sobre a persistência de pre-juízos desconformes com o legalmente estipulado sobre o modo de agir com vítimas de violência doméstica. A Associação Portuguesa de Mulheres Juristas está crente que o decurso da Audiência de Julgamento fará jus ao modo adequado de condução dos atos judiciais conforme à consideração e respeito por todos os intervenientes processuais. Lisboa, 15 de fevereiro de 2016 A Direcção da A.P.M.J." - vd. aqui

Em causa o facto da Meretíssima Juíza de Direito se ter permitido tecer tais considerações sobre a oportunidade do momento em que a vítima deveria ter comunicado as agressões à polícia. - vd. aqui.
Isto, num processo em que se confrontam razões de personagens públicas, e com que se lambuzam as leitoras e os leitores dos media da socialite.  
Imaginem-se as considerações que, por este padrão de julgamento, têm de ouvir as centenas de vitimas ignoradas pela comunicação social. 
E, já agora, pela Associação Portuguesa de Mulheres Juristas.

Saturday, February 13, 2016

SPOTLIGHT


Spotlight, um filme a não perder.

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Correl. -

"Custa-me que o verdadeiro Mike Rezendes tenha que aparecer na foto, humilde, ao lado do famoso Mark Ruffalo para ganhar em Portugal um espaço de visibilidade que o seu trabalho, a causa disto tudo, não lhe deu". - aqui


"Antes de sair de Boston, um dos seus familiares tinha-lhe garantido que a aldeia do avô João nem sequer aparecia nos mapas — um mito criado por demasiadas décadas de afastamento. Água Retorta está na zona este da ilha e Rezendes encontrou-a assim que pediu um mapa na agência onde alugou um carro.

Depois de curvas, chuva e várias horas de viagem, Mike chegou ao ponto de partida dos seus antepassados. E a casa do avô João estava lá, ao fundo de uma rua estreita, na extremidade da povoação
. Por perto não havia ninguém, o café dos amigos da família estava fechado e ao longe ouviam-se apenas alguns agricultores a trabalhar". - aqui



Friday, February 12, 2016

SEM SAÍDA

- "Mas custa assim tanto entender que, com o mundo da finança internacional tão volátil, devíamos estar neste momento a aplicar medidas que reduzissem o défice rapidamente? Melhor ainda, e bem mais fácil, evitar medidas que agravem o défice? Faz algum sentido esperar pelo momento em que sejam necessárias? É quando as taxas de juro dispararem e estiver tudo em pânico que se vão tomar medidas de emergência? Custa assim tanto ser prudente?" - aqui

Que margem de prudência resta ao sr. António Costa colocado entre o sr. Arménio Carlos e o sr. Schäuble?

Thursday, February 11, 2016

O RABO DA PORCA

O OE 2016 será aprovado na generalidade e depois na especialidade com alterações mínimas, porque não pode afastar-se dos compromissos assumidos pelo Governo com Bruxelas e os partidos da maioria parlamentar de esquerda não podem, para já, esticar até à ruptura as cordas que os atam sob pena de irremediavelmente tropeçarem todos. Tal não significa que não haja no parlamento dramatização mais que suficiente, inerente a qualquer espectáculo que procure prender aos ecrãs os olhos e os ouvidos dos senhores telespectadores.

O problema, já todos percebemos, estará na execução. Aliás, nunca deixou de estar a partir do momento em que as circunstâncias externas nos acordaram do sonho em que o crédito desenfreadamente importado tinha embalado o país, enquanto os políticos atiravam foguetes pelas suas vitórias eleitorais e os banqueiros pelos lucros astronómicos dos seus bancos. 

Na execução é que a porca torce o rabo. 
E já se ouvem os primeiros roncos do animal. 


Ontem, estiveram reunidos com o primeiro-ministro e o ministro do Trabalho a CGTP e a UGT.
No fim da reunião, o sr. Arménio Carlos, o efectivo líder da esquerda comunista, assegurou, muito decidido a fazer por isso, que as 35 horas semanais serão praticadas em simultâneo em toda a função pública.  O primeiro-ministro não desmentiu, o ministro do Trabalho titubeou, o ministro das Finanças, que não esteve presente nesta reunião, continuou a afirmar a decisão de a reversão às 35 horas não poder implicar aumentos de despesa pública. 

