Saturday, January 14, 2012

ERA DE TRANSIÇÃO?

ou de revolução?

O insuspeito, a este respeito,  Financial Times tem vindo a publicar uma série de artigos de reflexão sobre a saliente crise do sistema capitalista - capitalism in crisis. Na edição de hoje, Edward Luce, representante do jornal britânico em Washington, escreve sobre as perspectivas possíveis para o sistema nos EUA sugeridas pela provável nomeação de Mitt Romney como candidato republicano à presidência em Novembro e a sua eventual vitória.

Mitt Romney tem vindo a ser acusado, para já sobretudo dentro do seu próprio partido, de insensibilidade moral (abutre, saqueador, ganancioso) enquanto CEO da Bain Capital, um grupo de especulação financeira, e Edward Luce adverte que se esta reacção contra o capitalismo se mantiver os democratas não terão mais nada a acrescentar até às eleições presidenciais.

E refere um aspecto indiciador da insegurança crescente: Há hoje cerca  de 50 mil armazens de móveis e utensílios diversos que, por um motivo ou outro,  foram retirados de casa. Nas últimas três décadas o número destes armazens decuplicou essencialmente em consequência do aumento de leilões por dívidas não pagas,  divórcio, deslocação/migração, desinteresse. Mas não há nada, no atomizado desconforto da classe média que faça prever uma revolução.  Em períodos de crise económicas, nomeadamente durante as décadas dos "ladrões barões" do fim do sec. XIX começos do século XX, fomentaram o populismo. Mas, então como agora, ambos os partidos recorreram às mesmas fontes de financiamento: há um século, os capitalistas dos caminhos de ferro, nos dias de hoje, Wall Street. Então, como agora, a volatilidade eleitoral aumentou, alterando-se com maior frequência a  maioria no Congresso.  


Observaram-se em ambas as eras alterações tecnológicas que alteraram os padrões de trabalho e enriqueceram estratosfericamente os vencedores ( A este propósito, Mitt Romney tem vindo a arvorar durante a campanha das primárias a bandeira schumpeteriana da destruição criativa). O enriquecimento da superclasse norte-americana decorrente da internet e da globalização financeira desde a década de 90 do século passado encontra paralelo nos que enriqueceram com os caminhos de ferro, a electricidade, o motor de combustão, há 100 anos. Com efeitos idênticos sobre a concentração da riqueza e a concentração das desigualdades, a influenciar a discussão política. 

Mark Hanna, um  director eleitoral do fim do século, afirmou um dia: As três coisas mais importantes na política americana são:  dinheiro, dinheiro, e esqueci-me da terceira. Outros, depois dele, têm dito mais ou menos o mesmo. 

Mas se há paralelismos também há divergências: Há um século, prevalecia o populismo rural e o crescimento das organizações operárias. Hoje a classe média, mergulhada na apatia ou no medo, tem interesses económicos difusos e geograficamente dispersos. O grupo mais atingido pela crise é constituido por pessoas com habilitações médias que trabalha nos serviços, muitos dos quais vive nos subúrbios, vê televisão e muda de canal quando aparecem politicos no écran. 

Há duas excepções a esta apatia colectiva: o Tea Party e Occupy Wall Street.

(continua)

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