Friday, May 02, 2025

TABUS

- Já desististe de escrever no Aliás?
- Não. Estou apenas à espera que a confusão internacional e a discordância interna assentem de modo  suficiente que permitam vislumbrar o futuro pelo menos a curto prazo. De momento, a espuma dos dias vai tão alta que, mesmo qualquer percepção instantânea, é ilusória e desesperante. 
- Hum! Estás mais pessismista que nunca.
- E há motivos para ver optimismo nas actuações, ou simulações, não sabemos, de Trump e Putin?
- Concordo. Mas esqueceste Xi Jinping?
- Não, não esqueci. Xi Jinping, por agora, é espectador. Um espectador especial, mas, de qualquer modo espectador. 
- E Netanyhau?
- Esse faz o que Trump o deixa fazer. Trump disse que ia resolver a questão do conflito israelo-pelestiniano numa semana. Não resolveu. Agora assinou com Zelensky um acordo de cedência de terras raras ... Se esse acordo se concretisar é credível que os norte-americanos defendam as suas terras ucranianas ouvindo a continação de bombardeamentos russos ali ao lado? Há muita coisa que não entendo, e não sei mesmo se alguém entende. São tabus.
- Provavelmente não. Assim como ninguém eetenderá que os ayatolas cedam agora, pacificamente, o que Trump retirou do anterior acordo. Aliás só há ums solução para a questão nuclear iraniana: o desarmamento global. Por que razão só alguns, poucos, têm direito a armamento nuclear e outros não?
- E quanto ao que se passa cá por casa?
- Tenho lido e ouvido pouco mas tenho a sensação de ter lido e ouvido tudo porque todos se repetem  ad nauseam os mesmos argumentos. Com duas excepções: ninguém fala na justiça, nem na guerra que temos à porta. 
- Porquê?
- Porquê, pergunto eu.
- Terão medo dos magistrados e da reação dos eleitores?
- É bem provável. São dois tabus.
- Sendo assim, no fim quem ganha?
- Ganha o Chega.
 

 

Sunday, April 20, 2025

O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Há poucos dias, a notícia correu célere: Administração Trump enviou um questionário a várias universidades portuguesas e cancelou um programa com o Instituto Superior Técnico. Iniciativas ambientalistas e de diversidade na mira.

Nada notável se não fosse o caso de a sanha presucutória de Trump querer extravasar o seu condomínio privado. Antes, já tinha sido amplamente divulgada a pretensão  de Trump submeter ao seu domínio instituições culturais e universidades nos EUA. 
A resposta de não sujeição de Harvard, uma das mais prestigiadas universidades do mundo, é agora uma referência maior de resistência que deve causar grandes engulhos ao déspota: "By saying ‘no’ to Trump, Harvard saves its soul The university will pay a painful price for refusing to compromise its independence to the Trump administration."
 
Tudo gente do seu outro tempo.
 
O Smithsonian Institution é outro alvo das investidas de Trump na cultura e faz-nos pensar num estado fascista a querer controlar o maior complexo de museus dos EUA : it reminds you of a fascist state’: Smithsonian Institution braces for Trump rewrite of US history Normally staid historians sound alarm at authoritarian grasping for control of the premier US museum complex.

Smithsonian Institution tem uma história curiosa: foi fundado, financiado, com a maior parte da herança do cientista britânico James Smithson (1765–1829. Smithson não tinha filhos e o herdeiro, um seu sobrinho, Henry James Hungerford, viria a falecer ainda criança em 1835. Passou a herança para os EUA,  na condição de que, em conformidade com o testamento  de Smithson, fosse criada em Washington DC  a  Smithsonian Institution dedicada ao crescimento e difusão do conhecimento entre a humanidade.
James Smithson nasceu em França, naturalizou-se britânico e nunca visitou os EUA. 
 
Ontem resumi num apontamento neste caderno algumas das reflexões que as convulsões políticas observadas nestes últimos anos me têm suscitado.
Perante tanta brutalidade de Trump, Putin e Netanyahu e a indiferença sonsa de Xi Jinping, o que falta à Europa Livre para poder garantir-se próspera e livre?
Faltam europeus, afianço eu.
 
Hoje, recebi de pessoa amiga e conhecida um vídeo de que transcrevo, abaixo, o texto.
Que merece reflexão.
 
Os EUA navegavam antes da eleição de Trump para este segundo mandato em maré de rosas: inflação contida em baixa, crescimento e emprego em níveis invejáveis.
Havia certamente descontentes, os níveis de desigualdade social são elevados, criando condições para as reivindicações justas que custumam eleger os demagogos.
E assim aconteceu Trump 2.
 
Mas o vídeo que recebi e o texto que transcrevo não são termómetros para, se não gostarmos,  deitar fora. 
Como se pode explicar a distância enorme que separa o grau de inovação, sobretudo a inovação tecnológica, entre os EUA e a Europa?
 
Trump não tem razão quando continua a alimentar a excitação dos seus "deploráveis" com medidas geralmente demagógicas e muitas ultrajantes. 
Mas algo falta na Europa para opor a razão do conhecimento à irracionalidade da demagogia de Trump.

EU faces huge innovation gap: MIT's Andrew McAfee highlights a stark disparity with the U.S. 

In his newsletter The Geek Way, MIT scientist Andrew McAfee visualizes Europe's uphill battle to foster globally competitive startups.

Published on December 8, 2024

 

(clicar para aumentar a imagem)
 

According to Andrew McAfee, a scientist at MIT, Europe’s innovation ecosystem is facing a significant existential crisis. In a recent blog post, McAfee highlighted stark contrasts between the U.S. and EU in nurturing "from-scratch" companies, those created without mergers or spin-offs, with public market valuations exceeding $10 billion. This analysis draws on findings from Mario Draghi’s report on EU competitiveness, emphasizing the region's lag in fostering tech giants.

