Tuesday, October 31, 2017

Monday, October 30, 2017

PORQUE NÃO ACABA O TERRORISMO INCENDIÁRIO?


Notícia publicada hoje no DN informa-nos que, durante este fim-de-semana, "Avião da Força Aérea detetou início de fogos e pessoas a fazer queimadas". Finalmente, concluíram os da defesa civil do território que, perante um inimigo permanente e progressivamente mais poderoso, tornou-se imperioso o recurso aos meios militares e que a defesa militar não faz sentido se não participar no combate ao terrorismo incendiário. 

Porque é que, só agora, a Força Aérea foi chamada a participar no combate ao único inimigo previsível e conhecido a entrar em território português, é uma questão que não tem resposta publicamente conhecida. E nem é previsível que venha a ter, considerando a posição genuflexória do poder político em Portugal perante os militares. Uma posição que roça o ridículo quando, do ministro da Defesa, não sai decisão de responsabilização dos militares que, por incompetência, conivência ou desleixo, deixaram roubar ou promoveram o roubo das armas de Tancos.    

Porque é que, mesmo depois da dimensão da tragédia, alguns terroristas incendiários continuam a actuar sem que a polícia e a justiça lhe imponham penas que os castiguem de modo tão exemplar que lhes erradiquem de vez a motivação para a reincidência e a outros desmotivem a iniciação na prática do terror incendiário, só pode atribuir-se aos que fazem e aprovam as leis, às polícias e aos tribunais. 
Enquanto as leis não apontarem para limites penais eficientes, que preferencialmente, apontem para o ressarcimento dos danos, pessoais e materiais, provocados, pela execução dos valores dos bens do criminosos, as vagas de incêndios voltarão quando se sabe, razoavelmente bem, quando voltarão.

Não se esgota, longe disso, no combate ao terrorismo incendiário a defesa do território florestado. 
Mas é aquele combate que, sendo o de implementação mais imediata, continua, estranhamente, ausente dos discursos oficiais e da discussão pública.

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Correl . - Fotos inéditas de fogos florestais misteriosos



Sunday, October 29, 2017

KAZUO ISHIGURO



"Este livro não sai da cabeça, recusa-se a ir embora, força o leitor a voltar a ele ... excepcional." - Neil Gaiman, The New York Times.

A publicidade na portada de um livro coloca-me sempre de pé atrás.

Há dias, soube-se que a Kazuo Ishiguro foi atribuído o Nobel de Literatura deste ano. Das suas obras editadas em português só se encontrava disponível nas livrarias, no dia do anúncio da Academia Sueca, a última, "O Gigante Enterrado", publicado em 2015, escrito dez anos após a publicação da anterior. 

O que levou a Academia Sueca a esperar doze anos para atribuir o Nobel a um autor que ganhara o Booker Prize em 1989 com "Remains of the Day", adaptado a cinema quatro anos depois?
Muitos outros autores vencedores do Booker nunca foram nem serão distinguidos com o Nobel, mas este prémio máximo da literatura foi atribuído dois anos depois da publicação do último romance de um conjunto de sete, além de quatro roteiros para cinema, televisão e teatro. 
Foi decisiva, para a distinção Nobel, a publicação de "O Gigante Enterrado"

Se foi, deve continuar o Comité Nobel para a atribuição do Prémio de Literatura confuso, ou a procurar confundir-nos, com os seus critérios de avaliação do mérito dos autores galardoados nos últimos anos. 
Li "O Gigante Enterrado", não porque o livro me tivesse forçado a voltar a ele, mas porque percorri com alguma persistência as 405 páginas da edição portuguesa simplesmente com o objectivo de tentar descortinar nele o mérito que é suposto possuir. E não cheguei lá. 
Com menos trezentas páginas, esta novela, que é um conto sobre a amnésia colectiva mergulhado nas lendas dos tempos do rei Artur, arrastaria durante menos tempo os protagonistas da história e a paciência do leitor. 
O mesmo poder-se-à  dizer do "Ensaio Sobre a  Cegueira", mas Saramago lembrou-se primeiro de ficcionar o comportamento social em situação de ausência de visão.  

DA FINLÂNDIA COM HUMOR





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TODOS OS JUÍZES SÃO MERETÍSSIMOS


Mas alguns exageram.



Citado na Sic notícias, anteontem.
Não é acórdão recente mas é sempre muito justo que seja recordado.

Friday, October 27, 2017

O VENTO MUDOU

"Eu tenho nervos de aço" - 27/10/2017

Ao primeiro-ministro são sobejamente reconhecidas as suas qualidades de negociador. 
Não ganhou as eleições mas foi capaz de atrelar os partidos à esquerda, concedendo e transigindo dentro dos limites que os compromissos com a UE impunham. E, durante metade do prazo da legislatura, conseguiu o que muitos, ente os quais me encontro, não acreditavam que fosse possível. 
Contou com o apoio do Presidente da República, a colaboração da Comissão Europeia e a tranquilidade laboral consentida pelos comunistas. 

