Thursday, March 31, 2016

POR OBRA E ... DE GRAÇA

Todos satisfeitos, 
incluindo os institucionais, litigantes, 
que não foram convidados para a fotografia.



"Dentro de um mês ("até ao início de maio") terá de haver um acordo que, 
no todo ou em parte, irá ressarcir quem perdeu dinheiro comprando
papel comercial do BES (ou das suas holdings Espírito Santo International e Rioforte). 
O prazo foi imposto através de um "memorando de entendimento" 
assinado ontem na residência oficial do primeiro-ministro entre 
a associação representativa dos lesados do BES, a CMVM, o Banco de Portugal, 
o presidente do BES mau, Luís Máximo dos Santos, 
e o próprio chefe do governo, António Costa.
O acordo não diz, porém, de onde virá o dinheiro para pagar aos lesados.
Por exclusão de partes, a solução não deverá passar pelo Novo Banco 
(o banco bom que nasceu da resolução do BES), 
que não se encontra entre os subscritores do documento". - aqui



Wednesday, March 30, 2016

OPINIÃO PÚBLICA

(a propósito do inquérito parlamentar ao Banif )

"Estes inquéritos parlamentares podem ser úteis. 
O que importa não é saber quem foi culpado mas investigar as causas para prevenir a repetição dos mesmos erros"

"O senhor que falou anteriormente deve ter proximidade com os culpados ou então ainda não percebeu que só metendo os culpados na cadeia se evitam reincidências"

"Concordo com o que disse o ouvinte anterior. Estes inquéritos parlamentares não servem para nada! Repetem-se os erros ao mesmo ritmo que os inquéritos. O que é que o Banco de Portugal aprendeu com  inquérito ao BPN? Nada."

"Prender, para quê? Na prisão temos de os alimentar. O que deverá ser feito é ir buscar o dinheiro onde eles o meteram"

"Como não há justiça, estes inquéritos realizam-se para nosso amansamento. Ouvimos, discutimos, e, no fim, pagamos".


Tuesday, March 29, 2016

ISLÃO NA EUROPA

A percepção da presença islâmica na Europa excede largamente a realidade. - cf. aqui.
Por exemplo, segundo uma sondagem realizada em 2014, os belgas supunham que 29% da população do país seria islâmica quando o valor real rondava os 6%.



Uma discrepância decorrente do impacto do terror provocado pelos ataques perpetrados por islâmicos nascidos na Europa porque o terror multiplica-se na percepção que exerce sobre o aterrorizado e é nessa multiplicação que atinge os seus objectivos. 

Por outro lado, o aterrorizado é também induzido a ver, para além dos quatro ou cinco islâmicos em cada um com que se cruza na rua, em qualquer islâmico um possível bombista suicida.
Um exagero de percepção que, contudo, pressente a presença do ambiente em que os atentados são forjados. Porque se não há tantos bombistas quantos os islâmicos, há muito mais islâmicos que, por acção criminosa ou omissão conivente, suportam os terroristas.
E, com estes, a contemporização ou o laxismo têm-se revelado mortíferos. As circunstâncias que permitiram os recentes atentados de Bruxelas são prova irrefutável disso.  

Não há um choque de civilizações?
Só para quem não quer ver.

Sunday, March 27, 2016

BIA SACRA

...
- Vivo perto daqui, e vim ver.
- E está a gostar?
- Muito, estou a gostar muito!
- E porquê? Posso perguntar-lhe porquê?
- Olhe, porque é a nossa língua, a nossa cultura, as nossas tradições ... sei lá que mais ... é por tudo isso ... vem muita gente de fora ... está aí a televisão ... se não fosse isto ninguém se lembrava da gente ...
- A senhora fala mirandês?
- Não senhor, mas entendo ... E fácil de entender ... muito fácil mesmo ...
- E o que é que está a gostar mais? 
- Estou a gostar de tudo ... das roupas ... dos versos ...
- E da crucificação, o que é que pensa da crucificação? 
- Também gosto, sim senhor, está muito bem representado. 
- Gostou de ver aquele homem a carregar o madeiro, a coroa de espinhos,...
- Gostei, gostei ...
- O sangue ... 
- Aquilo não é sangue, senhor ... aquilo é ... sei lá o que é ... é tinta ...é uma tinta qualquer ...
- E se fosse mesmo sangue, se soubesse que fosse mesmo sangue, também viria assistir?
- Talvez ... sim ... acho que viria na mesma ... 
- E gosta de o ver agora ali, ... pregado na cruz que ele transportou?
- Sim, acho que sim, acho está muito bem feito ... muito real ...
- E se tudo isto não fosse teatro, se, de repente, desse conta que estava perante a situação real, pensa que, ainda assim, teria gostado de ver?
- Não, acho que não ... quer dizer ... olhe, não sei ... acho que fiquei baralhada ... oh, senhor!, o senhor não será o mafarrico?



Thursday, March 24, 2016

HIPOCRISIA INTERNACIONAL

A União Europeia decide hoje resposta a ataques terroristas, lê-se aqui, mas é certamente um exagero editorial. Ninguém, minimamente conhecedor dos meandros políticos em que se enleiam os burocratas comunitários em Bruxelas, pode acreditar que hoje, já hoje, eles sejam capazes de mobilizar os meios conjuntos necessários ao ataque aos ataques terroristas que estoiram mesmo ao seu lado. A União Europeia subsiste demasiado desunida para responder a este e a todos os desafios que exigem dos europeus um sentido de cidadania europeia. Um sentido que não existe, nunca existiu, e parece que se esvai até a intenção de que venha a existir de cada vez que esse sentido é posto à prova. 

