Friday, April 30, 2010

A TIA MERKEL

João Cravinho, por seu lado, também pensa que Portugal deve reavaliar os grandes projectos. E aumentar os impostos.
Passos Coelho, que ainda anteontem saiu de São Bento em aparente sintonia com o PM relativamente às medidas a adoptar para defender Portugal dos ataques dos especuladores, disse hoje que espera que mais vozes se juntem no Governo pelo adiamento de obras públicas mas soube-se que, das obras públicas, só as auto-estradas do Centro vão ser reavaliadas. Quanto a aumento de impostos, podemos continuar sossegados porque o PM afastou, mais uma vez, essa hipótese e, nomedamente o aumento do IVA.
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Em conclusão: O governo continua impávido às críticas, aos alertas, às discordâncias, às evidências, que chegam de todo o lado. Fiel aos seus compromissos, disse o Ministro das Obras Públicas, pouco depois do Ministro das Finanças ter afirmado que os grandes investimentos iriam ser reponderados, o governo decidiu que o TGV para Madrid e o novo aeroporto vão arrancar à hora prevista. Sendo assim, quem é que vai pôr ordem na casa?
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A tia Merkel.
Logo que tenha colocado em sentido os meninos gregos, a tia Merkel dirá o que têm de fazer os portugueses. Quem dá o pão ...

TÍTULOS DO DIA

O JOGO DA CABRA CEGA

Ainda mexe.
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Independente: 24 dos 26 arguidos do processo vão a julgamento
Dois dos 26 arguidos acusados no processo da Universidade Independente foram despronunciados de todos os crimes que lhes eram imputados. Os restantes 24 vão a julgamento.

Thursday, April 29, 2010

CONVERSAS AO ALMOÇO

- Eu compreendo a greve dos maquinistas. Ao que parece, há muito tempo que não vêem os salários aumentados.
- Não parece que seja o caso. Os maquinistas da CP ganham, relativamente, bastante bem.
E quem paga somos nós. Como a empresa é deficitária e está encostada ao orçamento de estado, o que não pagamos como passageiros pagamos como contribuintes. Aliás, são os que dispõem de capacidade grevista (função pública, transportes colectivos, etc) ou trabalham em monopólios de facto, com lucros assegurados, que se apropriam cada vez mais de um bolo que não cresce, reduzindo a parte dos outros, dos que não têm direito á greve porque não ganhariam nada em fazê-la mesmo que pudessem.
- Sim, mas quando se vêm uns a ganhar milhões ... o exemplo deveria vir de cima.
- Concordo, mas não podemos invocar um caso criticável para justificar o outro.
- Ainda assim penso que sem bons exemplos as sociedades se degradam. Quando se vê tanta malandragem à solta como pode criticar-se quem reclama aumento de salário mesmo em tempo de crise?
- Repudiando tudo o que é imoral e não justificando uma imoralidade apontando para outra.
- O aumento dos maquinistas é imoral?
- É, se, como neste caso, ele for pago por quem não tem capacidade reivindicativa semelhante.
- Então os maquinistas não podem nunca ter aumentos...
- Podem. Se esses aumentos estiverem em linha com o crescimento da riquesa produzida por todos. Este ano, há vários anos já, que o rendimento nacional não cresce. Como não existem regras que consubstanciem uma política de evolução de salários para aqueles que têm poder grevista, o governo (este e qualquer outro) é sujeito ciclicamente à pressão das manifestações de força das greves. Não é por acaso que os aumentos dos trabalhadores dos transportes públicos (e da função pública) são mais elevados em anos de eleições. A única forma de terminar com a chantagem é fixar regras de execução permanente.
- Ninguém se atreveria a isso...
- Pois não. Mas assim se matam as profissões que não têm capacidade para reclamar. É por isso que cada vez produzimos menos. Se hoje há, por exemplo, menos pescadores não é porque a frota tenha sido em grande parte abatida, como se ouve frequentemente dizer. A frota abatida estava velha e obsoleta. Se não obtemos do mar aquilo que o mar nos pode dar não é por falta de frota mas por falta de pessoas. E não há pessoas para a pesca (armadores e pescadores) porque a actividade da pesca em concorrência de recursos e capitais com outras não é materialmente atractiva e é muito arriscada*.
É preferível ser maquinista da CP a maquinista de traineira.
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DORES DE CABEÇA, HÁ SETE ANOS