De repente, o vento mudou.
Os incêndios de Junho e o roubo de armas de Tancos, continuando ainda impunes larápios e coniventes, já tinham abalado a boa estrela do executivo mas as sondagens continuavam-lhes favoráveis. 
As eleições autárquicas são ganhas, destacadamente, pelo PS, o PCP não escondeu o seu desagrado e acusou o parceiro de práticas desonestas, e o presidente do PSD declarou não querer continuar no seu posto. 
Em Outubro, reacendem-se dramaticamente os fogos e, pela primeira vez, o primeiro-ministro vê-se obrigado a assumir responsabilidades dos serviços de protecção civil na dramática extensão das perdas materiais e humanas.

E, quase simultâneamente, acontece a tempestade perfeita, mau augurada dois anos antes:
O PR muda de discurso, os parceiros à esquerda mobilizam os sindicatos para a greve, fiando-se, além do mais, que, estando a direita sem líder, o governo não está ameaçado, e, para cúmulo das coincidências, Bruxelas passa a ver, quando o OE entra na AR para debate, "risco significativo nos défices de 2017 e 2018". 

Não sei se ao primeiro-ministro ajudarão nervos de aço, porque do que ele vai continuar a precisar é de muito jogo de cintura. 

A REVOLTA DOS CEIFEIROS

Enquanto o Parlamento da Catalunha aprovava resolução para declarar a independência - vd. aqui

o Senado, vd. aqui    aprovava a aplicação do artigo 155 da Constituição na Catalunha.

La revuelta de 1640 y la República Catalana

Cataluña ya se proclamó república independiente en 1641, después de la revuelta de los segadores. Eso sí, tras apenas unos días, el país se colocó bajo protección francesa.
Las tensiones entre Cataluña y España llevaban años alimentándose. Por un lado, la política imperial castellana supuso un abundante gasto para las arcas. El conde-duque de Olivares, valido del rey Felipe IV, intentó compensar esta situación económica con la Unión de Armas. El objetivo era que todos los reinos de la monarquía, y no solo Castilla, contribuyeran económicamente y con hombres al esfuerzo militar. Barcelona se negó porque iba contra las constituciones catalanas.
A eso se unió que España entró en guerra con Francia en 1635. Se trataba de un nuevo episodio de la Guerra de los Treinta Años, que llevaba en marcha desde 1618. El ejército francés invadió el norte de Cataluña y Olivares respondió enviando miles de hombres para preparar la nueva campaña, pero sin permiso de las instituciones catalanas. Olivares envió una carta al virrey que interceptaron los catalanes y se leyó en la Diputación: “Los catalanes son naturalmente ligeros: unas veces quieren y otras no quieren. Hágales entender V. S. que la salud del pueblo y del ejército debe preferirse a todas las leyes y privilegios”.
El alojamiento de tercios de Felipe IV creó tensiones con el campesinado, que incluyeron, como se recuerda en la Història de Catalunya dirigida por Albert Balcells, el “saqueo, profanación e incendio” de varias iglesias.
Todo esto contribuyó a suscitar un alzamiento popular en 1640 contra las tropas castellanas. Segadores (e insurgentes disfrazados de segadores) entraron en Barcelona, acorralaron al virrey en su palacio y lo asesinaron junto a todo su séquito en la playa, mientras trataba de huir en un galeón.
“Fue bastante caótico -escribe Henry Kamen en España y Cataluña: historia de una pasión-: la ley y el orden se quebraron totalmente en Cataluña porque las clases altas catalanas temieron actuar contra sus propios vasallos”. En octubre se firmó un acuerdo de defensa con los franceses. El 16 de enero de 1641, Pau Claris, presidente de la Generalitat, proclamó la república, pero el 23 de enero se transfirió el título de conde de Barcelona de Felipe IV a Luis XIII, “poniéndose de este modo y voluntariamente bajo la corona francesa”.
No salió bien. Kamen apunta “el Estado francés era mucho menos respetuoso con sus privilegios que los castellanos” y el experimento terminó 12 años más tarde. Felipe IV recuperaría Cataluña, pero Luis XIV se quedó el Rosellón y parte de la Cerdaña. El rey español juró respetar las constituciones, eso sí. No estaba para ponerse exquisito: en 1640 Portugal también había declarado su independencia, gracias a una alianza con Inglaterra. - aqui
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Thursday, October 26, 2017

PENAS SUSPENSAS


O incendiário estava acusado de ter provocado cinco incêndios. 
Confessou a autoria de um, negou a dos outros quatro.
Há cinco anos tinha sido condenado pela prática do mesmo crime.
O júri juiz condenou-o, agora, a dois anos e meio de prisão, mas suspendeu-lhe a pena. Pode voltar a incendiar no verão de 2020.

Ouvimos e lemos que uma parte muito significativa dos incêndios que devoram vidas e haveres são de origem criminosa. Que medidas vão ser tomadas para rever um quadro penal que, provadamente, não tem desincentivado os criminosos que de, ano após ano, obrigam à mobilização de meios que custam milhares de milhões aos bolsos dos contribuintes sem que veja inflexão na progressão da tragédia?

Ouvi quase todo o debate desencadeado pela moção de censura apresentada pelo CDS/PP.
Alguém abordou a questão da criminalidade incendiária? 
Alguém propôs medidas capazes de conter o terrorismo incendiário?
Não ouvi ninguém. Nem do lados que apoiam o governo, nem da oposição.
Alguém sabe porquê?

