Wednesday, August 31, 2011

CARÍSSIMO FRANGO


Em consequência de tanta procura do franco, o frango suíço continua caríssimo. 

Tanto que o governo helvético anunciou mais medidas para compensar a valorização do franco, e do frango.

A Suíça vai implementar um programa de despesa pública para contrariar os efeitos da "sobrevalorização maciça" do franco suíço, que está a penalizar a competitividade do sector exportador do país. É o que dizem aqui.

Depois de uns (poucos) dias em que corrigiu cerca de 19% contra as principais moedas, voltou hoje a valorizar-se cerca de 3% em poucas horas.
O que indicia que o nível de confiança em geral continua pelas ruas da amargura.

DIZ QUE CORTA MAS TRIBUTA

Este Governo continua a aumentar a receita através de mais impostos e a adiar os prometidos cortes na despesa, decalcando, até agora, a actuação errática que caracterizou o anterior Governo. No ciclo difícil que o País atravessa, a solidariedade é um factor essencial de coesão nacional e deverão ser os que mais podem que devem ser chamados a contribuir. Também este Governo, no entanto, se recusa a perturbar sequer as grandes fortunas e continua a perseguir apenas os rendimentos declarados.   

Deste modo, novo adicional sobre os escalões de rendimentos mais elevados (declarados, entenda-se, porque muitos, mais elevados, são escamoteados, nomeadamente os rendimentos de algumas profissões liberais, ou evadidos para offshores) renderá, segundo o Ministro das Receitas, menos que 100 milhões de euros. 
Peanuts para um buraco que quanto mais lhe olham para o fundo menos o alcançam.

Chamam-lhe imposto especial de solidariedade. Só para a RTP pagamos 250 milhões por ano. Solidariedade, neste caso, com quem? Com o Preço Certo

Por exemplo.

DO AVESSO

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Yet all is not lost. In particular, the US and German governments retain substantial fiscal room for manoeuvre – and should use it. But, alas, governments that can spend more will not and those who want to spend more now cannot. 
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Mr Obama wishes to be president of a country that does not exist. In his fantasy US, politicians bury differences in bipartisan harmony. In fact, he faces an opposition that would prefer their country to fail than their president to succeed. Ms Merkel, similarly, seeks a non-existent middle way between the German desire for its partners to abide by its disciplines and their inability to do any such thing.


Martin Wolf  - aqui

O MELTING POT

As minorias (eufemismo para populações não de origem europeia) já são maioritárias em 22 das cem maiores regiões metropolitanas nos EUA. A área de Washington é uma das oito que entraram para o quadro desde 2000. Mais detalhes aqui.
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REI MOMO

Quem manda cá em casa é ele, dizem estes, mas quem manda nele é ela.

O que não surpreende: Ela não só manda mais cá em casa como é quem mais manda noutras casas desarrumadas. Que ela quer, forçosamente, que sejam tão arrumadas como a dela.

Tarefa impossível, a dele, ou tarefa impossível a dela? Será possível germanizar a Grécia ou Portugal? Ou será, sequer, desejável? Será possível a coabitação entre o gosto obsessivo pelo arrumo e o gozo despreocupado no desarrumo? Será possível  integração económica sem integração política? E pode a integração política consumar-se com salvaguarda dos valores e temperamentos de cada povo?

Esta a equação europeia que já não admite mais soluções ao sabor das circunstâncias. O de facto e o de direito têm de coincidir na governação dos povos sob pena de se comprometerem os valores democráticos e se desmantelarem as instituições.

Tuesday, August 30, 2011

A GRANDE GALPADA

Quando, há cerca de duas semanas, escrevi isto não tinha conhecimento disto. A notícia do Jornal I escapou-me e ignorava que Portas se tivesse deslocado a Luanda para obter dos parceiros angolanos de Américo Amorim a garantia que o crédito concedido pelo BPN para compra da Galp não seria enrolado numa negociata entre devedores e credores, à Champalimaud, que passariam a ser os mesmos a  partir do momento em que o BPN seja comprado pelo BIC de Amorim & Cª. angolana.
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Há nesta notícia do Jornal I duas coisas espantosas, a juntar a tantas outras, neste ninho de ratos chamado BPN. Primeiro, porque a notícia saiu e esvaziou-se na banalidade e indiferença a que o escândalo BPN chegou numa sociedade adormecida. Tanto assim, que só hoje a pesquei  aqui, acabada de chegar. Segundo, porque se Amorim & Cª. deve como é que esse facto é, aparentemente, ignorado durante as negociações com os interessados na compra? É preciso que o ministro dos Negócios Estrangeiros se desloque a Luanda para negociar o quê que não pudesse, e devesse, ter sido garantido antes?

O BPN é cada vez mais um exemplo acabado da nossa incapacidade colectiva para varrer o lixo que nos engole.

UMA QUESTÃO DE CONFIANÇA

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Confiança
Desconfiança

O TOQUE DOS EXTREMOS

Hans-Olaf Henkel foi presidente da IBM na Alemanha e presidente da Federação das Indústrias Alemãs.
Geralmente controverso, muito conhecido e ouvido, Henkel escreve hoje no Financial Times um artigo, que transcrevi aqui, onde defende a saída dos países membros do euro do Norte da Europa, nomeadamente, Alemanha, Holanda,  Áustria, Finlândia, e, eventualmente, a Suécia e o Reino Unido, que não são membros, e a Irlanda, que é membro em situação difícil não porque tenha adoptado uma política de défices excessivos mas porque a banca se portou mal.  

Henkel já se tinha juntado anteriormente a 50 empresários alemães na contestação da constitucionalidade da ajuda alemã à Grécia, ainda que, como ele próprio começa por dizer no começo deste artigo no FT, tenha sido um adepto da criação da moeda única.

Segundo Henkel, separando as águas, Norte para um lado, Sul para o outro, todos ficarão como querem: a Norte, a contenção e o equilíbrio, a moeda forte, a Sul, o défice e as desvalorizações cambiais. Quanto às dividas dos sulistas denominadas em euros, os credores, quaisquer que eles sejam, que encaixem as perdas das desvalorizações  mais que certas do euro à deriva. De qualquer modo, argumenta Henkel, a Grécia e os outros nunca pagarão de modo algum o que devem já hoje.  