(copy/paste de aqui)
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"A 23 de Maio de 2003, numa conferência de homenagem a José Silva Lopes, Cavaco Silva lançou fortes avisos ao Governo de Durão Barroso, que tinha como ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite. O Negócios republica hoje o texto, que lido sete anos depois parece premonição do desequilíbrio para que Portugal caminhava..."
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Dores de Cabeça
Aníbal Cavaco Silva
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O Dr. Silva Lopes, na segunda metade dos anos 70, deve ter tido muitas dores de cabeça no âmbito das suas responsabilidades na condução da política macroeconómica. Será que esse tipo de dores ainda existe nos dias de hoje?... noutras cabeças, como é óbvio. Ou as dores de cabeça hoje são diferentes? E os remédios para essas dores, mudaram?
1. Uma das fontes de grandes dores de cabeça de Silva Lopes deve ter sido o desequilíbrio das contas externas e a escassez ou mesmo o esgotamento das reservas em divisas. Com a entrada de Portugal na zona euro houve quem pensasse que esta era uma dor que tinha desaparecido definitivamente. A nossa balança de pagamentos passou a ser apenas uma balança regional do espaço da zona euro e, consequentemente, pensaram muitos, o seu desequilíbrio corrente não constituía qualquer problema. Podia ser financiado na nossa própria moeda, sem risco cambial, recorrendo ao mercado financeiro europeu, um mercado integrado e de fácil acesso por parte do Tesouro e dos agentes económicos portugueses. A escassez de meios de pagamento internacionalmente aceites era um problema que também desaparecia. A detenção e gestão das reservas cambiais passou a ser uma competência do BCE. Parecia assim que o défice da balança corrente tinha deixado de constituir uma restrição à política económica. Era coisa que pertencia à história das relações entre Portugal e o FMI. Foram precisos cinco anos consecutivos de elevado desequilíbrio das contas externas, com um défice acumulado de mais de 30% do PIB no período 1997-2001, para que alguns percebessem que a restrição das contas externas não tinha desaparecido inteiramente. Tinha-se apenas alterado o tempo em que ela se manifestava. A unificação monetária não alterou de facto o significado básico do desequilíbrio externo: um excesso de despesa interna em relação à produção ou, dito de outro modo, uma insuficiência de poupança nacional em relação ao investimento. Traduz-se num aumento do endividamento para com o exterior e, consequentemente, num aumento dos juros a pagar no futuro ao estrangeiro.Ora um país, mesmo que seja uma região num espaço monetário unificado, não pode endividar-se sem limites. No médio ou longo prazo, um défice continuado das contas externas acaba por manifestar-se sob a forma de aumento do prémio de risco, racionamento do crédito ou transferência de activos das mãos nacionais para as mãos de estrangeiros, como aliás temos vindo a assistir em Portugal. O ajustamento torna-se assim inevitável, i.e., a despesa das famílias, das empresas e do Estado tem de ser contida. O ajustamento será tanto mais forte e penoso quanto mais o endividamento externo tenha sido encaminhado para a expansão do consumo ou para investimentos de baixa rentabilidade. Portugal é hoje o exemplo de como o défice continuado das contas externas é uma restrição ao crescimento económico sustentável de um País, mesmo que ele faça parte de uma união monetária. Por outro lado, o caso português ilustra um efeito perverso da união monetária sobre o comportamento dos agentes políticos. Como desaparece a ameaça das crises cambiais, os políticos tendem a tornar-se mais relutantes em corrigir as políticas erradas, principalmente se o défice externo estiver inicialmente associado a uma expansão económica, e só quando a situação se torna visivelmente insustentável se dispõem a actuar. Este é um argumento a favor da imposição de regras da disciplina orçamental aos Estados membros da zona euro. É hoje óbvio que o ajustamento das políticas erradas teria começado mais cedo caso Portugal não pertencesse à zona do euro, o que não significa, como é óbvio, que os benefícios da adesão não sejam claramente superiores aos custos.