"I don´t love Brussels, I love Britain"afirmou há poucos dias David Cameron.
Como, muito pertinentemente, se registava aqui, a afirmação de Cameron, aliás proferida num contexto de mobilização para a permanência do Reino Unido na União Europeia, só é chocante quando ouvida a quente; friamente, a subsistência dos nacionalismos no seio da União tem constituído, e tudo leva a crer que continuará a constituir, o grande obstáculo a uma união política que lhe justifique o nome. 
Quem é que "ama Bruxelas?". Ninguém. 

O terrorismo, e muito particularmente o terrorismo suicida mobilizado por interpretações sectárias do Corão, sendo inevitável pode ser minimizado. Propostas de combate ao flagelo não faltam, mas, como na história dos ratos que decidiram colocar o guizo no pescoço do gato*, falta aos líderes da UE capacidade para mobilizar os europeus no sentido de transformar uma união nominal numa união efectiva. 

E falta ainda aos líderes do mundo ocidental, aquele em que prevalecem valores culturais, para nós inalienáveis, combater os que, material e ideologicamente, suportam o terror espalhado pelos bombistas suicidas com o objectivo declarado de destruir esses valores. 
Se os fanáticos islâmicos detêm um poder militar tão flagrante, quem é que lhes fornece as armas e lhes municia as mentes e os estômagos? 
A Arábia Saudita, por exemplo, nem sequer é suspeita porque é um patrocinador confesso das interpretações corânicas que recompensam os suicidas bombistas no além realidade. Quem e quando vai alguém ser capaz de lhe colocar o guizo?  Quando é que a hipocrisia internacional deixa de derramar lágrimas de crocodilo em Bruxelas, Paris, Istambul, Madrid, Londres, Nova Iorque, além de outros locais onde morreram, e irão morrer, inocentes por nenhuma causa?

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Correl. -

Por que foi a Bélgica atacada por terroristas
A União Europeia decide hoje resposta a ataques terroristas.
Os atentados questionam a capacidade dos serviços de segurança belgas
Juncker culpa a passividade dos governos perante o terrorismo
Os ataques bombistas mostram como a Bélgica se transformou numa incubadora de terror - As forças de segurança não aproveitaram oportunidades de abortar atentados do ISIS
Os terroristas atravessam as fronteiras na Europa mas as informações dos serviços de segurança não
O Presidente Obama repreende a Arábia Saudita
Fanatismo do Daesh é apoiado pela Arábia Saudita

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Os ratos reunidos em conselho

Monday, March 21, 2016

GOOD BYE UK II


Há um mês anotei aqui que "admito até que o melhor resultado do referendo no UK para a Europa, incluindo o UK, será uma vitória do "não" à UE."

Esta tarde o Economist publica aqui - Who cares about Brexit? - Quem se preocupa com a saída do UK da União Europeia? - os resultados de uma sondagem junto dos povos que hoje participam na UE. Por aquilo que escrevi há um mês neste bloco de notas, estes resultados, resumidos no quadro seguinte, não me parecem surpreendentes. Se a vontade dos britânicos é sair, que saiam. 
A unidade da União Europeia estará sempre mais comprometida com a presença de quem não se sente nela sistematicamente confortável do que com a sua saída, por maior que seja a dimensão económica, financeira, cultural ou geoestratégica de quem quer sair. 



Sunday, March 20, 2016

DEPOIS DOS JACARÉS

7/01/1986

Jacques Cousteau e os seus companheiros continuavam há dias na Amazónia, desta vez com os caçadores de jacarés.

Enquanto esfolava a barriga dos repteis, um entrevistado elucidava que só a pele de baixo lhe interessava por ser  mais macia e boa para cintos. Os restos dos cadáveres jogava-os ao rio para almoço das piranhas. 

- Mas, por este andar, amigo, vocês ainda acabam com os jacarés...  
- Nesse dia vou deixar de caçar, disse o homem com a maior naturalidade deste mundo.

Quem ouviu deve ter chorado lágrimas de crocodilo. 
A perspectiva imediatista comanda as sociedades modernas. A era da incerteza é a era do esgotamento. Morra Marta, morra farta. 
Vão longe os tempos das catedrais. 

Lembrei-me, a propósito, do sr. Perez, um galego que, não sei porque caminhos, caíra um dia nos meus sítios. 
Plantava obsessivamente oliveiras, e, sendo tão velho e sem filhos, ninguém entendia a persistência do caturra.
Morreu o velho Perez há muito tempo já. As oliveiras passaram para a companheira, velha como ele, e dela para os sobrinhos do seu primeiro parceiro, que emigraram, e nunca mais as oliveiras viram donos.  Abraçaram-se a elas os silvados e neste arraial bailavam a pardalada, as rolas e outros solistas, regalando a alma do Perez que por ali pairava nas noites de calmaria. 
Até ao dia em que o fogo a cremou.  

Passaram os anos, em todas as redondezas morreram os olivais. E só ressuscitaram os silvados e as pedras. 

Saturday, March 19, 2016

SÃO MELHORES NÃO DESCASCADAS

Há quem não coma fruta ou porque não gosta ou porque não quer despender o esforço mínimo de a descascar. 