Reflecting on Draghi’s findings, McAfee emphasized that the EU’s economic growth and competitiveness are at a critical juncture. European Commission President Ursula von der Leyen recently announced the formation of a task force to address these issues, labeling them as central to the EU’s next five-year term. Key objectives include closing the innovation gap with the United States, decarbonizing the economy, and fostering economic independence.

However, McAfee's visualizations starkly outline the EU's uphill battle. His data reveals that only 14 EU companies founded in the past 50 years qualify as "arrivistes"—publicly traded entities started from scratch—compared to a sprawling and varied cluster of U.S. equivalents. These European firms, collectively valued at $430 billion, pale in comparison to the U.S. arrivistes, whose combined worth approaches $30 trillion.



© Andrew McAfee, MIT

McAfee analyzes: "On one hand, $430B is a lot of money. On the other, it's less than half of a Tesla today and less than 1/8 of an Apple or Nvidia. The biggest American arrivistes are staggeringly big. (...) The American population of arrivistes worth at least $10B is collectively worth almost $30 trillion dollars — almost 70 times as much as its EU equivalent."

McAfee's visualizations vividly illustrate the disparity. The EU’s cluster of 14 companies, led by high-tech firms like Spotify and Adyen, appears minuscule next to the U.S., where tech behemoths like Apple, Amazon, and Nvidia dominate. Notably, the EU has no public company founded in the past half-century with a market capitalization exceeding $100 billion.

The blog post underscores the EU's unique challenges, including its fragmented markets, linguistic diversity, and restrictive regulations. “Innovative companies that want to scale up in Europe are hindered at every stage by inconsistent and restrictive regulations,” Draghi notes in his report. McAfee elaborates, likening the EU’s constraints to “weight vests and blindfolds” on young tech companies, making competing with their U.S. counterparts almost impossible.


© Andrew McAfee, MIT

While language barriers in Europe may pose less of a challenge, given advancements in automatic translation, legal and regulatory inconsistencies remain a formidable obstacle. McAfee suggests that Europe's competitiveness boosters must confront these issues head-on if the EU is to create its own tech giants.

Bottom line: Andrew McAfee’s insights offer a sobering yet necessary perspective on the EU's innovation challenges. Drawing attention to these disparities, he provides a data-driven call to action for policymakers and business leaders to rethink their strategies. As Europe aims to close the innovation gap with the U.S., McAfee’s visualizations remind us of the scale of the task ahead.

                                                  The other side of the story

Of course, there's always another side to every story. In a LinkedIn post, Jatin Modi concludes that the same forces that strangle innovation have created something remarkable. "Thirty of the world's fifty most liveable cities are European. The continent has mastered something more elusive than unicorn creation - the art of balanced living."

He asks himself, what if Europe's 'decline' is not a bug but a feature? "What if the continent that gave us the Renaissance and the Industrial Revolution now offers a different kind of innovation: the radical idea that progress isn't always vertical. Most economies optimize for growth. Europeans optimize for life. Maybe that's not decline - that's a choice."

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A Visualization of Europe's Non-Bubbly Economy

The Draghi task force has a lot of work ahead of it

Midjourney prompt: “two champagne glasses; one has hundreds of bubbles while the other only has 14, photorealistic, bokeh background”

While eating a lunch of Thanksgiving leftovers last Friday I read that the EU has created a task force to act on the findings and recommendations of Mario Draghi’s excellent report on EU competitiveness in the second machine age (my title, not his). Draghi made an unignorable case that growth and competitiveness are fading in Europe, creating an “existential crisis” for the region. European Commission president Ursula von der Leyen apparently agrees. According to Politico, last week she “announced the main initiative of the next five-year term will be a "competitiveness compass" to close the innovation gap with the United States, decarbonize the EU economy and increase its economic independence, with each commissioner told to contribute to these goals.” This post visualizes that daunting task.

I wrote earlier here about how well Draghi laid out the challenges facing the region. I had my problems with the report's recommendations, but not with its presentation of the existential crisis. The Draghi Report combines broad descriptions of the problem with well-chosen, hard-hitting statistics. For example, I thought I grasped how big the differences were in the US vs. EU innovation ecosystems but was unaware that, as the report points out, Europe lags in VC funding at every stage by about a factor of five.

Of all the chiffres justes in the report, though, the ones that most startled me were in this sentence: “there is no EU company with a market capitalisation over EUR 100 billion that has been set up from scratch in the last fifty years, while all six US companies with a valuation above EUR 1 trillion have been created in this period.”

This sentence rises not to the level of art or literature, but instead showbiz: it leaves the reader wanting more. It tells us that Europe has no from-scratch companies founded in the past fifty years — let’s call such companies arrivistes — worth a hundred billion, but is silent on just how many US arrivistes are over that bar.

Also, how many are below that bar, but still sizable? If we lower the threshold by a factor of 10, what do we learn? How many arriviste European companies are worth at least $10B (I’m switching from euros to dollars here)? And what's the equivalent number in the US? Questions like these motivated the crack research team here at Geekway Labs to dig into the numbers and see what a fleshed-out comparison of the arrivistes on both sides of the pond looks like.

Like the rest of the Draghi report, it's not a pretty picture for Europe. Here's the European half of the picture, with each arriviste worth at least $10 billion represented by a bubble, the area of which is proportional to the company’s market cap. As is convention around here, green bubbles indicate companies in digital high-tech industries:



When assembling this visualization, we followed Draghi's definition of a from-scratch company. ““From scratch” refers to starting a company from its inception as a new entity, rather than through mergers, acquisitions or spinoffs from established firms.” We also considered only publicly-traded companies (since the report specifies “market capitalisation,” not private valuation). The picture above therefore doesn't include a bubble for Celonis, a private German enterprise tech company valued at $13B in its last funding round. According to CB Insights, that's Europe's only “Decacorn,” or private, VC-backed startup worth more than $10 billion.