2. No tempo de Silva Lopes o remédio para desequilíbrio externo era relativamente fácil e actuava rapidamente. A moeda era desvalorizada, os salários reais desciam, o País melhorava a competitividade, as exportações aumentavam e as importações caíam.Hoje as coisas são mais difíceis. O País não tem uma taxa de câmbio nominal própria que possa desvalorizar para melhorar a competitividade e promover uma política de “expenditure switching”. As autoridades portuguesas talvez tenham visto o desaparecimento do instrumento cambial como um certo alívio. Deixaram de se preocupar com as crises cambiais. Contudo, como sabemos, para efeitos de competitividade o que interessa é a taxa de câmbio real. E as nossas autoridades parece que, com a entrada na zona euro, esqueceram-se que não podiam deixar de prestar alguma atenção ao câmbio real. E foi só quando, durante vários anos consecutivos, se verificou uma perda de quota de mercado das exportações de mercadorias e uma forte deterioração da balança comercial que as autoridades tomaram consciência do problema que constituía um crescimento dos custos unitários do trabalho muito acima do que se verificava nos nossos parceiros comunitários. Agora o problema da competitividade é mais difícil de resolver do que no passado, não só porque desapareceu o instrumento cambial mas também porque as taxas de inflação são baixas, pelo que é mais difícil conseguir reduções significativas dos salários reais no curto prazo. A consequência inevitável é o aumento do desemprego, que pode manter-se durante um período largo. Logo, a dor de cabeça pode ser prolongada. A situação portuguesa serve para ilustrar como é decisivo para um país da união monetária que a política salarial se desenvolva em consonância com a evolução da produtividade. Quando não é assim, os custos em termos de emprego podem ser muito elevados, como, aliás, se tinha verificado na Alemanha do leste na sequência da unificação. Não surpreende por isso que a questão da moderação salarial tenha ganho entre nós acuidade especial, o que talvez não se vá limitar a 2003 e 2004. Mas se é hoje claro que a competitividade é uma grande dor de cabeça para as autoridades portuguesas, também é claro que não é fácil resolvê-la conjunturalmente pela descida dos salários reais. Agora a depreciação real que o País precisa tem de ser alcançada através das famosas reformas estruturais, que façam com que a produtividade cresça a ritmo superior ao dos nossos parceiros. São políticas que estão muito na alçada de outros ministros que não a das Finanças, os quais não sentem como ela as dores de cabeça e continuam mesmo a sorrir. Por outro lado, são políticas cujos efeitos levam tempo a fazer-se sentir. De facto, não é fácil desenhar políticas de depreciação de taxa de câmbio real para o curto prazo. Eu cheguei a sugerir uma redução da taxa das contribuições patronais para a Segurança Social – sugestão idêntica foi recentemente defendida para a Alemanha. É uma medida a que se costuma chama desvalorização interna da moeda.
A minha sugestão foi feita para o caso de existir margem de manobra para uma redução de impostos, sem pôr em causa a consolidação orçamental exigida pelo PEC, e como alternativa à redução substancial da taxa geral de tributação dos lucros que era anunciada. Devo acrescentar dois pontos em relação a uma medida deste tipo. Primeiro ela não substitui a política de reformas estruturais. É apenas um complemento temporário. Segundo, pressupõe que o poder político aceita inverter as medidas na fase ascendente do ciclo, isto é, aumentar as contribuições patronais para a segurança social ou fazer cortes estruturais da despesa pública. A conclusão a que se chega é, portanto, que no tempo de Silva Lopes, o desequilíbrio da balança corrente conduzia rapidamente a dores de cabeça, a dor era concentrada e violenta, mas tinha um remédio que actuava com uma certa rapidez. Agora a dor chega ao retardador, desfasada no tempo, não é concentrada e portanto é mais tolerável, mas é uma dor prolongada e incómoda porque não há remédio fácil para ela. Houve também uma mudança nas autoridades atingidas pela dor de cabeça. Agora é só o Governo a sofrer, e em particular o ministro das Finanças; o governador do Banco Central aconselha e dá palavras de conforto ao doente mas não sente uma dor forte que lhe impeça o sono. Até a venda de ouro pelo Banco Central, que no tempo de Silva Lopes era uma expressão da crise de pagamentos externos, e hoje é uma prática de boa gestão.
3. O desequilíbrio das contas públicas também deve ter causado dores de cabeça a Silva Lopes. Como Governador do Banco de Portugal a sua preocupação devia resultar do financiamento monetário do défice e da carga que assim era imposta à política monetária. Então, o défice público estava a níveis incomparavelmente mais altos do que aqueles que preocupam hoje a Ministra das Finanças e o grau de confusão reinante quanto à sua verdadeira grandeza e aos chamados défices ocultos quase transformam a contabilidade criativa dos anos recentes em práticas transparentes. Apesar disso, o ruído do desequilíbrio orçamental e as dores de cabeça que ele provoca à ministra das Finanças talvez sejam hoje muito maiores do que no tempo de Silva Lopes.Por duas razões. A primeira, porque no tempo do Dr. Silva Lopes era possível jogar mão da política monetária para reprimir financeiramente o sector privado e, por essa via, compensar