Talvez a pensar nessa gente, a "Whole Foods", uma cadeia de supermercados, colocou à venda laranjas já descascadas acondicionadas em blisters de plástico.
Natalie Gordon , uma criativa publicitária, não gostou da ideia e, ironicamente criticou-a no twitter:
"If only nature would find a way to cover these oranges so we didn't need to waste so much plastic on them" - "Se a natureza tivesse encontrado uma forma de cobrir estas laranjas não teríamos de usar tanto plástico com elas"



A crítica irónica desencadeou uma vaga de protestos de altura suficiente para obrigar a "Whole Foods" e retirar as descascadas de venda e a reconhecer o erro.

Para onde iria a economia mundial se a economia do desperdício fosse anulada pela racionalidade das escolhas dos consumidores a partir de um processo idêntico a este que que travou o sucesso das laranjas descascadas?
Arrisco afirmar que provocaria uma crise económica e social global de magnitude nunca antes observada.

Thursday, March 17, 2016

CASCAIS

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais,

Nota-se que a Câmara Municipal de Cascais tem uma politica de divulgação junto de quem caminha pelo passeio marítimo de informação da evolução da paisagem das praias ao longo do percurso no decurso de quase um século. Da última mostra já restam poucos painéis, talvez porque tenham os outros sido vandalizados  ou estropiados pelo tempo, considerando o estado em que se encontra a meia dúzia, se tanto, de sobreviventes. Há um, contudo, que se apresenta ainda inteiro e bem parecido: o da Praia da Azarujinha.

Quando se repara com alguma atenção nas duas fotografias em diálogo, é muito nítido que à mais velha (de 1920) repugna o estado calamitoso em que se encontra actualmente o paredão de sustentação da arriba naquele local. Não sei se legal ou ilegalmente construíram ali umas instalações em betão armado que há muito tempo se encontram abandonadas, degradadas, emparedadas onde antes devem ter existido janelas. Certamente que não era intenção do compositor do painel evidenciar o vandalismo que as autoridades marítimas ou camarárias consentiram. Ali, e em muitos outras paisagens lindas deste país maltratado de modo geralmente impune. 

Estou muito certo que a Câmara de Cascais não ignora o que refiro.
É a Câmara impotente para, dentro da sua órbita de competências, ordenar o desmantelamento do avantesma que ensombra a Azarujinha? E apresentar a conta aos seus construtores? 

 

Não longe da Azarujinha, nas proximidades da Praia da Poça, vê-se no cimo da arriba um casarão que, do lado voltado para a Rua de Olivença, exibe um estado de degradação extremo.
Um cartaz desajeitado avisa que o casarão em escombros, que ocupa um terreno com mais de cem metros de frente marítima, "não está à venda".


Há vários outros prédios degradados urbanos em zonas não periféricas de Cascais, que repugnarão aos visitantes sensíveis à paisagem que os rodeia mas não, pelos vistos, aos seus munícipes, a avaliar pela apatia com que coabitam com tais ruínas repugnantes.
Esta situação não é, há que reconhecê-lo, uma característica única de Cascais. Mas, provavelmente, nenhuma das principais cidades deste país em que vivemos, tem à entrada a receber quem as visita um conjunto tão extenso de escombros abandonados, degradados e emparedados. Refiro-me, concretamente, à zona da rotunda junto ao Jumbo, Cascais Vila, Avenida de Sintra.

Não há nada a fazer?
Se a penalização fiscal em sede de IMI se mostra impotente para demover os avantesmas é porque a dose aplicada é insuficiente ou requerem-se outras medidas mais convincentes.
Se a imaginação das autoridades que elegemos não vislumbra soluções eficazes para penalizar a expectância e premiar o risco porque não se inteiram do modo como procedem por essa Europa em que nos integramos e onde as faces das suas cidades se apresentam limpas?
---
Remetido para : presidencia@cm-cascais.pt

Wednesday, March 16, 2016

OS RESSABIADOS


UNS

O facto de o discurso de tomada de posse do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa não ter merecido o aplauso do BE e do PCP tem sido criticado ou meio criticado, justificado ou meio justificado, por razões ou meias razões a que cada qual recorre para sustentar as suas posições ou meias tintas, radicais ou de compromisso. 
E, no entanto, não se ouviram protestos, reparos, gemidos sequer, relativamente às palavras proferidas pelo empossado.
Quem não aplaudiu, não rejeitou o discurso, engoliu em seco. 
Porque não concebe a democracia como uma vivência que requer fair play. 

OUTROS

Durante a votação do OE na especialidade, os deputados do partido mais votado nas últimas legislativas abstiveram-se de apresentar propostas e abstiveram-se ou votaram de forma não coerente com as suas propostas durante a legislatura anterior as propostas dos outros partidos, desobrigando-se das responsabilidades de intervenção democrática activa que os eleitores neles delegaram com a representatividade dos seus votos. 