Ouve-se falar em "negócio do fogo", em "cartel do fogo" com tentáculos em Espanha. 
Para além dos imbecis que pegam fogo à floresta porque a visão  do inferno das chamas os leva a clímax de excitação, há, certamente, muitos criminosos que salivam excitação na visão dos lucros que o fogo lhes proporciona. 
Quem tem medo deles?
Como e a quem aproveita esta passividade conivente?



O negócio do fogo

Wednesday, October 25, 2017

PELA BOCA, A CATALUNHA

"La inquietud sobrevuela Sant Sadurní, el pueblo del cava"

"Los extremeños alertan del efecto bumerán de boicotear los productos catalanes"



A questão catalã está a esbarrar entre dois redutos politicamente irreconciliáveis:

De um lado, a integridade territorial da Espanha prevenida no artigo 155 da Constituição contra as intenções independentistas, e a oposição da União Europeia à independência por decisão unilateral unilateral de parte de qualquer dos seus países membros;
Do outro, a dificuldade, provavelmente diplomaticamente inultrapassável, do governo de Espanha fazer cumprir as directivas decorrentes da aplicação do artigo 155, qualquer que seja a intensidade decidida para essa aplicação. 

A chave parece encontrar-se, à medida que passam os dias e os discursos de confronto se apaziguam em ambos os lados perante as dificuldades de consensos, na imposição de uma realidade que é impossível não considerar: a integração económica do espaço hispânico e deste no espaço da comunidade económica europeia. 
Os independentistas podem desvalorizar os custos da transferência das sedes de grande parte das principais empresas para outras comunidades de Espanha mas não podem ignorar a inquietação crescente de muitos milhares de empresas, da Catalunha e do resto de Espanha, que, como fornecedores ou clientes de empresas catalãs, começam a observar consequências negativas nos seus negócios.  

O tempo corre a favor do governo em Madrid e contra o governo em Barcelona. 
Rajoy terá dificuldades em acertar com os partidos que apoiam a aplicação do artigo 155 o grau e o modo dessa aplicação e só em última instância avançará para uma imposição de forçada. 

Será, não vejo outra via, o reconhecimento dos independentistas de uma realidade inultrapassável - a integração económica - que amainará as suas ambições e levará a reaproximarem-se dos outros povos de Espanha.

Tuesday, October 24, 2017

JUSTIÇA PERVERSA


A sentença ditada pela Relação do Porto é uma idiotice total. 
Mas a justiça em Portugal, não só em Portugal, já nos habitou a disparates de tamanho abismal. É o normal anormal. 

Mas não se tomem todas as mulheres por vítimas e todos os homens por carrascos.
A perversidade não é monopólio de um dos sexos.
Há mulheres mães que, sem razões provadas ou sequer invocadas em tribunal, recusam aos pais o direito de visitar os filhos menores de ambos, mesmo se a separação foi acordada e, entre outros, o direito de visitas assegurado, por escrito e homologado pelo tribunal.

Pois mesmo nestas condições essas mulheres mães recusam o direito de visita mas continuam a exigir o pagamento das pensões de alimentos. Sem que o tribunal faça cumprir o acordado.

Um caso destes foi há dias, ao fim de vários anos, resolvido, segundo li algures. Os protagonistas, figuras públicas, são uma apresentadora de televisão e um futebolista. 

Há homens monstruosos, mas há mulheres que não lhes ficam atrás em perversidade.
E, sobretudo, frequentemente, não há justiça que mereça o nome.*

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* Comentário colocado aqui

AS LIGAS DO NORTE


Anteontem afirmava Matteo Renzi, secretário do Partido Democrático  e ex-primeiro ministro de Itália, em entrevista ao El País, que "a Itália é hoje um país mais anti europeu". 
Ontem os da Liga Norte, obtiveram, nas regiões mais ricas de Itália, Lombardia e Veneto, uma maioria muito expressiva - acima de 90% em qualquer dos casos -, entre os que votaram (menos que 50%) em referendos em que reclamam maior autonomia que, muito claramente, se traduz em menos transferência de fundos para as regiões mais pobres de Itália. - vd. aqui

Com alcance subtilmente menos ambicioso que os independentistas catalães, os da Liga do Norte ( Lega Nord per l´Indipendenza della Padania. A Padania é a designação comum para o vale do Pó, abrangendo a Lombardia e Veneto) não reclamam, para já, a independência mas a autonomia quase total de gestão das finanças publicas do norte de Itália, esperando que as eleições legislativas dentro de dois anos lhes garantam a possibilidade de cortarem todas as dependências de Roma. - vd. aqui

Assim vai a União Europeia: entre o populismo nacionalista, a leste, que se revê no comando musculado de Putin, e o populismo nacionalista a noroeste, que se revê na truculência errática nacional-populista de Trump, ameaça estilhaçar-se em estados nações, emergentes da dissolução do Império Romano, que durante séculos se combateram entre si.
A última vez, há cerca de 70 anos.



Padania

Monday, October 23, 2017

OS IMPOSTOS SÃO MUITO ALTOS EM PORTUGAL?


Quem paga impostos, geralmente, dirá que sim, os impostos são excessivos em Portugal.
Para quem não paga, o assunto é geralmente ignorado. 