o descontrolo orçamental, conter a despesa interna e assegurar o financiamento externo necessário. Hoje, os instrumentos monetários estão nas mãos do BCE e a sua política monetária não sofre de contágio das políticas orçamentais dos Estados Membros. A segunda razão chama-se PEC, algo politicamente mais restritivo do que os objectivos fixados para o défice público pelo FMI nos acordos assinados, objectivos que, aliás, não foram cumpridos sem que daí resultassem problemas de maior.Também no domínio do défice público Portugal é hoje um bom exemplo de que uma união monetária, ao contrário do que muitos pensavam, contém em si um elemento de incentivo aos comportamentos orçamentais insustentáveis e irresponsáveis. É outra razão para as regras supranacionais de disciplina orçamental na UE. O problema é que não é fácil definir regras que se apliquem igualmente a todos os Estados membros, independentemente das diferenças nos respectivos parâmetros estruturais, e quaisquer que sejam as condições económicas vigentes. Por isso não surpreende toda a controvérsia que se tem desenvolvido à volta das regras de disciplina orçamental da UE desde o início dos anos 90, e que recentemente foi exacerbada pelo clima de abrandamento económico que atingiu a Europa.Felizmente que a Comissão Europeia, recentemente, deu um passo interpretativo – que já devia ter dado há muito tempo – no sentido de colocar a ênfase mais no défice ajustado do ciclo económico e menos no défice efectivo.Mas felizmente também que não foram acolhidas as sugestões de alguns no sentido de pura e simplesmente mandar para o caixote do lixo as regras de disciplina orçamental. Não seria bom para um País como Portugal.Mas talvez a razão da maior dor de cabeça da ministra das Finanças não esteja só no PEC. Há hoje novas restrições que dificultam a sua acção para controlar o défice público quando comparamos com o tempo de Silva Lopes. É o caso do aumento da concorrência fiscal a nível internacional, a maior capacidade de organização e influência dos grupos de interesses a favor de mais despesas públicas, são as leis das finanças locais e regionais, que são vistas como leis quase constitucionais, é o aumento da esperança de vida das populações.
4. Termino voltando à grande diferença que se verifica ao nível dos actores políticos.Os problemas que Silva Lopes enfrentou foram muito problemas de estabilização e se o ministro das Finanças e o governador do Banco de Portugal se entendessem e tivessem a cobertura do primeiro-ministro podiam enfrentá-los com uma certa facilidade, porque tinham o controlo dos instrumentos monetários, cambiais e orçamentais.
Hoje, a ministra das Finanças está muito mais pobre em termos de instrumentos de intervenção – perdeu os instrumentos monetários e cambiais, e no domínio orçamental está rodeada de múltiplas restrições. Como a competitividade não é fácil de resolver pela descida dos salários reais e a depreciação real da moeda requer respostas estruturais, isto é políticas voltadas para a eficiência, a produtividade, a inovação, então os ministros sectoriais tornaram-se actores importantes em matéria de política económica. São os ministros responsáveis pelas áreas da Ciência e Tecnologia, dos Recursos Humanos, do Trabalho e Segurança Social, da Concorrência e Regulação, da Justiça, das Infra-estruturas Físicas e Tecnológicas. Como são ministros que não têm experiência em matéria de política económica global, podem ser maus actores e não estarem dispostos a suportar os custos da impopularidade das medidas que lhes compete propor. Isto é, a eficiência económica e a competitividade são hoje fonte de dor de cabeça do ministro das Finanças mas, contrariamente ao que acontecia no passado, não estão nas suas mãos os remédios para enfrentá-la. Estão nas mãos dos seus colegas. Para ultrapassar esta dificuldade é preciso uma intervenção de nível superior, que pressione os ministros sectoriais a actuar e que assegure a coordenação e coerência entre as diversas políticas. O aumento do número de actores complica a formulação da política económica. A coordenação ministerial ganha assim uma importância acrescida. Ou é o primeiro-ministro a exercê-la ou então o ministro das Finanças tem de ocupar na hierarquia do Governo o lugar de vice-primeiro-ministro, com um poder muito claro para orientar e coordenar os outros ministros em matéria económica.
Fico-me por aqui, até porque a avaliação das dores de cabeça é matéria subjectiva. As do Dr. Silva Lopes já lá vão e se foram elas que o estimularam a agir para evitar que o País caísse em crises financeiras mais graves, então eu até digo “benditas dores”. E o mesmo espero dizer não daqui a muitos anos à actual ministra das Finanças.
Aníbal Cavaco Silva
Texto originalmente lido a 23 de Maio de 2003, numa conferência de homenagem a José Silva Lopes

