Monday, November 30, 2015
Sunday, November 29, 2015
O ELO MAIS FRACO
Costuma ser o ministro da Educação.
Desta vez, o titular da pasta já encontra o terreno semi-terraplanado com os compromissos assumidos pelo PS com o BE e o PCP e as votações na AR no dia em que ele tomava posse. Basta-lhe que não se mexa enquanto o sr. Mário Nogueira não precisar de fazer prova de vida.
Desta vez, o titular da pasta já encontra o terreno semi-terraplanado com os compromissos assumidos pelo PS com o BE e o PCP e as votações na AR no dia em que ele tomava posse. Basta-lhe que não se mexa enquanto o sr. Mário Nogueira não precisar de fazer prova de vida.
O elo mais fraco deste governo é o ministro das Finanças.
Não porque lhe falte ciência e competência mas porque o lugar vai ser abanado por todos os lados.
Desde logo, pelo lado de dentro.
Ocupando o quarto lugar na hierarquia do governo, sem filiação partidária, só pode agarrar-se ao primeiro-ministro quando os restantes dezasseis membros do executivo reclamarem que os seus orçamentos sejam revistos e melhorados. O primeiro-ministro, hábil negociador, fará como Salomão: meia dose de razão para cada lado. E assim escorregarão os fundamentos dos pilares macroeconómicos do prof. Centeno.
Depois, do lado de fora, mas ainda cá dentro, nas reuniões com os parceiros da maioria parlamentar. Se a maioria implodir, perdem todos mas o PS perde mais. Quando a maioria se esboroar, e isso acontecerá, não se sabe é quando, o PCP já terá convencido as bases, fiéis, da bondade das suas razões e argumentos. E, do lado do BE, o ajustamento saltará fácil e sorridente qualquer objecção que lhe apontem. Já do lado do PS, o tecido fia mais fino e pela ruptura pode enfiar-se o primeiro-ministro. O mesmo é dizer que entre os modelos e as contas do prof. Centeno e os cadernos de encargos do BE e, sobretudo, do PCP, o primeiro-ministro perceberá melhor estes últimos.
Mas é em Bruxelas que o prof. Centeno vai ver-se do avesso. A Bruxelas terá de levar as contas feitas
pelos parceiros da maioria, de Bruxelas trará as contas feitas pelos incumbidos delas.
E, das duas uma, ou se demite (o ministro Gaspar demitiu-se por muito menos razões) ou é mesmo um génio capaz de conciliar o inconciliável.
"Governo vai continuar trajectória de consolidação do défice orçamental" - aqui
"O secretário-geral da CGTP garante que não vai deixar de lutar por haver um Governo de Esquerda ... é fundamental a participação cívica dos trabalhadores e dos cidadãos na rua para exprimirem a sua vontade de mudança e, simultaneamente, para influenciarem essa mudança", explicou Arménio Carlos, como justificação de, mesmo após ser empossado o Governo de Costa, a entidade ainda manter a manifestação agendada - aqui
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Correl. - (30/11) Programa do PS viola recomendações europeias
pelos parceiros da maioria, de Bruxelas trará as contas feitas pelos incumbidos delas.
E, das duas uma, ou se demite (o ministro Gaspar demitiu-se por muito menos razões) ou é mesmo um génio capaz de conciliar o inconciliável.
"Governo vai continuar trajectória de consolidação do défice orçamental" - aqui
"O secretário-geral da CGTP garante que não vai deixar de lutar por haver um Governo de Esquerda ... é fundamental a participação cívica dos trabalhadores e dos cidadãos na rua para exprimirem a sua vontade de mudança e, simultaneamente, para influenciarem essa mudança", explicou Arménio Carlos, como justificação de, mesmo após ser empossado o Governo de Costa, a entidade ainda manter a manifestação agendada - aqui
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Correl. - (30/11) Programa do PS viola recomendações europeias
Saturday, November 28, 2015
QUEM RI NO FIM
"Hábil negociador", é certamente o atributo mais citado das qualidades do sr. António Costa. Um atributo que lhe permitiu ser empossado como primeiro-ministro depois de uma derrota partidária, mas sobretudo pessoal, nas eleições legislativas de 4 de Outubro, e quando o sr. Passos Coelho já esfregava as mãos para continuar a governar durante mais quatro anos.
Se os compromissos assumidos entre o PS e o BE, por um lado, e o PS e o PCP (e PEV, em anexo) são suficientemente consistentes para suportarem o governo do PS durante a legislatura, meia legislatura ou só até ao próximo verão, só o futuro dirá. Para já, arrancou aos solavancos, o que não significa que não possa vir a conseguir um marcha com andamento sem turbulências que o descarrilem na próxima curva mais apertada.
Ontem, os comentários da área socialista procuravam desvalorizar o desencontro entre socialistas, bloquistas e comunistas em São Bento no mesmo dia em o Governo tomava posse no Palácio da Ajuda, enaltecendo o vigor do parlamento enquanto sede própria para analisar e discutir as propostas das forças partidárias que nele têm assento. Não se entenderam, sequer na generalidade, o PS e os parceiros que suportam a maioria de esquerda acerca das medidas de austeridade com reflexo no OE para 2016? Não importa, e é salutar até, argumentam com irrefutável optimismo, têm agora vinte dias para se entenderem na especialidade, e vão, inevitavelmente, conseguir o acordo imprescindível.
Mas são argumentos para se confortarem.
A realidade nua e crua é diferente, e o primeiro-ministro acusou logo o desconforto pelo deslize em que, incompreensivelmente, o seu líder parlamentar se tinha deixado embarcar. Resultado : PS e esquerda vão negociar propostas do Governo em reuniões às terças.
Será também um teste semanal à apregoada habilidade de negociação do líder. Habilidade e resistência física e psicológica, que os parceiros são difíceis de digerir.
O sr. Jerónimo de Sousa, já se sabe, não prescinde de trazer de volta os transportes públicos ao domínio do sr. Arménio Carlos até ao próximo Congresso do seu partido, altura em que admite reformar-se. (vd. entrevista do Expresso de hoje).
Friday, November 27, 2015
JÁ???
"As bancadas do BE e do PCP assumiram que ainda não chegaram a acordo sobre o ritmo de eliminação da sobretaxa de IRS proposto pelo PS (até ao final de 2016) e que esperam encontrar uma alternativa de extinção mais rápida na discussão na Comissão de Orçamento. A posição foi deixada no debate desta quinta-feira, em que o PSD e o CDS assinalaram o “desconforto” das bancadas mais à esquerda.
Esta sexta-feira o diploma deve baixar à comissão sem votação na generalidade, o que evita um chumbo, já que para o projecto do PS ser aprovado o PCP e o BE têm de votar a favor, tendo em conta que o PSD e CDS votam contra. Os comunistas também não concordam com o ritmo da extinção da contribuição extraordinária de solidariedade (CES) e da reposição dos salários dos funcionários públicos. "- aqui
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Correl . -
"Primer choque entre comunistas y socialistas en el Parlamento portugués" - aqui
Thursday, November 26, 2015
ACABOU A AUSTERIDADE
A austeridade em Portugal acabou:
O Governo do sr. António Costa, empossado hoje, tem mais ministros e secretários de Estado que o Governo do sr. Passos Coelho, hoje despedido.
O Governo do sr. António Costa, empossado hoje, tem mais ministros e secretários de Estado que o Governo do sr. Passos Coelho, hoje despedido.
Wednesday, November 25, 2015
A CRISE DA MEIA-IDADE DE TIAGO BRANDÃO RODRIGUES
Afirma-se no jornal i de hoje que "Cavaco convocou Costa para nova reunião por estar irritado com a divulgação dos nomes dos membros do seu governo antes dos mesmos terem sido aprovados pelo PR". Formalmente, o PR tem razão mas de pouco vale a irritação já que, irritado ou não, não lhe será fácil arranjar argumentos consistentes para mandar substituir qualquer dos nomes da lista divulgada ontem.
Entretanto, notícias da tarde dão conta que a posse do Governo será amanhã.