Os impostos não são elevados, os serviços públicos é que são muito caros.
A afirmação é redundante mas geralmente não se dá por isso.
Há dias, dizia-me um velho amigo, aquilo que geralmente se ouve de quem paga impostos diz: "os impostos atingem em Portugal níveis record".
Não é verdade. Há países onde a carga fiscal é muito mais elevada mas, porque também é elevada a qualidade dos serviços públicos recebidos,  o preço é considerado bom pelos contribuintes.

Em Portugal os serviços públicos, com raras excepções, são sofríveis, e alguns são maus.
Outros são péssimos. 
A Autoridade Nacional de Protecção Civil demonstrou ao longo dos últimos anos que não merecia continuar a desempenhar as funções para que foi criada. Este ano, quando as condições climáticas, progressivamente adversas de verão para verão, se agudizaram, emergiram dramaticamente os custos incalculáveis em vidas e bens perdidos de uma autoridade que deveria ter sido desautorizada há muito tempo. 

Custos pagos pelos contribuintes mas também, neste caso, por muitos que, sendo pobres e não pagando impostos, viram ceifadas vidas e haveres que não recuperarão nunca.

Todos os impostos são altos se os serviços recebidos como contrapartida não justificam os seus custos. Uma conclusão óbvia que geralmente é lida de forma inversa: protesta-se frequentemente contra o aumento de impostos, suporta-se, geralmente, sem indignação a falta de qualidade de serviços públicos.  

Sunday, October 22, 2017

O SABOR DA CEREJA



de Abbas Kiarostami (1940-2016) 

Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1997.
Uma abordagem serena de um tema forte, em ambiente inóspito, agreste, degradado, aqui e ali bucólico, de onde Abbas Kiarostami retira imagens luminosas, esteticamente impressionantes.
Vinte anos depois, em cópia restaurada, a não perder rever.

Saturday, October 21, 2017

FOGO! NÃO ACORDEM A TROPA!

Virá aí a revolução na prevenção e no combate aos fogos? - perguntava-se ontem no Público. 
Veremos, mas as condições para essa revolução, para qualquer revolução, triunfar, pressupõem a conjunção de forças com capacidade física e anímica capazes de suplantar as forças opostas aos seus objectivos. 
Neste caso, não se vislumbra que haja entre os partidos que suportam o actual Governo uma conjugação de propósitos suficiente para confrontar com sucesso os interesses instalados, as rejeições e os anti corpos identificados há muito tempo. 
De entre estes, destaco a ausência das forças armadas no combate aos fogos florestais, o inimigo das pessoas e do território mais previsível e mais letal. Todos anos, quando a temperatura escalda e o ar seca, as devastações provocadas por esse inimigo são combatidas, principalmente, por voluntários. Da tropa, raramente há notícia, e nunca alguma guerra foi ganha por milicianos.

Mas, repito-me, se o fogo é o inimigo mais persistente, previsível e devastador, se provado está que os fogos florestais são a arma mais eficaz (mais rápida) e eficiente (mais barata) para destruir pessoas e bens e ocupar o território, para que servem as forças armadas se não são convocadas para este combate e continuam a marcar passo nos quartéis enquanto o país é invadido? Não vislumbro que  inimigo possa invadir Portugal por terra, pelo mar ou pelo ar, mas admitindo que essa possibilidade existe, forçoso é admitir que tal inimigo aguardará pelos dias de verão e incendiará completamente o nosso país, de norte a sul, mobilizando umas dezenas, centenas, quanto muito, de incendiários para, pela calada da noite provocar um incêndio global. Enquanto a tropa estará à espera do inimigo que não chega.

Porque, provavelmente, continuará a estar.

"Em Espanha, há uma equipa a nível nacional, constituída por militares, que intervêm nos fogos de grande dimensão. Os peritos foram até ao país vizinho para estudar e apresentarem uma solução para Portugal, que, apesar de ir beber à solução espanhola, é de outra natureza. Por cá são mais comedidos na proposta e querem, utilizando os recursos existentes, propor a criação de uma Agência para Gestão de Fogos Florestais, altamente especializada, que sirva de chapéu à estratégia que defendem: unir prevenção e combate a incêndios numa única entidade com tutela directa da Presidência do Conselho de Ministros" - Público - 20/10.

Da reunião do Conselho de Ministros, hoje, que atribuições no combate aos fogos serão cometidas às forças armadas no combate aos fogos, nomeadamente o exército e a força aérea? Se as propostas são comedidas as decisões serão tímidas e os militares continuarão à espera do inimigo abstracto.

"Devia avançar-se para uma Proteção Civil militarizada", afirma-se aqui, mas quem o afirma não decide na matéria e quando teve responsabilidades no assunto ou não se lembrou ou preferiu calar-se.