Tuesday, March 15, 2016

LISBOA EFERVESCENTE

...
- Lisboa está efervescente! Não há casas em Lisboa, nem para vender nem para arrendar. Conheço muito bem Lisboa, e garanto-lhe que se tivesse mais casas neste momento para vender, vendia-as de um dia para o outro. 
- Mas vê-se alguma reabilitação...
- Alguma??! Lisboa está outra vez cheia de gruas.
- E há ainda muitos terrenos para urbanizar ...
- Não há. Está tudo comprado. Já não há mais... Agora, só nas zonas mais periféricas.
- Não sei se posso concordar consigo... Por exemplo, muito próximo das Amoreiras, há um quarteirão inteiro, enorme devoluto...
- Não estou a ver ...
- Todo aquele espaço enorme ladeado pela Rua Artilharia 1,  pela Avenida Conselheiro Fernando de Sousa, pela Avenida Duarte Pacheco e pela Rua Marquês da Fronteira...
- Isso é da tropa. Ninguém se mete com a tropa.
- Mas há mais, há muitos mais. Casas e terrenos devolutos, expectantes, não faltam em Lisboa
- Talvez. Mas não são habitáveis. O que lhe garanto é que, o que é habitável, neste momento em Lisboa está tudo vendido. Os preços já subiram imenso e vão continuar a subir. ..
- Os chineses, pelos vistos, continuam  atrás dos vistos gold...
- Agora menos. Agora são mais franceses ... ingleses ... 
- ... por causa da isenção de impostos...
- Também porque em Lisboa têm um custo de vida mais baixo, têm sol, têm segurança ...
- São os estrangeiros que estão a repovoar a cidade.
- Na parte antiga, sem dúvida. Mas também há muitos portugueses, gente nova, sobretudo.
- E os angolanos ...
- Esses só compram filet mignon ...
- Agora compram menos ...
- Ainda compram, ainda estão a comprar
- É bom para os bancos ...
- É bom para toda a gente!
- Porquê?

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Correl . - Lisboa é uma das capitais mais baratas da Europa, estando agora mais barata que há um ano, segundo o Worldwide cost of living survey do Economist.

Sunday, March 13, 2016

O MILAGRE DE SÃO MARCELO - EPISÓDIO PRIMEIRO


São seis e meia da manhã, em Belém.

- Noc! noc! noc!
- Bom dia! Entra, estimado  Frutuoso! Que ideia tua é essa de bater a uma porta aberta?
- Amado Presidente, segundo o protocolo ...
- Quantas vezes tenho de te lembrar, estimado Frutuoso, que o protocolo está em vias de reformulação de facto? Vá, vá, vá, deixa-te de protocolos e dá-me boas notícias.
- O povo ...
- Já sei, já sei, o povo quer afectos ...
- ... abraços ...
- ... beijinhos ... Dar-lhe-emos abraços e beijinhos, sem olhar a despesas. E que mais quer o povo?
- O povo também quer dar ...
- Óptimo. Nem outra coisa se poderia esperar do nosso muito querido e afectuoso povo. Gosta de receber mas também gosta de dar. Oh!, como eu conheço o povo a que pertenço! E o que nos quer dar o povo, estimado Frutuoso?
- O povo de Lagos quer dar D. Rodrigos ...
- E o de Boliqueime não mandou nada?
- Os de Boliqueime já chegaram há três dias ... Também já vieram D. Rodrigos de Faro, Loulé, ...
- Quantos?
- É aí que temos um problema ...
- Que problema, Frutuoso? Desembucha homem de Deus!
- Com as ofertas que já recebemos enchemos a dispensa de víveres, já não há mais espaço ...  ... Os de Lagos apresentaram-se esta manhã ao portão do Palácio com uma carrinha carregada de mais D. Rodrigos...
- Ao todo, quantos? Uma tonelada?
- Nem tanto. Talvez cem quilos ...
- É muito D. Rodrigo, é...
- Teremos de começar a rejeitar ...
- A quê?!! Estás doido, Frutuoso?!! Pior que não distribuir afectos ao povo é rejeitar os seus afectos.
Não se rejeita nada! Ficamos entendidos, estimado Frutuoso?
- Perfeitamente, amado Presidente. Mas onde vamos armazenar as ofertas que não param de chegar ao portão do Palácio?
- Para já, os D. Rodrigos podem vir aqui para o meu gabinete ...  Depois veremos ... Podes começar por mandar oferecer alguns aos sentinelas, estar de sentido aquele tempo todo deve consumir muito açúcar, que te parece? E que mais recebemos para estarem já as dispensas cheias?
- De Caminha recebemos vinte quilos de lampreias ...
- Vinte quilos, Frutuoso? Sabes o que são vinte quilos de lampreias?
- Sabe a balança ... E de Entre-os-Rios recebemos outro tanto ... E de Montemor-o-Velho ...
- E onde estão elas?
- Para já estão nos frigoríficos ...
- Pensamos nisso depois. E que mais?
- De Guimarães, toucinho do céu; de Felgueiras, cavaca minhota; foguetes e lérias de Amarante; do Alto Barroso, trutas do Rio Cávado; perdizes e coelhos, de Ribeira de Pena, ...
- ... e doces, ninguém mais trouxe doces?
- Temos toneladas de doces, amado Presidente. Tanto que o Palácio está neste momento literalmente invadido de formigas ...
- Estás a falar a sério?
- Como nunca. Já telefonámos para a empresa de desinfestação mais próxima ...
- Desinfestação?!!! Desinfestação de quê, Frutuoso?
- Das formigas ...
- Pára lá com essa ordem maluca. Aqui em Belém, em matéria de afectos não se segrega nenhuma criatura de Deus ... Deixa avançar as formigas! Que mais doces temos?
- Amêndoas de Moncorvo ...
- Oportunos, esses de Moncorvo. Temos a Páscoa ao pé da porta. E que mais? De Celorico, que temos? Não acredito que não tenhamos recebido sarrabulho ou morcelas doces de Celorico ...
- Foram os primeiros a chegar ...
- E que lhe fizeram?
- O cozinheiro, que é muçulmano e pouco em dia com os sentimentos ecuménicos o nosso bem amado Presidente, jogou com tudo no lixo ...
- Ignorante. Dá ordens para pedir mais com a desculpa de se terem esgotado por serem muito apreciados cá no Palácio. E que mais, que mais, que mais?
- Moncorvo mandou rosquilhas; da Guarda, torresmos ...
- Isso é doce? Estávamos a falar dos doces. Os afectos vão melhor com os doces.
- Estou a falar de memória, que não pede meças à do nosso amado Presidente ... Oliveira do Hospital mandou arroz doce à moda de lá ...
- E como é?
- Como à moda de cá, parece-me a mim, que não sou muito conhecedor de doçaria.
- E que mais temos?
- De Proença-a-Nova mandaram tigelada ...
- Uma?
- Umas cinquenta ...
- Não é verdade ...
- ... e bolo de mel. Também mandaram bolos de mel ... Uns dez
- Devem ser bons ...
- Foram fora. As formigas deram conta deles ...
- As formigas entraram nos frigoríficos???
- A maior parte dos bolos que recebemos já não coube nos frigoríficos ... E as formigas ...
- ... também precisam de comer. E que mais?
- De Alfeizerão ...
- ... pão-de-ló! Muito bem, fiquemos por aqui. Manda fazer uma lista do que temos e outra de todas as instituições de apoio social. Eu encarrego-me de uma comunicação ao país, agradecendo todas as dádivas e o destino benemérito que lhes demos por impossibilidade humana de nós próprios consumirmos tudo. Nós, e as formigas, mas talvez não seja muito prudente falar nas formigas. Há muita gente que odeia as formigas. Também, no campo dos afectos por todas as criaturas de Deus, temos um trabalho imenso pela frente!
- Voltarei com ela dentro de um minuto.
...
- noc! noc! noc!
- Oh! estimado Frutuoso, a porta está aberta!
- Desculpe, amado Presidente, mas o reflexo condicionado, está cientificamente provado, não se apaga à primeira ... Aqui está a lista ... mas temos notícias menos boas ....
- Temos quê?
- Chatices, que me perdoe o estimado Presidente o plebeísmo, mas temos notícias menos boas ...
- Que notícias, Frutuoso? Diz rápido! Sabes bem como nada me incomoda  tanto como a expectativa de  notícias que não sejam boas ...
- Estão na recepção o primeiro-ministro e o líder do maior partido.
- Tinham pedido audiência?
- Não, mas invocam urgência de serviço.
- Já lhe ofereceste bolos?
- Recusaram. O primeiro-ministro disse que entrou esta semana em regime de dieta, o líder do maior partido só gosta de farófias. Temos o palácio atulhado de doces e ninguém se lembrou de mandar farófias...
- Que diabo quererão eles? Esta não lembraria ao careca ... Quem chegou primeiro?
- O primeiro-ministro.
- Manda entrar primeiro quem chegou em segundo ...