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Entretanto, notícias da tarde dão conta que a posse do Governo será amanhã.
E, no entanto, é intrigante que o Sr. António Costa tenha convidado um ainda jovem (38 anos) e bem sucedido cientista para ocupar o lugar que é um verdadeiro triturador de ministros. Ao Sr. Mário Nogueira, que durante o seu consulado de vinte anos à frente da Fenprof já derrubou vinte ministros, começou logo a crescer água na boca. Ontem mesmo já deu instruções básicas ao doutor Tiago Brandão Rodrigues. E, ou ele faz o que o Nogueira manda, ou tem o pelotão de derrubamento à porta.
Mais intrigante ainda é, contudo, que o cientista tenha aceitado o sacrifício da incumbência. Terá sentido esgotado o seu filão cientista? Terá sido inebriado pelo perfume do poder político? Ou, mais cientificamente, foi prematuramente assaltado pela crise da meia-idade?
Ainda segundo a citada edição do jornal i, que resume uma notícia do "The Guardian" sobre um artigo publicado no Economic Journal,
"a crise da meia-idade é um facto científico. Investigadores britânicos acompanharam 50 mil adultos na Austrália, Reino Unido e Alemanha e concluíram que a fase mais negra acontece entre os 40 e os 42 anos. O lado bom dessa descoberta é que, após bater no fundo, os degraus seguintes são sempre a subir até aos 70 anos, altura em que se atinge um novo pico de bem estar."
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Quando o secretário-geral do PS, António Costa, o convidou para integrar as listas por Viana do Castelo às eleições legislativas de 4 de Outubro, Tiago Brandão Rodrigues pensou em dizer que não. Foi esse “o primeiro impulso”, confessou ao PÚBLICO em entrevista neste Verão. Aos 38 anos — e apesar de nunca ter sido militante em nenhum partido —, o cientista doutorado em Bioquímica pela Universidade de Coimbra é o novo ministro da Educação do Governo liderado por António Costa.
Nasceu em Paredes de Coura e sempre se considerou “um homem de esquerda”. Madrid, Dallas e Cambridge são cidades que conhece bem: viveu, estudou e trabalhou em todas elas — 15 dos últimos 16 anos foram passados no estrangeiro. Para concorrer como cabeça de lista do PS pelo distrito de onde é natural, Tiago Brandão Rodrigues deixou para trás um lugar de investigador na Universidade de Cambridge, em Inglaterra. Há cinco anos que se dedicava a estudar, no laboratório Cancer Research UK, técnicas de detecção precoce do cancro. No fim de 2013, apresentou na revista Nature Medicine uma técnica de ressonância magnética que provou conseguir detectar mais cedo e com maior precisão esta doença. Saltou para os noticiários, foi capa de revista, deu muitas entrevistas sobre a investigação que o apaixona, ganhou visibilidade e reconhecimento nacional.
Vê na escola pública e na educação para todos dois “dos pilares-mores da democracia”, sem esquecer a ciência, pasta para outro ministro. Em campanha pelo Alto Minho, Brandão Rodrigues notou “alguma resignação” por parte das pessoas. Acreditava, contudo, que o PS conseguiria “criar as condições para construir melhor”. “Não temos que baixar as expectativas de ter um Estado que as assista, um Serviço Nacional de Saúde com esperança e uma escola que as eduque”, sublinhou.
A um mês das legislativas, garantiu estar preparado para fazer parte de um meio “aparentemente não tão consensual”. Acredita que a cultura científica pode ter um contributo importante na política, “que não é um quadrado fechado”. - in Público
Tuesday, November 24, 2015
SÃO INÚTEIS OS PROGNÓSTICOS
Este Governo durará o tempo que o Sr. Arménio Horácio Alves Carlos quiser.
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- Presidente da República indicou Secretário-
- Geral do PS para Primeiro-Ministro
- Na sequência da audiência hoje concedida pelo Presidente da República ao Secretário-Geral do Partido Socialista, Dr. António Costa, a Presidência da República divulga a seguinte nota:
“As informações recolhidas nas reuniões com os parceiros sociais e instituições e personalidades da sociedade civil confirmaram que a continuação em funções do XX Governo Constitucional, limitado à prática dos atos necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos, não corresponderia ao interesse nacional.
Tal situação prolongar-se-ia por tempo indefinido, dada a impossibilidade, ditada pela Constituição, de proceder, até ao mês de abril do próximo ano, à dissolução da Assembleia da República e à convocação de eleições legislativas.
O Presidente da República tomou devida nota da resposta do Secretário-Geral do Partido Socialista às dúvidas suscitadas pelos documentos subscritos com o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista “Os Verdes” quanto à estabilidade e durabilidade de um governo minoritário do Partido Socialista, no horizonte temporal da legislatura.
Assim, o Presidente da República decidiu, ouvidos os partidos políticos com representação parlamentar, indicar o Dr. António Costa para Primeiro-Ministro.” - aqui
Monday, November 23, 2015
O TERCEIRO RASTILHO?
O PR entregou hoje ao Secretário-Geral do PS um documento, vd. aqui, integrando um conjunto de questões que pretende sejam esclarecidas com vista a uma futura solução governativa:
a) aprovação de moções de confiança;
b) aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016;
c) cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária;
d) respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva;
e) papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País;
f) estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa.
b) aprovação dos Orçamentos do Estado, em particular o Orçamento para 2016;
c) cumprimento das regras de disciplina orçamental aplicadas a todos os países da Zona Euro e subscritas pelo Estado Português, nomeadamente as que resultam do Pacto de Estabilidade e Crescimento, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade e da participação de Portugal na União Económica e Monetária e na União Bancária;
d) respeito pelos compromissos internacionais de Portugal no âmbito das organizações de defesa colectiva;
e) papel do Conselho Permanente de Concertação Social, dada a relevância do seu contributo para a coesão social e o desenvolvimento do País;
f) estabilidade do sistema financeiro, dado o seu papel fulcral no financiamento da economia portuguesa.
PS responde hoje por carta, vd. aqui, depois de ouvir Bloco e BCP.
Entretanto o Secretário-Geral do PCP já se antecipou afirmando, vd. aqui, que "não há razão nenhuma para as exigências de Cavaco".
"Pela Constituição - A comissão promotora das comemorações do 25 de Abril convocou* para 24 de Novembro, ao fim da tarde, uma concentração em defesa da Constituição, no Largo do Carmo, em Lisboa" - Expresso - 21 de Novembro de 2015
A comemoração do 25 de Novembro de 1975 foi, implicitamente, rejeitada pelo PCP, PEV, BE e PS, que faltaram à reunião convocada pelo presidente da AR, com aquele objectivo, sem aviso nem explicações. Vale a pena, a este propósito, recordar a quem vai perdendo a memória pelo caminho, os factos que mais imediatamente antecederam as acções militares e políticas entre 24 e 25 de Novembro de 75.
Resumo dos factos, relatados por António Reis, co-fundador do PS, em "Portugal, 20 anos de democracia" .
- 9 de Novembro - Cerco do Palácio de S. Bento por uma manifestação de trabalhadores da construção civil, que mantêm deputados constituintes, primeiro-ministro e parte do Governo sequestrados ao longo de 24 horas. É a completa desautorização do Governo e a humilhação do único órgão até então legitimado pela vontade popular.
- 16 de Novembro - Lisboa é invadida por uma gigantesca manifestação organizada pelas comissões de trabalhadores da cintura industrial e com a participação do proletariado rural alentejano, manifestação esta que recebe o apoio declarado de Otelo.
19 de Novembro - O Governo auto suspende-se do exercício de funções, exigindo de Costa Gomes garantias de apoio militar para poder governar. Este recusa-se a mudar os comandos militares, receoso de uma acção de força que desencadeasse uma guerra civil. Será o Conselho a Revolução a lançar o rastilho, ao ousar nomear Vasco Lourenço comandante da Região Militar de Lisboa, em substituição de Otelo. Lourenço faz saber de imediato que porá cobro ao estado de indisciplina de algumas unidades e substituirá os respectivos comandantes. As unidades em causa, reunidas no COPCON, opõem-se à sua nomeação, que é, no entanto, confirmada pelo Conselho da Revolução, que decide ainda dissolver a Escola-Base de Pára-Quedistas de Tancos. É o segundo rastilho que se acende.
