Tuesday, January 31, 2012

CARTÃO ÚNICO

Tive que renovar a carta de condução.
Documentos necessários: declaração médica, carta de condução a revalidar, cartão único (para quem tem).
Se tem cartão único precisa de saber o PIN.

- Qual PIN?
- Deram-lhe um PIN quando lhe entregaram o Cartão Único.
- Ah! deram?

Tinham dado. Tive voltar a casa à procura do PIN mas lá o encontrei.

- Para que serve o PIN?
- Para confirmar a morada.
- Mas a morada consta da carta de condução e tem de ser actualizada.
- Pois consta. Mas são as regras que temos.
- E se eu não tivesse encontrado o PIN?
- Tinha de obter outro cartão único.
- E não podia revalidar a carta, entretanto?
- Pois não. Tem aqui esta guia com validade até Abril. Se até lá não receber a carta tem de voltar cá para renovar a guia.

Em conclusão: O Cartão Único são dois: o cartão único, impropriamente dito, e o papel que recebemos com o PIN. Se se perde o PIN está tudo perdido.

A emissão da carta revalidada poderá levar mais de quatro meses!
.
Leio no Público on line que a troica concedeu mais tempo ao governo para reformar a Justiça. Que hoje é aberto o novo ano judicial. Tem estado fechado, pelos vistos. Que no ministério da justiça também se contrataram parcerias público privadas para iludir o défice e a despesa.

Como é que pode um país assim ser de outro modo?

Monday, January 30, 2012

RAY USHIKUBO

9 anos de idade





FIREWALL

Christine Lagarde, actual directora-geral do FMI, defendeu em Davos a construção de um muro na Eurozona que limite os estragos já provocados pela crise financeira impedindo a continuação da sua propagação.   

Como é que isso se faz?
Para alguns participantes no Forum, segundo rumores transmitidos nos noticiários televisivos de ontem à noite, o "firewall" significaria deixar cair a Grécia e, muito provavelmente, também Portugal.

O que significa deixar cair a Grécia?
Não me custa acreditar que um dia destes acabem por prevalecer os votos daqueles que não  vêm na Grécia mais que um empecilho irrecuperável e que, portanto, a melhor solução é secar-lhe o crédito e deixá-la governar-se com a sua indisciplina. 

Não me custa acreditar que a perspectiva imediatista acabe por esquecer as razões fundamentais que levaram à construção da União Europeia. Mas começará aí a tragédia europeia. Porque nem a Grécia vai fechar as portas nem os gregos vão morrer à míngua. No dia em que a Grécia for abandonada pelos europeus será conquistada pelos russos se os norte-americanos não se anteciparem. E, se assim for, a desagregação da União Europeia a leste será uma questão de pouco tempo.

Mas o refluxo também não será pacífico no centro da União.
Se aos gregos vierem a ser impostas condições de regurgitamento acelerado das dívidas com que os bancos ocidentais os empanturraram, emergirão os radicalismos que engendram a trindade diabólica: nacionalismo, xenofobia, racismo.

A trindade diabólica que dizimou milhões de europeus há pouco mais de seis décadas e voltou a incendiar os balcãs há duas.

Se os actuais líderes europeus não perceberem isto, o firewall tornar-se-á um rastilho tenebroso.

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Obs - Sei que me repito. Que não digo hoje nada de algo diferente do que tenho já escrito acerca deste tema. Se insisto é porque continuo a não o ver equacionado sob esta perspectiva por mais alguém. Inconsciência colectiva generalizada ou um receio absurdo da minha parte?

Sunday, January 29, 2012

VERMELHO

Em Maio de 2007 escrevi  aqui: Recomenda, EPC, que "é preciso fazer como a (Maria Andresen) diz da pintura de Rothko: "Mark Rothko/elevava as cores à ignorância de Deus".
 
Na altura, confessava que a pintura de Rothko me continuava a intrigar pela simplória razão de não experimentar diante dela o mais elementar resquício da emoção que atinge muitas pessoas. Desde então já devo ter voltado uma boa dezena de vezes a contemplar alguns dos murais de Rothko, num esforço persistente para descortinar uma nesga da perspectiva de onde as cores são elevadas à ignorância de Deus.
 
José Gil escreve em "Sem Título": Se não é possível atribuir significações precisas aos quadros de Rothko, porque é que elas parecem encerrar todo o sentido do mundo? Diante delas as pessoas rebentam em lágrimas, sem que as lágrimas tenham um significado claro. Rebentam em lágrimas de êxtase: a emoção tornou-se forte demais para um pequeno corpo; ..."
 
John Logan, que escreveu "Vermelho", uma peça de teatro inspirada pela visão de parte dos seus murais pintados para o "Four Seasons" de Nova Iorque mas que acabaram, parte deles, por serem doados à Tate Modern de Londres, afirma que, quando entrou na Tate e viu a obra de Rothko, "a reacção inicial foi inicialmente ao que se sente ao ver pela primeira vez a pessoa amada. Não consegui respirar. Fiquei como se me tivessem dado um murro no estômago. Tinham qualquer coisa de tão impressionante avassalador que eu fiquei ali parado"
 
Ontem fomos ver  "Vermelho", mais uma encenação de João Lourenço para o "Teatro Aberto", um trabalho que requer um esforço enorme em todos os sentidos só possível, além do mais, por uma entrega total e persistente a uma causa irrenunciável. Não sei quantas peças já foram levadas à cena no "Teatro Aberto", neste e nas instalações antigas. ´Com "Vermelho", já assistimos a sessenta. E é sempre com algum desencanto que observamos o alheamento do público por um teatro maior mas acessível. A" Sala Vermelha" estava quase cheia mas é uma sala pequena. Aquele espectáculo merecia um público que enchesse a "Sala Azul". A interpretação de António Fonseca (Rothko) é notável, João Vicente (Ken) replica com uma composição bem conseguida.
 
Não penso que a magnífica obra de Logan ou o excepcional trabalho em exibição no Teatro Aberto desbloqueiem a barreira que me impede aceder à mensagem divina de Rothko (Rothko chegou a supor-se Deus). Mas tentar é um jogo a que continuarei a dedicar-se sempre que a oportunidade aconteça. No fim de contas, nesta como em outras reflexões, o objectivo está na tentativa de compreensão dos outros.
 
"Vermelho", de John  Logan, não exige esse  esforço. Percebe-se todo.
 
Aqui: Imagens de algumas obras de Rothko
"Red" está em cena em Washington. Vd. crítica no Washington Post aqui

Saturday, January 28, 2012

E POR QUE NÃO?

Se há coisa que não nos falta são ideias e propostas que outros deveriam concretizar.
Mesmo que a ideia ou proposta seja tão vaga e redonda quanto esta: é fundamental relançar a economia e criar condições de criação de emprego. Quem é que está contra? Ninguém. A capacidade de criatividade sustentada nas obrigações dos outros é inesgotável.

Por que é que não se exportam pasteis de nata?, perguntou o ministro da economia e muitos continuam ainda admirados com a simplicidade da descoberta. E por que não?
Por que não se exportam rosquilhas de azeite, uma especialidade da minha aldeia ?

As rosquilhas de azeite caem de imediato no goto de qualquer um que lhe dê a primeira trincadela. Quando saímos de casa com destino a leste ou oeste para visitar, de cada vez, metade da família, levamos uma mala pejada de rosquilhas de azeite, arriscando um dia destes ter a carga apreendida na fronteira por inocente evasão aos direitos alfandegários. São um sucesso tão grande que obriga a racionamento de consumo. Têm-nas provado gente de toda a parte do mundo a quem suscitam de imediato a tentação de trincar sempre mais uma.

Mais facilmente exportáveis que os pasteis de nata, por não requererem frigorífico no transporte nem embalagens especiais, prazo de validade de dois meses, as rosquilhas de azeite excedem em sabor e textura os mundialmente conhecidos gressinos italianos.

Em princípio tudo é exportável. Até o "air de Paris".
E todos temos ideias acerca daquilo que deve ser feito por outros, há um professor Marcelo sem direito de antena em cada idiota que o admira. 