Henkel, um neoliberal que defende a globalização e os méritos do Estado mínimo, encontra-se, assim, muito próximo do que defendem, por exemplo, João Ferreira do Amaral e seus admiradores em Portugal. 
Não sei o que pensam os fabricantes alemães, por, exemplo da eventualidade de terem de concorrer com os fabricantes franceses do mesmo ramo quando estes forem apoiados por desvalorizações cambiais.

Nos últimos doze meses, o euro sobrevalorizou-se relativamente ao dólar e à libra, perdeu apenas para o franco suíço por razões que nada têm a ver com a balança comercial helvética. Por outro lado, as moedas dos principais países membros da UE têm flutuado à volta do euro de um modo persistente. Refiro-me à coroa sueca, à coroa dinamarquesa, à coroa norueguesa, ainda que a Noruega não seja membro da UE, mas também ao forint húngaro, à coroa checa, ao zloty polaco. Mesmo as moedas da Ásia (Yen japonês, Yuan chinês), o dólar australiano ou o dólar canadiano, não têm experimentado variações significativas perduráveis ao longo ano, relativamente ao euro.

De que se queixa, então, o engenheiro Henkel? Da insustentabilidade do euro se nele tiverem de coabitar países que têm perspectivas diferentes quanto aos malefícios das desvalorizações cambiais. O mesmo é dizer, penso eu, que, segundo Henkel, a União Europeia tem de acabar.

O João também.

O BIG MAC VALE MAIS QUE O DÓLAR?

Pois parece que sim.
Porquê? Veja aqui

A DAMA DE COPAS

É, segundo estes, Ricardo Salgado.

A banca, apesar das quase contínuas derrapagens observadas na bolsa observadas nos últimos tempos, do isolamento dos mercados financeiros internacionais, e dos ratings em queda livre, mantem-se dona e senhora da economia, uma vez que os poderes políticos são transitórios. Do quarteto banqueiro maior, obviamente, só o presidente da Caixa não consta da lista por ser subserviente a dois senhores:  aos governos e aos seus pares, o mesmo é dizer que não manda nada, não se move, é movido.

Continuo a apostar que Merkel faz parte do ranking. E, altero a ordem do meu prognóstico de ontem: Passos Coelho é rei momo e Merkel o ás de paus.

Monday, August 29, 2011

NUNCA MAIS


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Norman Rockwell

O quadro foi pintado em 1960. Ruby Bridges, tinha seis anos e ia para a escola primária em New Orleans, numa época de transição nos EUA da segregação racial para uma sociedade sem discriminações de quaisquer espécies. Encontra-se na Casa Branca até 31 de Outubro. Mais detalhes aqui.

O VALETE DE OUROS

Soube-se hoje que o ministro Miguel Relvas ordenou a constituição de três grupos de trabalho para estudar o futebol luso: um para proteger as selecções nacionais e os jogadores mais jovens, outro para eventuais alterações ao regime jurídico e fiscal das sociedades anónimas desportivas, outro para avaliar a profissionalização ou não dos árbitros (aqui). Soube-se ainda que o mesmo Relvas é considerado, aqui, o quarto mais poderoso da economia portuguesa, que tem ligações "petistas" no Brasil e "santistas" em Angola, e que é "maçon". A avaliação não teve, pelos vistos, em conta que Relvas é também quem mais ordena nos relvados.

Assim sendo, em próxima avaliação, terá boas perspectivas de ser promovido a dama de copas do baralho. 

É muito significativo que da lista dos mais poderosos conhecida até agora (que inclui 6 estrangeiros, entre os quais os amigos de Relvas, Eduardo dos Santos - 6º - e  a filha deste - 18º, Manuel Vicente - 39º -, e Dilma Rousseff - 45º) só constam até agora mais dois ministros do actual governo: Vítor Gaspar- 5º-,  e Álvaro Santos Pereira - 37º.

Faltam sair a dama, o rei e o ás. Muito provavelmente, o rei será o primeiro-ministro e o ás, Ricardo Espírito Santo.Quem será  dama, pelo menos? Só pode ser Angela Merkel.
Fica Portas fora do baralho? É bem possível. Se Cristas, a super ministra da agricultura, do mar, do ambiente e do ordenamento do território, pode menos que Pinto da Costa, Portas não pode, seguramente, mais que Relvas, senhor dos relvados, além do mais que é muito.

Sunday, August 28, 2011

UMA QUESTÃO PERTINENTE

Deve a Fed, e os bancos centrais em geral, mudar de alvo e abandonar prioridade da contenção da inflação tomando como referência os valores nominais do PIB?

Há três dias atrás, Paul Krugman recordava a Bern Bernanke, que ia a caminho de Jackson Hole, o santuário onde se concentrou a fina flor dos bancos centrais deste mundo, o recado que tinha dado ao Banco do Japão, em 2000, quando a economia japonesa estagnava. Bern Bernanke no tradicional discurso anual  não parece ter tomado em conta o remoque, e Krugman, sempre irónico, no dia seguinte, comentava aqui: " One positive thing in Bernanke’s speech — I’m trying to look on the bright side — is that for what seems to me the first time he has more or less acknowledged that we are not, in any real sense, experiencing a recovery...".

O confronto entre os defensores de políticas contra-cíclicas que possam reactivar a economia e criar emprego e os que pretendem travar o crescimento do défice e da dívida e reduzir a intervenção do Estado à sua expressão mais simples, está mais acirrado que nunca. Uma das marcas mais salientes deste confronto é o alinhamento quase total dos candidatos já conhecidos às primárias dos republicanos pela radicalização à volta dos malefícios do Estado. 

A crítica de Krugman, sempre ele, aqui, a um artigo de Roberto Barro, um académico prestigiado, mas do outro lado da estrada, dá uma ideia da distância cada vez mais longa entre académicos e políticos de um de outro acerca das medidas que a situação persistente de crise exige. 

Neste contexto caracterizado por divergências irredutíveis, o artigo publicado no Economist desta semana, que transcrevo aqui, é prudente como equaciona um problema que não é só dos EUA mas das economias ocidentais em geral, afectadas, directa ou indirectamente, por uma crise que ameça recair.