MAIS UMA AUTO-ESTRADA PORQUE SIM

Seria bom que nos explicassem melhor isto: Quando por todo o lado se ouvem as sirenes do perigo de ataque dos especuladores já em cima de nós, quando o novo líder do PSD se reune com o PM e se mostram concordantes com a estratégia de defesa contra as ameaças ao nosso reduto, impertubável o governo avança com uma nova auto-estrada* que o País poderia (e deveria) perfeitamente dispensar neste momento de crise económica e financeira gravíssima.
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A oposição a estes investimentos, que foi anteriormente o argumento de combate à política do governo mais utilizado pelo PSD, para além da famigerada asfixia democrática, foi completamente ignorada na declaração conjunta do PM e do líder do PSD. Por resignação a um facto consumado?
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Defendi, e continuo a defender, que a crise impõe o suporte de uma maioria democrática.
Disse, e continuo convicto, que o PR nunca deveria ter dado posse a um governo minoritário monopartidário sem esgotar todas as diligências possíveis para a nomeação de um governo maioritário pluripartidário, à esquerda ou à direita. Entretanto, o agravamento das circunstâncias que recomendavam um governo de coligação (uma prática generalizada na União Europeia) tornou mais premente aquele requisito para uma imagem de credibilidade na realização das medidas que o enfrentamento da crise exige.
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Uma base de sustentação suficientemente alargada só será, se vier a acontecer, uma condição necessária para a superação da crise. Mas não suficiente.
A suficiência decorre, além do mais, de uma conciliação de objectivos e meios entre os partidos e parceiros sociais que ainda está longe de acontecer.
A decisão do governo anunciada hoje de avançar com a auto-estrada do pinhal interior no dia seguinte à reunião com o líder do PSD, sem que nada acerca do assunto tenha sido abordado na declaração conjunta, não prenuncia nada de bom.
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E, como sempre, o TC continua a ser o último a saber.
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*Auto-estrada de 1429 milhões avança
O maior e o mais caro empreendimento rodoviário foi ontem formalizado entre o consórcio liderado pelo grupo Mota-Engil e 11 bancos. Processo segue para o Tribunal de Contas.

Wednesday, April 28, 2010

FÍFIAS

Ouço na rádio que a FIFA, enquanto agência de rating, atribuiu a Portugal o 3º lugar no ranking das equipas de futebol, liderado novamente pelo Brasil, seguido da Espanha.
Num dia em que outra agência de rating, a Standard & Poor´s, desceu duplamente Portugal no ranking da credibilidade financeira internacional, a bondade da FIFA não é lenitivo que valha para a severidade da Poor´s.
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Mas ambos os rankings são desproporcionados: nem a equipa portuguesa de futebol merece um lugar no pódio, depois de se ter apurado à justa para o próximo campeonato do mundo na África do Sul, nem há razões para considerar que Portugal (apesar de tudo, ainda um país da União Europeia) deva ser escorraçado para o gueto dos altamente suspeitos do mundo financeiro.
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As agências financeiras de rating, está provado, são um negócio com uma influência desmedida que não decorre de qualidade inquestionável e insuspeita das suas avaliações, errando com grande impunidade. O único meio, no entanto, de as descredibilizar é o uso dos mecanismos que possam contrariar os efeitos negativos das suas previsões. Tal como no futebol, é no terreno que se discutem os lugares efectivos no ranking financeiro.
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Veremos nos próximo as dias se a União Europeia mostra ser capaz de jogar para ganhar o ataque dos relatórios das agências apesar de não dispor de defesas fortes e alguns membros serem geralmente indisciplinados. A sobrevivência da equipa actual depende muito dos resultados que obtiver.