25 de Novembro - Os pára-quedistas numa operação relâmpago ocupam as bases aéreas do País com excepção de Cortegaça ...o RALIS toma pouco depois posições de controlo dos acessos da auto-estrada do Norte, mas no COPCON surgem as primeiras hesitações por parte de Otelo, que acaba por recolher a casa.
Costa Gomes tenta ainda negociar com os pára-quedistas, mas, pressionado pelos moderados, que lhe dão conta da sua superioridade operacional proclama o estado de emergência na área de Lisboa, dando luz verde à neutralização da sublevação. Simultaneamente, consegue persuadir os conselheiros gonçalvistas da Armada a evitarem a intervenção dos fuzileiros em favor dos revoltosos e dissuade acções de mobilização popular por parte das estruturas afectas ao PCP...
O desfecho do 25 de Novembro acabou por ser o produto da precipitação voluntarista do extremismo de esquerda que, desamparado pela prudência táctica de comunistas e gonçalvistas, esbarrou com a determinação do sector moderado, que há muito se encontrava preparado para uma eventualidade como esta.
Costa Gomes tenta ainda negociar com os pára-quedistas, mas, pressionado pelos moderados, que lhe dão conta da sua superioridade operacional proclama o estado de emergência na área de Lisboa, dando luz verde à neutralização da sublevação. Simultaneamente, consegue persuadir os conselheiros gonçalvistas da Armada a evitarem a intervenção dos fuzileiros em favor dos revoltosos e dissuade acções de mobilização popular por parte das estruturas afectas ao PCP...
O desfecho do 25 de Novembro acabou por ser o produto da precipitação voluntarista do extremismo de esquerda que, desamparado pela prudência táctica de comunistas e gonçalvistas, esbarrou com a determinação do sector moderado, que há muito se encontrava preparado para uma eventualidade como esta.
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Correl. - O PCP orientou esquerda militar
Quando o PS se aliou à direita para derrotar os comunistas
Quando o PS se aliou à direita para derrotar os comunistas
Sunday, November 22, 2015
EM NOME DA ARTE
Em 1979 uma revolução islâmica destronou o Xá Reza Pahlavi e, de Paris, onde se encontrava exilado, chegou a Teerão para assumir as funções de chefe supremo do novo regime o Aiatola Khomeini. Entre outras medidas tomadas pelo Aiatola para erradicar da sociedade iraniana os vícios e as blasfémias das sociedades ocidentais foram encerradas numa caixa forte do Museu de Arte Contemporânea de Teerão obras de Picasso, Rothko, Warhol, Pollock, Gaugin, Bacon, ente outros, que Fara Pahlavi (Fara Diba), mulher do Xá, tinha adquirido para rechear o museu ajudara a fundar.
Desde anteontem, as obras encerradas desde 1979 voltaram a poder ser vistas pelo público.
Para mais detalhes sobre o acontecimento que parece confirmar uma evolução apreciável na aproximação do Irão aos valores ocidentais, vd. aqui, e, p.e., também aqui e aqui.
A paz, em nome da arte.
A paz, em nome da arte.
Saturday, November 21, 2015
UMA MAIORIA SUPLENTE
...
- Mas não é estranho que o PCP, que afirma ter o PS condições para governar, não assuma o compromisso de aprovar o primeiro orçamento que vier a ser proposto para 2016?
- Não, não é. Basta o compromisso de viabilizar as condições de governo ...
- Essa é boa! Mas como pode o PCP viabilizar o governo PS se não aprovar o orçamento?
- Se o PAN votar a favor ... basta ao PCP abster-se.
- Quer isso dizer que o PAN vota conforme as indicações que o PCP lhes der?
- Não, mas se o PAN se abstiver ou votar contra, vota o PEV a favor, e o PCP pode abster-se. Não te esqueças que o PEV assinou um acordo em separado. Há três acordos, e com o PEV é um deles.
- O PCP joga com duas equipas...
- Não, de modo algum. O PEV é um partido independente do PCP.
- O PCP joga com duas equipas...
- Não, de modo algum. O PEV é um partido independente do PCP.
- Mas isso é maquiavélico! O PEV é o moço de fretes do PCP...
- É a vida ... Eu não gostaria que isso sucedesse, mas pode suceder. E quanto à recusa do PCP de dar por garantida a aprovação do primeiro orçamento tens de ter em atenção que, quando Jerónimo fala, noventa e cinco por cento do que diz dirige-se aos militantes do partido e só cinco por cento aos outros.
- Aos infiéis ...
- Seja como dizes.
- Trata-se, portanto, de uma maioria de apoio parlamentar ao governo PS com uma parte na bancada de suplentes para o que der e vier em alguns jogos ... uma maioria suplente ...
- Chama-lhe o que quiseres, mas é mais ou menos isso.
- Não é jogo limpo...
- Não é inconstitucional.
...
- Não é jogo limpo...
- Não é inconstitucional.
...
Friday, November 20, 2015
O JOGO DA CABRA CEGA
"Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vêm".
A sentença popular foi invocada em Março deste ano pelo juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, vd. aqui, para sustentar a consistência dos indícios da prática de crimes da parte do Sr. José Sócrates.
Mas dos indícios à prova vai ainda uma distância que ninguém sabe calcular.
Ontem, foi notícia, vd. aqui, que "o coordenador da equipa da Autoridade Tributária que investiga a operação Marquês de Pombal propôs uma abordagem completamente nova no combate a corrupção: tributar os rendimentos provenientes de fonte ilícita. A ideia consta de um extenso relatório intercalar (900 páginas) apresentado dias antes da detenção do ex-primeiro ministro, faz amanhã um ano. Segundo as contas feitas pelo inspector das Finanças, o Sr. José Sócrates deve ao fisco 19 milhões de euros."
Segundo a mesma notícia, o coordenador da investigação informou o procurador incumbido de investigar a operação Marquês que em Setembro do próximo ano apresentará o relatório final, e lamentou que, no exercício das suas funções, esteja a receber apenas 25,10 euros de ajudas de custo por cada dia passado fora de casa, uma quantia tão irrisória que parece inacreditável.
Não sabemos se a abordagem do coordenador da equipa da Autoridade Tributária vingará e o Sr. José Sócrates será obrigado a pagar 19 milhões de euros ao fisco. E além dele, todos quantos neste país vivem claramente acima dos rendimentos declarados.
Mas, como já muita gente, a propósito, relembrou, foi pelo isco do fisco que prenderam Al Capone.
É sempre possível apanhar peixe graúdo. O que não se pode é apanhá-lo com minhoca desincentivada.
Segundo a mesma notícia, o coordenador da investigação informou o procurador incumbido de investigar a operação Marquês que em Setembro do próximo ano apresentará o relatório final, e lamentou que, no exercício das suas funções, esteja a receber apenas 25,10 euros de ajudas de custo por cada dia passado fora de casa, uma quantia tão irrisória que parece inacreditável.
Não sabemos se a abordagem do coordenador da equipa da Autoridade Tributária vingará e o Sr. José Sócrates será obrigado a pagar 19 milhões de euros ao fisco. E além dele, todos quantos neste país vivem claramente acima dos rendimentos declarados.
Mas, como já muita gente, a propósito, relembrou, foi pelo isco do fisco que prenderam Al Capone.
É sempre possível apanhar peixe graúdo. O que não se pode é apanhá-lo com minhoca desincentivada.
Thursday, November 19, 2015
DENTRO DO ACORDO?
Percebe-se mal a não comparência do PS, vd. aqui, na reunião do grupo de trabalho proposto pelo presidente da Assembleia da República para discutir a evocação do quadragésimo aniversário do 25 de Novembro de 1975. As ausências do PCP, do BE e do PEV provam que, quarenta anos depois, o 25 de Novembro é uma data insuportável porque lhes recorda que naquele dia se esvaíram as esperanças da tomada de poder pela esquerda estalinista e a "democracia burguesa" impediu a implantação da "democracia popular" em Portugal . Mas a ausência do PS, que em 75 tenazmente se opôs aos avanços comunistas, só pode justificar-se por alguma cláusula escondida no acordo que "permitirá ao PS constituir governo", segundo a enigmática expressão do líder do PCP.