Em que ficamos? 
Recua o sr. Arménio Carlos ou demite-se o sr. Mário Centeno? 
Incontornável é o aumento da despesa em consequência da redução generalizada do horário de trabalho da função pública para as 35 horas semanais. Numa altura em que Portugal começa a ficar debaixo de fogo dos mercados financeiros e da obliquidade do sr. Schäuble, a guerra das 35 horas é uma guerra perdida mesmo que, a curto prazo, alguém a julgue ter ganho.  

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Wednesday, February 10, 2016

DO LADO DE ESPÍRITO SANTO

P -     Continua a ir com Mário Soares almoçar a casa de Ricardo Salgado?
CM - Claro. Muitas vezes
...
P -    Não acha que ele ganhou um poder muito grande?
CM - Traduzido em quê?
P -     Em influência. A banca é um espaço onde se cruzam interesses privados e políticos.
CM - Que o sector político depende do sector financeiro não tenha dúvidas ... e continua a ser assim em todo o lado do mundo. Isso é perverso, sim. Mas é a verdade. Como é que as pessoas à frente dos bancos utilizam o poder é outra coisa. Mas que eu saiba, Ricardo Salgado nunca o utilizou de forma menos digna. E tentou compatibilizar os interesses do grupo familiar. 
...
P -    Tem a noção de que quando se fala da banca o cidadão tem um arrepio na espinha?
CM - Tenho. ... sempre que me procuram para perguntar o que devem fazer com o dinheiro (eu nem devia dizer isto publicamente) respondo: "Vão para o imobiliário, que é o que eu faço" ...
...
P -     Não contemplou o investimento reprodutivo?
CM - Não. Porque não tenho confiança no que possa vir a acontecer nos próximos seis meses. Estamos todos a navegar à vista. - Carlos Monjardino/ entrevista do "Público"

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A franqueza do sr. Monjardino é assombrosa. 
Pelo menos tão assombrosa quanto o seu desplante.
Ninguém o julgará menos digno pelo facto de jantar muitas vezes em casa de um amigo com quem ao longo muitos anos, certamente, se brindaram mutuamente com reciprocidades de interesses. De mais a mais com a presença tutelar de um outro amigo, com mais idade e mais lustre, que se desdobra em acções temerárias de abrigo a amigos do peito das temerosas investidas dos agentes da justiça. 

Mas é incrível que o sr. Monjardino ignore algumas das práticas menos dignas do seu anfitrião que estiveram na origem do descalabro do conglomerado centrado no GES, provocando na queda perdas ainda incalculáveis  que os portugueses são, indignamente, chamados a pagar. 

Esta entrevista é um espelho do outro lado do País. 

Tuesday, February 09, 2016

CARNAVAL

A importância da participação dos trabalhadores da TAP no capital da empresa - que pode chegar aos 5% - avaliei-a aqui como uma espécie de golden share que permitirá, se houver, e é muito provável que haja, sindicalização nas assembleias gerais dos votos dos accionistas trabalhadores. Mas esta possibilidade não foi muito valorizada pelos comentadores do costume. Um sindicalista, entrevistado ontem pela antena 1, não se referiu sequer ao assunto e o entrevistador também não o interrogou sobre ele.

Hoje é notícia aqui que "os sindicatos acreditam que haverá uma forte adesão dos trabalhadores à venda da posição de 5% que lhes foi reservada no capital da TAP e que estão a organizar-se para garantir a participação dos funcionários no futuro da companhia, mesmo que tal sirva apenas para fiscalizar a gestão feita pelo consórcio privado que, apesar de minoritário, ficará aos comandos da empresa" 

Com o feitor do Estado, (i.e. o variável governo em São Bento) detentor de 50% do capital,  mas sem intervenção na gestão corrente, o Consórcio com 45%, mas o exclusivo do executivo, e  o sindicato de accionistas com uma participação que pode atingir os 5%, as assembleias gerais prometem vir a ser animadas por um não programado baile trapalhão a acabar em quarta-feira de cinzas. 