Thursday, March 10, 2016

A FESTA FOI BONITA, PÁ, ESTAMOS CONTENTES

Marcelo tomou posse e, à noite, saltou à cadência da música de Abrunhosa, lembrou-me Dom Pedro na rambóia com a Lisboa medieva pobre.
O país estava a precisar de um presidente assim, à maneira de Mário Soares, ouviu-se repetidamente, e o próprio Marcelo não escondeu, mesmo durante a campanha eleitoral, que lhe admirava o estilo. Não a dançar, Soares, mesmo quando jovem, segundo parece, tinha o pé pesado.


Hoje está em Lisboa Pierre Moscovici para discussões com António Costa e Mário Centeno*.
Eurogrupo insiste num Plano B. 

Por razões óbvias, um plano B não é hipótese de que se reconheça publicamente a existência (mas que, no entanto, não pode deixar de existir) e se divulgue antes que se torne imperioso adoptá-la. Se anunciar um plano é uma jogada arriscada, divulgar uma hipótese alternativa equivaleria a comprometer o Plano A, que, neste caso, é o OE 2016. Estará o Eurogrupo a tentar precipitar o derrube do governo quando pretende o anúncio público da insuficiência das medidas previstas no OE, ainda em discussão  na especialidade? Ou ficará sossegado quando hoje António Costa tiver uma conversa de pé-de-orelha com Pierre Moscovici?

A propósito de planos que, como os chapéus, há-os de vários feitios:
Completam-se hoje 30 anos sobre a data em que  Mário Soares iniciou o seu primeiro mandato como Presidente da República. 
Nos primeiros dias de 1986 tinha havido um frente-a-frente entre Freitas do Amaral e Maria de Lourdes Pintassilgo. A páginas tantas, a discussão de ideias centra-se no confronto entre as virtudes e os malefícios do Plano. Freitas do Amaral aceita o Plano porque a Constituição** obrigava, Maria de Lourdes Pintassilgo considera o Plano uma exigência de sobrevivência nacional. 
Que o Plano não é assim tão útil e pode até ser perigoso, explica Freitas do Amaral, mostra-o o facto de haver países que não perdem tempo com planos, e são muito felizes com isso, e, pelo contrário, países que têm no Plano o seu santo salvador não passam da cepa torta. Quanto muito, Freitas do Amaral, concede que deveria haver um conjunto de objectivos. 
Por pouco, não venceu as eleições na primeira volta. 