Todo este arrazoado porque ontem dei comigo a pensar que, se o ministro propõe os pasteis de nata, eu sugiro as rosquilhas de azeite a Carvalho da Silva para demonstrar a capacidade de realizar aquilo pelo qual durante vinte e cinco anos se bateu: tornar-se um empresário lúcido, capaz de criar emprego, remunerando civilizadamente os seus colaboradores. Que, já agora, poderia recrutar na quase inesgotável capacidade disponível na Confederação Geral de Trabalhadores.

Dou todas as referências a quem as solicitar.

Friday, January 27, 2012

UM BANCO MEIO AFUNDADO

à espera de outro comandante.

O actual presidente do BCP está de saída e, segundo as notícias, já é conhecido o próximo. Os investidores em campo aberto deram sinal que as notícias não lhes desagradam, as cotações subiram ligeiramente e o volume de transacções deixou de se situar a níveis  de quase desconfiança total. Mas a situação crítica em que se encontra o maior banco comercial português estará agora, na melhor das hipóteses, estacionária.

A entrada de Santos Ferreira, de braço dado com Armando Vara, iniciou mais um acto pouco digno na história de um banco que começara por ser uma referência na estruturação do sistema finaceiro português depois da fase esquizofrénica das nacionalizações, optara depois por políticas de engodo, de licitude duvidosa, por uma base accionista alargada e dispersa. Sem um núcleo accionista estável, Jardim Gonçalves suportou-se em meia dúzia de amigos de conveniência, geralmente empreiteiros de obra públicas, a quem concedia crédito e deles recebia apoio para governar.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e os amigos de Jardim foram à procura de outros apoios quando Jardim saiu e a crise nas obras públicas se anunciava. Sócrates recebeu-os de braços abertos e recomendou-lhes um amigo do peito (Vara) e outro amigo também. Até que a crise falou mais alto, os amigos empresários não pagaram o que deviam (aliás não era suposto que o fizessem, mas enrolassem) e as cotações aproximaram-se da nulidade. A Sonangol, que entretanto havia adquidido uma posição qualificada, deve ter aproveitado com a debandada da passarada assustada.   

Conseguirá o novo presidente desencalhar o barco e colocá-lo a navegar? A bordo continuam aqueles, accionistas/devedores, responsáveis em grande medida pelas avarias. Para governar, Nuno Amado conta com o apoio dos angolanos e, provavelmente, com a entrada de fundos públicos de reforço dos capitais próprios.

E era aqui que eu queria chegar: estando a economia em estado lamentável, a banca começa agora a sentir os efeitos dos abusos que cometeu. E quem paga? Também eu. A entrada de fundos intermediados e avalizados pelo Estado deveria exigir aos bancos intervencionados medidas de emagrecimento mas não ouço ninguém reclamar isso. Quando meio mundo é obrigado a apertar o cinto a outra metade continua com ele desapertado.

Eu não conto voltar a colocar um cêntimo que seja das minhas poupanças no BCP por maior que seja o engenho do senhor Nuno Amado. Não vou, portanto, voltar a contribuir, nem como accionista nem como cliente.

Já só espero apenas que o engenho do senhor Nuno Amado não venha a procurar-me como contribuinte.  

Thursday, January 26, 2012

O JOGO DA CABRA CEGA


A leitura da sentença do processo Portucale, que envolve suspeitas de tráfico de influências para a aprovação de um empreendimento turístico do Grupo Espírito Santo, foi hoje adiada pelo colectivo de juízes que está a julgar o caso. Segundo informações recolhidas pelo DN, em causa está um requerimento da defesa do arguido, José Manuel de Sousa, a pedir a produção de prova face às alterações feitas pelos juízes à acusação.

De adiamento em adiamento até à prescrição final.
O habitual,
em Portugal.

ARTE COM M GRANDE


A consagração pública da mistificação artística.
Ainda que as imagens/inscrições sejam virtuais este projecto é, irrecusavelmente, animador dos incansáveis artistas que derramam por todo o lado o que lhes escorre das suas inesgotáveis veias artísticas. Um dia destes chegarão à Torre de Belém. Quem poderá condená-los?
Se os apanharem.

PREVISÍVEL

Ouço na rádio que os bancários da Caixa Geral de Depósitos estão em pé de guerra contra a decisão do governo lhes ir abarbatar dois ordenados, que abrange todos os funcionários públicos ou de empresas do Estado, pensionistas do Estado e pensionistas que não trabalharam para o Estado, mas que o Estado se arrogou desde sempre o direito de gerir os seus fundos de pensões. Os outros, mesmo aqueles que dispõem de rendimentos superiores a todos aqueles, estão isentos.

Ouço ainda que o senhor FernandesTomás, administrador da Caixa Geral de Depósitos em nome do CDS e em substituição da senhora Celeste Cardona, disse que também ele não concorda que os bancários da Caixa Geral de Depósitos sejam abrangidos pela decisão do governo. Numa empresa digna desse nome um administrador que se pronunciasse publicamente contra uma decisão tomada em nome do  accionista único, ou se demitia ou era demitido. Em Portugal, o senhor Fernandes Tomás assume a posição fácil: o partido que representa participa numa decisão que ele tem de fazer cumprir mas sacode a água do capote, e não se passa nada.

Mas vamos ao tema central: Para lá dos protestos dos bancários da Caixa, que têm toda a razão de ser, há os protestos dos trabalhadores da TAP, os funcionários do Banco de Portugal não protestam porque já embolsaram dois dos catorze salários do ano, seguindo uma prática corrente na paralítica instituição de receber em Janeiro os ordenados extra do Verão e de Inverno.

Todas estas embrulhadas, que se enfernizarão à medida que os tormentos da austeridade se tornarem cada vez mais insuportáveis, eram previsíveis a partir do momento em que o governo decidiu atingir apenas uma parte da população portuguesa, isentando os que têm rendimentos inferiores a determinado limite, o que é muito justo, e os que têm rendimentos superiores, mesmo muito superiores aos atingidos, mas estão fora da alçada das decisões discricionárias de corte do governo. 

A isto chamou o governo, corte da despesa pública, o que é uma habilidade semântica, porque a dimensão do Estado não encolheu um milímetro com a decisão. 

Entretanto a administração da Caixa, segundo as notícias, vai engendrar meios para compensar os seus funcionários dos rendimentos abarbatados, através de promoções e outras habilidades afins.
E os outros? Que habilidades vão inventar os outros para recuperar os rendimentos perdidos? 
Em suma: vamos assistir a uma sucessão de fugas dos melhor colocados. O habitual, em Portugal.

Não teria sido mais equitativo, mais suportável, mais eficiente, mais legal e moralmente aceitável se o sacrifício foi-se distribuido por todos, a partir de certo nível de rendimento, através de impostos?  Claro que seria.

Mas a ideologia tem razões que só ela conhece.

Wednesday, January 25, 2012

TODOS NO MESMO BARCO MAS ALGUNS NOS PORÕES

Notícias divulgadas esta semana dão conta da actualização das previsões do FMI para este ano que prevêm uma redução do crescimento económico global, inicialmente previsto de 4%, para 3,25%. Ainda assim o crescimento previsto continua a dever-se essencialmente à China (8,2%) e Índia (7%). As previsões no Outono para os EUA mantêm-se inalteradas (1,7%).

Para o conjunto da Zona Euro o FMI prevê agora uma ligeira recessão, mas adverte que esta situação pode, abruptamente, deteriorar-se. O que, a verificar-se, se as taxas de juro das dívidas soberanas de alguns países membros continuarem a subir e os problemas da banca se agravarem, poderá determinar uma recessão mundial.

“The current environment ... provides fertile ground for self-perpetuating pessimism,” resume o relatório do Fundo.

Economist desta semana publicava o gráfico seguinte:



Obs .- Há pequenas diferenças entre os valores referidos no texto que acompanha este gráfico e aqueles que apresento nesta nota, citados pelo Washington Post de ontem.

POR AMOR AOS BANCOS

Portugueses retiram quatro mil milhões de euros dos Certificados de Aforro em 2011, segundo notícia de anteontem publicada no Público, prosseguindo a prática corrente iniciada desde que o governo anterior decidiu matar os Certificados de Aforro.

Escrevo decidiu matar porque não há outra justificação inteligente para uma medida que, irremediavelmente, os pequenos aforradores não deixariam, mais tarde ou mais cedo, de reconhecer como persecutória de um meio de poupança de execução simples, tanto nos depósitos como nos resgates, mobilizável em qualquer altura e em qualquer estação dos correios, com os juros contados conhecidos em qualquer momento.