Monday, February 08, 2016

PEQUENAS HISTÓRIAS CONFISCAIS

Liguei para o F., estava ele a apanhar laranjas.
- Este ano é o ano dos citrinos. As laranjas, então, são muitas e boas, disse-me ele, contente com a prodigalidade de meia dúzia de árvores que plantou no quintal, ali para os lados de Sesimbra.
Quando se consegue evitar que a mosca do mediterrâneo, a cochonilha, e outros assaltantes, não nos derrubem os frutos, a laranjeira é a mais fiel e formosa das árvores fruteiras, e o limoeiro a mais pródiga.
Há quem não lhe apanhe os frutos, ou porque não goste de fruta ou porque prefere o gosto de as ver sempre de verde e dourado.

Já o A., apanha apenas algumas laranjas de muitos milhares que crescem numas largas centenas de árvores na sua propriedade no Baixo Alentejo. E quase nenhuma azeitona de algumas toneladas que crescem para lá do laranjal.
- Não apanhas as laranjas A.?
- Nem as laranjas nem a azeitona? E sabes porquê? Para não perder mais dinheiro. Se arranjo pessoal para a apanha tenho de lhes pagar sem recibo porque é malta que não tem emprego certo, vive do subsídio de desemprego, se passa recibo perde o subsídio. Depois, o que as fábricas pagam por quilo é pouco mais que o custo da mão-de-obra. Sem recibos não poderia contabilizar custos e pagaria impostos sobre lucros iguais às vendas. 

O A.J., por outro lado, hesita em vender uns eucaliptos que plantou há quinze anos porque o fisco não quer saber de custos e tributa como matéria colectável 15% do valor das vendas, talvez presumindo que se trata de um negócio chorudo. Se vende passa de escalão de IRS, e lá se vai o débil rendimento de um investimento a quinze anos.

O R. tem um terreno que não cultiva há largos anos, mas o imposto fundiário é reduzido. Apareceu um comprador e o preço era razoável mas o imposto do rendimento englobado leva-lhe mais de metade do valor acordado. Não vende.

O fisco premeia a inactividade.


Meio quilo de laranja

Saturday, February 06, 2016

DESTAPE OS OLHOS

A TAP volta a ser uma empresa publica; 
O Estado passará a deter 50% do capital; 
A participação do consórcio privado recua para 45%, 
mas a gestão será privada; 
Os 5% restantes serão detidos pelos trabalhadores, até mais ver.  
A administração, com 12 membros será paritária: seis para cada lado. 
Tudo por 1, 9 milhões de euros, 
uma ninharia. 
(mais detalhes já conhecidos do acordo aqui)

Quem ganha, quem perde?
Os 5% dos trabalhadores, em conjunto, dependendo das condições em que lhe serão atribuídos, podem ter a força accionista de uma golden share. Como não é provável que o consórcio privado tenha aceitado recuar para uma posição em que fica refém das posições accionistas dos trabalhadores teremos de aguardar para ver.  

Ganhadores são ainda os membros do CA nomeados pelo Estado, comissários políticos, que rodarão consoante rodar o governo em São Bento. De qualquer modo é neles que se reforçará o poder do consórcio privado. Porque, das duas, uma: ou os administradores políticos são capturados pelo consórcio (hipótese mais provável) ou alguns entram em confronto com ele e serão, expeditamente, anulados. 

Admito que seja uma perspectiva cínica mas calculo que aqueles 1,9 milhões de euros é quanto custará a jóia de entrada de cinco ou seis boys no CA da TAP. Não sabemos por enquanto de que lado ficam as responsabilidades por garantias dadas pelo Estado aos credores. Só conhecendo também esta parte do acordo se pode ter uma ideia mais aproximada do preço pago por esta semi-nacionalização, sem sentido, para os contribuintes portugueses. 

Friday, February 05, 2016

OS ABUTRES À VOLTA*

UM

O Secretário de Estado Adjunto, do Tesouro e Finanças, vd. aqui“solicitou aos serviços do Ministério das Finanças a averiguação da conformidade” da última tranche do aumento de capital no banco Efisa, feita pelo Estado no final do ano passado, alegando que não foi informado dessa operação pela administração da Participadas, a empresa pública que concretizou a injecção de capital.