De qualquer modo, o PS deve uma explicação aos portugueses que prezam os valores democráticos "burgueses" e constituem, seguramente, uma maioria mais que absoluta.
Já depois de editada esta nota ouço o deputado João Galamba afirmar num programa da Sic notícias que a ausência se deveu a uma "feliz coincidência".
Infeliz resposta.
Tuesday, November 17, 2015
O ESTADO DA TAP
- E v. considera que um gestor de uma empresa de camionagem de passageiros será melhor gestor da TAP que o Estado?
A pergunta de António Pedro de Vasconcelos, na qualidade da associação "Peço a palavra", que se bate contra privatização da TAP, ficou sem resposta. Nem o Sr. Fernando Pinto, presidente há quinze anos da TAP, nem o secretário de Estado, nem o membro presente da comissão de acompanhamento da privatização da empresa, bugiram.
E, no entanto, a resposta seria óbvia: o Estado não gere nada. O Estado é uma entidade gerida. Quem gere os interesses colectivos reunidos no Estado são os indivíduos eleitos ou quem estes designam. No caso das empresas detidas total ou maioritariamente pelo Estado, a gestão é delegada em gestores ditos públicos, uma evidência que remete para a questão recorrente: quem gere melhor, o gestor público ou o gestor privado?
O sr. Fernando Pinto é geralmente considerado um bom gestor, neste caso, público. Fez aquele negócio que não deu certo (a expressão é dele) da manutenção da Varig mas, alegou ele, teve vantagens traduzidas no aumento de tráfego da TAP com o Brasil, e ninguém contestou. E está hà 15 anos num cargo que, depois do 25 de Abril, tinha sido mais rotativo que a presidência do Sporting.
Então por que é que a TAP chegou à beira do precipício?
Porque o Estado é um accionista com gestão de intereses delegada a um feitor chamado governo.
Coincidem os interesses do Estado com os interesses do feitor? Um socialista dirá que quase sempre, um liberal garantirá que quase nunca. Entre uns e outros deve estar a ocorrência mais provável:
umas vezes sim, outras vezes não.
Assuma-se a média e pergunte-se: Quando os interesses do feitor coincidem com os do Estado é certo e sabido que as decisões do feitor favorecem os interesses do Estado? Obviamente, não. Onde há negócio, há risco, onde há risco pode haver desastre. Se o negócio é privado o risco é de conta dos accionistas, se é do Estado o risco encosta-se ao Orçamento do Estado. No caso da TAP, encostou-se à Parpública, na fila para o Orçamento de Estado.
Presumo que o sr. António Pedro de Vasconcelos, que sabe de filmes e futebóis, apenas por uma questão de fé defenda o contrário. Que o sr. António Costa (naquele momento representado pela sra. Ana Paula Vitorino) ainda sonhe com uma privatização de 49% da TAP é incompreensível. Que investidor privado aceita ser, sem contrapartidas por baixo da mesa, minoritário na TAP?
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* Ressalve-se que há riscos assumidos por privados de que resultam perdas que os contribuintes são obrigados pelo governo a pagar, sendo mais flagrantes os casos de gestão desastrosa e criminosa privada dos bancos - BPN, do BES, entre outros - que, em nome da protecção do sistema financeiro,
penalizam pesadamente os contribuintes.
** A discrepância de opiniões entre os srs. Passos e Costa a propósito da privatização da TAP é paradigmática dos custos que os contribuintes suportam decorrentes das opções dos tutores invocadamente tomadas por ambos em nome dos interesses do Estado ...
Monday, November 16, 2015
A GUERRA DA PAZ
"Islão" significa paz, repetem recorrentemente os muçulmanos quando a violência do terrorismo jihadista os coloca perante os horrores cometidos, próximo deles, em nome de Alá. Mas a etimologia é traída pela casuística das interpretações que cada facção lhe dá, e a paz do Islão é a guerra da paz. Desde os primórdios do Islão, quando a sucessão do Profeta provocou a guerra interminável entre sunitas e xiitas.
- E os Cristãos, não se combateram bestialmente os cristãos, até aos nossos dias, uns aos outros? E durante as Cruzadas não foram cometidas, em nome de Deus, atrocidades sem qualificação possível?
- Foram, foram. Mas as atrocidades de uns não justificam nem atenuam as atrocidades dos outros. O terrorismo em nome de Deus ou é uma negação da sua existência ou um aproveitamento abominável do seu nome.
- Foram, foram. Mas as atrocidades de uns não justificam nem atenuam as atrocidades dos outros. O terrorismo em nome de Deus ou é uma negação da sua existência ou um aproveitamento abominável do seu nome.
Sunday, November 15, 2015
EM NOME DE QUÊ?
Em nome de Alá.
"Les assaillants de la salle de spectacle Le Bataclan à Paris "ont tiré en plein dans la foule en criant "Allah Akbar" ("Dieu est le plus grand"), a rapporté un témoin de la scène interrogé sur France Info".- aqui
Deus é o maior!, a resposta dos que mataram antes de se matarem.
Saturday, November 14, 2015
UM ANO À DERIVA
A Constituição manda e os resultados eleitorais de 4 de Outubro permitiram que, pelo menos durante um ano, o País vai andar politicamente à deriva no meio de uma ondulação de vagas altas. A crispação da conjuntura política não vai distender-se qualquer que seja a decisão do PR e as perspectivas macroeconómicas não são de molde a reduzir a tensão partidária.
O crescimento económico observado continua a ser débil e praticamente decorrente da queda dos preços do petróleo. Não sendo previsível que este factor conjuntural de crescimento subsista, se as previsões, optimistas, que suportam as medidas de devolução e redistribuição de rendimentos apontadas pelo programa do PS, colapsam, os atritos entre os parceiros de esquerda agudizam-se irremediavelmente e a entente cordiale à esquerda rompe-se.
Se a um possível fracasso dos objectivos calculados por Centeno (que já admitiu em entrevista ao FT - The socialists set for power ... - realizar os ajustamentos convenientes aos compromissos do Tratado Orçamental) se juntar o saco de imbróglios que inadiavelmente se colocam ao governo, nomeadamente no sector financeiro, teremos reunidas as condições de uma tempestade assustadora. Quem é que vai investir em tais condições de turbulência?
Mas se o PR, por erro de cálculo ou teimosia, previsível na distensão com que está a encaminhar o processo de decisão, optar por entregar o cargo ao seu seu sucessor embrulhado num governo de gestão, nem a tensão partidária se desvanece e as manifestações sindicais potenciam-se, nem a conjuntura económica e financeira se desanuvia. A imagem projectada no exterior por um governo de gestão de direita não será mais favorável que a de um governo PS com horizonte temporal ameaçado à partida.
Podia ser diferente, claro que podia. Mas não com os líderes partidários do momento.
Friday, November 13, 2015
UM TIRO NA CAGARRA
Éramos oito* e só um apostou que o PR vai deixar que o executivo demitido na terça-feira passada continue em exercício de funções. Os outros sete, entre os quais me incluo, apostaram que ele vai, a contra gosto, acabar por nomear Costa como primeiro-ministro depois da visita à Madeira. E a razão parece linear: um governo de iniciativa presidencial seria chumbado sem apelo nem agravo; um governo de gestão, manietado até ao termo da inibição do PR para dissolver a AR, terminaria os seus dias destroçado pelos imbróglios em carteira, e o líder do PS teria a maioria absoluta garantida, salvo se a sua inabilidade fosse tanta que perdesse uma segunda oportunidade soberana.
No meio da discussão, toca o telefone.
- Viva! Desculpe mas estou aqui no meio do almoço, o barulho é muito, podemos falar mais tarde?
- Tenho uma notícia importante!
- O que é que aconteceu?