Defrontou Mário Soares na segunda volta, que havia partido de uma posição de popularidade, medida pelas sondagens, inferior aquela com Cavaco Silva deixou ontem a presidência. 
No frente-a-frente final, Freitas do Amaral foi analítico, exaustivo na explicitação dos objectivos que se propunha atingir como presidente da República; Mário Soares, foi sintético, mais voltado para a contestação à consistência dos propósitos do seu opositor do que dar conta dos seus.  Venceu Mário Soares.

Trinta anos depois, Marcelo Rebelo de Sousa, tomou posse como Presidente da República. 
Foi eleito à primeira volta, assumindo explicitamente ver em Mário Soares o modelo que se propõe adoptar, sem obediência a planos prévios, movimentando-se consoante as circunstâncias. Mais do que manda a Constituição, a presidência é moldada pela personalidade do incumbente, ouviu-se ontem com insistência. 

Não sabemos, nem saberemos como se haveria Mário Soares com o espectro no horizonte próximo de planos de medidas de austeridade, que colocarão à prova a fragilidade do apoio condicionado ao Governo.
Como se haverá Marcelo Rebelo de Sousa com eles? É esse o travo amargo de quarta-feira de cinzas.

** Constituição da República - 1976
Na revisão constitucional de 2005 - Constituição da República - Revisão de 2005 - o Plano subsiste
imperativo ... mas, na realidade, meio esquecido.

Wednesday, March 09, 2016

OS BANCOS SÃO DINOSSAUROS QUE PODEM SER DISPENSADOS

A afirmação foi proferida por Bill Gates há mais de 20 anos.

Há alguma função realizada pelos banqueiros que não possa ser realizada automaticamente pelos meios tecnológicos hoje conhecidos, além daquelas que eles realizam para interesses unicamente próprios? Descubram uma. 
Não há.

"Penso o mesmo há muitos anos. O que impede a completa obsoletização dos bancos não é a ausência de meios tecnológicos que os tornem redundantes mas os interesses astronómicos daqueles que detêm o poder de governar o mundo de forma inimputável. Até ao dia em que o abuso desse poder ilimitado derrube as estruturas por excesso de carga", anotei aqui em Outubro de 2014.

Martin Wolf no Financial Times de ontem, cf. Good news - fintech could disrupt finance .  A Banca é, actualmente, ineficiente, dispendiosa e cheia de conflitos, afirma o subtítulo.



Se considera exagerada a afirmação que titula este apontamento leia o artigo de Martin Wolf até ao fim. 

Tuesday, March 08, 2016

O QUE É QUE MARCELO PODE FAZER POR ESTE PAÍS?

Marcelo toma posse amanhã; depois de amanhã chegam a Lisboa Pierre Moscovici, comissário europeu para os assuntos económicos e financeiros e Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, para conversações com o primeiro-ministro António Costa. Sendo Moscovici membro do partido socialista francês e Dijsselbloem membro do partido trabalhista holandês, não é esperável que entre os três possam interpor-se obstáculos de índole ideológica. 

Mas o cariz seco e despachado - cf. aqui - com que responderam à jornalista que os entrevistou acerca do comunicado do Eurogrupo que insiste na introdução de medidas de austeridade adicionais - o famigerado Plano B -  numa altura em que o OE 2016 ainda não foi aprovado na especialidade, faz prever um embate difícil para o governo português, entalado entre a espada de Bruxelas e a parede dos parceiros acidentais.

"Não é uma questão de "se", mas de "quando" terão de ser implementadas por Portugal as medidas de austeridade alternativas para corrigir o défice deste ano, aponta o comunicado do Eurogrupo sobre Portugal", repetido por Dijsselbloem na entrevista. Queres acrescentar alguma coisa, Moscovici? Só para esclarecer que o "se" e "quando" significa que têm de ser implementadas e na quinta-feira estaremos em Lisboa. Resumindo: não esperam sequer pelos primeiros resultados da execução do OE em discussão na especialidade na AR. 

O que pode fazer Marcelo Rebelo de Sousa, a quem vai ser submetida para promulgação a lei do OE 2016, para desbloquear o confronto já desenhado entre a Comissão Europeia e o governo português? Se as razões do primeiro-ministro não forem compreendidas pelos seus interlocutores socialistas,  o PR, que não participa em nenhum órgão decisor da União Europeia, tem apenas um poder de influência sobre o primeiro-ministro. Discreto, se cooperar com o governo, público, "se" e "quando" discordar abertamente com ele. 

A crise em ambiente comunitário coloca o Presidente da República na posição ingrata de apoiar, explicita ou implicitamente, as decisões do governo ou entrar, activa ou passivamente, em confronto com ele.

Haverá terceira via, Prof. Marcelo?