BRANCO DE PORTUGAL

Quem propôs a nomeação, quem nomeou, quem concordou com a nomeação não sabia disto?*
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Ainda que notícias agora publicadas acerca o envolvimento do próximo governador do Banco de Portugal se venham a mostrar infundadas na sua aparente gravidade, quando o País atravessa uma crise de credibilidade internacional, por quê esta nomeação polémica?
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Não há ninguém competente e isento de reparos na sua honestidade e isenção de interesses em Portugal para assumir das mais elevadas responsabilidades do Estado?
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*Carlos Costa concordou com renovação dos créditos às off-shores investigadas do BCP
Carlos Costa, escolhido para liderar o Banco de Portugal, deu, em 2001 no BCP, parecer favorável à renovação de créditos das sociedades off-shores criadas para aquisição de acções

Tuesday, April 27, 2010

A CRISE E A OPORTUNIDADE

Tenho apontado repetidamente neste caderno que este governo (qualquer governo minoritário e monopartidário) não tem força política para poder concretizar as medidas que a situação requer.
O actual PM já deu provas de persistência, obstinação, resistência, de sobra. Falta-lhe a lucidez que o momento impõe. Lucidez para alargar a base de apoio partidário que permita afirmar e demonstrar aos credores e aos investidores que Portugal honrará os seus compromissos sem que terceiros compusivamente o imponham.
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Passos Coelho* deu hoje um passo e espero que esse passo vá no sentido de resgatar Portugal pelos portugueses. Para já, fez o que devia: No dia em que as notícias dificilmente poderiam ser piores, o novo líder do PSD demonstra sentido de oportunidade e, aparentemente, de disponibilidade para ajudar à resolução dos problemas com que o país se confronta.
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E espera-se que a partir de agora o PM não invoque a falta dessa disponibilidade para fazer o que deve. Menos obstinado e mais receptivo.
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*Passos Coelho pede reunião de urgência com Sócrates
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, solicitou um encontro com carácter de urgência ao primeiro-ministro, José Sócrates. A reunião, terá como tema central a situação económica.

SE O RIDÍCULO PAGASSE IMPOSTO

teríamos o problema da dívida resolvido.
Soube-se hoje que os alunos devem respeitar a bandeira e o hino nacional. É o que passará a constar do "estatuto do aluno", em revisão.
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Por quê os alunos?
O respeito à bandeira e ao hino só é devido pelos cidadãos enquanto alunos? Uma vez passada essa fase dolorosa e alegre o dever de respeito acaba?
O respeito pelos símbolos da Pátria não é um dever geral de cidadania? Se é, porque tem de constar do famigerado "estatuto do aluno"? Agora, que não consta, esse respeito não é devido?
E os outros deveres de respeito dos alunos, constam? O dever de respeito aos professores, ao pessoal administrativo, ao pessoal auxiliar, ao pai, à mãe, aos avós, a todo e qualquer semelhante, a eles próprios, constam?
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Os valores morais regulamentam-se?
Tanto regulamento acaba sempre por facilitar a fuga dos infractores pelos alçapões.

