Saturday, April 19, 2025

POR UM CESTO DE DEPLORÁVEIS

Por um cesto de deploráveis, perdeu Hillary Clinton as eleições de 2016.
Os deploráveis entregaram o governo dos Estados Unidos da América a Trump, um magnata sem experiência governativa para além do governo dos seus negócios pessoais.
Hillary Clinton perdeu por ter considerado, e com razão, que uma parte dos apoiantes de Trump eram, e ainda são, pouco ou mesmo nada instruidos.
Foi muito criticada por essa afirmação e apresentou desculpas públicas. O recuo custou-lhe a presidência.
Trump nunca teria recuado.
 
Trump perdeu para Biden em 2020,  mas nunca reconheceu a derrota, seguindo estritamente as instruções do seu mentor, Roy Cohn que tinha como filosofia de vida três regras: mantem-te sempre ao ataque, não admitas nada, nega tudo, clama sempre vitória e nunca admitas a derrota. 
Trump ingeriu as indicações do guru e dispensou-o, mas manteve-se agarrado às regras e levou-as tão longe a ponto de, mesmo perante todas as evidências, nunca admitir a derrota frente a Biden, excitou as hordas  ao seu serviço, e impeliu-as para a maior afronta às instituições democráticas com assalto ao Congresso e o medo a assombrar os congressistas.
Numa democracia liberal onde não governasse o medo e a cobardia, Trump deveria ter sido julgado e condenado  
Foi eleito em 2024 pelo cesto de deploráveis.
 
Dentro de dias, Trump contará cem dias na Casa Branca.
Desde a inauguração do seu segundo mandato, o déspota pode vangloriar-se de ter feito tremer o mundo, eventualmente balanceando-o, à beira do abismo, para um confronto com a China. 
Entretanto, Putin continua a bombardear a Ucrânia, 
Netanyahu a tentar empatar o genocídio na Palestina com o Holocausto perpretado pelos nazis.
Trump tinha garantido que, com ele, não teria havido a invasão russa da Ucrânia e a solução da guerra estaria encontrada em poucos dias após a sua tomada de posse. 
O mesmo, ou mais ou menos o mesmo, para Gaza.
 
A democracia liberal é susceptível de ingerir o veneno que acabará por matá-la sem que se vislumbre, desta vez, antídoto que a possa ressuscitar.
Trump ataca, ofende, desrespeita as instituições fundamentais de um estado de direito.
Ataca e subjuga todos os que, cobardemente, se prestam a bajulá-lo. 
Que são muitos. As excepções reconhecidamente assumidas são poucas.
Corta apoios à investigação científica, quer controlar actividades das Universidades, sobretudo das mais prestigiadas, desrespeita decisões dos tribunais, ontem revelou o que já era conhecido mesmo antes de tomar posse: dominar a FED, gerir segundo os seus critérios arbitrários o sistema financeiro.cf. aqui.

Há quem acredite, ou queira acreditar, que a democracia liberal é suficientemente resistente aos ataques de demagogos e ditadores, e acabará sempre por ressurgir. Se os mandatos têm termo, a alternância está garantida. Mas se deixam de ter?
A resistência à perda de liberdade requere oposição bastante. Trump já deu conta da sua intenção de ser candidato a um terceiro mandato. Nada que Putin e Xi Jimping já não tenham adquirido.

Trump considera que a União Europeia foi criada para "lixar os EUA". E pretende fracturá-la o mais possível. Não recebe Ursula Von Der Leyen, nem visita Bruxelas. Recebeu Giorgia Meloni e aceitou convite para visitar Roma. 
Trump gosta de ser bajulado?
Gosta mas despreza quem o bajula. 

Reconheça-se, contudo, que a União Europeia por ser uma União de Tribos continua a ser Um bando desorientado, sem leader democraticamente eleito e universalmente considerado como tal. 
Trump sabe que é assim e sabe que é fácil desmontar o puzzle mal concebido da União Europeia.
Putin pensa o mesmo.
Xi Jinping também mas, ainda que participe indirectamente na desagregação europeia, é mais discreto. 

Muito resumidamente: O que falta na União Europeia? 
Europeus.

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