Vindo de onde vem, percebe-se que ninguém gosta de austeridade nem de inflação mas, no momento actual, parece que não se pode passar sem uma delas.

LIMPA FUNDOS

A história está contada aqui.

Resumidamente: Sahm Adrangi nasceu há cerca de 30 anos no Irão, tinha cinco anos quando os pais emigraram  para a Califórnia e dali para Vancouver. Formou-se em Yale, experimentou dois ou três empregos, o último dos quai num banco de investimento, depois atirou-se ao trabalho por conta própia, criou uma empresa de "hedge funds" e, tendo percebido que havia empresas chinesas, relativamente desconhecidas, cotadas nos EUA com bom comportamentos em bolsa, resolveu investigar. 

Investigou, e suspeitou que por detrás dos resultados apresentados deveria haver marosca. Investigou mais, e as suas supeitas confirmaram-se. E passou ao ataque através de operações de short selling: vendia a descoberto, divulgava o que conhecia acerca das empresas em questão, provocava a queda das acções, comprava-as aos preços reduzidos e completava as operações. Nada de original, a não ser a perspicácia para atacar empresas que se sustentavam da manipulação de resultados de operações em grande parte fictícias.  Ganhou 150 milhões de dólares em dois anos.

Curiosamente, o CEO de uma das empresas alvejadas por Sahm, na tentativa de sutentar as cotações da empresa, desconhecendo, talvez, a presença do atirador, interveio comprando massivamente acções próprias. Aguentou pouco tempo, evidentemente.  

Os "hedge funds" são vistos frequentemente como bandos de manipuladores dos mercados financeiros, empilhando fortunas com truques que uma desregulação desenfreada consente. Mas há casos e casos.
Neste caso, Sahm Adrangi, e outros limpa fundos, ficam podres de ricos mas realizam uma tarefa útil.

Trata-se, obviamente, de uma recompensa escandalosamente excessiva. Mas a culpa não é do Sahm & Cª., mas do sistema que continua desregulado por regras obsoletas e permissivas no casino.

Saturday, August 27, 2011

EXEMPLOS


Quando José Dias Ferreira, bisavô de Manuela (Dias) Ferreira Leite, chegou a chefe do Governo em 1892, encontrou um país de "tanga", por força de elevados investimentos ferroviários e em estradas e portos. A dívida pública representava 81% do PIB e o défice orçamental era de 2%.

Juntamente com o Ministro da Fazenda - Oliveira Martins, tio-bisavô do actual presidente do Tribunal de Contas - tomou medidas drásticas: subida de impostos, corte até 20% dos vencimentos dos funcionários públicos, suspensão de admissões no Estado, paragem das grandes obras, saída do padrão-ouro e desvalorização cambial.

Durante dez anos, não foi possível recorrer a empréstimos no estrangeiro, dada a situação de bancarrota verificada.
O desenvolvimento das infra-estruturas no "fontismo" baseou-se num modelo que se pode considerar como a génese das parcerias público-privadas. Eram concessões dadas a particulares que, muitas vezes, garantiam um determinado rendimento ao investimento e, se este ficasse abaixo desta garantia, havia compensação do Estado.

Em 1892 o rei D. Carlos doou 20% (!) da sua dotação anual para ajudar o Estado e o País a sair da crise criada pelo rotativismo dos partidos (nada de novo, portanto).

(Obrigado, António A.)

CIENTISTAS DOGMÁTICOS

Existem? Existem.

Um tanto à retardador começaram a aparecer agora apreciações críticas à proposta Merkel/Sarkozy, mais intenção que proposta, para já, de constitucionalização das dívidas soberanas. Estranha-se o atraso mas não a reacção, porque coloca em confronto a disciplina orçamental na zona euro com o laissez faire que consentiu a situação a que se chegou. 

O que não se compreende, se admitirmos que estamos perante comentários de gente que não se tem por possuidora exclusiva da verdade, são os termos arrogantes com que se classificam as decisões, as posições, as convicções de outros.

Zapatero e Rajoy, primeiro-ministro e principal líder da oposição, em Espanha, entenderam que a constitucionalização da dívida pode, além do mais, dar uma imagem de credibilidade junto dos mercados financeiros, e decidiram avançar antes que um qualquer acordo venha no futuro a ser subscrito pelos outros membros da zona euro. Boa ou má, a decisão é deles.

Não o entendem assim alguns cientistas-economistas-dogmáticos, que, por discordarem, não o fazem por menos que acoimar de estúpidos aqueles que decidiram em sentido contrário aquele que eles julgam acreditar ser o caminho certo.

Cientistas, porque a maioria é paga pelo Estado para investigar.
Economistas, porque essa investigação se faz na área da economia.
Dogmáticos, porque consideram as suas conclusões inabaláveis e estúpidas as convicções contrárias.  

À ESPERA QUE O AIRINE PASSE AO LADO

O gang meteorologista prevê que o  furacão Irene (pronuncia-se airine, deste lado) começa a passar ao largo de DC cerca das 8 horas desta noite, despejando chuva intensa levada por ventos a 100 quilómetros/hora.

Com a destruição provocada pelo Katrina há 6 anos (atingiu o pico de força em 2005, Agosto, 28) ainda muito presente, os alertas e recomendações às àreas previsivelmente mais afectadas são constantes. 

Uma das recomendações de evacuação foi acompanhada da instrução seguinte: Se decidir permanecer, deixe numa nota escrita o nome e telefone de alguém que possa ser contactado no seu sapato esquerdo, in case. Se não for convincente, descontrai. 

O próximo chamar-se-á Jose. Está aqui a lista até 2016. 
São uns precavidos estes meteorologistas.  

IMPAGÁVEL

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Obrigado, Humberto A.

Friday, August 26, 2011

DISCURSO EM JACKSON HOLE

"Nim"
aqui

EUROBONDS, SÓ COM INTEGRAÇÃO POLÍTICA

Até onde poderá a desconfiança dos mercados (uma designação ambígua) provocar a desintegração da União Europeia ou o avanço para a integração política, não sabemos.  