Só este início de notícia suscitaria uma interrogação enorme se não se desse  caso de se saber, por gravosa experiência, que neste país há muito gestor público a funcionar em roda livre por conta dos impostos que mais tarde somos, os tansos fiscais, chamados a pagar. Mas toda a notícia é confirmação desta afrontosa realidade: uma pseudo-empresa, congeminada para minorar as perdas resultantes da alienação dos salvados de um escândalo, estoirado há oito anos mas ainda por julgar, decidiu, sem dar conta à tutela, avançar com mais fundos (12,5 milhões) para aumento de capital  de um banco fantasma.

Tudo isto em sequência de outras entradas, sempre por conta dos tansos fiscais, e com invocada idêntica finalidade, decididas pelo governo anterior, que somaram 90 milhões de euros (37,5 milhões em 2014 e 52,5 milhões em 2015). 

O banco fantasma, que se chamou Efisa, não foi integrado no pacote de activos e passivos do ex-BPN vendidos por tuta-e-meia a amigos do sr. Mira Amaral, que o tinham feito presidente do BIC, outro banco dominado pelos seus amigos angolanos. Depois o Efisa foi vendido por 38 milhões a uma sociedade de capitais portugueses e angolanos da qual faz parte o ex-ministro do PSD Miguel Relvas.

Incomodado com a notícia, o sr. Passos Coelho entendeu afirmar que, vd. aqui, durante o período em que foi  Primeiro-Ministro não tomou nem mandou tomar nenhuma decisão de favorecimento fosse para quem fosse; e que ignora se Miguel Relvas é sócio da sociedade que adquiriu o Banco Efisa.

Acredite quem quiser.
O que eu não entendo, e penso que não é racionalmente entendível em boa fé, são as razões que levaram o governo anterior a sustentar um banco sem dimensão nem mérito para sobreviver à custa de impostos que somos obrigados a pagar.
Entendeu o sr. Passos Coelho? Se entendeu, não esclareceu.
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* Sem ofensa aos bichos.
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OUTRO

"As autoridades judiciais congelaram uma transferência de 10 milhões de euros, que seria o sinal usado pelo consórcio encabeçado por José Veiga para pagar o Banco Internacional de Cabo Verde (BICV) um activo do Novo Banco avaliado em 14 milhões" - cf. aqui

Os banqueiros de rapina vieram para ficar.

O JOGO DA CABRA CEGA

Todos os dias há jogo.

As quadrilhas ligadas aos meios políticos, ainda introduzidas no aparelho do Estado ou porque dele fizeram parte e mantêm as ligações com que prosperam os seus interesses, continuam incessantemente  a dar trabalho aos pachorrentos agentes da justiça. Ontem foi detido o ex-vice presidente do município bracarense, e concorrente às últimas eleições autárquicas pelo PS, em sequência de denúncia que o envolveu, e a mais uns quantos comparsas, no recebimento de luvas em negócio de compra de autocarros para a empresa municipal de transportes colectivos local. - vd. aqui.

Com tanto caso às costas, não admira que as investigações se arrastem para um patamar de banalização onde a justiça se dilui num entorpecimento que corrói o sentimento cívico colectivo e abala irremediavelmente os alicerces morais do país.

E, talvez sintomaticamente, continuamos sem ver do lado do governo ou da oposição propostas de medidas para reconfigurar esta imagem de uma sociedade corrupta até ao tutano que obriga o cidadão, envergonhado, a abdicar do orgulho de ter nascido aqui. 

Wednesday, February 03, 2016

O JOGO DA CABRA CEGA

Continua imparável.
Ontem, "foram detidos o empresário José Veiga, conhecido pelas ligações ao futebol e Paulo Santana Lopes, irmão do ex-primeiro-ministro e atual provedor da Santa Casa da Misericórdia, por crimes de natureza fiscal." cf. aqui. Foi também detida no âmbito deste processo uma advogada de Cascais que actuaria como testa de ferro do gang.

Curiosamente, 
"José Eduardo Martins, ex-secretário de Estado e ex-deputado do PSD, revelou, esta quarta-feira, que foi detido e levado para uma cela por ter faltado a uma diligência em que seria ouvido como vítima no assalto à sua casa de férias, em Grândola." - cf. aqui

Noutro jogo,
"Um homem estava acusado de 50 crimes de abuso sexual de crianças agravado, de que fora vítima um neto, em 2013. Mas o Tribunal entendeu que não ficou provado o número de vezes que, "durante os banhos", o indivíduo praticou o "ato sexual de relevo" em causa, e condenou-o por um crime de abuso sexual agravado (por se tratar do avô) de trato sucessivo." E, cf. aqui, mandou-o em liberdade, em nome do povo.
Como é de direito.