Em resumo: o ministro Teixeira dos Santos, no momento em que os problemas da dívida pública se exacerbavam, os juros pagos aos credores estrangeiros atingiam níveis insuportáveis, as poupanças dos portugueses voavam, se não se esfumavam, entendeu dar um golpe nos Certificados de Aforro reduzindo-lhes os juros a níveis ridículos. Para onde foram esses fundos? Para os bancos, evidentemente, até porque os títulos alternativos de poupança que lançou na altura requeriam a mãozinha banqueira. 

Que fez, a este propósito, o actual ministro? Basicamente, o mesmo. 
E o português, que pode ser pouco instruído em finanças, sabendo contar continuou a retirar. 

No mês de Dezembro, os portugueses continuaram a retirar dinheiro dos certificados de aforro (CA), agravando uma tendência que dura há mais de dois anos. No total de 2011, foram retirados 4086 milhões de euros, um valor que está dentro do previsto pelo Governo, que esperava uma saída de 4080 milhões.

Note-se a nuance: O governo, neste caso, só errou em 6 milhões de euros, menos de 1,5 por mil!
Aposto que nunca o governo, este ou outro qualquer, acertou num cálculo anual tão em cheio.
O que é que isto prova?

Aquilo que comecei por afirmar: O governo anterior e este governo continua com a mira apontada para os amaldiçoados Certificados de Aforro.

Quanto aos Certificados do Tesouro, a tal coisa que procurava captar os fundos resgatados dos Certificados de Aforro, são um fiasco: no último mês do ano, foram aplicados 41 milhões de euros e resgatados 26 milhões. Em cerca de um ano e meio de existência dos CT, o saldo acumulado é de 1308 milhões de euros.

Se os ministros das finanças sabem fazer contas, e pelos vistos sabem e acertam neste caso em cheio, com que objectivo promovem a retirada de fundos de portugueses à guarda do Tesouro quando o Tesouro está falido? Só há uma resposta possível.

É amor a mais.

Tuesday, January 24, 2012

O BRANCO DE PORTUGAL


"Em causa estarão cerca de 93 milhões de euros, segundo as contas oficiais.
O Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa indeferiu a providência cautelar posta pelo sector bancário e que estava a impedir que o Fundo de Garantia de Depósitos começasse a indemnizar os clientes do banco fundado por João rendeiro e declarado falido em 2010."

A justiça mandou indemnizar quem foi, suportamento, enganado por uma coisa que dava pelo nome de "banco privado português", negando a providência cautelar posta, com inteira razão, pelo sector bancário, sem que ainda tenha sequer sido competente para acusar os culpados pelo embuste.  

Entretanto, o Banco de Portugal, continua assobiar para o ar. O BPN continua de porta a aberta. A quem?

Como é que podemos sair desta fossa cada vez mais atascada e tanta falta de vergonha a nadar nela?

AI QUE NINGUÉM VOLTA AO QUE JÁ DEIXOU

Monday, January 23, 2012

ACERCA DO FUNCIONAMENTO DA AUSTERIDADE

De passagem por Lisboa, Stiglitz voltou a deixar a mensagem que tem transmitido desde o início da crise na Europa : a austeridade não é solução e acabará por afundar o euro. Desta vez, ironicamente, resumiu as suas perspectivas acerca do tema numa frase concisa: "Faremos história se a austeridade funcionar".

Há 10 anos, Stiglitz publicou "Globalization and its Discontents", a obra de divulgação do seu pensamento de política económica mais citada em todo o mundo. Em 1993 tinha deixado a Universidade para presidir ao Conselho de Assessores Económicos do Presidente Clinton. Entre 1997 e 2000 foi Economista-Chefe e Vice-Presidente do Banco Mundial. No prefácio de "Globalization and its Discontents" afirmava "Escrevi este livro porque quando estava no Banco Mundial, observei em primeira mão o efeito devastador que a globalização pode ter nos países em vias de desenvolvimento, e especialmente nas classes pobres desses países".

Dez anos depois, a realidade parece contrariar am larga medida as previsões de Stiglitz: A fulgurante ascenção da China, o crescimento da Índia, o crescimento no Brasil, a recuperação na Rússi, parecem, só por si, testemunharem o contrário. E se é certo que se o crescimento experimentado pelos BRIC beneficiou sobretudo as classes possidentes também é verdade que ele se espraiou de algum modo a grande parte das populações desses países.

Crítico acérrimo dos neo liberais, a quem designa por neo fundamentalistas, Stiglitz ocupa grande parte de "Globalization and its Discontents" no ataque aos processos do FMI, segundo ele obediente incondicional do "Washington Consensus". Ao  "Tricle Down-Economics" ( o crescimento económico acabará por beneficiar os mais pobres) defendido pelos liberais opõe Stiglitz o contrato social sustentado na solidariedade deve levar os pobres a participarem nos ganhos da sociedade e os ricos a suportarem os custos em tempos de tempos de crise. Ainda é cedo para avaliar o comportamento destas sociedades actualmente em forte expensão quando o processo se inverter. Mas é inquestionável que o "trickle down-economics" aponta sempre para o crescimento da desigualdade social.

Poderá a austeridade a que estão sujeitos os países agora comandados pelos mecanismos do FMI permitir o crescimento económico? A propósito do sucesso chinês na transição para a economia de mercado, Stiglitz afirmava que esse sucesso decorrera precisamente do facto da China ter rejeitado as políticas "pronto a vestir" do FMI. Receio, como muitos receiam, que, desta vez, Stiglitz tem razão.

As sementes da crise são de natureza diversa, a economia portuguesa já se confrontava com bloqueamentos estruturais antes da crise global eclodir, a banca foi altamente irresponsável na importação e distribuição de crédito, o então governador do Banco de Portugal errou redondamente quando se convenceu e convenceu outros que na Zona Euro não haveria restrições de dívida externa, etc., de tudo resultando uma calamidade financeira em cima de uma economia já fragilizada.

A dívida tem de ser paga? A dívida tem de ser contida dentro de limites aceitáveis e os juros não podem ser insuportáveis pelo crescimento económico. Não havendo crescimento, a dívida continuará a parir juros indefinidamente cada vez mais elevados. E a austeridade só consente crescimento económico sustentado pelas exportações à custa da redução continuada dos salários. Se os vizinhos não estiverem, também eles, sujeitos a programas de austeridade.

Resultado: Podemos transitoriamente calar a verdade mas não a eliminamos. Não é possível, dentro do quadro de exigências financeiras impostas pela troica crescer e conter a dívida. É inevitável que um dia destes as cartas sejam colocadas em cima da mesa.

Disse exigências financeiras, porque há outras, por exemplo a reforma da justiça, que há muito deveriam já estar em acção. E o paquiderme é insensível às alfinetadas, por muitas que receba. 

Sunday, January 22, 2012

ALTERNATIVA

O acordo social assinado pela UGT e, como era mais que previsível, rejeitado pela CGT terá impacto sobre a competitividade da economia portuguesa? Obviamente, que sim. Independentemente de outros efeitos não menos decisivos, o simples facto de a maior flexibilidade das normas reguladoras do trabalho pressionarem inevitavelmente os salários no sentido da baixa, e não apenas dos trabalhadores menos qualificados, reduz os custos de produção e aumenta a competitividade. No limite, quando os salários atingirem níveis chineses, supondo tudo o mais constante - nomedamente o investimento tecnológico envolvido - a competitividade das produções portuguesas será "chinesa".

Será mesmo? Apesar da forte urbanização observada na China nas últimas décadas (segundo o Economist de há dias mais de 51% da população chinesa já reside em cidades) há 650 milhões à espera na fila para uma vida melhor. E a China é apenas, pela ascenção fulgurante que tem vindo a observar, o exemplo mais adiantado da força asiática num mundo globalizado. A concorrência neste mundo global pelos salários não pode senão redundar, como nas batalhas corpo a corpo, pela derrota total dos menos numerosos.