Mas podemos admitir, com elevada probabilidade de acertar, que um retrocesso na construção europeia poderá deteminar o seu fim, com todas as consequências, incalculáveis mas certamente muito dramáticas, que essa ruptura provocará.

Já é mais difícil prognosticar até onde poderá ir o avanço para a integração política se a solidariedade forçada pela emissão de eurobonds forçar os países a abdicarem de mecanismos de soberania transferindo-os para orgãos supranacionais comunitários que governarão as finanças do conjunto e, implicitamente, de cada um dos membros da União.

Se acontecer, será uma integração política feita por razões que, segundo alguns, acabarão por minar os alicerces da União no futuro. A construção da União, contudo, tem sido em grande medida determinada por razões exógenas, mais por reacção do que por antecipação.

As recentes declarações de Merkel e Sarkozy sobre a criação de um "governo económico" não suscitaram, até agora, o debate público que uma proposta destas, no actual contexto da União, pressuporia.
Há muita gente, estranhamente mais fora que dentro da Zona Euro, que vê na emissão de eurobonds a única saída possível para sair da crise e garantir a continuação da construção europeia.

Do ponto de vista estritamente económico e financeiro, a proposta é inquestionável. O busilis da questão reside nos requisitos políticos que ela implica e que, por enquanto, não estão em discussão. Lançada a ideia de um "governo económico" sem indicação do âmbito e propósitos das suas atribuições, ninguém, com autoridade para o fazer, perguntou: O que é isso?
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Aqui, mais uma abordagem ao assunto, emitida a partir de fora dos euromembros.

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Common borrowing and shared risk are second nature in the United States. Taxpayers across all 50 states are responsible for the federal government’s outstanding debt even though some states may send more money per capita to Washington than others do.

Although the amount of U.S. debt may be onerous, size can be an advantage. Economists who study bond markets refer to the “liquidity premium.” Investors treat U.S. bonds as an especially safe investment, confident that there will always be enough to pay them off when the time comes, because there’s so much money sloshing around in the United States. This “premium” is one reason U.S. borrowing rates have remained low.

Advocates of eurobonds want a similar benefit. Individually, the 17 nations that share the euro run the gamut, from the rock-solid Netherlands to weakened Spain and tottering Greece. Each issues its own bonds in its own name and pays a different interest rate. But pool the nations together and the liquidity premium might kick in. The eurozone would become a $13 trillion economy rivaling the United States in size and population and almost certainly would carry a AAA rating, allowing Greece and Italy’s needs to be financed as cheaply as Germany’s.

But lining European countries behind common borrowing could prove much more unwieldy than in the United States. To make it work, countries might have to agree on closer coordination to decide how much they spend each year. They might even have to surrender some power to a centralized finance ministry, akin to the U.S. Treasury Department.

There’s already plenty of thinking about how to tackle such issues. Former Italian prime minister Romano Prodi, for instance, recently suggested that euro nations should pool all their gold to back common borrowing. Bruegel, a European think tank, has suggested “blue bonds” that the euro area would issue as a whole and “red bonds” that countries would issue on their own, probably with higher interest rates.

A feasibility study by European Economic and Monetary Affairs Commissioner Olli Rehn is expected to map out the possibilities.

What happens next might depend on the course of the crisis.

“If Italy is at the brink . . . then I’m not sure it isn’t sellable,” said Zsolt Darvas, a researcher at the Bruegel think tank, and an advocate for the eurobond idea. “If this was addressed in 1999, we would not be in this crisis.”

Europe debt crisis forces officials to revisit creation of common eurobonds

Thursday, August 25, 2011

KEYNESIANS ECONOMICS VS. REGULAR ECONOMICS

By ROBERT J. BARRO

Keynesian economics—the go-to theory for those who like government at the controls of the economy—is in the forefront of the ongoing debate on fiscal-stimulus packages. For example, in true Keynesian spirit, Agriculture Secretary Tom Vilsack said recently that food stamps were an "economic stimulus" and that "every dollar of benefits generates $1.84 in the economy in terms of economic activity." Many observers may see how this idea—that one can magically get back more than one puts in—conflicts with what I will call "regular economics." What few know is that there is no meaningful theoretical or empirical support for the Keynesian position.

The overall prediction from regular economics is that an expansion of transfers, such as food stamps, decreases employment and, hence, gross domestic product (GDP). In regular economics, the central ideas involve incentives as the drivers of economic activity. Additional transfers to people with earnings below designated levels motivate less work effort by reducing the reward from working.

In addition, the financing of a transfer program requires more taxes—today or in the future in the case of deficit financing. These added levies likely further reduce work effort—in this instance by taxpayers expected to finance the transfer—and also lower investment because the return after taxes is diminished.

This result does not mean that food stamps and other transfers are necessarily bad ideas in the world of regular economics. But there is an acknowledged trade-off: Greater provision of social insurance and redistribution of income reduces the overall GDP pie.

Yet Keynesian economics argues that incentives and other forces in regular economics are overwhelmed, at least in recessions, by effects involving "aggregate demand." Recipients of food stamps use their transfers to consume more. Compared to this urge, the negative effects on consumption and investment by taxpayers are viewed as weaker in magnitude, particularly when the transfers are deficit-financed.

Thus, the aggregate demand for goods rises, and businesses respond by selling more goods and then by raising production and employment. The additional wage and profit income leads to further expansions of demand and, hence, to more production and employment. As per Mr. Vilsack, the administration believes that the cumulative effect is a multiplier around two.

If valid, this result would be truly miraculous. The recipients of food stamps get, say, $1 billion but they are not the only ones who benefit. Another $1 billion appears that can make the rest of society better off. Unlike the trade-off in regular economics, that extra $1 billion is the ultimate free lunch.

How can it be right? Where was the market failure that allowed the government to improve things just by borrowing money and giving it to people? Keynes, in his "General Theory" (1936), was not so good at explaining why this worked, and subsequent generations of Keynesian economists (including my own youthful efforts) have not been more successful.

Theorizing aside, Keynesian policy conclusions, such as the wisdom of additional stimulus geared to money transfers, should come down to empirical evidence. And there is zero evidence that deficit-financed transfers raise GDP and employment—not to mention evidence for a multiplier of two.