TERÇA-FEIRA NEGRA

Empresa/Cot./Var.último fecho. (abs/%) /Máx. Sessão/Mín. Sessão/Volume
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Altri 4,308/ -0,429/ -9,060/ 4,708/ 4,308/951.835
BCP 0,671 /-0,055 /-7,580 /0,728 /0,671 /63.672.745
BES 3,240 /-0,259 /-7,400/3,500/3,210/6.960.409
BPI 1,669/-0,089/-5,060/1,762/1,603/3.012.927
Brisa 5,150/-0,447/-7,990/5,586/5,104/3.197.494
Cimpor 5,299/-0,085/-1,580/5,490/5,150/2.971.876
EDP 2,622/-0,104/-3,820/2,756/2,622/16.836.967
EDP R 5,063/-0,057/-1,110/5,350/5,063/3.142.294
Galp En 11,950/-0,375/-3,040/12,370/11,950/3.752.638
Inapa 0,530/-0,050/-8,620/0,580/0,530/1.101.671
JMartins 7,463/-0,286/-3,690/7,768/7,439/2.487.531
Mota-Engil 2,750/-0,139/-4,810/2,850/2,750/853.148
P. Tel 7,463 /-0,537/-6,710/7,955/7,463/8.800.553
Portucel 1,910/-0,131/-6,420/2,039/1,900/1.707.749
REN 2,585/-0,125/-4,610/2,730/2,584/840.568
Semapa 7,600/-0,303/-3,830/8,048/7,501/203.312
Sonae Ind 2,170/-0,240/-9,960/2,410/2,170/869.264
Sonae SGPS 0,763/-0,063/-7,630/0,824/0,763/7.931.772
Sonaecom 1,306/-0,099/-7,050/1,400/1,305/810.922
Zon Multimedia 3,343/-0,272/-7,520/3,612/3,343/870.052

DE MAU A PIOR

Enquanto na Assembleia da República prosseguem as declarações dos convocados para os inquéritos parlamentares que hão-de provar o antecipadamente provado, enquanto os donos dos transportes colectivos colocam o país em paragens forçadas, as amaldiçoadas agências de rating* continuam a degradar-nos o crédito e a Bolsa cai desalmadamente.
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Ouvi há pouco o Ministro da Presidência dizer, receosamente, como quem pede desculpa, que esta não é a melhor altura para greves e reclamações de salários. Receosamente, porque, por este andar imparável para o desastre, sem que ninguém tenha mão na barca descontrolada, um dia destes terá dizer que chegou a altura em que o governo não tem alternativa senão baixá-los ou deixar de os pagar.
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Quantos erros nos falta fazer ainda, senhor PR, para chegarmos à bancarrota?
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DE POBRES MAS TESOS A SIMPLESMENTE TESOS

(recebido via e-mail de remetente fidedigno)
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Corria o ano da graça de 1962.
A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.
O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão.
Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder.
Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria.
Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.
Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo numa altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume.
Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.
Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo.
O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito.
Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos.
Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo).
Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar – é nada dever a quem quer que seja".
Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.
Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.
Luís Soares de Oliveira

Monday, April 26, 2010

ESTÁ ALGUÉM CASA?

Como se não bastassem os sinais de fortes dúvidas dos mercados quanto à solvência a curto prazo da Grécia mas também de Portugal e da Espanha, que se refletem no crescimento até agora imparável dos "spread" dos empréstimos, os sindicatos da função pública e os dos transportes colectivos esmeram-se em apregoar os sucessos retumbantes das greves em curso e das já anunciadas. A satisfação deles é tanta que contagia até os responsáveis pelas relações públicas das empresas manietadas: Transtejo e CP não vão ter transportes alternativos na greve de amanhã; Greve na CP permitiu apenas circulação de 20 por cento dos comboios previstos, são anúncios que nem sequer suscitam as habituais abissais discordâncias entre sindicalistas e os delegados do governo quanto à dimensão dos sucessos grevistas.
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Ouve-se esta gente excitada pelo sucesso das greves e perguntamo-nos: Riem de quê?
Dos passageiros que pagaram os passes mensais e não têm transporte?
Dos contribuintes que pagam os défices?
Dos juros crescentes que os credores exigem, cada vez mais assustados com a hipótese de tanta bagunça um dia destes tornar impossível a renovação da dívida e o colapso do tesouro público?
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Com todo o respeito que devem merecer as leis, e nomeadamente a lei da greve, há momentos excepcionais que requerem medidas de excepção. A aparente passividade com que o poder político, esteja ele onde estiver, assiste a este festival de irresponsabilidade em curso e anunciado para o futuro próximo, é inadmissível. É preciso que alguém pelo menos diga alto e bom som quanto é que este carnaval nos custa.
Se para chegarmos à bancarrota seriam precisos muitos, muitos erros, quantos é que ainda nos faltam para lá chegarmos?