É indiscutível que o acordo assinado há dias tem méritos que podem ser importantes no desentorpecimento de um país excessivamente amarrado a direitos adquiridos. Mas está longe de constituir a alternativa para inverter o descalabro se a actual envolvente externa se mantiver e que se caracteriza por um confronto com um regime que põe e dispõe em função da soberba dos seus líderes.
Embora tendo recuado no quarto trimestre, as reservas cambiais da China, o país detinha no final de 2011 3,18 triliões de dólares no final de Dezembro de 2011. Em Setembro as reservas tinham-se elevado a 3,20 triliões de dólares, sendo este o primeiro recuo em 10 anos. No final de 2010, eram de 2,85 triliões de dólares. Faz sentido que um país com tamanhos recursos mantenha os níveis salariais, as condições de trabalho tão baixos? Faz, porque os protestos estão proibidos, a imprensa não é livre, o direito de opinião cerceado, mesmo o direito de reunião é obrigatoriamente enquadrado pelo partido.

Deng Xiaoping, o tal que afirmava que não interessa a cor do gato o que importa é que cace ratos, reformolou a ditadura permitindo a existência da propriedade privada mas reservando para os mandarins o comando dos equipamentos estratégicos, agilizando a economia sem perder o controle dela. E, evidentemente, com mão-de-obra escrava, já os faraós tinham contruido obras faraónicas.

Expulse-se a China e tutti quanti da Organização do Comércio Internacional? Seria uma tragédia.
Mas é imperativo, sob pena de o mundo caminhar para nivelamentos de miséria em todos os sentidos, que a China respeite regras que a obriguem a participar no reequilíbrio do comércio mundial.  

Dir-me-ão:  O problema não atinge alemães, suecos, finlandeses, holandeses, etc., é uma questão que não aflige os grandes senhores do mundo.

Por enquanto.

Saturday, January 21, 2012

O SALÁRIO ESCANDALOSO DO PR

Cavaco Silva não é um político ingénuo mas, por vezes, parece.
As suas declarações acerca dos seus rendimentos e das suas dificuldades em suportar as despesas próprias vieram numa altura pouco propícia a uma interpretação isenta junto da opinião pública. Qual terá sido o objectivo destas declarações que, ele não ignorava, prestar-se-iam a uma onda de demagogia hiperactivada pelos media? Não sabemos. E não sabemos até porque, depois de ter deixado escapar o desabafo em público, decidiu remeter-se ao silêncio.  

Acabo de ouvir numa das estações de televisão aquilo que é insistentemente repetido por todas: o PR, mesmo tendo sido obrigado a prescindir dos seus honorários como mais alto magistrado da Nação, por imposição de uma lei absurda, de retaliação aliás, já que o PR é eleito por voto directo e não por nomeação político-partidária, terá rendimentos ilíquidos de impostos de cerca de 9300 mensais; a esposa, segundo declarações do mesmo PR, noutra ocasião, terá uma reforma de 800 euros mensais. No total, terão cerca de 10 000 euros mensais para gastar? Não. Terão, quanto muito, cerca de 6000 euros, após impostos, para suportar as suas despesas.

É muito? Só por demagogia ou má fé  pode ser considerado, seja por quem for, que um homem que é PR, foi primeiro-ministro, foi ministro das finanças, professor catedrático, alto quadro do Banco de Portugal, tem rendimentos invejáveis.

Mas é dessa demagogia e má fé que se alimentam, frequentemente, os media em Portugal. Ignorar essa gula carnívora de alguns jornalistas se não é ingenuidade ou distracção que, no caso de um PR, dá no mesmo, não sei o que é.

Maria Filomena Mónica escreve no Expresso de hoje: "Há dias, percebi, com espanto, que havia quem considerasse escandaloso o facto de os salários das vedetas da RTP terem aparecido nos jornais*. Não teremos, nós, os contribuintes, o direito de saber quanto aqueles ganham? Se o salário de um juiz, de um docente universitário ou de um clínico do Serviço Nacional de Saúde é público - por ser pago por nós - por que diabo não há-de o cidadão comum ter conhecimento de quanto ganha José Rodrigues dos Santos, Fernando Mendes ou José Carlos Malato?"     

Enquanto escrevo isto, volto a ouvir a notícia do dia. O reporter destacado é José Rodrigues dos Santos. Não tens vergonha José?

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aqui

"Com milhões de portugueses a sofrer com a austeridade, há quem no serviço público ganhe ordenados chorudos. Os cortes vão chegar agora, ou nas renegociações de contratos.


A revista "Focus" escreve que a estação pública não pode passar ao lado da contenção orçamental e que essa é a permissa a seguir. Em causa estão os ordenados pagos quer aos administradores, quer aos funcionários encarregues da informação e do entretenimento. Há muita gente a ganhar muito dinheiro e a revista revela alguns dos ordenados mais chorudos da RTP.

De acordo com as instruções dadas pelo ministro Miguel Relvas, administradores não poderão ganhar mais que o Presidente da República, o que equivale a 6523 euros mensais. Actualmente, segundo fonte da RTP contactada pela revista, o presidente da estação recebe 15 mil euros mensais/brutos , pelo que terá de passar a receber menos de metade, e o director de informação, Nuno Santos, aufere 14 mil euros mensais, valor também muito acima do tecto máximo pretendido pelo Governo. Outros elementos da direcção de informação também sentirão agora o peso da crise, como Vítor Gonçalves, que recebe 8 mil euros mensais ou José Rodrigues dos Santos, que ganha 13 mil euros por mês.

As estrelas da estação

Os contratos que vinculam os apresentadores de programas de entretenimento têm estado a salvo da crise. É o caso das estrelas mais emblemáticas do canal que escaparam aos cortes do início do ano por estarem protegidos por vínculos individuais de trabalho que só poderão ser renegociados no final do contrato. No entanto, á medida que cada vínculo for atingindo o seu termo, os cortes poderão ir de 10 a 50 por cento

Assim, alguns dos rostos famosos que ganham ordenados milionários na RTP verão os mesmos reduzidos, como são os casos de Fátima Campos Ferreira (10 mil euros mensais), Catarina Furtado (30 mil euros), Fernando Mendes (20 mil euros), José Carlos Malato (20 mil euros), Maria Elisa (7 mil euros), Jorge Gabriel (18 mil euros), Sónia Araújo (14 mil euros), João Baião (15 mil euros), Tânia Ribas de Oliveira (10 mil euros) ou Sílvia Alberto (15 mil euros), entre outros."

O JOGO DA CABRA CEGA

Supremo Tribunal de Justiça condena Domingos Névoa por corrupção na permuta de terrenos do Parque Mayer.
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Tem de pagar ao Estado o valor com que pretendia subornar: duzentos mil euros.
Depois de ter sido condenado ao pagamento ridículo de cinco mil euros pelo tribunal de primeira instância, e ter sido escandalosamente absolvido pela Relação. A justiça portuguesa usa padrões de medida avariados.
Segue-se recurso para o Constitucional?

Entretanto, o Parque Mayer e os terrenos da desmantelada Feira Popular continuam abandonados.
Lisboa não merecia isto.

Friday, January 20, 2012

O ESPLENDOR DO CAPITALISMO DE ESTADO


O tema central do Economist desta semana é o sucesso do capitalismo de Estado protagonizado sobretudo pela China, um sucesso que repõe a questão da capacidade de gestão pública da economia, depois do estrondoso fracasso observado pelas economias planificadas.

Recorda o Economist que as grandes corporaçoes estatais não são uma criação recente: A Companhia das Índias, por exemplo, desempenhou um papel fundamental na consolidação da presença britânica no subcontinente asiático. No fim do século passado, a maior parte das empresas detidas pelos estados emergentes tinham dimensão reduzida e era assumido que, à medida que a economia se desenvolvesse, seriam encerradas ou privatizadas, mas isso não se veio a observar. As empresas sob gestão pública nos países emergentes captaram um terço do investimento directo estrangeiro entre 2003-2010.  Por outro lado, a China está ganhar contratos de infraestruturas em todo o mundo.

No entanto, é por demais óbvio, que o sucesso dos regimes totalitários no domínio da gestão económica se suporta em grande medida na disponibilidade de mão-obra barata e incondicionalmente obediente. Na China, as grandes empresas estatais realizam lucros gigantescos favorecidas por medidas do estado com prejuízo das pequenas. A China Mobile e a China National Petroleum Corporation tiveram em 2009 lucros de 33 biliões de dólares, mais do que o conjunto das 500 empresas privadas mais lucrativas. Será esta situação sustentável? Provavelmente, não, mas até lá os novos mandarins continuarão a acumular divisas e a comprar o mundo.