- O PR já decidiu ...
- Ele disse-lhe?
- A mim, claro que não. Mas alguém muito próximo dele passou essa informação a ...
- E que decidiu ele?
- Que vamos ter governo de iniciativa presidencial ...
- O Passos disse que não aceita.
- Mas o primeiro-ministro será outro. Fala-se em alguém muito próximo do PR.
- Outro governo para 11 dias?
- Não, não. Esse governo chumba e continua como governo de gestão.
- E chega ao fim com os bofes de fora. É o melhor cenário para o Costa, o pior para o Passos.
- Qual é, então, o melhor?
- Melhor, para quem?
- Para o Passos ...
- Melhor, para quem?
- Para o Passos ...
- Se o Costa é nomeado, é ele e o PS que ao fim de um ano estarão liquidados. E não só: também o PCP e o Bloco de Esquerda levarão um rombo que será histórico. Quem ficar fora do governo nos próximos tempos ganha as legislativas com maioria absoluta ...
- O Passos fica de fora se o PR nomear governo de sua iniciativa ...
- Dá no mesmo. Ganharia o Costa.
- O Passos fica de fora se o PR nomear governo de sua iniciativa ...
- Dá no mesmo. Ganharia o Costa.
---
*Curiosamente, dos oito reunidos à mesa, sete são e sempre foram de esquerda. O outro é, naturalmente, céptico. Para seis de esquerda, o PR não tem alternativa senão nomear Costa, para o sétimo, o PR não nomeia Costa porque não quer; para o céptico, um governo de gestão seria um tiro mal apontado pelo PR.
*Curiosamente, dos oito reunidos à mesa, sete são e sempre foram de esquerda. O outro é, naturalmente, céptico. Para seis de esquerda, o PR não tem alternativa senão nomear Costa, para o sétimo, o PR não nomeia Costa porque não quer; para o céptico, um governo de gestão seria um tiro mal apontado pelo PR.
DUELO AO ENTARDECER
O Sr. Passos Coelho desafiou ontem, vd. aqui, o Sr. António Costa a aprovar revisão constitucional para antecipar eleições.
Percebe-se o desespero do Sr. Passos Coelho. Ele acertara, inesperadamente, no seu adversário, derrubando-lhe a arma, ganhara o duelo, e, sorridente, tinha-se voltado para a multidão que, do seu lado, o aclamava, enquanto o ferido cambaleara para o outro lado, aquele onde se encontravam, bem separados, Jerónimo e Catarina. E foi então que surgiu o imprevisto e insólito acontecimento da tarde: Jerónimo deu uma mão a Costa e, nessa mão, colocou Catarina a arma caída.
"Se aqueles que querem governar na nossa vez não querem governar como golpistas ou como fraudulentos deveriam aceitar a revisão constitucional extraordinária e permitir a realização de eleições". "Se não aceitarem, se preferirem governar como quem assalta o poder e defrauda os eleitores, então não têm nenhuma legitimidade para exigirem o que quer que seja a PSD e CDS, e têm de se bastar a si próprios".
Percebe-se o desespero do Sr. Passos Coelho. Ele acertara, inesperadamente, no seu adversário, derrubando-lhe a arma, ganhara o duelo, e, sorridente, tinha-se voltado para a multidão que, do seu lado, o aclamava, enquanto o ferido cambaleara para o outro lado, aquele onde se encontravam, bem separados, Jerónimo e Catarina. E foi então que surgiu o imprevisto e insólito acontecimento da tarde: Jerónimo deu uma mão a Costa e, nessa mão, colocou Catarina a arma caída.
Em desespero de causa, Costa segurou a arma e imobilizou o adversário.
- Golpista!, acusou Passos em tom gravíssimo. Se és homem de carácter, vamos ao hospital fazer os curativos e voltamos aqui amanhã para um duelo limpo e leal.
- É impossível, barítono: Diz-me aqui o Jerónimo que estão os enfermeiros em greve ... Por quanto tempo, só ele sabe.
Wednesday, November 11, 2015
O CENTRO NÃO DESAPARECEU
Tiveram as eleições legislativas de 4 de Outubro o condão de parecer dividir o eleitorado em duas, e só duas, fileiras ideológicas, esquerda e direita, e fazer desaparecer o centro, aquele conjunto flutuante de dimensão variável, mas sempre considerável, de eleitores que decide os resultados das eleições? Obviamente, não.
O centro existe, e não será agora menor que antes. Uma grande parte dos eleitores não decide confiar o seu voto em função de fidelidades ou simpatias partidárias mas consoante as circunstâncias que influenciam ou que eles presumem influenciar os seus próprios interesses no momento em que votam. Se muitos eleitores votam por inteira dedicação partidária sempre no mesmo partido, independentemente dos gostos ou dos desgostos que essa dedicação lhes dê, outros muitos votam movidos por promessas que ouvem a uns ou contra as medidas adoptadas ou não adoptadas por outros. Da direita terão voado para a esquerda nas últimas eleições mais de 750 mil votos. Mudaram de cor? Não mudaram, mudaram transitoriamente de campo.
Votam os eleitores nos partidos?
Ou votam nos candidatos a deputados?
Ou votam nos candidatos a primeiro-ministro?
Esta questão, suscitada pelos resultados eleitorais de 4 de Outubro, incendiou as discussões entre os vencedores da esquerda e da direita, já que desta vez ninguém perdeu as eleições. E, no entanto, se perguntarem ao cidadão comum os nomes dos deputados candidatos na lista em que votou é muito provável que a esmagadora maioria não consiga recordar-se de mais que um ou dois nomes, e quase sempre o cabeça de lista, candidato a primeiro-ministro. Os eleitores, por dedicação partidária ou opção circunstancial, votam num dos partidos constantes do boletim de voto, independentemente dos deputados propostos.
O centro não desapareceu, o centro não votou em deputados, o centro anda por aí, dum lado e doutro da barricada, pronto a trocar de posições quando as circunstâncias os impelirem a saltar. A esquerda e a direita são bem menores do que querem acreditar ser.
Votam os eleitores nos partidos?
Ou votam nos candidatos a deputados?
Ou votam nos candidatos a primeiro-ministro?
Esta questão, suscitada pelos resultados eleitorais de 4 de Outubro, incendiou as discussões entre os vencedores da esquerda e da direita, já que desta vez ninguém perdeu as eleições. E, no entanto, se perguntarem ao cidadão comum os nomes dos deputados candidatos na lista em que votou é muito provável que a esmagadora maioria não consiga recordar-se de mais que um ou dois nomes, e quase sempre o cabeça de lista, candidato a primeiro-ministro. Os eleitores, por dedicação partidária ou opção circunstancial, votam num dos partidos constantes do boletim de voto, independentemente dos deputados propostos.
O centro não desapareceu, o centro não votou em deputados, o centro anda por aí, dum lado e doutro da barricada, pronto a trocar de posições quando as circunstâncias os impelirem a saltar. A esquerda e a direita são bem menores do que querem acreditar ser.
Tuesday, November 10, 2015
PODER AMARELO
"Reclining Nude" (1917-1918)
Vendido ontem em leilão da Christie´s por $170,405 milhões de dólares ao Long Museum of Shangai, fundado pelos coleccionadores Lui Yiqian, um bilionário chinês que foi motorista de táxi, e a sua mulher Wang Wei.
QUATRO TIROS NUM BARCO DE DOIS
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- São horas de almoço, fica suspensa a sessão até às três da tarde. Retomaremos para a sessão de tiros ao alvo.
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- blé! blé! blé blá!blá!blá!
- Está reaberta a sessão. Vamos dar início ao tiro ao alvo. Dou a prioridade ao Sr. Costa.
- Sr. Presidente, peço a palavra para um esclarecimento.
- Tem a palavra a Sra. Heloisa.
- Não há na lei nem nos regulamentos desta Assembleia nenhum preceito que conceda ao Sr. Costa o direito de atirar primeiro, e impõe o código das boas maneiras que atirem primeiro as damas e só depois os cavalheiros.
- Apoiado!
- Sr. Presidente peço a palavra ...