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Correl . -

V E R G O N H A!, 23/8/2017
PORQUÊ?, 20/8/2017
AFINAL O INIMIGO EXISTE E É ESPANHOL, 19/8/2017
PARA ACABAR DE VEZ COM OS INCENDIÁRIOS FLORESTAIS, 18/8/2017
TUDO NA MESMA DEPOIS DE PEDROGÃO GRANDE, 13/8/2017
O QUE NÃO DIZEM OS ESPECIALISTAS, 7/8/2017
QUASE TUDO RESOLVIDO, 18/7/2017
INFAME, 5/7/2017
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Maior destaque das Forças Armadas, com a Força Aérea a assumir a gestão e operação dos meios aéreos de combate aos incêndios florestais  22/10/2017

Friday, October 20, 2017

O ATAQUE POR DENTRO

De Joschka Fischer, ministro das Relações Exteriores e Vice-Canceler da Alemanha entre 1998 e 2005 e líder do Partido Verde alemão durante quase 20 anos, pode ler-se aqui um artigo que resume o pensamento de quem percebe bem que a eventual independência da Catalunha desencadearia um processo imparável de fragmentação da Espanha que auto destruiria a União Europeia por dentro. 

Afirma Fischer,

"... Em 1 de Outubro o Governo da Catalunha realizou um referendo que, além de ser ilegal, segundo a Constituição espanhola, o referendo nem sequer estabeleceu as regras determinantes de quem poderia votar. ... O referendo alternativo catalão provocou medidas drásticas do primeiro-ministro Mariano Rajoy, que interveio para encerrar as mesas de voto. Foi uma grande tolice política, porque as imagens da polícia reprimindo com bastões os manifestantes catalães desarmados outorgou uma legitimidade enganosa aos secessionistas. Nenhuma democracia pode ganhar este tipo de conflito. E no caso de Espanha a repressão recordou imagens da Guerra Civil de 1936-1939, o seu mais profundo trauma até agora. 
A União Europeia não pode permitir a desintegração dos seus Estados membros porque são o seu cimento. Se a Catalunha se torna independente teria que encontrar um caminho futuro sem a Espanha nem a União Europeia. Com  o apoio de muitos Estados membros preocupados com os seus próprios membros secessionistas, a Espanha bloquearia qualquer intenção da Catalunha para ser membro da zona euro e da União Europeia. ..."

A partir deste ponto, Fischer continua a apontar um conjunto de argumentos de oposição à independência da Catalunha em nome da integridade da Espanha e da União Europeia e dos interesses culturais e económicos dos catalães.   

Nos apontamentos que, sobre este tema, tenho deixado neste bloco de notas, há uma quase total coincidência com este artigo de Fischer. Excepto num ponto, que é também aquele em que divirjo daqueles que, coincidindo com os argumentos de oposição à fragmentação da Espanha e da União Europeia, defendem que o Governo de Espanha não se deveria ter oposto à realização do referendo. Excluo, portanto, desta análise aqueles que, posicionando-se na extrema direita e na extrema esquerda contra a existência da União Europeia, coerentemente, defendem a independência da Catalunha e a proclamação dessa independência decorrente de um referendo. 

O Governo de Espanha não tinha, nem tem alternativa, senão pautar a sua acção no âmbito das suas responsabilidades constitucionais. E, constitucionalmente, o referendo com os objectivos que pretendia alcançar foi ilegal, e sê-lo-ia mesmo sem a intervenção da polícia. Assim o julgou, por unanimidade o Tribunal Constitucional espanhol. 
Se o referendo não tivesse sido perturbado pela intervenção da polícia, os catalães que discordassem da sua realização muito provavelmente não votariam. E o grupo independentista, mais mobilizado e catequizado, teria obtido um resultado favorável à independência, ganhando uma dinâmica imparável e despertando todos os movimentos independentistas em Espanha e fora dela, com os do País Basco na primeira linha de combate. 

Lamenta-se a pancada, lamentam-se todas as guerras e guerrilhas, todos os actos de confrontação quando a inteligência humana só por si não garante a paz. Mas não pode ir a ingenuidade ao ponto de imitar o compreensivo e tolerante Manuel, canalizador, quando advertiu o Joaquim, soldador: Oh Joaquim, tem mais cautela... Mandaste-me um pingo de solda para o olho...


Thursday, October 19, 2017

POR QUE É QUE OS INCÊNDIOS EM PORTUGAL SÃO TÃO LETAIS?

Vale a pena ouvir o que sobre o assunto pensam outros.
Vale a pena ler o artigo publicado hoje aqui no El País - ¿Por qué los incendios en Portugal son tan letales? -  que se transcreve na íntegra: 