Estudos repetidos têm demonstrado que as empresas com gestão pública são geridas de forma menos eficiente que as empresas privadas. As empresas públicas são boas a compiar as outras mas são menos inovadoras.

O Japão e a Coreia do Sul suportaram o seu arranque económico no pós-guerra em empresas dominadas pelo estado; a Alemanha fez o mesmo na década de 70 do século XIX, os EUA, a seguir à guerra da independência. Mas, com o tempo, invariavelmente, concluiram que o modelo tinha limites.  

Um outro aspecto que continua a causar atritos nas relações de comércio internacional é a invocada desvalorização artificial da moeda chinesa. Para o governo de Beiging não é tão importante o valor porque facturam as suas produções, e como remuneram o trabalhador chinês, mas a acumulação de divisas que lhes permitam  ser considerados senhores do mundo.

Thursday, January 19, 2012

A CAMINHO DA DITADURA GLOBAL?

Os resultados de um inquérito realizado pelo Instituto Superior de Ciência Sociais que hoje vai ser apresentado em Lisboa concluem que a satifação com a democracia atingiu o mínimo histórico de sempre. Ainda segundo este "Barómetro da Qualidade da Democracia" assiste-se uma "consolidação de um sentimento antipartidário" e a associação da austeridade a exigências internacionais.

O estudo revela que 64,6% dos inquiridos estão insatisfeitos com a maneira como funciona a democracia em Portugal, quando em 2009, e segundo um estudo da SEDES, eram 51%. Por outro lado, em 1999, dados do World Values Survey mostravam que 81% dos portugueses consideravam a democracia um sistema muito bom ou bom, enquanto que segundo este barómetro do ICS, "apenas 55,5% consideram que a democracia é preferível a qualquer outra forma de Governo", um "mínimo histórico de sempre". ... " este "declínio sustentado no apoio à democracia" é "mais importante" do que a existência de 15% de inquiridos "susceptíveis de apoiarem, em certas circunstâncias, um regime autoritário".

Tanto quanto me é dado concluir pelos resultados e conclusões divulgados aqui não há neste estudo qualquer avaliação do impacto da globalização sobre a percepção que as pessoas fazem da democracia que temos. A austeridade é no entanto referida como tendo um significativo impacto sobre a quebra da confiança nos valores democráticos. Mas essa convicção, do meu ponto de vista, não alcança a ameaça que a globalização representa para as democracias nos paises mais fragilizados no contexto da competição global.

O crescimento da China, em grande medida resultado da sua entrada no WTO, a organização para o comércio mundial, não pode senão causar um impacto de admiração, em muitos desprevenidos, por um regime absoluto que sustenta um capitalismo selvagem sob a capa de uma sociedade socialista.

Se não houver alterações às regras da WTO iremos assistir à progressiva nacionalização chinesa dos activos, mesmo os mais estratégicos, que os países endividados são obrigados a vender para pagar as suas dívidas.

Aliás, não só a China mas também, por exemplo, a pseudo democracia de Putin alicia o governo de direita na Hungria. A Grécia pode ser o senhor que segue se a UE e os EUA desvalorizarem a sua importância geopolítica.

A desilusão com a democracia que se apodera dos portugueses é em grande parte decorrente de uma tendência que tende a alinhar por baixo os valores democráticos até à sua eliminação completa.

Wednesday, January 18, 2012

ALGUMAS OPORTUNIDADES ÚNICAS PARA IR À FALÊNCIA

UMA

Aconteceu o mesmo por esta altura, o ano passado:

Recebo do banco uma carta oferecendo-me a oportunidade de fazer uma transferência para a conta de depósitos à ordem no valor do limite do cartão de crédito crédito, até ao dia 19 deste mês.

Percebe-se porquê: O banco aumenta o valor dos depósitos, e com ele a possibilidade de multiplicar o crédito, e se eu não  puder pagar no dia 5 do próximo mês o saldo em dívida no cartão, não há problema, pago uma taxa especialíssima TAEG de 25,2% sobre o valor não pago. Adicionalmente, os encargos com a transferência da Conta Cartão para a Conta Ordem custa-me a módica importância de 2€+3,75% sobre o montante transferido.

OUTRA


MAS HÁ MAIS

O JOGO DA CABRA CEGA



Este Youtube não é recente.
Mas nunca perde actualidade porque o jogo continua
interminavelmente.

Tuesday, January 17, 2012

ESCÂNDALO FISCAL GLOBAL

Mitt Romney, o provisoriamente mais provável candidato dos republicanos na próximas eleições presidenciais dos EUA, em Novembro deste ano, declarou hoje, que pagará cerca de 15% sobre os seus rendimentos em 2011 (in Washington Post) porque a maior parte desses rendimentos resulta de investimentos financeiros (leia-se especulativos) e só em pequena parte de trabalhos realizados (conferências, por exemplo).

Estas declarações irão certamente voltar-se contra Mitt Romney, que já vinha sendo acusado de "abutre", "ganancioso", pelas suas acções enquanto CEO de uma empresa de investimentos financeiros, e relançará a discussão que parecia ter amolecido das vantagens fiscais concedidas aos mais ricos. A disparidade, que foi até criticada por alguns dos  bilionários norte-americanos, com destaque para Warren Buffet, poderá vir a ser um dos temas centrais da campanha que oporá Mitt Romney, se for ele o candidato republicano, a Obama. 

Digo poderá, porque, como há dias anotei neste caderno, tanto democratas como republicanos dependem demasiadamente de Wall Street para se atreverem a alterar significativamente o "stato quo". E, evidentemente, o movimento "Occupy Wall Street"  é demasiado anarca,  disperso para ir para além de um ingénuo floclore político e provocar uma revolta. 

Em todo o caso, a questão está, por agora, em cima da mesa.  
E não respeita, longe disso, à iniquidade da fiscalidade apenas nos EUA.

O JOGO DA CABRA CEGA

Maria de Lurdes Rodrigues ex-ministra da Educação e  o advogado ex-professor universitário João Pedroso, irmão de Paulo Pedroso, e  dois funcionários do ministério arriscam penas que podem ir  entre dois a oito anos de prisão  por adjudicação directa de vários contratos nos anos de 2005, 2006 e 2007  com violação das regras do regime da contratação pública para aquisição de bens e serviços".Tais adjudicações não tinham fundamento, traduzindo-se num meio ilícito de beneficiar patrimonialmente o arguido professor com prejuízo para o erário público, do que os arguidos estavam cientes”.


Vamos e voltamos, e o jogo continua.

Monday, January 16, 2012

AEROPORTO

A globalização é irreversível? Penso que sim.
Porque se for reversível será por um motivo que poderá conduzir a humanidade a um conflito bélico global, de consequências apocalípticas. Mas a globalização, se continuar desenfreada, não pode senão ser o motivo maior da sua reversibilidade.

A competição económica entre as nações, hiperactivada pela globalização, é sobretudo uma competição entre trabalhadores, da qual não resulta necessariamente um aumento de produtividade global mas o nivelamento por baixo das condições de trabalho, da qualidade dos produtos e dos serviços, além da crescente ameaça às condições de toda a vida, animal ou vegetal no planeta.     

Houve tempo em que os transportes aéreos primavam por um serviço aos seus clientes, mesmo daqueles que não se sentam em primeira classe ou executiva,  que não encontrava paralelo nos outros meios de transporte em geral. E não me refiro às refeições a bordo, porque nunca valorizei muito esse serviço, que, por melhor que fosse, era pior do que aquele a que estava habituado mesmo em restaurantes modestos,  mas sobretudo à atenção que lhes mereciam os passageiros quer no embarque quer à saída das aeronaves. 

Hoje, a competição dispensou pessoal, as informações só quase podem ser obtidas por meios electrónicos, que nem sempre temos à mão, a despersonalização é quase total, os passageiros são números e mais nada.