Tuesday, February 02, 2016

HIPÓCRITAS 2

Noticia o Financial Times de hoje que, cf. aqui,  em sequência dos ataques terroristas em Paris,  a Comissão Europeia vai investigar em que medida o elevado número de notas de 500 euros em circulação estará a facilitar o financiamento de actividades terroristas.

Sobre este assunto anotei aqui em Junho de 2007:

" ...
Sabe-se que apenas uma pequena parte do tráfico de droga, a nível mundial, é interceptado pela polícia; sabe-se que o negócio da droga tem uma dimensão, valorizada em termos monetários, equivalente ao da energia, segundo o relatório do PNUD de 1999; sabe-se que essa dimensão sustenta uma parte importante de actividades económicas regulares, a construção civil, por exemplo; sabe-se que para facilitação da conexão entre o dinheiro da droga e as actividades legalmente admitidas, as entidades emissoras de moeda não esqueceram a competitividade dos meios de pagamento (notas de 100 dólares às quais o BCE respondeu com notas de 500 euros); sabe-se que esse dinheiro anda por aí em toda a parte; sabe-se que parte (que parte, ninguém sabe) desse dinheiro justifica a possibilidade de muita gente viver bem acima das suas possibilidades aparentes, exemplificando o adágio popular: "quem cabritos vende e cabras não tem de algum lado lhe vem ..."

E em Julho de 2008, aqui,

"...

Um dos aspectos que caracteriza a contradição entre o discurso oficial e a prática das nações no combate ao comércio criminoso é o da emissão de papel moeda de elevado valor facial: notas de cem dólares e de quinhentos euros, para citar apenas as mais usadas. Há muito tempo já, abordei este aspecto hipócrita que consiste em emitir moeda cuja finalidade só pode ser a de facilitar o comércio subterrâneo, aquele em que os contratantes não querem deixar rasto.

Se houvesse, mas realmente não há, uma intenção clara de dificultar este comércio, tanta a Fed como o BCE teriam há muito tempo mandado recolher estas notas e permitido apenas a circulação das de pequeno valor. Numa época em que o próprio cheque entrou em desuso, só por razões inconfessáveis as autoridades monetárias mantêm a forma suspeita daquele meio de pagamento..."

É muito surpreendente que só agora a Comissão Europeia repare no que é muito visível para quem não ande propositadamente a desviar o olhar das evidências. 
São cegos?
São hipócritas. 

500 euro

São assim as notas de 500. 
Para conhecimento de quem, como eu, nunca viu uma. 

Monday, February 01, 2016

DIREITO À INVEJA

A desigualdade é um obstáculo ao crescimento económico e ao desenvolvimento humano. Em situações extremas conduz, mais tarde ou mais cedo, à revolta colectiva. 

E a nível individual?
A comparação que suscita estados de infelicidade naqueles que não podem atingir consumos que vêm promovidos e desfrutados por outros à sua volta pode conduzir a sentimentos perversos, de inveja e mesquinhez? Podem os menos favorecidos, quaisquer sejam as razões da desigualdade, os mais pobres, aqueles que a sorte não protegeu, as boas pessoas tornarem-se menos, ou até más, pessoas, por serem invadidos por sentimentos perversos, de inveja e mesquinhez?

Não é invulgar assacarem-se os portugueses sentimentos congénitos de inveja, - a última palavra dos Lusíadas, cita-se para reforçar o argumento, - mas será a inveja uma particularidade nossa ou propagou-se por todo o lado? As pessoas boas são levadas a comportamentos menos éticos em consequência das circunstâncias em que sobrevivem? A inveja é um direito que assiste aos desprotegidos da sorte?

Questões suscitadas pelo autor, norte-americano, em Boas Pessoas, em cena no Teatro Aberto.
Vale a pena ir até lá.

A FRASE DO DIA

"Estás a ficar velote"
Miguel/Rita/Rosa Morena/Doralice