"Armando y sus cuatro hermanos han heredado 55.000 hectáreas de monte. “Fuimos a pedir permisos para construir una casa. Nos dijeron que podíamos hacer lo que quisiéramos, pero registrarla no”. Lo habitual en Portugal es construir como sea en medio del bosque, sin observancia de las muchas leyes forestales que rigen el país —sobre franjas de cortafuegos o perímetros de seguridad alrededor de núcleos urbanos— y sin dejar huella en registros oficiales.
Poco a poco, durante tres días, Portugal ha ido contando, hasta llegar a 43, los cadáveres localizados bajo la escoria de más de 500 incendios que convirtieron el país en una caldera. Cuatro meses antes habían muerto 64 personas en Pedrógão (en el centro). Desde junio, los políticos preguntan a expertos forestales qué hay que hacer para acabar con esta plaga.
El año 1989 fue a Galicia lo que el 2017 a Portugal. Aquel año habían ardido 200.000 hectáreas y muerto cuatro personas. Al año siguiente el Gobierno autonómico de Manuel Fraga dio un golpe en la mesa para cambiar la tendencia. Creó una subdirección general dedicada exclusivamente a la prevención de incendios y quien hoy dirige toda la prevención oficial y combate al fuego, Tomás Fernández-Couto, ya estaba entonces en esa labor. Este ingeniero forestal de la Escuela Técnica Superior de Ingenieros de Montes de Madrid (ETSI) lleva más de un cuarto de siglo dedicado al bosque gallego.Portugal suele ser líder europeo por número de incendios y superficie quemada. Hay años en que más de la mitad de la extensión destruida en toda Europa es portuguesa cuando el país ocupa solo 92.000 kilómetros cuadrados de los 4,4 millones que tiene la UE. Este 2017 va a ser uno de esos años. Los expertos dirigen su mirada a la vecina Galicia, que desde los noventa ha reducido a la mitad las hectáreas quemadas por año. Existen más razones para mirar al norte. De Coimbra a Bragança la orografía recuerda mucho a Galicia, ambas regiones concentran los incendios de sus respectivos países; ambas comparten el clima, el minifundismo rural y su abandono.
El minifundismo familiar portugués es único en el mundo. El 85% del bosque está en manos privadas, según el Inventario Forestal Nacional, en comparación con el 75% de Francia, el 70% de España, el 66% de Italia o el 22% griego. El Estado portugués solo posee el 2% de la floresta (el resto son áreas públicas). Se sabe que casi todo el monte es privado, pero poco más se sabe. Si no hay registros de casas, menos de sus ocupantes y propietarios. Tras la desgracia de Pedrógão se ha reemprendido la misión de crear un catastro forestal nacional. Los terrenos que no se registren pasarán al Estado después de unos años sin reclamaciones. Hoy por hoy se desconoce de quién es el bosque, quién vive en él y, por tanto, quien muere en él.Durante cuatro meses, una denominada Comisión Técnica independiente creada ex profeso por el Parlamento para investigar el incendio de Pedrógão repartió en su informe final culpas para todos, desde el vicio de cambiar la dirección de Protección Civil según el color político, a la promiscuidad de árboles y casas en el mundo rural.
Sí se sabe que hay una parte del bosque que nunca se incendia, el de la industria. Las papeleras gestionan el 6,5% de los terrenos privados, algo más de 200.000 hectáreas. Sus eucaliptos no arden, y cuando lo hacen es por contagio del vecino. El sector invierte cuatro millones de euros anuales en labores de prevención y silvicultura. Su brigada de intervención rápida se mantiene en alerta todo el año. Casi todos los fuegos que apagan (el 85%) están en propiedades vecinas.
“Portugal combate los incendios con bomberos voluntarios; España con profesionalismo y conocimientos”, señala el ingeniero forestal y profesor Paulo Fernandes, para apuntar diferencias entre ambos países respecto a las políticas de lucha y extinción de fuegos. “En los noventa, España y Galicia cambiaron el plan de extinción; lo hicieron más eficiente, más basado en el conocimiento, más profesional, más americano por así decirlo, se combate con técnicas forestales”. Galicia fue pionera en el empleo de aviones anfibios, en las técnicas de fuegos controlados, en los centros de coordinación, en la instalación de cámaras automáticas de vigilancia. “El plan gallego es impresionante, con análisis de incidencias y causalidad por semanas, por días, por horas”, explica Inés González, catedrática de la Escuela de Ingenieros de Montes en la Universidad Politécnica de Madrid (UPM).
Para eso hace falta dinero. “España destina unos 2.000 millones (anuales) solo a la extinción. Creo que salvo Estados Unidos, no hay otros países que tengan tanto presupuesto por persona”. En Portugal son 100 millones.
Según el ingeniero forestal Fernandes, apenas llegan a 2.000 los bomberos profesionales en Portugal, en España son 20.000. “El 90% de la fuerza de combate al fuego es de bomberos voluntarios”, dice sobre su país. Estos voluntarios reciben cursillos de vez en cuando, se compran su material de trabajo y, si les llaman, cobran 45 euros por día de trabajo. Sin fuego, no cobran. Son los primeros en llegar al siniestro, pero sus conocimientos técnicos son limitados y aún más sus herramientas. El bombero profesional, con salarios de entre 800 y 1.500 euros al mes y horario fijo, también debe ocuparse del traslado de enfermos para, por ejemplo, una sesión de diálisis. Con el incendio en marcha, la responsabilidad del mando pasa a Protección Civil, “un buen servicio para defender vidas y casas, pero no para extinguir el incendio”, asegura Fernandes.
La Comisión Técnica (CTE) critica la descoordinación de las diferentes estructuras y mandos. “De la vigilancia se ocupa la Guardia Nacional; de la prevención, el Ministerio de Agricultura y de la extinción, el Ministerio de Administración Interna”, afirma Fernandes. En el otro lado de la frontera, ya desde 1990 Galicia tiene un mando único para todos los trabajos, desde las cuadrillas de prevención a la intervención urgente de militares. La CTE ha recomendado implantar el mando único en Portugal.
“Portugal se ha centrado en el combate, asumiendo que estructuras robustas y eficientes pueden dar respuesta a todas las situaciones, y eso es imposible”, afirma Domingos Lopes, director del Departamento Forestal de la Universidad de Tras-os-Montes e Alto Douro (UTAD). “La naturaleza ha demostrado a los políticos que el camino es la prevención. Si no hay una gestión preventiva de la silvicultura, las tragedias se repetirán”. La prevención es el pariente pobre del combate a las llamas. “Solo con quitar un 4% del presupuesto dedicado a la extinción para dárselo a la prevención, se vería una respuesta efectiva al problema”, apuesta el experto Lopes.
Fernandes compara la balanza del gasto en Portugal y Galicia: “Apenas el 5% del presupuesto de la floresta se dedica a los trabajos de prevención, como limpieza de los bosques o creación de cortafuegos, un 15% a la vigilancia y el resto a la extinción”. En Galicia, dos tercios del presupuesto se destina a la prevención y solo uno al combate; en Portugal es al revés.
“El abandono deja a los bosques no solo sin cuidados, sino, sobre todo, sin aprovechamiento; la leña que se cortaba para la casa, la hierba para los animales, el pastoreo... todas esas labores prevenían incendios”, apunta la catedrática González Doncel de la Politécnica de Madrid. En el último lustro ha disminuido un 12% la superficie de explotación rural, por ejemplo, el monte de Armando y sus hermanos que, con 72 años de edad, no está por la labor de explotarlo. “Si no sacamos nada del monte, tampoco vamos a gastar en él”.
“Hay una sobreprotección del bosque que está haciendo mucho daño a lo que se quiere proteger”, señala González Doncel. “El monte hay que aprovecharlo, está muy bien sacar dinero de él, lo de la limpieza es un mito; el bosque hay que gestionarlo”.
El domingo 15 de octubre ardía Galicia y ardía Portugal. En un lado, hubo cuatro muertos y 4.000 hectáreas quemadas; en el otro, suman 42 muertos y 100.000 hectáreas; pero, la fuerza de extinción era prácticamente la misma: 5.000 personas. En Portugal, la mayoría eran bomberos voluntarios; en el caso gallego, militares y profesionales. Pese a la desgracia reciente en Galicia, el director general de Montes de Galicia, Fernández-Couto, declaró algo que es impensable decir en Portugal: “No ha existido falta de medios en la extinción de los incendios”.