Ontem, chegámos ao aeroporto de Dulles, Washington DC, com duas horas e meia de antecedência, não fosse algum percalço exigir mais tempo, já com o check in feito on-line. Por razões técnicas, que acabaram por se mostrar insolúveis, aguardámos quatro horas a bordo, aguardando os resultados de várias tentativas para resolver o imbróglio. Eram quase duas horas da manhã quando saímos do avião da British Airways, cá fora a confusão era total. Acabaram por nos enviar para um hotel nas proximidades, facultando o transporte numa carrinha com 12 lugares sentados. Outros tantos viajaram de pé, enlatados, contra todas as regras. Outros ficaram a aguardar ao frio cortante a chegada de outro mini bus,  dentro de vinte minutos, prometiam, não sei se cumpriam.
.
Resumindo, e concluindo: só às três da manhã tínhamos feito o check-in no hotel. Atrás de nós ficou uma fila de umas vinte pessoas. Já a caminho do elevador vimos, quase no fim da fila, uma senhora com uma criança de poucos meses de idade o colo. Ninguém lhe cedeu a vez, nenhum empregado veio ter com ela. Devem ter chegado ao quarto às quatro da manhã. Demos por isso pelo contínuo rodar de malas no corredor.

Quanto a pequeno-almoço, almoço, cada qual que pague o seu.
Mas, por isso, não teria despejado aqui esta nota hoje.

Sunday, January 15, 2012

PAISAGEM

Daqui,
deste posto de observação,
mesmo à minha frente,
já abrolham os rodoendros,
de orelhas murchadas pelo frio nocturno.

A pouco e pouco,
o Sol pinta o céu de um azul Lisboa,
e arrebita os rodoendros.
(o nosso termómetro no exterior).
As azálelas vão florir na Primavera,
por agora, incubam imperturbáveis.
De repente, esvoaça e pousa-me,
quase à frente do nariz,
um cardinal, vermelho incandescente,
mas logo foge,
desconfiado,
porque o Hollypurr se fixou nele.

Aqui e ali, os verdes dos azevinhos com pérolas vermelhas
nesta paisagem de fundo cinzento,
à frente deste azul magnífico,
crescem,
enquanto a sombra dos altíssimos liriodendros,
agora despidos,  não lhe fazem sombra.

Pouco antes do nascer do Sol,
passou por aqui uma família de veados,
à procura de rebentos.
Há tempos,
à Dandelion deu-lhe na veneta
subir até quase ao cocuruto de um destes esguios liriodendros,
que, agora,
despidos,
iluminados pelo Sol,
parecem ainda mais altos.
Quarenta metros?

A Dandelion foi até lá acima,
e lá ficou três dias e três noites por não saber descer.
Acontece.
Mas o mais interessante
é que todos a procuraram, preocupados,
a olhar o chão,
insuspeitando que a Dandelion pudesse ter ido atrás de um esquilo
que tanto sobe como desce.

E tudo isto, porque perdi a minha mini Nikon
e ela,
não amarinhou pelos liriodendros acima.

CARUSO



Caruso

Canção escrita por Lucio Dalla no Verão de 1986 e publicada em Outubro seguinte no álbum “DallAmeriCaruso”.

Em Sorrento, com avaria no seu barco, Lucio Dalla hospedou-se num luxuoso apartamento do Grand Hotel
Excelsior Vittoria, onde o famoso tenor Enrico Caruso viveu os seus dois últimos meses e em que foram conservados intactos os seus livros, fotografias e piano.
Foram os donos do hotel que narraram a Lucio o que fora a vida de Caruso nos derradeiros dias. E foi nela
inspirado que Emiliano Lucio Dalla construiu esta canção.

Caruso sabia-se condenado por um cancro na garganta, mas ia conseguindo dar aulas de canto a uma jovem de quem se enamorara. Já muito mal, não querendo deixar de cantar p’ra amada, numa noite de muito calor,
pediu que lhe pusessem o piano no terraço fronteiro ao porto e cantou na sua voz potente, uma apaixonada
declaração de amor e sofrimento.

Ouvindo-o, os pescadores regressaram ao porto e atracados aos cais uns e fundeados outros, escutaram-no no silêncio religioso e cúmplice das luzes das embarcações.

Fazendo das fraquezas forças, Caruso cantou e cantou, mergulhado nos olhos da moça apoiada no piano.

Piorou nessa noite.
Dois dias depois, em 2 de Agosto de 1921, aos 48 anos, Caruso morreu em Nápoles, cidade que o vira nascer em 25 de Fevereiro de 1873.

Esta canção narra o drama daquela noite… luzes, sombras… vida, doença e morte e a busca nos olhos
de uma mulher do porvir inexistente. Um testamento de amor.

Foi o último concerto para a deslumbrante plateia das estrelas e do mar,  barcos, dos pescadores… e da sua musa.

Obrigado Humberto H.

ERA DE REVOLUÇÃO?*

ou de transição?

A actual situação de crise caracteriza-se nos EUA por uma apatia que a distingue de fases da história económica anteriores, no meadamente da destruição criativa que caracterizou a transição do século XIX para o século XX.

Com duas excepções: o Tea Party e Occupy Wall Street.

Aparentemente, o Tea Party representa a revolta contra as conivências entre os banqueiros e o poder em Washington. Começou pela oposição ao resgate de  Wall Street  de700 biliões (700 mil milhões) de dólares em Outubro de 2008, que só foi aprovado pelo Congresso em segunda votação. No entanto, o Tea Party é
dominado por uma base fundamentalmente constituida por brancos de meia idade e idosos, tradicionalmente conservadores. Os seus maiores protestos fizeram-se sentir em Agosto de 2009 contra a reforma do sistema de saúde acusando Obama de roubar fundos do "Medicare" (que assegura os serviços de saúde gratuitos a partir dos 65 anos) para assegurar o serviço de saúde a todos (portanto, também aqueles que estão em idade activa) que não possam pagar um seguro.

No entanto, um inquérito recente concluiu que mais de três quartos dos apoiantes do Tea Party declaram-se favoráveis à manutenção do actual sistema - Medicare, Segurança Social e  sistema público de pensões - que absorve a maior fatia do orçamento federal. Quando o ano passado a administração federal pretendeu reduzir os benefícios Medicare, os republicanos enjeitaram a proposta e Newt Gingrich, anterior líder da maioria republicana no Congresso, atacou o plano do governo considerando-o "uma engenharia social de direita". 

"Os norte-americanos detestam o governo em abstracto mas adoram os programas de governo que os beneficiam em particular".


A base demográfica do Tea Party, por outro lado, explica porque razão os cortes na despesa promovidos pelos republicanos, que agora controlam o Congresso, tenham atingido os programas da educação, infraestruturas, investigação e desenvolvimento, e outros items que envolvem as gerações mais jovens.

Para Ronald Brownstein, editor do National Journal, um semanário de Washington, os EUA entraram numa nova era política de "cinzentos contra castanhos" - um partido "Anglo" Republicano em crescendo contra uma coligação não homogéna dos mais novos e de outras raças que apoiam os Democratas. Esta oposição beneficiou Obama em 2008 na Virgínia e Carolina do Norte, tradicionalmente republicanos.

Obama tem o apoio de largas maiorias de americanos de origem africana, hispânica e asiática, mas de menos de 40% dos brancos "blue-collar, uma separação que se tem acentuado desde 2008. Obama já escolheu Charlotte, Carolina do Norte, com uma população prevalecentemente jovem, multi-étnica e bem preparada, para a convenção da sua nomeação; os republicanos escolheram Tampa, Flórida, uma zona preferida pelos reformados brancos. Se há uma guerra política essa guerra é mais entre gerações e grupos étnicos do que entre classes. 

Segundo o recenseamento de 2010, a população branca estará em minoria nos EUA em 2040. O mesmo censo revelou que 46,5% dos norte-americanos com menos de 18 anos são não-brancos, em 2000 eram 39%. Nos últimos dez anos o número de crianças brancas reduziu-se em 4 milhões enquanto o número total cresceu 6 milhões, em consequência do aumento da população hispânica. À medida que a austeridade fiscal reduz os rendimentos líquidos cada grupo tende a defender a sua fatia no orçamento federal. Apesar dos confrontos observados no ano passado acerca do teto da dívida o diferendo continua adormecido.