We found 14 EU arrivistes worth at least $10B (But we may have missed some, even though we combed through the Factset data pretty carefully; here are our data. If you know of a company that meets the Draghi criteria but is not in the picture above, please let me know.). The total market cap of this continental quatorze is about $430B.

On one hand, $430B is a lot of money. On the other, it's less than half of a Tesla today1, and less than 1/8 of an Apple or Nvidia. The biggest American arrivistes are staggeringly big.

As Draghi points out, it's not great that Europe doesn't have any companies near their size. But it's even worse that compared to the US, the EU has so few chances at creating the next giant arrivistes. I feel like I should give a trigger warning at this point to Europe's tech and competitiveness boosters: the data visualization they're about to see is not kind to their hopes and dreams. Here’s the Euro quatorze again, this time next to the equivalent US cluster: all American public arrivistes worth at least $10B:


The US has a large and variegated population of valuable young from-scratch companies. The EU simply doesn’t. The American population of arrivistes worth at least $10B is collectively worth almost $30 trillion dollars — almost 70 times as much as its EU equivalent.

When I talk about the above facts and figures with European audiences, I typically hear two explanations for the huge disparity. They both stem from the fact that the U.S. is a gigantic market unified both by institutions and language, while Europe is not. The EU is more fragmented because of the large number of languages spoken and the patchwork of laws, legal systems, and so on.

Both of these things are certainly true, but do they fully explain the gap? Yes, Europe doesn’t have a single language, but it has several that are spoken by many millions of potential customers. German, for example, is spoken by about 130 million people in the EU (and is the first language of about 85 million), French by 110 million (65), Spanish by 75 (40), and Italian by 72 (58). Heck, about half the people in the EU say they speak English proficiently, so even technologies that ignored the local tongue altogether could conceivably find a huge audience. And with the science-fiction-become-reality automatic translation tools widely available today, for how much longer will language barriers stand as plausible barriers to technology use?

The EU’s legal situation is a much bigger problem than its linguistic one. As Draghi says right on page 2 of the report, “innovative companies that want to scale up in Europe are hindered at every stage by inconsistent and restrictive regulations.” The “inconsistent” part is bad, but I think the “restrictive” one is worse. The EU is putting too many restrictions and requirements on its young tech companies, as I described here. Expecting them to catch up to their US counterparts while laboring under these constraints is like expecting US soccer players to outplay their European rivals while wearing weight vests, blindfolds, and clown shoes.

 
 

Saturday, April 19, 2025

POR UM CESTO DE DEPLORÁVEIS

Por um cesto de deploráveis, perdeu Hillary Clinton as eleições de 2016.
Os deploráveis entregaram o governo dos Estados Unidos da América a Trump, um magnata sem experiência governativa para além do governo dos seus negócios pessoais.
Hillary Clinton perdeu por ter considerado, e com razão, que uma parte dos apoiantes de Trump eram, e ainda são, pouco ou mesmo nada instruidos.
Foi muito criticada por essa afirmação e apresentou desculpas públicas. O recuo custou-lhe a presidência.
Trump nunca teria recuado.
 
Trump perdeu para Biden em 2020,  mas nunca reconheceu a derrota, seguindo estritamente as instruções do seu mentor, Roy Cohn que tinha como filosofia de vida três regras: mantem-te sempre ao ataque, não admitas nada, nega tudo, clama sempre vitória e nunca admitas a derrota. 
Trump ingeriu as indicações do guru e dispensou-o, mas manteve-se agarrado às regras e levou-as tão longe a ponto de, mesmo perante todas as evidências, nunca admitir a derrota frente a Biden, excitou as hordas  ao seu serviço, e impeliu-as para a maior afronta às instituições democráticas com assalto ao Congresso e o medo a assombrar os congressistas.
Numa democracia liberal onde não governasse o medo e a cobardia, Trump deveria ter sido julgado e condenado  
Foi eleito em 2024 pelo cesto de deploráveis.
 
Dentro de dias, Trump contará cem dias na Casa Branca.
Desde a inauguração do seu segundo mandato, o déspota pode vangloriar-se de ter feito tremer o mundo, eventualmente balanceando-o, à beira do abismo, para um confronto com a China. 
Entretanto, Putin continua a bombardear a Ucrânia, 
Netanyahu a tentar empatar o genocídio na Palestina com o Holocausto perpretado pelos nazis.
Trump tinha garantido que, com ele, não teria havido a invasão russa da Ucrânia e a solução da guerra estaria encontrada em poucos dias após a sua tomada de posse. 
O mesmo, ou mais ou menos o mesmo, para Gaza.
 
A democracia liberal é susceptível de ingerir o veneno que acabará por matá-la sem que se vislumbre, desta vez, antídoto que a possa ressuscitar.
Trump ataca, ofende, desrespeita as instituições fundamentais de um estado de direito.
Ataca e subjuga todos os que, cobardemente, se prestam a bajulá-lo. 
Que são muitos. As excepções reconhecidamente assumidas são poucas.
Corta apoios à investigação científica, quer controlar actividades das Universidades, sobretudo das mais prestigiadas, desrespeita decisões dos tribunais, ontem revelou o que já era conhecido mesmo antes de tomar posse: dominar a FED, gerir segundo os seus critérios arbitrários o sistema financeiro.cf. aqui.

