O acordo social assinado pela UGT e, como era mais que previsível, rejeitado pela CGT terá impacto sobre a competitividade da economia portuguesa? Obviamente, que sim. Independentemente de outros efeitos não menos decisivos, o simples facto de a maior flexibilidade das normas reguladoras do trabalho pressionarem inevitavelmente os salários no sentido da baixa, e não apenas dos trabalhadores menos qualificados, reduz os custos de produção e aumenta a competitividade. No limite, quando os salários atingirem níveis chineses, supondo tudo o mais constante - nomedamente o investimento tecnológico envolvido - a competitividade das produções portuguesas será "chinesa".
Será mesmo? Apesar da forte urbanização observada na China nas últimas décadas (segundo o Economist de há dias mais de 51% da população chinesa já reside em cidades) há 650 milhões à espera na fila para uma vida melhor. E a China é apenas, pela ascenção fulgurante que tem vindo a observar, o exemplo mais adiantado da força asiática num mundo globalizado. A concorrência neste mundo global pelos salários não pode senão redundar, como nas batalhas corpo a corpo, pela derrota total dos menos numerosos.
É indiscutível que o acordo assinado há dias tem méritos que podem ser importantes no desentorpecimento de um país excessivamente amarrado a direitos adquiridos. Mas está longe de constituir a alternativa para inverter o descalabro se a actual envolvente externa se mantiver e que se caracteriza por um confronto com um regime que põe e dispõe em função da soberba dos seus líderes.
Embora tendo recuado no quarto trimestre, as reservas cambiais da China, o país detinha no final de 2011 3,18 triliões de dólares no final de Dezembro de 2011. Em Setembro as reservas tinham-se elevado a 3,20 triliões de dólares, sendo este o primeiro recuo em 10 anos. No final de 2010, eram de 2,85 triliões de dólares. Faz sentido que um país com tamanhos recursos mantenha os níveis salariais, as condições de trabalho tão baixos? Faz, porque os protestos estão proibidos, a imprensa não é livre, o direito de opinião cerceado, mesmo o direito de reunião é obrigatoriamente enquadrado pelo partido.
Deng Xiaoping, o tal que afirmava que não interessa a cor do gato o que importa é que cace ratos, reformolou a ditadura permitindo a existência da propriedade privada mas reservando para os mandarins o comando dos equipamentos estratégicos, agilizando a economia sem perder o controle dela. E, evidentemente, com mão-de-obra escrava, já os faraós tinham contruido obras faraónicas.
Expulse-se a China e tutti quanti da Organização do Comércio Internacional? Seria uma tragédia.
Mas é imperativo, sob pena de o mundo caminhar para nivelamentos de miséria em todos os sentidos, que a China respeite regras que a obriguem a participar no reequilíbrio do comércio mundial.
Dir-me-ão: O problema não atinge alemães, suecos, finlandeses, holandeses, etc., é uma questão que não aflige os grandes senhores do mundo.
Por enquanto.
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