Gathering evidence is challenging. In the data, transfers are higher than normal during recessions but mainly because of the automatic increases in welfare programs, such as food stamps and unemployment benefits. To figure out the economic effects of transfers one needs "experiments" in which the government changes transfers in an unusual way—while other factors stay the same—but these events are rare.

Ironically, the administration created one informative data point by dramatically raising unemployment insurance eligibility to 99 weeks in 2009—a much bigger expansion than in previous recessions. Interestingly, the fraction of the unemployed who are long term (more than 26 weeks) has jumped since 2009—to over 44% today, whereas the previous peak had been only 26% during the 1982-83 recession. This pattern suggests that the dramatically longer unemployment-insurance eligibility period adversely affected the labor market. All we need now to get reliable estimates are a hundred more of these experiments.

The administration found the evidence it wanted—multipliers around two—by consulting some large-scale macro-econometric models, which substitute assumptions for identification. These models were undoubtedly the source of Mr. Vilsack's claim that a dollar more of food stamps led to an extra $1.84 of GDP. This multiplier is nonsense, but one has to admire the precision in the number.

There are two ways to view Keynesian stimulus through transfer programs. It's either a divine miracle—where one gets back more than one puts in—or else it's the macroeconomic equivalent of bloodletting. Obviously, I lean toward the latter position, but I am still hoping for more empirical evidence.

Mr. Barro is an economics professor at Harvard and a senior fellow at Stanford's Hoover Institution.

COMO SAIR DA CRISE?

O título do artigo (este ) é aliciante, ainda que um tanto desgastado, e convida a uma leitura atenta. Tanto mais que o autor, Vitor Bento, habituou-nos a uma clareza com que exprime o que pensa, uma capacidade que raramente se encontra em artigos sobre temas económicos e financeiros, onde frequentemente prepondera o discurso hermético.   

Desta vez, contudo, a expectativa que o título suscita descobre-se numa explicação de meandro  que desagua num resultado que desilude.

Em resumo, afirma Vitor Bento que a saída da crise passa pela sustentabilidade financeira do Estado e da economia, pela flexibilização da economia com o objectivo de a tornar eficiente, e, logo competitiva e concorrencial, sem recurso a desvalorização monetária, e pela preservação das condições necessárias para que a comunidade nacional não perca os instrumentos essenciais para continuar a controlar o seu destino e a oferecer oportunidades de realização plena aos seus cidadãos.

Para que isto aconteça torna-se necessária a conjugação astral do sucesso do programa assumido com a troica, da solidariedade europeia, e da evolução favorável da conjuntura externa.

É pouco, para um título que promete mais. Mas percebe-se.

O que não consegui avaliar foi o raio do segundo ângulo (honi soit) em que Vítor Bento assenta este artigo: o do estado em que se consegue sair da crise. Completamente depenado, não convém. Mas a que instrumentos essenciais para continuar a controlar o seu destino e a oferecer oportunidades de realização plena dos seus cidadãos se quer referir Vitor Bento?

Ficamos sem resposta.

INFLAÇÃO, NÃO

Robert J. Samuelsen escreve hoje no Washington Post que a inflação não é solução para o relançamento da economia. R J Samuelsen, autor de "The Great Inflation and its Aftermath", opõe-se às posições  de Kenneth Rogoff e Paul Krugman, entre outros, favoráveis à adopção de mais injecção de liquidez monitorando os seus efeitos de modo a controlar o crescimento inevitável dos preços dentro de limites aceitáveis.

Para RJS, o problema básico da situação económica actual é a falta de confiança gerada pelas muitas incertezas circundantes. A Fed não deveria tornar ainda mais problemática esta situação adoptando medidas que, sendo teoricamente atractivas, aumentarão o nível de incerteza. Na próxima sexta-feira, em Jackson Hole, durante a anual conferência dos principais bancos centrais mundiais, o presidente da Fed  deveria tornar muito claro no seu discurso que não seria dado qualquer passo naquele sentido.

Dará, não dará, é segredo que será guardado até à última hora.

O editorial de hoje do mesmo jornal "Bang for the buck" afina pelo mesmo diapasão: Não há escassez de  liquidez - os bancos e as grandes empresas estão repletos - o que há é falta de oportuniddes para aplicações rentáveis, ainda que o governo federal tenha acabado de anunciar o primeiro crescimento trimestral nos últimos três anos dos empréstimos bancários - um aumento de 1 por cento no segundo trimestre deste ano. Resumindo, o sector privado ainda não descobriu onde conseguir mais lucros  e criar empregos. E, tendo em conta a retração no consumo público e privado  nos EUA, os problemas na União Europeia, a continuação da instabilidade do Médio Oriente, a recuperação económica ainda está longe. Oxalá Bern Bernanke pudesse provocar uma recuperação económica sustentada brandindo a varinha mágica  monetária. Mas, não pode.

Quem tem razão? Os economistas ou os jornalistas?
Não sei.
Mas sou levado a pensar que, com tanta dispersão de opiniões, os políticos não podem deixar de andar baralhados.
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Act. Correl: Paul Krugman voltou a não ser convidado para Jackson Hole. Aqui, diz porquê, e envia um recado a Bern Bernanke recomendando-lhe a leitura de um documento dele, Bern, de 2000, sobre a politica monetária japonesa para reactivar a economia. Não escapa nada a PK.  

Wednesday, August 24, 2011

QUEM PAGA AS FAVAS

Taxing the rich fairly can be done — and would raise revenue

IT HAS BEEN a little over a week since billionaire Warren Buffett called for higher taxes on the richest Americans, and now comes the reaction. Harvey Golub, a former chairman and chief executive of American Express, writes in the Wall Street Journal that he “resents” Mr. Buffett’s suggestion. I already pay plenty of taxes, Mr. Golub asserts, adding: “Before you ‘ask’ for more tax money from me and others, raise the $2.2 trillion you already collect each year more fairly and spend it more wisely.”