O JOGO CABRA CEGA


Recolha de armas roubadas em Tancos abre guerra entre MP e militares.


"Sobre o pedido de Marcelo Rebelo de Sousa para que sejam apuradas todas as circunstâncias do furto de armas no paiol de Tancos, Costa defendeu que o Presidente da República "disse o óbvio e o que o Governo diz". aqui

"Há um processo-crime a correr e todos esperamos para saber. Confiamos no Ministério Público, que está a investigar o caso."

E o Ministério Público pode confiar em quem?

Enquanto espera pela resposta (secreta) do Governo, o MP, à falta de outras encomendas urgentes, PJ faz (jogo perigoso ...) buscas no Benfica. Investigação estará ligada ao caso dos emails do clube que a Porto TV tem divulgado.

Wednesday, October 18, 2017

POR ENTRE OS PINGOS DE SANGUE


Já foi dito e demonstrado que o actual primeiro-ministro é mui hábil manobrador. 
Mas não há habilidade que chegue se o espaço de manobra se estreita e deixa o manobrador sem margem de manobra. 
Depois da tragédia de Pedrogão Grande e arredores percebeu-se muito nitidamente que, para além das circunstâncias naturais excepcionais, a protecção civil do território estava entregue a um conjunto de gente geralmente incompetente. A ministra da Administração Interna, soube-se esta manhã, pediu a demissão, mas o primeiro-ministro sempre confiante no seu jeito e na boa estrela procurou safar-se entre a chuva de sangue que caiu naquela noite de um Junho normalmente tórrido. E não aceitou o pedido de demissão da ministra obrigando-a a desempenhar um papel que ela não queria continuar a exercer.

Terá o ministro da Defesa, embrulhado em discursos contraditórios no caso de Tancos, também visto recusado pedido de demissão que o mais elementar sentido de Estado impunha? Não sabemos, mas as dúvidas levantam-se e não se dissipam porque o primeiro-ministro insiste em refugiar-se atrás das atribuições do Ministério Público ignorando o óbvio: independentemente da identificação dos larápios e eventuais coniventes, em Tancos havia, e continua a haver, cadeias de comando com responsabilidades fixadas que já devem ter identificado, mas não dizem, quem não estava onde devia ter estado e porquê. Não dizem esperando que o tempo passe e a memória colectiva se esqueça. *

Ontem, não tão inesperadamente quanto as memórias curtas terão sido levadas a  supor, o Presidente da República, interpretando o espanto e o desespero dos portugueses foi claro e disse e fez o que se impunha, impedindo que a habilidade do primeiro-ministro pretendesse continuar a escapar intocado entre os pingos grossos de uma segunda chuva de sangue. Ordenou-lhe que revisse os quadros e os esquemas e apresentasse desculpas aos portugueses, assumindo, reconhecendo, que, entre outros,  os serviços de protecção civil tinham provado que não tinham protegido o que deviam ter protegido.