- Para quê?
- Para um esclarecimento.
- Tem a palavra a Sra. Catarina.
- Concordo inteiramente com a Sra. Heloisa, e proponho que a sessão de tiros ao alvo seja aberta por mim, na qualidade de atirador feminino e comandante de um pelotão mais numeroso que o da Sra. Heloisa, seguindo-se a vez da Sra. Heloisa, depois o Sr. Jerónimo, cabendo a honra do tiro final ao Sr. Costa.
- Protesto, Sr. Presidente!
- Pode protestar à vontade mas, manda o regulamento, que primeiro peça a palavra à mesa da Assembleia.
- Sr. Presidente peço palavra.
- Tem a palavra o Sr. Jerónimo
- É muito evidente que, se a Sra. Catarina atira primeiro, o alvo vai ao fundo e não haverá outra oportunidade para os tiros dos outros senhores atiradores. De modo que proponho que se forme um pelotão comandado por mim na qualidade de comandante mais antigo, e que os tiros sejam disparados pelo colectivo, em simultâneo.
- Senhor Presidente, peço a palavra ...
- Tem a palavra o Sr. Costa.
- Compreendo e concordo com os argumentos e as propostas das senhoras e do senhor que me antecederam mas vislumbro neles alguma impossibilidade de os compatibilizar a contento de todos. Proponho que a sequência de tiros seja ordenada com recurso a moeda ao ar.
- Senhor Presidente, peço a palavra.
- Tem a palavra a Sra. Catarina.
- Com todo o respeito que me merece a proposta do Sr. Costa, permito-me recordar-lhe que somos quatro a atirar e uma moeda não comportar mais que duas faces ...
- Sr. Presidente, peço a palavra.
- Tem a palavra o Sr. ... (Quem é este? É o do Pan) ... Tem a palavra o Sr. do Pan.
- Cumpre-me antes de mais esclarecer que não me incluo no grupo de atiradores mas, esperando alguma reciprocidade para o partido que represento, gostaria de recordar que um rapa, um ecológico rapa de madeira nacional, poderá, agora e em qualquer outra situação no futuro, determinar prioridades de intervenção dentro do grupo de atiradores ... Rapa, em primeiro, Tira, em segundo, Deixa, em terceiro, Põe, em quarto ...
- Senhor Presidente, peço a palavra ...
- Tem a palavra o Sra. Heloísa.
- Propõe o anterior orador a utilização de um rapa de madeira nacional, uma proposta que não pode senão deixar de merecer o mais veemente repúdio do nosso partido, o verdadeiro partido verde. A produção de rapas, se esta proposta fosse aprovada, iria acelerar a destruição da floresta portuguesa...O rapa não tem qualquer viabilidade!
- (Apoiado! Abaixo o rapa!)
- (Abaixo o rapa!)
- (Abaixo o rapa!)
Monday, November 09, 2015
UMA QUESTÃO DE DESGOSTOS
Li com o maior interesse esta sua análise mas o remate das conclusões - "preferir um governo PS a um governo PàF indica desde logo que a pessoa ou gosta mesmo muito de risco ou, não gostando de risco ou sendo-lhe indiferente, é irracional" - parece-me inconsequente.
À generalidade das pessoas não subjugadas a catecismos partidários não se coloca agora qualquer possibilidade de arriscar muito ou pouco. Colocadas perante um cenário que a esmagadora maioria não previu, os optimistas esperarão que o governo PS seja bem sucedido, os pessimistas terão expectativas negativas. Mas não podem fazer nada num sentido ou noutro, salvo na forma como, p.e., vão gerir os seus gastos e as suas poupanças. Dito de outro modo, a expressão diferenciadora que utiliza - gostar - pode significar uma opção íntima, um estado de alma, mas não um gosto pelo risco. O gosto pelo risco, salvo melhor opinião, avalia-se pelo acto de arriscar.
Se os eleitores tivessem sido colocados perante as duas opções, tivessem lido a sua análise, e a tivessem levado em conta, nesse caso, sim, poder-se-ia falar de uma tomada de risco.
Mas essa hipótese gorou-se no dia 4 de Outubro.
Se restringirmos a nossa observação às decisões de tomada de risco de investimento pelos empresários, também eles, decidirão em função das suas expectativas num cenário que os deve ter surpreendido a quase todos mas que não esgota a diversidade de vectores em que as suas decisões se enquadram.
Muito provavelmente a generalidade dos empresários preferiria um governo PàF mas ver-se-ão envolvidos em circunstâncias para eles desgostosas.
Sunday, November 08, 2015
COM A CARRAÇA ATRÁS DA ORELHA
O Sr. António Costa, tendo perdido as eleições que deveria ter ganho, e desafiado publicamente pela Sra. Catarina Martins para uma inédita aproximação das esquerdas, agarrou-se à mão que o PCP lhe estendeu. A expressão de socorro é do Sr. Jerónimo de Sousa.
O Programa para um Governo PS foi divulgado hoje, e, espera-se, amanhã saberemos que compromissos foram assumidos, e por quanto tempo, pelo trio que se propõe suportar o governo PS.
Não há, obviamente, suportes partidários gratuitos. A mão dada pelo PCP supõe reciprocidades partidárias, isto é, vantagens que estão para lá dos acordos que supostamente beneficiarão trabalhadores, reformados e pensionistas, entre outros.
Uma das reivindicações, provavelmente a mais importante para o PCP, é a reversão dos contratos de concessão do Metro e dos autocarros de Lisboa e Porto. A privatização do sector ameaçava retirar à CGTP, o braço armado do PCP nos confrontos partidários, a força que lhes permite parar o país quando e como entendem. Segundo dados oficiais citados no Expresso de ontem, - Esquerda reverte concessão de transportes urbanos - "nos últimos quatro anos registaram-se 1100 avisos ou pré-avisos de greves nos transportes urbanos portugueses".
Ao aceitar a mão do Sr. Jerónimo de Sousa, o Sr. António Costa devolve ao PCP a força, ameaçada pela privatização dos transportes urbanos, que lhes permite continuar a potenciar a sua influência na sociedade portuguesa a uma escala que de outro modo não estaria ao alcance da sua relativamente reduzida expressão partidária. Uma influência que só não atingiu em Janeiro de 1975 os limites do monopólio porque Salgado Zenha, então dirigente do PS, se opôs tenazmente à unidade sindical pretendida pelo PCP. Dito de outro modo, o Sr. António Costa troca, com o acordo da esquerda em vias de assinatura, a sua sobrevivência política pela sobrevivência política do PCP.
E porquê?
Porque, repita-se, o Sr. António Costa perdeu as eleições que deveria ter ganho.
Mas também porque a impante autosuficiência do Sr. Passos Coelho, ao dispensar o PS da corresponsabilização da execução das medidas decorrentes dos compromissos assumidos pelo governo PS do Sr. José Sócrates perante a troica, atirou a esquerda moderada para as mãos da esquerda radical. A conta tardou a chegar. Chega depois de amanhã.
Não há, obviamente, suportes partidários gratuitos. A mão dada pelo PCP supõe reciprocidades partidárias, isto é, vantagens que estão para lá dos acordos que supostamente beneficiarão trabalhadores, reformados e pensionistas, entre outros.
Uma das reivindicações, provavelmente a mais importante para o PCP, é a reversão dos contratos de concessão do Metro e dos autocarros de Lisboa e Porto. A privatização do sector ameaçava retirar à CGTP, o braço armado do PCP nos confrontos partidários, a força que lhes permite parar o país quando e como entendem. Segundo dados oficiais citados no Expresso de ontem, - Esquerda reverte concessão de transportes urbanos - "nos últimos quatro anos registaram-se 1100 avisos ou pré-avisos de greves nos transportes urbanos portugueses".