Who’s right? Mr. Golub points out that almost half of the population pays no income tax, and that the very top earners — 250,000 Americans who make $1 million or more per year — already pay 20 percent of the total. State income taxes are often quite high, especially in places where the rich cluster, such as New York, New Jersey and California — yet, notes Mr. Golub, Mr. Buffett doesn’t factor that in. The current code is “replete with favors to various interest groups and industries,” as Mr. Golub puts it, from the mortgage-interest deduction to the exemption for employer-paid health benefits. On top of that, the government wastes a lot of money on farm subsidies and duplicative job-training programs.

All true. But this doesn’t really refute Mr. Buffett, whose main argument — that the burden of deficit-reduction should fall most heavily on the well-to-do — Mr. Golub doesn’t dispute. Mr. Buffett acknowledged that higher taxes on the very rich should be part of a deficit-cutting package that also tackles excessive entitlement spending. Unlike Mr. Golub, he noted that lower-income people who don’t pay income taxes do pay substantial payroll taxes, which are less progressive.

More to the point, there’s no contradiction between Mr. Golub’s attack on tax expenditures and Mr. Buffett’s lament, in a New York Times column, about his 17.4 percent effective federal income tax rate. Mr. Buffett — like other ultra-rich people who get much of their income from investments — achieves that low rate thanks in part to one of the tax code’s most special favors: The 20-percentage-point gap between the top rate for ordinary income, which is 35 percent, and for capital gains, which is 15 percent.

Preferential treatment for capital gains is a tenet of Republican economic orthodoxy that has, alas, been adopted by Democrats in recent years on specious pro-growth grounds. Even President Obama favored a temporary zero capital-gains rate for small businesses, ostensibly as a job-creation measure. In fact, taxing capital gains more lightly than income earned through other means — e.g., work — promotes wasteful tax shelters and breaks such as the $1.5 billion-a-year “carried interest” provision for investment managers.

The 1986 tax reform closed the gap between capital gains and ordinary income, taxing both at a top rate of 28 percent. But subsequent legislation under both Republican and Democratic administrations, culminating in the tax cuts enacted under President George W. Bush, reopened it. This is one reason that the effective tax rate on the top 400 earners in the United States fell from 29.2 percent in 1992 to 21.5 percent in 2008, even as their income more than quintupled.

For Mr. Buffett, the solution is higher rates on both ordinary and investment income for all those earning $1 million a year, with an extra boost in rates for those making $10 million and up. That seems reasonable; but he isn’t precisely clear about how to do it. Unless you equalize the ordinary income and capital-gains rates, there would still be myriad ways for the rich to avoid taxes.

Congress should follow the precedent set by the 1986 reform: Tax all income at the same top rate. Wiping out other special breaks would yield even greater gains in revenue and equity. Indeed, expanding the tax base could yield more revenue at a relatively modest top rate. It might not have to be much more than the 29.2 percent top earners paid back in 1992. A fair, efficient system that raises more revenue than the current one is something all Americans — from plutocrats to the poverty-stricken — could support.

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c/p de aqui 

OS TRABALHOS DE MONSIEUR TRICHET















Buying bonds to lower borrowing costs for struggling countries

The European Central Bank began a program of buying government bonds in May 2010 in an attempt to contain the debt crisis in Greece and Portugal. In August of this year it began buying the bonds of Italy and Spain. In the bond markets, yields decrease as demand increases. The yield is the amount of interest the government pays on the bonds. Riskier bonds carry higher interest rates.

RICCARDO MUTI

PENNSYLVANIA AVE.

Brasileiro? Não. Eu sou colombiano. Estou cá há nove anos, já morei em muitos sítios daqui. Hoje tem pouca gente mas não é por causa da crise, não. Do Verão, talvez. Às segundas e terças vem sempre menos gente. A semana passada estivemos cheios. Seiscentas ou setecentas pessoas. Foi a semana dos restaurantes, com os preços pela metade.
Agora, para a semana o pessoal começa a voltar, começam as aulas, e isto volta a encher. Tem sempre muito cliente. Olha, esse aí é brasileiro!

É, sou brasileiro, sim. Aqui, a maior parte do pessoal é brasileiro. É natural, o restaurante é brasileiro. Eu estou cá, vai fazer seis anos. Já trabalhava para esta cadeia em São Paulo. Estive a trabalhar sete anos em São Paulo. Gosto de aqui estar, sim, mas um pouco de frio no inverno, não é? Você é português? De Portugal mesmo, ou do Brasil? Que bom. Nunca fui a Portugal mas gostava ir. Um dia destes, vou. O Brasil ganhou a Portugal em Sub-20, você sabia? 3-2. Pois. O Brasil tem 190 milhões. Em Portugal, quantos? 10 milhões. É, quase vinte vezes mais. Há anos, foi o contrário: ganhou Portugal. Mais pequenino, mas ganhou. 
Portugal e Brasil, somos os maiores em futebol, não é?
    

O QUE É ISTO?

clicar para ampliar

Tuesday, August 23, 2011

LEE UFAN

JUDIARIAS*



Black Box: Nira Pereg
August 22, 2011 to November 13, 2011
Hirshhorn museum

Nira Pereg (Israeli, b. Tel Aviv, 1969) creates documentary-based video works that transform quotidian actualities into dramatic scenarios. This Black Box presentation features 67 Bows, 2006, a work inspired by visits to the Karlsruhe Zoo, where Pereg studied a flock of flamingos. Employing various camera angles, the artist offers sumptuous close-ups of these exotic animals calmly going about their instinctual business. Over the muffled noise of the birds’ squawks and clucks she adds a provocative, sporadically timed soundtrack, implying disturbing human intrusion into their peaceful realm and evoking a sense of suspense and heightened apprehension among viewers who must question the relationship between what they see and what they hear.

Resumindo: Nira Pereg provoca sons, ora  graves baixos ora graves altos, como de martelada em madeira, e  filma o resultado sobre o os flamingos: O grupo reage baixando, ora discretamente ora mais amedrontado, o pescoço. Só isto, repetido 67 vezes.

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*Talvez o termo tenha há muito entrado em desuso, mas  judiarias, para além dos locais onde habitavam judeus, eram também as traquinices praticadas por alquém sobre animais ou mesmo sobre os seus semelhantes. Tratava-se, portanto, de uma valoração, ainda que pejorativa, benevolente.