Monday, March 07, 2016

ANTENA ABERTA

...
...
- Ele foi o pior Presidente da República em democracia!
- Foi ele quem matou a agricultura!
- E quem matou as pescas!
- E tirou o tapete a Sócrates para entrar a troica!
- Já tinha feito o mesmo ao Fernando Nogueira que até era amigo dele!
- Recebeu milhões da Europa e distribui-os pelos amigos!
- Ganhou milhões em acções do BPN, comprou-as e vendeu-as não se sabe a quem na véspera de rebentar a bronca ...
- Estava feito com o Oliveira e Costa!
- E com o Dias Loureiro! 
- ... E sabia, ele sabia,  e o governador do Banco de Portugal sabia, que o Espírito Santo estava falido mas garantiu publicamente que estava tudo sob controlo.
- Estavam combinados...
Apoiou o Passos para nos tirarem os salários e as pensões!
- Recusou o ordenado como Presidente da República para poder continuar a receber uma data de pensões de reforma ...
- ... E depois teve a lata de dizer que a reforma dele e da mulher não davam para as despesas
-  Mas custou mais ao país como Presidente da República que o rei de Espanha ...
- ... ou a rainha de Inglaterra!
- E agora ainda lhe vão dar um palácio para escrever as memórias ...
- Quando o que precisamos é esquecê-lo ...
- É um recalcado. Quem o conhece bem é o Sócrates ...  
 - O que é que vocês esperavam de um tipo sem cultura?
- Ele nem falar sabe ... 
- Para ele os Lusíadas têm quatro cantos, ah!ah!ah!
- E a mulher dele?! É uma provinciana.
- Nesse aspecto há que reconhecer-lhe a pachorra para a aturar ...
- Gastou milhões com o Centro Cultural de Belém. E para quê? Tivesse ele mandado plantar por ali umas árvores, uns pinheiros mansos, gastava-se quase nada e a cidade tinha mais um espaço verde, que bem precisa. 
- A política dele era a do cimento. Já viram a quantidade de autoestradas que para aí há sem trânsito que as justifique?
- Com ele o país andou séculos para trás!

...
...
...
- Mas ele ganhou cinco eleições, quatro das quais com maioria absoluta. Ou não ganhou? Ninguém conseguiu o mesmo nem parecido e é improvável que alguém venha a conseguir no futuro ... 
- Hum! ... Os portugueses são uns imbecis!
- Oh amigo! Você é espanhol, por acaso?

Sunday, March 06, 2016

UM MERCADO EM RÁPIDO CRESCIMENTO

Quanto pior, melhor, para uma organização que negoceia com crédito mal parado.
A Arrow Global contratou a srª. Maria Luís Albuquerque como directora não executiva porque eles sabem que ela teve acesso a muita informação que lhes interessa saber. Da srª. ex-ministra não pretendem que ela execute seja o que for, mas simplesmente lhes diga o que sabe.  

"Um mercado em "rápido crescimento" e em que os testes de stress do BCE revelam "verdadeira alienação" de ativos de risco, avaliados em 88 mil milhões de euros. É assim que a Arrow descreve o potencial de Portugal, primeiro mercado estrangeiro da empresa que, em 2014, comprou carteiras de crédito ao Banif. E cujo modelo de negócio passa por ganhar dinheiro com a compra de grandes pacotes de crédito malparado - que ronda os 15% em Portugal. São dívidas de cartões, crédito ao consumo, hipotecas que as famílias já não conseguem pagar e de que os bancos têm de se desfazer, mesmo assumindo perdas avultadas. A gestora compra barato, porque assume o risco, e depois negoceia agressivamente com os devedores, perdoando mais do que os bancos poderiam, e pressionando mais para reaver algum capital. - cf. aqui 


Ouvido sobre o assunto, o sr. Passos Coelho, que ontem foi reeleito, sem concorrência, com 95% de votos em eleições directas no seu partido, achou muito bem que, ( tal como o espião, de licença sem vencimento, se passa para a actividade privada, ou o procurador que, também de licença sem vencimento, sai para casa do arguido) que a criatura se faça à vida e não queira contar com a dependência do Estado. 

Acontece que, neste caso, a srª. ex-ministra passa-se para fora mas fica com um pé dentro. 
Não é caso único, pois não, sr. presidente do maior partido, mas é, não só mas também,  por estas e por outras com que o sr. presidente do maior partido convive bem, que este país é um mercado em crescimento para a Arrow Global e a srª. ex-ministra um não executivo feito à medida dos seus interesses.

Friday, March 04, 2016

NOTÍCIAS NO CHARCO

Sexta-feira, oito da manhã, noticia a rádio pública que "As perdas com a venda do Efisa podem atingir 130 milhões de euros " - cf. aqui

E esclarece que o "gestor público" que promoveu a venda do Efisa a um consórcio, em que é saliente o nome de Miguel Relvas, era funcionário do mesmo Efisa, e conta retornar ao seu lugar anterior. Saldar-se-à a intervenção do ocasional "gestor público" pelo assalto aos bolsos dos tansos fiscais em 130 milhões de euros, mais uma parcela a juntar ao cada vez mais pesado pacote de crimes impunes atados com etiqueta BPN.

Se ao governo do sr. José Sócrates, coadjuvado na questão pelo prof. Teixeira dos Santos, pertence a responsabilidade de ter nacionalizado o BPN em circunstâncias que maximizaram as perdas resultantes dos crimes cometidos naquele ninho de ratos, ao governo do sr. Passos Coelho, assistido na matéria pela srª. Maria Luís Albuquerque, cabem culpas de ter consentido, por acção ou omissão, a concretização de um negócio ruinoso que envolve o amigo ministro do anterior primeiro-ministro.

A deterioração dos regimes democráticos, que empurra a opinião pública para propostas radicais de esquerda ou direita, alimenta-se destes empates técnicos, recorrentes

O noticiário matinal prossegue enjoando a manhã: "Sentença dá razão ao Santander Totta no processo contra o Estado depois de Maria Luís Albuquerque ter cancelado nove swaps com o banco. Factura total para o Estado é de 1,8 mil milhões de euros - cf. aqui.