Há quem acredite, ou queira acreditar, que a democracia liberal é suficientemente resistente aos ataques de demagogos e ditadores, e acabará sempre por ressurgir. Se os mandatos têm termo, a alternância está garantida. Mas se deixam de ter?
A resistência à perda de liberdade requere oposição bastante. Trump já deu conta da sua intenção de ser candidato a um terceiro mandato. Nada que Putin e Xi Jimping já não tenham adquirido.

Trump considera que a União Europeia foi criada para "lixar os EUA". E pretende fracturá-la o mais possível. Não recebe Ursula Von Der Leyen, nem visita Bruxelas. Recebeu Giorgia Meloni e aceitou convite para visitar Roma. 
Trump gosta de ser bajulado?
Gosta mas despreza quem o bajula. 

Reconheça-se, contudo, que a União Europeia por ser uma União de Tribos continua a ser Um bando desorientado, sem leader democraticamente eleito e universalmente considerado como tal. 
Trump sabe que é assim e sabe que é fácil desmontar o puzzle mal concebido da União Europeia.
Putin pensa o mesmo.
Xi Jinping também mas, ainda que participe indirectamente na desagregação europeia, é mais discreto. 

Muito resumidamente: O que falta na União Europeia? 
Europeus.

Wednesday, April 16, 2025

A MAIOR DAS SURPRESAS DESTES DIAS

Nestes últimos tempos as surpresas têm sido  tão altas e bravas como as vagas das ondas das marés-vivas.

Mas a altura da surpresa do dia de hoje é notável.

"O Secretário de Estado da Defesa dos Estados Unidos afirmou que os mísseis hipersónicos balísticos da China podem afundar a frota de porta.aviões norte-americanos em 20 minutos sem possibilidade de defesa" - c/p aqui. 

É credível que uma hipótese tão alarmante para o poder, até aqui, geralmente considerado hegemónico, norte-americano seja tornada pública pelo, formalmente, mais alto responsável pela defesa dos Estados Unidos?
A nomeação de Pete Hegseth para o cargo de Secretário de Estado da Defesa foi alvo de muitas reservas, mesmo entre Republicanos. Mas a decisão de Trump impôs-se e os críticos calaram-se. 

O que é mesmo surpreendente nesta revelação, entretanto chegada a todo mundo, não é Pete Hegseth ter dito o que disse desta vez, mas o facto de não ter sido ainda, nem talvez venha a ser, desmentida a revelação de uma vulnerabilidade bélica precisamente onde o poder sobrerano norte-americano tem sido mais preponderante.   

 
Há sete anos, anotei neste caderno de apontamentos algumas reflexões suscitadas pela Armadilha de Tucídides.
Em A História da Guerra do Peloponeso o historiador grego admite como muito provável a ocorrência de uma guerra sempre que uma potência hegemónica é desafiada por outra emergente. 
Tucídides viveu os acontecimentos da guerra (431-404 a.C.) e o seu prognóstico viria a confirmar-se em 16 ocasiões idênticas.
 
Que os Estados Unidos da América, actualmente governados por Trump e seus ajudantes tenham ouvido de Xi Jimping o aviso de que deverão ser mais consitentes e ter meis respeito e o Secretário de Estado da Defesa da administração Trump diga ao mundo que a China pode afundar todos os porta aviões norte americanos em 20 minutos, parece pertinente, mas também impertinente, perguntarmo-nos para onde vai este mundo dentro de pouco tempo.

Sunday, April 13, 2025

CÃO QUE NÃO LADRA, MAS MORDE

Cão que ladra não morde, garante a filosofia popular. Uma regra que tem as suas excepções.
 
Tal como Trump. 
Trump diz e desdiz com a mais natural desfaçatez deste mundo com que ele se entretem a brincar. 

Ontem soube-se que Trump decidiu poupar - cf.WP smartphones, computadores e outros aparelhos eletrónicos daquilo a que chama tarifas "recíprocas", uma medida que, segundo os especialistas no sábado, garantirá às empresas tecnológicas norte-americanas, como a Apple, um alívio dos elevados aumentos impostos à China. A diretiva, emitida pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, identifica quase duas dezenas de isenções, incluindo chips, pen drives e monitores de TV.  Donald Trump determinou ainda que houvesse reembolsos de quaisquer taxas cobradas sobre os produtos isentos desde 5 de abril. O anúncio surge depois de Pequim ter aumentado as tarifas sobre produtos dos EUA para 125% em resposta à crescente guerra comercial de Trump, com o Conselho de Estado da China a avisar na sexta-feira que "lutará até ao fim". As isenções surgem também dias depois de o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, ter dito aos senadores que "o presidente foi claro comigo e com outros que não pretende ter exclusões e isenções".

Amanhã, possivelmente, terá de isentar as taxas sobre os cereais, pressionado pelos seus apoiantes republicanos do Midwest. Ou, em alternativa, coonceder-lhe subsídios que os mantenham suficientemente felizes com o patrâo residente na Casa Branca.
Outros aparecerão, porque, por exemplo, se as cuecas deixarem de continuar a aparecer nos States a preços da uva mijona, não serão os americanos a querer cose-las em casa. 

Também ontem foi notícia - cf. BBC - que representantes dos Estados Unidos e do Irão tiveram ontem um primeiro encontro de conversações sobre o armamento nuclear.

Estas serão as primeiras conversações desde 2018, quando Trump, então no seu primeiro mandato retirou os Estados Unidos da América do acordo nuclear obtido entre as potências nucleares.
Trump afirmou então, que iria conseguir mais tarde um melhor acordo. 
A "better deal", um melhor negócio. Para Trump não acordos há negócios.
 
Presume-se que com esta ronda de negócios, Trump queira conseguir o, aparentemente, incompatível:
Terminar a guerra entre Árabes e Israelitas, com o beneplácito do Irão e a satisfação de Putin unidos numa aliança que obrigue a Ucrânia, e a Europa Livre, a submeter-se ao dictat da amizade Putin-Trump.