ABALO NA CASA BRANCA



Não demos por ele. Tínhamos entrado na viatura 10 minutos antes. Melhor assim.

Suspeitámos que algo teria acontecido quando deparámos com muitos funcionários (em mangas de camisa e cartão de identificação ao pescoço, só poderiam ser funcionários) no exterior do Departamento do Interior, e outros a cruzarem a Constitution Av. para o parque do Mall.

BANDA GÁSTRICA


Em Junho do ano passado, Luís Amado defendia publicamente a proposta alemã de constitucionalização dos limites da dívida e do défice, colocando-se, deste modo, numa posição contrária à defendida por Sócrates. Vd aqui e aqui. Recordo-me que, na altura, Paula Teixeira da Cruz, actual ministra da Justiça, num programa Frente-a-Frente, de Mário Crespo, ter considerado a ideia "um verdadeiro disparate". 

A proposta fez, entretanto, o seu caminho, e voltou agora a ser formalmente reposta no acordo Merkel-Sarkozy sobre outro pacote de medidas para salvar o euro e a União Europeia da desintegração. Curiosamente, tanto do lado do Governo como da Oposição, não se conhecem reacções relevantes e só o Presidente da República discordou sumariamente num apontamento colocado no seu Facebook. A esta discordância de Cavaco Silva anotei a minha discordância com o PR aqui pelas mesmas razões que concordei com Amado há mais de uma ano.

A constitucionalização dos limites da dívida e do défice é, sem dúvida, uma restrição desagradável para quem governa ou pretende vir a governar, na medida em que cerceia a sua liberdade de mostrar obra feita quando essa obra implica a disponibilidade de crédito. Mas é, provavelmente, a única forma de garantir a continuação da construção da União Europeia sem os abalos que a ameaçam derrocar em situações de crise como aquela que atravessamos.

Seria, evidentemente, mais salutar que cada país membro tivesse a capacidade de autodisciplina para conter a dívida dentro dos limites que a sua capacidade de a honrar permite. Sabemos que assim não acontece, e a Alemanha, que foi uma das primeiras infractoras das regras estabelecidas no acordo assinado em Maastricht, há muito que deu esse passo de estabelecimento do tecto do endividamento em função do crescimento da riquesa do país. Sarkozy já declarou que a França tomará a mesma medida, Zapatero e Rajoy anunciaram ontem o seu acordo para o mesmo objectivo.

Trata-se, sem dúvida, de uma medida que se enraiza mais na doutrina clássica que na keynesiana. A limitação da dívida pode colocar restrições indesejáveis ao relançamento das economias em fase recessiva.
O equilíbrio e ponderação que estas coisas requerem podem, e devem, no entanto, estar presentes nos termos em que as limitações forem constitucionalizadas.

O caminho faz-se caminhando

Monday, August 22, 2011

AMANHÃ, OUTRO XERIFE

Ainda há xerifes nos EUA.

Amanhã há eleições para um novo xerife no condado de Fairfax, na Vírginia. Concorrem dois candidatos: um republicano, outro democrata. Por razões que desconheço há muitos cartazes de  Cooper, candidato republicano, afixados nos relvados dos espaços intercalares das vias duplas mas não descortinei cartazes do candidato democrata. (clicar na foto para aumentar)

Independentemente da continuidade de uma função que se tornou familiar de todos quantos se encantaram com as turbulências cinematográficas no antigo far west  americano, é notável o facto de, geralmente, esta função ser preenchida através do voto.

Um xerife não é um juiz mas também há juízes eleitos pelo voto popular.
É melhor? É pior?

In Verbis, revista digital de Justiça e Sociedade, denunciam-se os vícios que um sistema de eleição dos juízes pelo povo pode gerar: Os candidatos compram os advogados, os eleitos retribuirão as ajudas. 

Percebe-se a crítica mas, se a aceitamos, temos de rejeitar a democracia.
Porque, extrapolado o argumento, todos os eleitos para cargos públicos  podem ser suspeitos do mesmo eventual efeito perverso do voto popular. Aliás, se os candidatos a juízes podem ser corrompidos pelos advogados, ou são corrompidos por todos, e o efeito é nulo, ou por alguns, e os preteridos, se são advogados competentes, denunciarão a tramóia de modo mais eficiente que os preteridos pelos favores dos políticos eleitos, porque são muito mais dispersos os seus interesses.

Por outro lado, é mais fácil aos advogados comprarem os juízes compráveis por ajuste directo do que através do voto popular.

Admito que a eleição de juízes não seja a solução para a ineficiência da justiça em Portugal. Mas é indiscutível que a actual situação de falta de imputabilidade democrática em se que suporta o sistema judiciário português é gerador da desconfiança com que o povo vê a actuação daqueles a quem compete administrar a justiça em seu nome sem o seu voto.       

O JOGO DA CABRA CEGA

João Rendeiro lava as mãos da gestão do BPP.

Mas que grandessíssimo .....  .. ....  !!!!
Mas que ...... .. .... de advogados !!!!!

A defesa dos acusados no caso BCP, incluindo Jardim Gonçalves, utiliza argumentos idênticos. (aqui)
Aliás, Jardim Gonçalves desconhecia o empréstimo concedido a empresas do filho (aqui ). Outro distraído, este Jardim Gonçalves.

E o BPN? O que é feito do caso BPN?

E ... e ... e ... e...  Há justiça que quando não é cega, faz-se.

(É impossível não perder o equilíbrio verbal quando a afronta à nossa inteligência é tão sufocante).

Sunday, August 21, 2011

THE NEW WOODOO ECONOMICS?

When John McCain was running for the Republican presidential nomination nearly 12 years ago, he declared that Alan Greenspan was so critical to the economy that, if the then-Federal Reserve chairman died, he’d put sunglasses on the body, prop him up and hope no one noticed.

It’s safe to say that GOP opinions of the Fed have slipped a bit since. Texas Gov. Rick Perry, a newly declared candidate for president, said it would be “treasonous” for Greenspan’s successor, Ben Bernanke, to “print more money between now and the election” in an effort to boost the economy. Other candidates have been equally damning if slightly less extreme in their statements. Rep. Michele Bachmann of Minnesota has accused the Fed of “debasing the currency,” while Rep. Ron Paul of Texas has written a bestseller called “End the Fed.” The party’s economic standard-bearer in the House, Paul Ryan of Wisconsin, repeatedly charges the Fed with “bailing out” what he considers President Obama’s reckless fiscal policy and wants the institution stripped of its mandate to promote employment.