O caso "Swaps" foi engendrado durante o governo do sr. José Sócrates, com o prof. Teixeira dos Santos ao lado, e decorre, essencialmente, do facto de ter sido, e continuar a ser consentido, aos gestores públicos subscreverem responsabilidades financeiras de risco por conta do Orçamento do Estado; pior ainda, é o facto de essa assumpção de responsabilidades ter sido determinada ou incentivada pelo governo como forma de iludir o crescimento dos níveis de dívida pública numa altura em que as regras da UE não incluíam (e continuam a não incluir em alguns casos)  a inscrição das dívida das empresas dominadas pelo Estado no perímetro da dívida pública.

A srª. Maria Luís Albuquerque, também ela contratante de algumas operações de "swap" enquanto directora financeira da "Refer", decidiu invocar a ilegalidade dos custos de algumas dessas operações debitados pelos bancos. O Santander Totta contestou e ganhou a contestação.
O que surpreende neste caso não é decisão do tribunal inglês, com fundamentos que desconheço, mas a falta de capacidade negocial da então ministra das Finanças perante um banco que tem no Estado português um cliente com peso considerável.

Surpreendente até porque a srªa. Maria Luís Albuquerque será a partir da próxima semana administradora não executiva da Arrow Global, uma financeira especializada em compra e venda de dívida, pública e privada. cf. aqui. Surpreendente mas, pelos vistos, oportuna já que se soube à tarde que  a"Ficht cortou perspectiva do rating de Portugal para estável" - cf. aqui

Ainda, segundo os noticiários da antena pública, ontem foi detido para averiguações "Lula da Silva, tido como um dos principais beneficiários de corrupção na Petrobras, diz o Ministério Público do Brasil" - cf. aqui, notícia que suscita indagar "O que une a Lava Jato a Portugal e à operação Marquês" - cf. aqui, ou as aventuras do sr. José Sócrates às do sr. Lula da Silva.

Amanhã, há mais. O charco é um manancial de lodo.

Thursday, March 03, 2016

SUPER QUINTA-FEIRA

Bagão Félix apresentou este gráfico, ontem no seu programa semanal na Sic notícias.


Nele se alinham em barras laranja os níveis de dívida pública - valores observados no fim do 3º. trimestre de 2015 indicados na escala à direita - relativamente aos PIB dos 18 países que integram a zona euro.
A azul estão indicados os níveis das taxas médias de juros - escala esquerda incidentes sobre a dívida pública.

E Portugal fica mal na fotografia. 
Não apenas pelo terceiro valor mais elevado do nível da dívida pública - cerca de 127% - relativamente ao PIB, geralmente comentado nos media, mas sobretudo pelo segundo, menos comentado mas não menos crítico, porque é ele um dos principais factores alimentadores do crescimento, até agora incontrolado, do primeiro: Portugal é recordista, atingindo o custo médio da nossa dívida pública os 4,5%. 

Quaisquer que sejam as razões que se possam descortinar para explicar este recorde negro é irrefutável que durante os últimos quatro anos foram gestores das finanças públicas o sr. Vítor Gaspar - nomeado Director do Departamento do FMI, após ter solicitado a demissão de Ministro das Finanças - e a srª. Maria Luís Albuquerque que, soube-se, esta tarde, foi contratada por empresa que negociou com o Banif. Por manifesta competência relevada no exercício do seu cargo? Os factos não confirmam.
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Do embate entre aqueles que alinham no ataque político a estes casos - lembro-me, entre outros, que o sr. José Luís Arnaut sem nenhuma prova dada na gestão das finanças públicas foi contratado para o conselho consultivo do Goldman Sachs - e aqueles que os justificam, é muito provável que estes últimos continuarão a fazer prevalecer a promiscuidade entre a política e os interesses privados  que caracteriza a política em Portugal.




Tuesday, March 01, 2016

TERÇA-FEIRA CINZENTA

Os norte-americanos chamam-lhe Super Twesday por se realizarem neste dia, em mais de uma dezena de estados da união, eleições de delegados dos candidatos às nomeações para a candidatura à presidência do país. 
Uma tão acentuada representatividade de votantes se não deixa claros os resultados finais de ambos os lados não andará longe disso. E, se as sondagens não errarem hoje por muito, Hillary Clinton e Donald Trump disputarão a eleição ao cargo mais poderoso do planeta.

Uma terça feira cinzenta que poderá antecipar uma terça-feira negra a 8 de Novembro. 
Trump é um populista perigoso, um misógino, racista, burlesco que, paradoxalmente, consegue expandir a sua base eleitoral junto das mulheres e dos mais desprotegidos.
O paradoxo é tanto mais perturbante quanto é certo ter o Presidente Obama conseguido resgatar o país de uma crise financeira e social eclodida durante a fase final do seu antecessor, e a sua imagem no contexto internacional.

- Espera-se que pelo menos 51% dos norte-americanos tenha o bom senso de repudiar Truman. Afinal, os EUA são não só o país mais poderoso do mundo mas um dos mais intelectualmente evoluídos.
- Também era assim a Alemanha há cem anos, quando Hitler, um austríaco que por confusões burocráticas se viu naturalizado alemão, misógino, racista, burlesco, foi idolatradamente aclamado pelos alemães como seu führer.

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Correl. - Why Trump´s support keeps expanding