O relançamento do confronto entre o 1% dos ricos e o resto, um tema do discurso de Obama, está a ser realizado pelo "Occupy". Contudo, contrariamente ao "Tea Party", o "Occupy" não dispõe de qualquer organização formal. Enquanto o "Tea Party" é republicano e urbano, o "Occupy" forma-se com activistas da esquerda radical, estudantes e anarquistas. Mas nem o "Tea Party" se revê em Romney nem o "Occupy" é entusiasta de Obama, restringindo-se o populismo ao discurso dos candidatos. O contraste entre o populismo das mensagens e as origens dos fundos para as campanhas (Wall Street) não podia ser mais flagrante.

Frente a um eleitorado desiludido, Obama tenta agora entusiasmar a sua base de apoio, nomedamente hispânica, prometendo reformas nas leis de imigração, um assunto praticamente ignorado durante os seus dois primeiros anos de mandato. Romney dirigir-se-á sobretudo aos eleitores mais velhos e prometerá mais cortes na despesa. Com Obama-Romney, avizinha-se um confronto arredado da paixão política.

Avançará o libertário Ron Paul para uma terceira candidatura? Beneficiaria, obviamente, Obama e, por isso não é previsível que ocorra. O mais provável, segundo alguns, é que em Novembro se assista a uma luta suportada por financiamentos record com a mesma origem.

A esta distância temporal, quando o grau de insatisfação é grande, as intenções do   eleitorado tornam-se mais voláteis. Vivemos um tempo de desencanto com a democracia, a confiança no sistema está a desaparecer.
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* Este apontamento é continuação do anterior.

Saturday, January 14, 2012

ERA DE TRANSIÇÃO?

ou de revolução?

O insuspeito, a este respeito,  Financial Times tem vindo a publicar uma série de artigos de reflexão sobre a saliente crise do sistema capitalista - capitalism in crisis. Na edição de hoje, Edward Luce, representante do jornal britânico em Washington, escreve sobre as perspectivas possíveis para o sistema nos EUA sugeridas pela provável nomeação de Mitt Romney como candidato republicano à presidência em Novembro e a sua eventual vitória.

Mitt Romney tem vindo a ser acusado, para já sobretudo dentro do seu próprio partido, de insensibilidade moral (abutre, saqueador, ganancioso) enquanto CEO da Bain Capital, um grupo de especulação financeira, e Edward Luce adverte que se esta reacção contra o capitalismo se mantiver os democratas não terão mais nada a acrescentar até às eleições presidenciais.

E refere um aspecto indiciador da insegurança crescente: Há hoje cerca  de 50 mil armazens de móveis e utensílios diversos que, por um motivo ou outro,  foram retirados de casa. Nas últimas três décadas o número destes armazens decuplicou essencialmente em consequência do aumento de leilões por dívidas não pagas,  divórcio, deslocação/migração, desinteresse. Mas não há nada, no atomizado desconforto da classe média que faça prever uma revolução.  Em períodos de crise económicas, nomeadamente durante as décadas dos "ladrões barões" do fim do sec. XIX começos do século XX, fomentaram o populismo. Mas, então como agora, ambos os partidos recorreram às mesmas fontes de financiamento: há um século, os capitalistas dos caminhos de ferro, nos dias de hoje, Wall Street. Então, como agora, a volatilidade eleitoral aumentou, alterando-se com maior frequência a  maioria no Congresso.  


Observaram-se em ambas as eras alterações tecnológicas que alteraram os padrões de trabalho e enriqueceram estratosfericamente os vencedores ( A este propósito, Mitt Romney tem vindo a arvorar durante a campanha das primárias a bandeira schumpeteriana da destruição criativa). O enriquecimento da superclasse norte-americana decorrente da internet e da globalização financeira desde a década de 90 do século passado encontra paralelo nos que enriqueceram com os caminhos de ferro, a electricidade, o motor de combustão, há 100 anos. Com efeitos idênticos sobre a concentração da riqueza e a concentração das desigualdades, a influenciar a discussão política. 

Mark Hanna, um  director eleitoral do fim do século, afirmou um dia: As três coisas mais importantes na política americana são:  dinheiro, dinheiro, e esqueci-me da terceira. Outros, depois dele, têm dito mais ou menos o mesmo. 

Mas se há paralelismos também há divergências: Há um século, prevalecia o populismo rural e o crescimento das organizações operárias. Hoje a classe média, mergulhada na apatia ou no medo, tem interesses económicos difusos e geograficamente dispersos. O grupo mais atingido pela crise é constituido por pessoas com habilitações médias que trabalha nos serviços, muitos dos quais vive nos subúrbios, vê televisão e muda de canal quando aparecem politicos no écran. 

Há duas excepções a esta apatia colectiva: o Tea Party e Occupy Wall Street.

(continua)

DA MANGA DO CHINÊS

"Não sei como é que Celeste Cardona apareceu na lista"
Oh! Eduardo!
Então isso são maneiras?
Isso é coisa que se diga,
de uma senhora,
antiga
ministra,
administradora,
banqueira,
advogada?

Oh! Eduardo,
pois tu não vês,
que o Chinês
também a tirou da manga? 

Os porquês,
Eduardo,
são assuntos velhos,
mas não são pormenores.

Friday, January 13, 2012

RIMA PARA UMA MENINA FINA


"Papo de Anjo, uma marca portuguesa, chegou aos Emmy mas agora fecha as portas e deixa quatro milhões por pagar."

Filósofo Francisco
estava atento,
reparou que na lista das minas que temos por explorar,
alíás, quase infinita,
faltava o jesuita.

E, no entanto,
Francisco,
nem tu nem eu notámos que,
entretanto,
contra a nossa vontade,
já tinhamos sido espetados por uma de "Papo de Anjo",
geralmente coisa açucarina,
dizem.
Mais uma mina.

E por quem?
Vê bem, Francisco:
por uma menina fina.

UM TABU INTOLERÁVEL

"Ou Lisboa toma juízo ou temos de ir para a independência".

Se perguntassem aos portugueses se, ouvidos em referendo, votariam favoravelmente pela independência da Madeira, seguramente que a grande maioria responderia que sim. Se houvesse referendo com o mesmo propósito, provavelmente, a maioria responderia que não. A diferença entre a intenção e o voto avaliaria o grau de repúdio dos portugueses da insolência  de Alberto João e da sua clique. Para os portugueses a Madeira é indiscutivelmente parte de Portugal, Alberto João é um figurão que usa e abusa da chantagem sacando da cartola o espantalho da independência.

Dito isto, não se ignora a popularidade comprada durante mais de três décadas com a benevolência pusilânime dos governos centrais traduzida em reeleições sucessivas, como é praxe em territórios onde por ínvios caminhos se presta culto a um "querido líder". Não me admiraria, portanto, que, envolto há tantos anos na veneração ao "querido líder", os madeirenses aclamassem a independência se ela fosse proclamada uma manhã destas na Assembleia Legislativa da Região Autónoma.

Mas também não pode ignorar-se que a imposição de condições inexequíveis, se o argumento tiver fundamento, a assinatura de um acordo não torna exequível o que, à partida, não é. O governo da República assinou com a troica  um memorando que, na parte financeira, é incumprível e terá de ser, mais tarde ou mais cedo, renegociado.

Que Alberto João Jardim se recuse a assinar um acordo inviável, não me repugna.
Repugnante é a chantagem subjacente a essa recusa e o tabu com que, a respeito dela, o governo da República se continua a embrulhar.

Insisto nisto, que anotei há mais de três meses, aqui:

E agora, Pedro Passos Coelho?

Agora, que a insolência do AJ recrudesce mas não há dinheiro para mais demagogia (nem na Madeira nem no Continente) o que farás se o dono da Ilha se recusar a acatar as determinações do Governo da República e a berrar contra o neocolonialismo? Cortas-lhe a mesada ou recuas como todos recuaram até hoje? Esperamos que lhe cortes o gás e o deixes espernear. Se ele convocar a revolta, manda restabelecer a ordem com os meios necessários. Há momentos na História em que o precipício fica na retaguarda.

Thursday, January 12, 2012

VALHA-NOS O PASTEL DE NATA!


Por que é que não conseguimos exportar o pastel de nata?
Por quê, senhores?,
Como é que nunca ocorreu a ninguém
que o pastel de nata,
nascido em Belém,
notem bem!,
pode ser a nossa salvação?
Estranho,
não?
Temos uma mina aqui ao pé da mão,
e não temos ido além da bicha pró pastel ao fim-de-semana !!!!