Putin, o cão que morde mas não ladra.

Morde, e de que maneira!
A destruição e a carnificina na Ucrânia, para glorificação de Putin, ocorrem mais veloz e destruidoramente que as trampalhadas de Trump.
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Monday, March 31, 2025

ONDE MORA AGORA A DEMOCRACIA?

Le Pen, condenada a dois anos de prisãoe efectiva e mais dois com pulseira electrónica, não vai poder concorrer às presidenciais francesas em 2027.
 
Entretanto, no  Brasil, Bolsonaro, acusado de golpe de Estado e atentar contra as instituições democráticas do país, arrisca prisão e impedimento de se candidatar às próximas presidenciais.
 
Nos Estados Unidos da América, Trump, incentivador do assalto ao Congresso, símbolo máximo do poder democrático,  transmitido em directo para todo o mundo, continua impante e impune a desgovernar o planeta por palpites.
 
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 Le Pen impedida de concorrer às presidencias francesas de 2027 O tribunal decretou que, durante cinco anos, a líder do Reagrupamento Nacional não pode concorrer a eleições. É uma das consequências da condenação por desvio de fundos europeus.  

En direct, procès de Marine Le Pen – l’ex-présidente du RN condamnée à deux ans de prison ferme et cinq ans d’inéligibilité avec application immédiate : les dernières informations et réactions

La députée d’extrême droite, reconnue coupable de détournement de fonds publics dans l’affaire des assistants européens du RN, sera sur le « 20 heures » de TF1 ce soir. Vingt-trois autres prévenus ont été condamnés avec des peines d’inéligibilité, parfois avec sursis. Le RN en tant que parti a été condamné à 2 millions d’euros d’amende, dont un million ferme. - Le Monde 

Le premier ministre hongrois, Viktor Orban, apporte son soutien à Marine Le Pen
Alors que le jugement est en train d’être rendu contre Marine Le Pen - reconnue coupable de détournement de fonds publics et déclarée inéligible - le chef du gouvernement hongrois et homme fort du groupe d’eurodéputés d’extrême droite Patriotes de l’Europe (présidé par Jordan Bardella) a écrit sur X : « Je suis Marine ! »
 
La justicia francesa inhabilita cinco años a Marine Le Pen y compromete su candidatura a la presidencia La líder ultraderechista, condenada también a cuatro años de cárcel, abandona el tribunal antes de que terminara la lectura de una sentencia de efecto inmediato y que podría impedirle presentarse a las elecciones de 2027 - EL País

Tuesday, March 18, 2025

INGRATIDÃO E PERVERSIDADE

 O ROMANCE DE JIM

Um melodrama sobre a paternidade e a passagem do tempo, sobre amor, ingratidão e  perversidade.

 ***
No Nimas, 
Um cinema sem pipocas.

Friday, March 14, 2025

TEMPOS DE TEMPESTADE GLOBAL

A Trump escapa o domínio sobre a FED.
Abordei a 29 de Janeiro essa questão aqui
 
A determinação do presidente dos EUA em abalar a FED e, implicitamente o dólar, para sustentar o sistema financeiro em moedas cripto voltou a ser reafirmada recentemente (ver notícia a seguir ao gráfico) 

Hoje, o ouro atingiu a sua cotação máxima de sempre em dólares: 3000 dólares/onça.
Na relação ouro/bitcoin reflectida no gráfico obtido esta manhã, nestes tempos de grande instabilidade política global o ouro (apesar da sua relativamente pouco utilidade económica) parece impor-se aos criptoactivos que Trump. e com ele todos os capitalistas libertários, pretende impor.
 
 

     Clicar para ampliar

Presidente dos EUA cria reserva estratégica de criptomoeda Bitcoin Os Estados Unidos já detêm cerca de 200 mil bitcoins, o que representa um valor de cerca de 17,5 mil milhões de dólares (16,2 mil milhões de euros) ao preço atual.  

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou esta quinta-feira uma ordem executiva para a criação de uma "reserva estratégica" da criptomoeda Bitcoin, com ativos apreendidos pela justiça norte-americana.A reserva será "uma espécie de Fort Knox digital", anunciou na quinta-feira o conselheiro de inteligência artificial (IA) e criptomoedas da Presidência dos Estados Unidos, David Sacks, nas redes sociais.Fort Knox é o local onde o Governo norte-americano guarda as reservas de ouro. Este decreto "sublinha o compromisso do presidente Trump em tornar os Estados Unidos a 'capital mundial das criptomoedas'", disse Sacks.Os Estados Unidos já detêm cerca de 200 mil bitcoins, disse o conselheiro, o que representa um valor de cerca de 17,5 mil milhões de dólares (16,2 mil milhões de euros) ao preço atual. Estes ativos, que foram apreendidos através de ordens judiciais, "no âmbito de procedimentos criminais ou civis de confisco de bens", serão transferidos para a reserva estratégica, explicou Sacks.A mesma ordem executiva "estabelece uma reserva de ativos digitais, composta por ativos digitais que não sejam bitcoins apreendidos em processos criminais ou civis", com o propósito de "administrar de forma responsável os ativos digitais do Governo ao abrigo do Departamento do Tesouro". O preço da Bitcoin caiu até 5,7% após o anúncio, com o mercado desapontado porque não foi divulgada qualquer política governamental para a compra de criptomoedas. No domingo, Trump tinha anunciado o estabelecimento de grupo de trabalho avançar na criação de uma reserva estratégica de criptomoedas, que incluiria a Bitcoin, a Solana e a XRP, entre outras. "Uma reserva de criptomoedas dos EUA elevará esta indústria-chave após os ataques corruptos da administração de [Joe] Biden", disse o Presidente republicano numa mensagem na sua rede social Truth. De acordo com o próprio Trump, a reserva incluiria a bitcoin, éter, XRP, token SOL de Solana e ADA.