E agora, sr. primeiro-ministro, como se despe a soberba e veste a dignidade de obedecer e pedir desculpas? Logo, veremos.
E agora, srª Catarina Martins, como sustenta a continuidade deste Governo, que circunstâncias inevitáveis obrigaram a tergiversar quando prosseguia uma caminhada de sucesso que parecia imparável? Não tem alternativa, tem de garantir-lhe o voto de confiança que os comunistas não garantirão nem negarão.
Ou caem todos sem se saber quem se levanta.
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* Segundo notícia de última hora, "Armamento roubado em Tancos foi recuperado pela Polícia Judiciária Militar O material de guerra foi encontrado esta noite na região da Chamusca."

A polícia fez o que lhe competia. Falta ao Governo fazer o que lhe compete. Há responsabilidades políticas a que não pode esquivar-se. Caso contrário, para que serve o Ministério da Defesa?

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Correl. -
O PINHAL DO REI

Catedral verde e sussurrante, aonde
A luz se ameiga e se esconde
E aonde, ecoando a cantar,
Se alonga e se prolonga a longa voz do mar:
Ditoso o «Lavrador» que a seu contento
Por suas mãos semeou este jardim;
Ditoso o Poeta que lançou ao vento
Esta canção sem fim ...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
Que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
Rei Dom Dinis, bom poeta e mau marido,
Lá vêm as velidas bailar e cantar.

Encantado jardim da minha infância,
Aonde a minh'alma aprendeu
A música do Longe e o ritmo da distância,
Que a tua voz marítima lhe deu;
Místico órgão cujo além se esfuma
No além do Oceano, e onde a maresia
Ameiga e dissolve em bruma,
E em penumbras de nave, a luz do dia.
Por este fundos claustros gemem
Os ais do Velho do Restelo ...
Mas tu debruças-te no mar e, ao vê-lo,
Teus velhos troncos de saudosos fremem .

Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
Que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal louvado,
São as caravelas, teu corpo cortado,
É lo verde pino no mar a boiar.

Pinhal de heróicas árvores tão belas,
Foi do teu corpo e da tua alma também
Que nasceram as nossas caravelas
Ansiosas de todo o Além;
Foste tu que lhes deste a tua carne em flor
E sobre os mares andaste navegando,
Rodeando a terra e olhando os novos astros,
Ó gótico Pinhal navegador,
Em naus erguida levando
Tua alma em flor na ponta alta dos mastros!...

Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
Que vedes no mar?
Ai flores, ai flores do Pinhal florido,
Que grande saudade, que longo gemido
Ondeia nos rames, suspira no ar!
Na sussurrante e verde catedral
Oiço rezar a alma de Portugal:
Ela aí vem, dorida, e nos seus olhos
Sonâmbulos de surda ansiedade,
No roxo da tardinha,
Abre a flor da Saudade;
Ela aí vem, sozinha,
Dorida do naufrágio e dos escolhos,
Viúva de seus bens
E pálida de amor,
Arribada de todos os aléns
De este mundo de dor;
Ela aí vem, sozinha,
E reza a ladainha
Na sussurante catedral aonde
Toda se espalha e esconde,
E aonde, ecoando a cantar,
Se alonga e se prolonga a longa voz do mar…


In  "Ilhas de Bruma", de Afonso Lopes Vieira, (1878-1946)


 D. Dinis

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
                                                                                   

                                                                                      Fernando Pessoa

Tuesday, October 17, 2017

OBRA DE ARTE, FLOP TURÍSTICO


Joana de Vasconcelos recebeu dos contribuintes portugueses um subsídio de 170 mil euros para representar Portugal na Bienal de Veneza de 2013 com "Trafaria Praia", um cacilheiro que se encontrava desactivado desde 2011, que a artista revestiu exteriormente com tela pintada de azulejos alusivos à Lisboa ribeirinha e decorou com sugestões psicadélicas o interior. 
Foi um sucesso em Veneza. 


A um empresário de turismo fluvial no Douro, entre outros sucessos no ramo e artes correlativas, cheirou-lhe o cacilheiro a negócio, e comprou a obra de arte com o intuito de a fazer render como atracção turística no Tejo.
Não foi.
Já perdeu com o negócio, diz ele, um milhão de euros, e agora tenta recuperar o prejuízo vendendo o "Trafaria Praia" como objecto de arte, afinal aquilo para que foi reabilitado.
Difícil agora é descortinar espaço para tamanha arte encalhada em terra.

Mais: aquiaquiaquiaquiaqui

Monday, October 16, 2017

PÃO, PÃO; QUEIJO, QUEIJO, OU MARMELADA


Quando é que eu defendi um governo de Bloco Central? 
É "ofensivo" e "difamatório" que pretendam atribuir-lhe uma defesa de um governo de Bloco Central, que só considera justificável "em situações de salvação nacional". "O que eu disse é que os partidos todos têm de pôr os interesses partidários de lado e entenderem-se nas reformas fundamentais para o interesse do país", disse, apontando como exemplo uma solução para o problema dos incêndios." - aqui

O sr. Rui Rio é assim: pão, pão; queijo, queijo.
O sr. Santana Lopes é mais marmelada. 
Por quem votarão os PSDs, veremos, mas suspeito que a maioria vá pelo doce.
No fim, ganha o sr. António Costa.