Aliás,
o que não nos falta são minas de pastéis para exportar:
pastel de Tentúgal,
pastel de bacalhau,
não confundir com as pataniscas, outra delícia,
(mas patanisca não é pastel, não),
pastel de feijão,
pastel de cerveja,
é inesgotável a mina da pastelaria portuguesa
senhores!
A barriga de freira, uma tentação, não?
Abade de Priscos, outra,
O bolo-rei!
As escarpiadas,
Os coscurões,
As filhoses,
Senhores, fogo à peça!
Há alguma coisa que impeça exportar,
por exemplo,
o pão-de-ló?
E os Dom Rodrigos?
E a palha de Abrantes
mas, antes,
que não se esqueça a reexportação
do Álvaro.

Wednesday, January 11, 2012

UMA TRAJECTÓRIA INFERNAL



c/p aqui

As coisas não se passam de forma assim tão simples quanto este esquema da banheira pretende.
Que há conclusões irrebatíveis, há. Outras, nem tanto.
.
Que crescimento da dívida pública francesa ao longo de 40 anos tenha sido idêntico aos juros pagos durante esse período, pode significar apenas que, efectivamente, a dívida não foi paga mas apenas sucessivamente diferidos os seus vencimentos com recurso a crédito (mais dívida) para pagamento dos juros. E esta trajectória é, se tudo o resto se mantiver constante, independente da taxa de juro. Se a taxa de inflação no período for idêntica ou superior ao crescimento nominal da dívida, em termos reais, a dívida não aumenta. 

Mas se a dívida galga o valor da riqueza produzida e a taxa de juro da dívida supera a taxa de crescimento do produto, de modo consistente, a dívida crescerá imparavelmente em termos reais para a bancarrota.

É o nosso caso.

CROWDING OUT

Atenção!
Quem sabe o que é  que
significa
crowding out?
Quem souber ponha o dedo no ar!

Pois é.
Ninguém sabe.
E crawling peg?
Também não.
.
Nada disso. Profiteroles, é outra coisa.

Assim, senhores Irmãos,
não podemos continuar.
Tanta ignorância,
sujeita qualquer um desta assembleia,
à insolência bruta
de um Costa qualquer:

insultou ele.

"Crowding out", senhores Irmãos,
é isto,
que não interessava a Cristo.
Tem a ver com bago, massa, carcanhol,
caroço,

Tuesday, January 10, 2012

DE MAO A PIAO


Hummm!
expirou Costa, e disse,
pedagogicamente:
Irmão,
isto precisa de mais aperto.
Porque, vendo bem,
vendo bem, de perto,
isto vai estatelar-se ainda mais que o orçamentado

Aliás,
o professor Gaspar já se desdisse,
porque já disse,

Mas Costa,
(contesta o Irmão)
nada disto faz sentido.

Faz, faz, rapaz!
Não disseste
e repetiste, que havia folgas?

Disse, disse,
e há.

Pois se há
folgas,
meu nabo,
como é que reparam as folgas
se não com um aperto?
.
(Baaa! É preciso muita pachorra para ouvir estes ignorantes!)
inspirou Costa.

ASSALTO À DEMOCRACIA

O Washington Post de hoje publica um editorial - Assault on Democracy - acerca das ameaças que impendem sobre a Hungria, membro da União Europeia e da NATO. Um tema que já abordei neste caderno de apontamentos, a última vez aqui - O abraço de Putin -.

Aparentemente os líderes europeus ou não valorizam suficientemente este aspecto da crise ou, embrulhados com o outro lado - o financeiro, consideram prudente manterem-se reservados acerca da ameaça à democracia já muito evidente na Hungria.

A Hungria, que não aderiu ao euro e continua com moeda própria - o forint -, está à beira da bancarrota. As obrigações a 10 anos pagam agora uma taxa de juro insustentável: quase 10%. Mas a Hungria  "tem outro problema: O governo, nacionalista de direita, que detem uma maioria de 2/3 no parlamento, lançou um ataque ao sistema democrático do país através de alterações constitucionais e legislação decorrente que lhe permitem dominar o sistema judicial, os media, as igrejas e o banco central. Com este conjunto legislativo, que entrou em vigor no primeiro dia do ano, o governo do primeiro ministro Viktor Orban está muito mais próximo dos regimes autocráticos da Rússia e da Bielorrússia que das democracias da União Europeia" .

O editorial do Washington Post descreve a seguir um conjunto de diatribes já tomadas com a cobertura da nova legislação e remata: "As novas leis que governam o sistema judicial, as entidades religiosas e os media são incompatíveis com os direitos fundamentais, e a democracia fica em situação instável, a caminho da queda. Para a União Europeia tolerar esta situção num país membro equivale a deixar abrir uma brecha no carácter essencial da comunidade."

Se essa brecha for tolerada quantas brechas mais serão necessárias para estilhaçar a Europa? pergunto eu.

CAMPEÕES! CAMPEÕES!

Já somos campeões!

A equipa nacional de futebol é campeã nos custos diários de estadia previstos dos seus membros na Polónia.
Esta informação, que recolhi aqui, é muito significativa do grau de insconsciência colectiva que obnubila o sentido cívico de um povo que se habituou a compensar as suas frustrações com hossanas a ídolos que  religiosamente dourou.

SELECÇÃO - Local de estágio - CUSTO DIÁRIO (€)

Portugal -  Opalenica  - 33.174
Rússia - Varsóvia - 30.400
Polónia-  “  - 24.000
Irlanda -  Sopot - 23.000
Alemanha -  Gdansk - 22.500
Rep. Checa - Wrodaw - 22.200
Inglaterra - Cracóvia - 19.000
Holanda - “ - 16.200
Itália -  Wieliczka - 10.500
Croácia - Warka - 8.300
Dinamarca - Kolobrezeg - 7.700
Espanha - Griewino - 4.700

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Comentário, esclarecedor, de A. Pinho Cardão no Quarta República:

1.Independentemente da harmonização da natureza dos gastos, o que não sofre dúvida é que se trata de um comportamento indecente e inqualificável da Federação.

2. A FPF dá-se ao desplante de exigir e receber do Estado, no último exercício, subsídios de 2,5 milhões de euros, quando teve um lucro de 3,4 milhões de euros. Não se trata de um ano isolado, pois as disponibilidades de caixa da Federação são de 22 milhões de euros, cerca de metade do activo total. E apresenta um capital próprio de 25 milhões de euros.

Fica-se estupefacto também com a atitude dos sucessivos governos em darem subsídios avultados para a Federação, numa escandaloda má utilização do dinheiro público.

Perante isto, não admira esse esbanjar de recursos.

Não acabe o governo com os subsídios `desta natureza e verá o tombo que leva.

 

Monday, January 09, 2012

PETRÓLEO E MISÉRIA



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Dinheiro não é sinónimo de felicidade e petróleo
muito menos.

O índice de miséria (desemprego+inflação) publicado esta semana pelo Economist e o gráfico da localização geográfica das reservas conhecidas de crude publicado hoje no Washington Post confirmam em grande medida isso mesmo: A Venezuela é o segundo país com mais elevado índice de miséria, sendo o segundo com as mais elevadas reservas de petróelo; o Irão, em terceiro lugar em reservas petrolíferas é também terceiro na escala da miséria.

Em geral, o índice de desenvolvimento humano (PNUD/ONU) nos países árabes, onde se encontram as maiores reservas mundiais de crude, não corresponde ao seu posicionamento no ranking da riqueza, quase exclusivamente proporcionada pelo petróleo. Já a Noruega, que ocupa o primeiro lugar no ranking do PNUD, não deve o lugar ao petróleo do Mar do Norte mas a dádiva natural ajudou muito.

Em Portugal o índice de miséria será hoje de 16% (13+3 ?), sensivelmente ao nível da Rússia (33º. lugar num conjunto de 92 países), pior que o Brasil. Aproximadamente,ao mesmo nível do Brasil, segundo este indicador,  estarão o Reino Unido, os EUA e a China.

Comparações que têm de ser temperadas com outros indicadores: p.e. o apoio social no desemprego nas sociedades ocidentais e o nível de subemprego (estatísticamente, emprego) que prevalece ainda na maior parte da China rural.