"Vou garantir que a América seja a capital mundial da criptomoeda. Estamos a tornar a América novamente grande!" declarou.

--- Correlacionado

USA inc. 

Wednesday, March 05, 2025

TRUMP, O SAQUEADOR

Como no mundo medieval, após o combate, o saque, a pilhagem.

Trump não é o moderador para a paz na Ucrânia que diz querer ser.
É um saqueador. 

Irónico, se é possível haver alguma ironia no meio de uma tragédia, é a contrapartida exigida por Trump para obrigar Zelensky a ceder às exigências de Putin, e, como assaltante medieval, pilhar minerais raros ucranianos, na sua maior parte existentes em terras ocupadas pelo assalto russo.
 
O mesmo Trump saqueador insiste, por algumas razões idênticas, no assalto da Gronelândia.
Se Xi Jinping lhe disser que Taiwan é parte da China e vai, naturalmente, ocupar a Ilha Formosa que dirá Trump ao ditador chinês?
Que avance?
E a Kim Jong-un se ele pretender ocupar a Coreia do Sul?
Que avance? 

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Trump says Zelenskyy wants peace and is ready to accept a minerals deal after White House blowup

In a speech to Congress following last week’s disastrous meeting at the White House, Trump said Zelenskyy had told him that Ukraine is ready to negotiate a peace deal with Russia as soon as possible and would accept a critical minerals agreement with the U.S. to facilitate that.

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O acordo que Trump está a impor à Ucrânia é assim tão novo e sem precedentes? O acordo que Trump está a impor à Ucrânia é assim tão novo e sem precedentes? 

--- 14/03/25

Washington pressiona Putin e não renova isenção de pagamento para petróleo russo O fim desta isenção torna mais difícil para os bancos russos realizarem transações relacionadas com o setor energético, uma das principais fontes de financiamento do Estado russo.  

Tuesday, March 04, 2025

CHINA : À FRENTE NO CAMINHO PARA UM MUNDO MOVIDO PELAS ENERGIAS RENOVÁVEIS

How China came to dominate the world in renewable energy China now eclipses every other country in the world — including the United States — in the green technologies of the future. Here’s how it achieved this lead.

Lendo este artigo hoje publicado no Washington Post, uns dirão que carece de fundamentação sustentada em indicadores indiscutíveis;
Outros, que irredutivelmente se refugiam em posições de que não abdicam, ou porque os seus interesses materiais são outros, geralmente relacionados com as produtoras de combustíveis fósseis.
Outros porque ideologicamente são indefectíveis seguidores do negacionismo climático.
 
Esquecem-se, ou querem esquecer-se, os negacionistas climáticos europeus, que a dependência de combustíveis fósseis só pode ser ultrapassada com energias renováveis ou energia nuclear.
 
O artigo é extenso, mas vale bem ser lido. 
 

 


Friday, February 28, 2025

MOMENTO VERGONHOSAMENTE HISTÓRICO

Há dias, à questão "Pode a Ucrânia continuar a lutar sem o apoio dos EUA"  colocada num artigo publicado no Washington Post, escrevi que não, não pode.
E não pode porque se a Ucrânia não continuar a contar com o apoio dos EUA é porque os EUA (i.e., da administração Trump) colocar-se-ão, implícita ou explicitamente, do lado da Rússia (i.e., de Putin).
 
E, obviamente, a incapacidade de defesa da Ucrânia continuar a defender-se da agressão russa se a administração norte-americana se colocar, activa ou passivamente, do lado dos russos, estender-se-á à União Europeia europeia que, segundo Trump, foi constituída para lixar (sic) os interesses norte-americanos. 
Serão necessárias mais provas para demonstrar que Trump e Putin estão virados para o mesmo lado:O desmantelamento da União Europeia, com a cooperação de alguns eurófagos que vivem e se alimentam das estruturas europeias e assim as debilitam facilitando o assalto do inimigo declarado, a Rússia?
 
Para ontem estava anunciado por Trump um encontro com Zelensky, em Washington DC., para assinatura de um acordo que permitiria aos EUA explorar os recursos minerais da Ucrânia, e muito especialmente os minérios raros, resultando da concessão ucraniana uma compensação aos EUA, que Trump avaliava em 500 mil milhões de dólares, destinados ao pagamento da ajuda, essencialmente em fornecimentos de equipamentos efectuados pelos EUA durante a administração do (sic) incompetente Biden.
 
O encontro que deveria ter sido, segundo as mais elementares regras diplomáticas, realizado entre os dois intervenientes (Zelensky não se fez acompanhar por qualquer assessor) foi aberto à imprensa consentida por Trump, contou com a presença do vice-presidente Vance e do secretário de estado Rubio, e transmitido em directo para todo o mundo. 
 
O ambiente de intimidação criado por Trump e os seus acólitos não podia ter sido mais refinado nem mais repugnante a humilhação a que Zelensky foi submetido. 
Foi um "momento histórico", escreveu Putin na X, de Elon Musk.
E foi.
Foi um momento vergonhosamente histórico.
 
A partir daqui, se o ambiente era de penumbra, subitamente tornou-se de sombras no teatro do mundo onde se movimentam os principais actores, Trump, Putin e Xi Jinping, sem que sejam previsíveis os próximos actos para além das intenções, aparentemente pontualmente conjuntas de Trump e Putin dividirem entre si os destinos do ocidente e consentirem a Xi Jinping o domínio do oriente. 