Ao aceitar a mão do Sr. Jerónimo de Sousa, o Sr. António Costa devolve ao PCP a força, ameaçada pela privatização dos transportes urbanos, que lhes permite continuar a potenciar a sua influência na sociedade portuguesa a uma escala que de outro modo não estaria ao alcance da sua relativamente reduzida expressão partidária. Uma influência que só não atingiu em Janeiro de 1975 os limites do monopólio porque Salgado Zenha, então dirigente do PS, se opôs tenazmente à unidade sindical pretendida pelo PCP. Dito de outro modo, o Sr. António Costa troca, com o acordo da esquerda em vias de assinatura, a sua sobrevivência política pela sobrevivência política do PCP.
E porquê?
Porque, repita-se, o Sr. António Costa perdeu as eleições que deveria ter ganho.
Mas também porque a impante autosuficiência do Sr. Passos Coelho, ao dispensar o PS da corresponsabilização da execução das medidas decorrentes dos compromissos assumidos pelo governo PS do Sr. José Sócrates perante a troica, atirou a esquerda moderada para as mãos da esquerda radical. A conta tardou a chegar. Chega depois de amanhã.
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Friday, November 06, 2015
TROCOS TECNOLÓGICOS
Hoje fui à farmácia.
A cliente que me antecedia entregou uma nota de cinco euros para pagamento da conta. A farmacêutica pegou na nota e introduziu-a numa ranhura situada debaixo da máquina de registadora.
A engenhoca recusou a nota porque, explicou a farmacêutica, enquanto a tentava endireitar, a nota estava amachucada.
Endireitada a nota, ensaiou a farmacêutica nova tentativa para obter a colaboração da máquina de trocos.
Tentativa recusada, insistiu a farmacêutica na domesticação da nota rebelde. Sem sucesso.
- Não tem, por acaso, outra nota?
- Tenho, de vinte.
- Ui! A máquina não dá notas de troco, só moedas. Com uma nota de vinte para pagar dois euros e setenta veja lá quantas moedas recebia de troco ...
- Mas a senhora não tem trocos na caixa? Precisa mesmo de passar a nota por essa máquina infernal?
- Precisar, não preciso, mas não dá muito jeito, disse a farmacêutica com voz resignada ao mesmo tempo que procurava uma calculadora de bolso numa gaveta ao lado da registadora.
Com o recurso à calculadora, a farmacêutica, ficou a saber que cinco euros menos dois euros e setenta cêntimos são dois euros e trinta cêntimos. Aceitou a nota de cinco euros recusada pela máquina de trocos e deu o troco à cliente.
Avancei eu e, para pagar a conta de oito euros e quatro cêntimos, entreguei uma nota de dez euros e uma moeda de cinco cêntimos. A farmacêutica recusou-me a moeda de cinco cêntimos e enfiou a nota de dez na máquina. Saí com seis moedas de troco.
Na próxima ida à farmácia levo a nota amachucada.
A cliente que me antecedia entregou uma nota de cinco euros para pagamento da conta. A farmacêutica pegou na nota e introduziu-a numa ranhura situada debaixo da máquina de registadora.
A engenhoca recusou a nota porque, explicou a farmacêutica, enquanto a tentava endireitar, a nota estava amachucada.
Endireitada a nota, ensaiou a farmacêutica nova tentativa para obter a colaboração da máquina de trocos.
Tentativa recusada, insistiu a farmacêutica na domesticação da nota rebelde. Sem sucesso.
- Não tem, por acaso, outra nota?
- Tenho, de vinte.
- Ui! A máquina não dá notas de troco, só moedas. Com uma nota de vinte para pagar dois euros e setenta veja lá quantas moedas recebia de troco ...
- Mas a senhora não tem trocos na caixa? Precisa mesmo de passar a nota por essa máquina infernal?
- Precisar, não preciso, mas não dá muito jeito, disse a farmacêutica com voz resignada ao mesmo tempo que procurava uma calculadora de bolso numa gaveta ao lado da registadora.
Com o recurso à calculadora, a farmacêutica, ficou a saber que cinco euros menos dois euros e setenta cêntimos são dois euros e trinta cêntimos. Aceitou a nota de cinco euros recusada pela máquina de trocos e deu o troco à cliente.
Avancei eu e, para pagar a conta de oito euros e quatro cêntimos, entreguei uma nota de dez euros e uma moeda de cinco cêntimos. A farmacêutica recusou-me a moeda de cinco cêntimos e enfiou a nota de dez na máquina. Saí com seis moedas de troco.
Na próxima ida à farmácia levo a nota amachucada.
Thursday, November 05, 2015
A COLIGAÇÃO DE ESQUERDA JÁ GOVERNA?
Quem não pagar quotas às Ordens terá o Fisco 'à perna'
Li esta notícia aqui.
Li esta notícia aqui.
Medida consta do diploma de
2013 que estabeleceu o regime jurídico de criação, organização e funcionamento
das Associações Públicas Profissionais, mais conhecidas por Ordens.A partir de
agora, a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) irá cobrar os valores de taxas
e quotas que os membros das Ordens falhem ... a medida está patente
num ofício circulado de 29 de outubro no qual a diretora-geral da AT revela que
é agora “possível a cobrança de receitas das Ordens Profissionais através de
processo de execução fiscal a instaurar pelos serviços competentes da AT”.
O Fisco já se incumbia da cobrança coerciva das portagens das autoestradas, agora passa a cobrar as quotas em atraso das associações públicas profissionais. Porquê?
Responde um juiz em causa própria: “faz sentido” que assim seja, uma vez que “as Ordens são consideradas pessoas coletivas de direito público” e, por isso, “faz sentido que beneficiem dos mesmos serviços do Estado”.
Faz sentido???! Não faz sentido nenhum.
Se um membro de uma associação profissional (é discriminatória a atribuição de carácter público a tais associações, ou Ordens para quem preza o corporativismo) não paga as quotas a solução é simples: expulsem-no do clube! Meter-se o Fisco nisto, e um dia destes, por que não?, em todas as pessoas colectivas de direito público e privado, é uma intromissão imprópria de uma sociedade livre.
Wednesday, November 04, 2015
CALDEIRADA À MODA DO SR. COSTA
Para os apreciadores não há melhor petisco que uma boa caldeirada.
À Dona Catarina, habituada a lidar com o tema, ocorreu propor ao Sr. Costa uma caldeirada quando o viu atrapalhado sem saber que cozinhar.
- E lá em casa gostam todos?, perguntou Costa, incrédulo.
- Habituaram-se!, garantiu Catarina, peremptória.
E o Sr. Costa avançou para a caldeirada, e telefonou aos convidados.
- Catarina, estás convidada para a caldeirada.
- Ainda bem que aceitaste a minha sugestão.
- Pois, pois. Mas já tenho gente a protestar cá em casa.
- Essa é boa! Mas protestam porquê? Não gostam de tomate ou de cebola ou ...
- Não, não é nada disso. Dizem que nunca se provou caldeirada cá em casa, pode haver alergias, coisas complicadas ...
- Deixa-os falar, António. Avança e vais ver que se habituam. Já convidaste os Jerónimos?
- Convidei ... convidei ...
- E, então?
- Aceitam o convite mas preferiam uma omelete. Só ovos, sem mais nada.
- Que sensaboria, António ... mas acabaram por aceitar, não?
- Sim aceitam, mas, diz o Jerónimo, que a caldeirada não pode levar cebola ...
- Não pode o quê?
- Não pode levar cebola, nem louro, nem tomate ...
- Que mal lhes faz o louro?
- Arrotos ... Diz que já andam a arrotar só de pensar na caldeirada com louro.
- E o tomate?
- Fica-lhes a pele agarrada ás gengivas ... É o que eles dizem ...
- E alho?
- Nem pensar. Ficam com afrontamentos ... náuseas ...
- Espera aí, espera aí ... Se não leva cebola, não leva louro, não leva tomate, não leva alho ... o que é que leva?
- Água ..
- Bom, até aí estamos de acordo. E que mais leva? Leva sal?
- Sal, pouco ... Querem que leve enguias ...
- Enguias??? Não posso!!! Tínhamos combinado fazer uma caldeirada, uma caldeirada, percebes?, nunca se falou numa caldeirada de enguias ...
- Pois não, mas o que é que tu queres, há quem goste de enguias ...