If Republicans dislike monetary stimulus, they loathe its fiscal cousin even more, routinely labeling Obama’s stimulus as ineffective, or worse, counterproductive. They want balanced budgets, the sooner the better. Bachmann, for instance, has advocated an immediate 40 percent cut to federal spending by barring any increase in the debt ceiling. This, too, is at odds with the party’s earlier views. The administration of George W. Bush sold its 2001 and 2003 tax cuts as Keynesian-style economic stimulus. Lawrence Lindsey, a top Bush adviser, even likened opponents of the tax cuts to President Herbert Hoover, whose obsession with balancing the budget in 1932 worsened the Great Depression.

Certainly, some of this rhetoric is just political opportunism. The Fed and the stimulus package are handy proxies for Republicans’ real target, which is Obama in the 2012 election. But something more fundamental is going on: The economic ideology of the Republican Party has changed in recent years in an important and little-appreciated direction. Liberals and conservatives in the United States have long differed on how much the government should meddle in individual markets, whether for energy or health care. But they have largely agreed that the government should have at least some role in smoothing out the ups and downs of the business cycle — what economists call “macroeconomic stabilization,” that is, containing inflation in good times and boosting employment in bad.

But this is the consensus that many Republicans in effect now reject. In their view, the government has no more role meddling in the business cycle than in any other market. “Many of our problems can be traced to a misguided belief by politicians that the American economy is something that can be controlled or micromanaged or influenced positively by government intervention and borrowing,” House Speaker John Boehner (R-Ohio) said in a speech in May. He went on to explain that “for job creators, the ‘promise’ of a large new initiative coming out of Washington is more like a threat. It freezes them. … The rash of ‘stimulus’ legislation passed by Congress in recent years has been one of those obstacles.”

more

TEORIA DAS JANELAS PARTIDAS


(Enviado por e-mail de Luciano M.)
Autor desconhecido


Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas abandonadas na via pública, duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor. Uma deixou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia.

Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipa de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada sítio.

Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as jantes, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.

É comum atribuir à pobreza as causas de delito. Atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras, (da direita e esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí, quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.

O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. Por que é que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso? Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.

Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como que vale tudo. Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de actos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'Teoria das Janelas Partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico, conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujidade, a desordem e o maltrato são maiores.

Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito. Se se cometem 'pequenas faltas' (estacionar-se em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar-se um semáforo vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor aos gangs), estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinquentes.

A Teoria das Janelas Partida foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metro de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: graffitis deteriorando o lugar, sujidade das estacões, ebriedade entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metro um lugar seguro.

Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, mayor de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metro, impulsionou uma política de 'Tolerância Zero'. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana.

O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.

A expressão 'Tolerância Zero' soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem da prepotência da polícia, de facto, a respeito dos abusos de autoridade deve também aplicar-se a tolerância zero. Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito.

Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana. Perante à quantidade de mentiras e explicações medíocres dadas por alguns dos nossos Governantes, directores de instituições educativas, chefes e líderes comunitários sobre este assunto, é bom voltar a ler esta teoria e em seguida difundi-la.

JÚLIO CÉSAR

A Shakespeare Theatre de Washington DC, oferece todos os anos, por esta altura, um espectáculo durante cerca de quinze dias. As entradas, gratuitas, podem ser obtidas diariamente através da net e são atribuidas  por sorteio. Uma parte dos bilhetes é reservada para aqueles que, não podendo inscrever-se ou não querendo submeter-se ao sorteio, se apresentam nas bilheteiras, formando filas de espera de duas, três, quatro horas.

Este ano está em reposição gratuita "Júlio César".
A companhia dispõe de dois espaços, muito próximos um do outro, com 451 lugares no mais antigo, o Lansburgh Theatre e 775 no Sidney Harman Hall, o  mais recente. "Júlio César" é representado neste.
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Numa escala até cinco, quatro. 

Saturday, August 20, 2011

CONSTITUCIONALIZAR O DÉFICE

Constitucionalizar uma variável endógena como o défice orçamental – isto é, uma variável não directamente controlada pelas autoridades – é teoricamente muito estranho. Reflecte uma enorme desconfiança dos decisores políticos em relação à sua própria capacidade de conduzir políticas orçamentais correctas.

A. Cavaco Silva (facebook)

A afirmação do PR é, pelo menos, polémica. Desde logo, porque a proposta de Merkel e Sarkozy tem precedentes. A constituição alemã prevê limites para o crescimento da dívida e, ainda recentemente, a opinião pública mundial foi abalada pela guerrilha forjada pelos jovens turcos do Tea Party que arrastaram os republicanos para uma frente contra a administração Obama com o objectivo de suster o teto da dívida pública norte-americana.

Podem discutir-se os méritos e os malefícios do sistema, não pode afirmar-se que o controlo do défice é inviável porque esse controlo não depende das autoridades a quem, supostamente, compete esse controlo!

Quando o Governo português assumiu o compromisso perante a troica de reduzir o défice para valores estipulados, esse compromisso sustentou-se na capacidade intransmissível, porque representa o último reduto de soberania, de controlar o défice dentro dos limites estabelecidos, independentemente das variáveis endógenas que possam vir a perturbar o alcance desse objectivo.

Contrariamente ao que afirma CS, a proposta não reflete a enorme desconfiança dos decisores políticos em relação à sua capacidade de conduzir políticas orçamentais correctas. O que a proposta reflete é a enorme desconfiança no oportunismo político dos governos conduzirem, por razões estritamente eleitorais, os países para situações desastrosas como esta que atravessamos, que ameaça destruir a União Europeia, e colocar a Europa à beira de um conflito de consequências imprevisíveis.

Para lá da constitucionalização do défice é imperiosa a constitucionalização da compatibilidade do crescimento dos vencimentos da função pública com o crescimento do rendimento nacional anual.