Ontem, na Sala Oval Trump, além de outras acusações públicas feitas a Zelensky responsabilizou-o, considerando os argumento com que tentou defender-se, pela eventual deflagração de um Terceira Guerra Mundial. 
Como? Que pode Zelensky fazer para ser culpado do apocalipse citado por Trump?
 
Que humanidade, sonâmbula, caminha agora, mais que nunca antes, para a sua auto-destruição não é ideia de qualquer aprendiz de filósofo com a mania milenar que o mundo (a humanidade) um dia vai acabar.
Não. 
Essa possibilidade está a ser monitorada pelo Science and Security Board of the Atomic Scientists, que contou com Einstein, entre os seus primeiros fundadores. 

Há muitos que não querem acreditar na possibilidade de auto destruição da espécie humana em consequência dos arsenais nucleares existentes e em constante procura de mais potência (para quê?) e mais sofisticação da sua capacidade de destruição. 
Um dos mais ouvidos argumentos de quem não acredita na hipótese monitorada pelos cientistas atómicos é a dissuasão: os arsenais nucleares aumentam e sofisticam-se para constante reequilíbrio das capacidades em caso de eventual confronto. 

Dando por adquirido que o equilíbrio do terror é dissuasor de um confronto nuclear, de onde ninguém sairia salvo, se Trump e Putin se alinham do mesmo lado por onde se estenderia a Terceira Guerra Mundial citada ontem, mais uma vez, por Trump?

Sem poder nuclear relevante a Europa seria, mais uma vez, o primeiro campo de batalha, Putin, com o consentimento de Trump, ocupará a Europa mais facilmente que Hitler há oito décadas. 
O Reino Unido possui algumas ogivas nucleares que são monitoradas pelos norte-americanos, a França dispõe de 200 ogivas, ouvi ontem dizer a um conhecido comentador, mas a Rússia tem 5000.
 
Mas para quê quererá Putin ocupar a Europa?
Nunca nenhum ditador parou nos seus avanços de conquista senão for travado.
Mas como pode a Europa travar Putin sentado no maior poder de destruição do planeta?

Tuesday, February 25, 2025

PODE A UCRÂNIA CONTINUAR A LUTAR SEM O APOIO DOS EUA?

Do Washington Post de hoje, retirei esta manhã esta questão:

Could Ukraine keep fighting even without U.S. support?

Consegue a Ucrânia continuar a lutar sem o apoio dos EUA?

Não vou transcrever o artigo, que está acessível através do link. Limitar-me-ei  a indicar as conclusões que o artigo me sugere, não as que o artigo aponta.
 
A resposta é: não consegue.
E não consegue porque o apoio dos EUA, isto é, de Trump, passará a ser dado à Federação Russa, isto é, a Putin, nomeadamente o levantamento de todas as sanções económicas.
Trump não se meteu nas negociações para ser mediador nas conversações para a paz mas para fazer negócios.
 
E, neste caso, cada vez mais que provável, a Ucrânia terá pela frente os EUA aliados à Rússia, perante a impotência da Europa liberal, democrática, que poderá assistir às negociações sem capacidade de intervenção nos planos previamente acordados entre Putin e Trump.
Resignar-se-á Zelensky e o povo ucraniano que muito maioritariamente o apoia a este diktat?
Penso que não.
E e a guerra continuará sem fim pacífico à vista.
 
Putin ordenou nestes três últimos anos tanta destruição e atingiu tantas vítimas que suscitaram tanta animosidade entre russos e ucranianos (povos irmãos, segundo Putin, antes da "operação militar especial") que nenhuma proposta de negociação de paz coordenada pelos instintos do magnata comerciante norte-americano pode sequer amenizar.
 
Aliás, este acordo bilateral forjado entre Trump e Putin terá um alcance que extravasa as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia. Será precedente da legitimação da absorção do Canadá e da Gronelândia pelos EUA e de Taiwan pela China?
Xi Jinping espera, sem interferir, que a Ilha Formosa lhe seja dada de bandeja .
 
Entretanto, esta tarde, pode ler-se aqui:

 

O Presidente russo, Vladimir Putin, mostrou-se hoje favorável à participação dos europeus na resolução do conflito na Ucrânia e a investimento norte-americano para explorar minerais estratégicos nos territórios ucranianos ocupados pelo exército russo.

Se assim acontecer, Trump exibirá a derrota da Ucrânia como um troféu conquistado pelas suas capacidades de negociador detentor dos próximos destinos do mundo.

Ou talvez não.

 

Sunday, February 23, 2025

UM BANDO DESORIENTADO

... - 
 
- Lamento reconhecer mas a Europa, democrática-liberal, é um bando desorientado.
Sou europeísta, continuo a pensar que a Europa em que me reconheço europeu só poderá continuar  a afirmar-se digna do seu passado histórico se lutar pela preservação dos valores democráticos liberais. Digo democráticos liberais consciente do conteúdo pleonástico para distinção do uso abusivo da palavra democracia em espaços e contextos que são totalmente contrários à vivência democrática. Por exemplo a República Popular Democrática da Coreia do Norte ou a ex-República Democrática Alemã
 
- Concordo que a Europa atravessa um período de grande desorientação, mas daí considerar a Europa um bando parece-me excessivo...
 
- Mas é. O que é um bando? Em sentido genérico, sem interpretação pejorativa, um bando é um grupo de pessoas reunidas para um fim comum, ou um grupo de aves ou outros animais. 
 
- São coisas diferentes: a espécie humana é, pelas suas capacidades inteligentes, claramente distinta de outros seres do mundo animal. 
 