- Pois eu, quer dizer nós cá em casa detestamos enguias ... As enguias lembram-me as cobras, quando penso em cobras fico tensa e vêm-me, quer dizer, lá em casa vêm-nos as lágrimas aos olhos, espirramos, ficamos estragados de todo.
- Em casa dos Jerónimos, esse sintoma acontece mas é com a cebola, é por isso que eles vetam a cebola.
- E que mais vetam eles?
- Ainda não se pronunciaram em definitivo, vou hoje jantar com eles, quer dizer, com o Jerónimo, mas já me fizeram saber que engalinham com o facto da ideia da caldeirada ter sido congeminada por ti.
- Complexos ...
- Pois, também acho. Mas receio que, por este andar, não vamos ter caldeirada ...
- Vamos , vamos, ... já afiancei que vamos, portanto, vamos! Nem que seja uma caldeirada minimalista.
- Qual? Uma omelete?
- Uma quê? Desde quando é que uma caldeirada pode ser uma omelete?, ou vice-versa?
- Não sei. Ainda não sei. Vou saber só logo à noite ...
- De qualquer modo, António, alguma coisa tens que cozinhar! Não vais bater com a porta, António!
- Alguma coisa se há-de arranjar para comer, descansa...
À Dona Catarina, habituada a lidar com o tema, ocorreu propor ao Sr. Costa uma caldeirada quando o viu atrapalhado sem saber que cozinhar.
- E lá em casa gostam todos?, perguntou Costa, incrédulo.
- Habituaram-se!, garantiu Catarina, peremptória.
E o Sr. Costa avançou para a caldeirada, e telefonou aos convidados.
- Catarina, estás convidada para a caldeirada.
- Ainda bem que aceitaste a minha sugestão.
- Pois, pois. Mas já tenho gente a protestar cá em casa.
- Essa é boa! Mas protestam porquê? Não gostam de tomate ou de cebola ou ...
- Não, não é nada disso. Dizem que nunca se provou caldeirada cá em casa, pode haver alergias, coisas complicadas ...
- Deixa-os falar, António. Avança e vais ver que se habituam. Já convidaste os Jerónimos?
- Convidei ... convidei ...
- E, então?
- Aceitam o convite mas preferiam uma omelete. Só ovos, sem mais nada.
- Que sensaboria, António ... mas acabaram por aceitar, não?
- Sim aceitam, mas, diz o Jerónimo, que a caldeirada não pode levar cebola ...
- Não pode o quê?
- Não pode levar cebola, nem louro, nem tomate ...
- Que mal lhes faz o louro?
- Arrotos ... Diz que já andam a arrotar só de pensar na caldeirada com louro.
- E o tomate?
- Fica-lhes a pele agarrada ás gengivas ... É o que eles dizem ...
- E alho?
- Nem pensar. Ficam com afrontamentos ... náuseas ...
- Espera aí, espera aí ... Se não leva cebola, não leva louro, não leva tomate, não leva alho ... o que é que leva?
- Água ..
- Bom, até aí estamos de acordo. E que mais leva? Leva sal?
- Sal, pouco ... Querem que leve enguias ...
- Enguias??? Não posso!!! Tínhamos combinado fazer uma caldeirada, uma caldeirada, percebes?, nunca se falou numa caldeirada de enguias ...
- Pois não, mas o que é que tu queres, há quem goste de enguias ...
- Pois eu, quer dizer nós cá em casa detestamos enguias ... As enguias lembram-me as cobras, quando penso em cobras fico tensa e vêm-me, quer dizer, lá em casa vêm-nos as lágrimas aos olhos, espirramos, ficamos estragados de todo.
- Em casa dos Jerónimos, esse sintoma acontece mas é com a cebola, é por isso que eles vetam a cebola.
- E que mais vetam eles?
- Ainda não se pronunciaram em definitivo, vou hoje jantar com eles, quer dizer, com o Jerónimo, mas já me fizeram saber que engalinham com o facto da ideia da caldeirada ter sido congeminada por ti.
- Complexos ...
- Pois, também acho. Mas receio que, por este andar, não vamos ter caldeirada ...
- Vamos , vamos, ... já afiancei que vamos, portanto, vamos! Nem que seja uma caldeirada minimalista.
- Qual? Uma omelete?
- Uma quê? Desde quando é que uma caldeirada pode ser uma omelete?, ou vice-versa?
- Não sei. Ainda não sei. Vou saber só logo à noite ...
- De qualquer modo, António, alguma coisa tens que cozinhar! Não vais bater com a porta, António!
- Alguma coisa se há-de arranjar para comer, descansa...
Monday, November 02, 2015
O JOGO DA CABRA CEGA
Há dias recebi na minha caixa de e-mail uma dessas larachas (que transcrevi integralmente aqui) que circulam na net e com que se desanuviam fugazmente os nossos descontentamentos.
"Um agricultor, apanhado a conduzir embriagado uma
carroça puxada por um burra, na EN 17, em Celorico da Beira, foi
condenado, em processo sumário, a pagar 450 euros de multa, pena que pode ser
substituída por trabalho comunitário, porque trabalha, não vive com
qualquer subsidio do governo.
Foi-lhe ainda aplicada, como pena acessória, a inibição
de conduzir qualquer veículo motorizado por um período de sete meses. A
pena exclui a proibição de o arguido guiar a carroça puxada pela burra, o meio
de transporte que mais utiliza, pese embora ter licença, segundo o próprio,
para conduzir tractores e motociclos.
Até que enfim, funcionou a Justiça : Em
tempo recorde, 8 dias depois foi julgado e condenado."
Li, descontraí, e passei à frente. Fui agora recuperá-lo ao cesto do lixo depois de ler este artigo publicado no Negócios on line.
O caso BPN não é apenas um dos casos com que se enfeita a incompetência da justiça em Portugal e a anestesia que a banalização do crime impune injectou nos portugueses. Aproximam-se tempos complicados, ainda mais complicados, e já se perfilam diversos movimentos reivindicativos liderados pelos do costume, perante os novos governos, sejam eles quais e quantos forem. Mas não há uma, uma sequer, manifestação pública que acorde aqueles a quem compete a administração da justiça em nome do povo do entorpecimento que os tolhe quando os arguidos se transportam em cima de muitos cavalos.
A capacidade de mobilização dos portugueses esgota-se na defesa dos interesses corporativos ou paroquiais.
Sunday, November 01, 2015
ADORAÇÃO DA ARTE
Surgiu ao Museu Nacional de Arte Antiga a oportunidade imperdível de integrar no seu acervo – ao lado do cartão final e dos desenhos preparatórios, que já fazem parte da sua coleção – a pintura “A Adoração dos Magos”, uma peça fundamental do património nacional. Mas, para adquirir esta obra, o MNAA precisa de contar com o empenho e a participação de todos. O Museu convida, por isso, os portugueses a patrocinar “A Adoração dos Magos” e a pôr o Sequeira no lugar certo.
Saiba como tornar-se mecenas em:
sequeira.publico.pt
É muito oportuna e adequada esta iniciativa do Museu Nacional de Arte Antiga.
Merece o maior apoio possível a cada cidadão minimamente interessado nos valores culturais do seu país. Para além de colocar a obra de Domingos Sequeira no lugar certo, motiva os portugueses a visitar o MNAA e a descobrir nele algumas obras de valor artístico elevadíssimo.
A propósito, ocorre-me, mais uma vez, que seria também oportuno, ainda que por razões diferentes, suscitar a resposta dos portugueses através de uma iniciativa semelhante, para a aquisição das oitenta e cinco obras de Miró ainda retidas pela interposição do Ministério Público. A suspensão do processo de venda em leilão daquelas obras está a custar aos contribuintes, vd. aqui, cerca de 5251,5 euros, totalizando até agora cerca de 3 milhões de euros, i.e, só os juros do impasse são já seis vezes superiores ao preço que será pago pela "Adoração dos Magos".
Se o Sr. António Costa for primeiro-ministro e a Srª. Gabriela Canavilhas ministra da Cultura, cerca de 50 milhões de euros cairão definitivamente no défice do OE do próximo ano. Sem mecenato popular.
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