- Admitamos que sim, que os humanos, pelos seus dotes de inteligência, são diferentes dos não humanos supostamente não inteligentes ou não tão inteligentes quanto os humanos. É assunto que dá pano para muitas mangas. Mas chame-lhe bando ou grupo ou união, chame-lhe o que quiser, mas num aspecto os grupos de humanos ou não humanos com intenções de atingir objectivos de interesses comuns instintivamente escolhem, designam, nomeiam, votam, um líder, alguém que os conduza ao objectivo pretendido pelo grupo. 
 
- Nem sempre.
 
- Nos grupos de não humanos a necessidade de liderança, que pode e muitas vezes é, revezada, é instintiva; nos grupos humanos é uma necessidade racional que só é concretizável em sociedades democráticas ou consequência de uma imposição pela força em sociedades não democráticas. Mas, em nenhum caso um grupo atinge os seus objectivos sem uma liderança imposta pela força ou designada pela vontade dos seus membros. 
 
- Há animais que não seguem qualquer líder ...
 
- Refere-se aos cães, aos gatos, aos bovinos aos caprinos?
Sim. Esses não têm líderes, mas não têm líderes porque foram domesticados pelos humanos, passaram a ser membros de grupos humanos. Considerando todas as espécies do mundo animal, representam um número ínfimo da totalidade dos não humanos que os humanos ainda não extinguiram.
 
- Mas se é natural que um grupo de seres vivos não atinge os seus objectivos sem um líder - e não sabemos nada quanto a esse aspecto o que se passa a nível das bactérias, dos vírus etc., - como é que explica a desorientação europeia livre, democrática? São um grupo não inteligente?
 
- Curiosamente, a sua referência às mais remotas formas de vida - bactérias, vírus, etc., - é impressionante a forma como atacam os seres humanos mas também os não humanos, podendo levar-nos a pensar que esse ataque ordenado procede de algum processo biológico impresso na sua origem. Mas não vou por aí, não sou biólogo nem tenho oportunidade de falar com eles. 

- Eu tenho, mas a minha pergunta era outra: para si, a Europa democrática, no exacto sentido da palavra,  é formada por humanos parcialmente não inteligentes?
 
- A Europa é um continente que, por razões históricas, é formado por tribos, isto, é por diferentes grupos com objectivos diferentes ambicionando alguns objectivos comuns. Decidiram essas tribos (reconheço que a designação pareça imprópria por ser forte) formar uma união com alguns objectivos comuns.  E é na armadilha das contradições dos objectivos de cada uma das das tribos e de alguns objectivos comuns que pretendem alcançar que reside a incapacidade  de surgir uma liderança do bando e a desorientação que atinge a união dos europeus quando essa união é  colocada perante uma ameaça que a pode liquidar.
Neste sentido, a desorientação por falta de liderança, é prova de falta de inteligência suficiente para evitar a sua liquidação a prazo. 

- Só isso?
 
- Isso é muito. É, no ponto em que a situação se encontra uma quase impossibilidade. 
A Europa livre e democrática (releve-se outra vez o pleonasmo) simplesmente não existe. E não existe porque não há europeus.
 
- Não há europeus???
 
- Não. Há franceses, alemães, italianos, espanhois, portugueses, etc., mas não há europeus. Foi sempre assim durante toda  história da Europa que, por essa razão, foi e continua a ser campo de batalhas. Houve períodos de paz? Sem dúvida. Mas foram curtos. Tão curtos que não chegaram para modificar o tribalismo que ainda persiste e ameaça continuar.
 
- Mas não acontece isso mesmo noutros pontos do planeta?
 
- Acontece  em todo o lado onde predomina a organização tribal susceptível de obedecer aos mais diversos interesses externos e alguns internos. 
 
- Então não serve como sistema sustentável de governo. É isso?

- A democracia - "a democracia é o pior dos regimes, à excepção de todos os outros", Churchill - é tão complacente com os seus inimigos que corre sempre o risco de ser esmagada por eles. 
Amanhã. haverá eleições na Alemanha. O partido da extrema-direita (como ameaça a democracia, se fosse da extrema-esquerda provavelmente as consequências seriam idênticas) é claramente anti democrático. O desfile de ontem de duas centenas de membros do partido neonazi alemão em Berlim demonstra que a democracia é complacente a ponto de consentir que o inimigo se desenvolva, cresça sem restrições, no seu seio.
 
- Deveria ser proibida essa e outras manifestações com idênticas intenções? Se proibisse trairia os valores democráticos, não?
 
-  Não. A um inimigo não se franqueia a porta de entrada.  Aos extremistas não deveria sequer ser consentido candidatarem-se. 
" Se alguém se engana com seu ar sisudo. E lhes franqueia as portas à chegada. Eles comem tudo eles comem tudo. Eles comem tudo e não deixam nada" - lembra-se desta?
 
- Significa isso que cerca de um quinto dos eleitores alemães estariam proibidos de votar amanhã.
Não me parece que seja uma posição democrática.
 
- Porquê?
 
- Porque contraria os valores democráticos.
 
- Os valores democráticos não são, não devem ser valores suicidas. 

- Mas o que é que o chefe do bando, se existisse, poderia fazer? Impor a proibição da entrada do inimigo mesmo contra a vontade da maioria do bando?
 
- Se houvesse um líder, independentemente da forma como se tornou líder, ele teria a capacidade delegada pelos membros do bando para impedir que o inimigo da democracia entrasse. Sem líder, o bando dispersa-se em posições que os desorientam e o inimigo entra. Amanhã terá um quinto dos votos, na próxima alcançará a maioria. E, nesse caso, o líder da maioria não democrática impedirá os democratas de votarem
Tem dúvidas? Só tem dúvidas quem não conhece a história.
 
- Tenho dúvidas que o meu amigo seja um verdadeiro democrata.
 
-  Um verdadeiro democrata deve saber fazer contas para avaliar até que ponto a complacência da democracia para com os seus inimigos não é demolidora da democracia.