AFIRMA ANTÓNIO

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A Lei 2105
Acabemos de vez com este desbragamento, este verdadeiro insulto à dignidade de quem trabalha para conseguir atingir a meta de pagar as contas no fim do mês.
Corria o ano de 1960 quando foi publicada no "Diário do Governo" de 6 de Junho a Lei 2105, com a assinatura de Américo Tomaz, Presidente da República, e do Presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar. Conforme nos descreve Pedro Jorge de Castro no seu livro "Salazar e os milionários", publicado pela Quetzal em 2009, essa lei destinou-se a disciplinar e moralizar as remunerações recebidas pelos gestores do Estado, fosse em que tipo de estabelecimentos fosse. Eram abrangidos os organismos estatais, as empresas concessionárias de serviços públicos onde o Estado tivesse participação accionista, ou ainda aquelas que usufruíssem de financiamentos públicos ou "que explorassem actividades em regime de exclusivo". Não escapava nada onde houvesse investimento do dinheiro dos contribuintes.
E que dizia, em resumo, a Lei 2105? Dizia que ninguém que ocupasse esses lugares de responsabilidade pública podia ganhar mais do que um Ministro. Claro que muitos empresários andaram logo a espiolhar as falhas e os buraquinhos por onde a 2105 pudesse ser torneada, o que terão de certo modo conseguido devido à redacção do diploma, que permitia aos administradores, segundo transcreve o autor do livro, "receber ainda importâncias até ao limite estabelecido, se aos empregados e trabalhadores da empresa for atribuída participação nos lucros".
A publicação desta lei altamente moralizadora ocorreu no Estado Novo de Salazar, vai dentro de 2 meses fazer 50 anos. Catorze anos depois desta lei "fascista", em 13 de Setembro de 1974 (e seguindo sempre o que nos explica o livro de Pedro Castro), o Governo de Vasco Gonçalves, recém-saído do 25 de Abril, pegou na ambiguidade da Lei 2105 e, através do Decreto Lei 446/74, limitou os vencimentos dos gestores públicos e semi-públicos ao salário máximo de 1,5 vezes o vencimento de um Secretário de Estado. Vendo bem, Vasco Gonçalves, Silva Lopes e Rui Vilar, quando assinaram o 446/74, passaram simplesmente os vencimentos dos gestores do Estado do dobro do que ganhava um Ministro para uma vez e meia do que ganhava um Secretário de Estado. O Decreto- Lei justificava a correcção pelo facto da redacção pouco precisa da 2105 permitir "interpretações abusivas" permitindo "elevados vencimentos e não menos excessivas pensões de reforma". Ao lermos esta legislação hoje, dá a impressão que se mudou, não de país, mas de planeta, porque isto era no tempo do "fascismo" (Lei 2105) ou do "comunismo" (Dec. Lei 446/74).

Agora, é tudo muito melhor, sobretudo para os reis da fartazana que são os gestores do Estado dos nossos dias. Não admira, porque mudando-se os tempos, mudam-se as vontades, e onde o sector do Estado pesava 17% do PIB no auge da guerra colonial, com todas as suas brutais despesas, pesa agora 50%. E, como todos sabemos, é preciso gente muito competente e soberanamente bem paga para gerir os nossos dinheirinhos. Tão bem paga é essa gente que o homem que preside aos destinos da TAP, Fernando Pinto, que é o campeão dos salários de empresas públicas em Portugal (se fosse no Brasil, de onde veio, o problema não era nosso) ganha a monstruosidade de 420000 euros por mês, um "pouco" mais que Henrique Granadeiro, o presidente da PT, o qual aufere a módica quantia de 365000 mensais. Aliás, estes dois são apenas o topo de uma imensa corte de gente que come e dorme à sombra do orçamento e do sacrifício dos contribuintes, como se pode ver pela lista divulgada recentemente por um jornal semanário, onde vêm nomes sonantes da nossa praça, dignos representantes do despautério e da pouca vergonha a que chegou a vida pública portuguesa.
Assim - e seguindo sempre a linha do que foi publicado - conhecem-se 14 gestores públicos que ganham mais de 100000 euros por mês, dos quais 10 vencem mais de 200000. O ex-governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, o mesmo que estima à centésima o valor do défice português, embora nunca tenha acertado no seu valor real, ganhava 250000 euros/mês, antes de ir para o exílio dourado de Vice-Presidente do Banco Central Europeu. Não averiguei quanto irá vencer pela Europa, mas quase aposto que não será tanto como ganhava aqui na santa terra lusitana. Entretanto, para poupar uns 400 milhões nas deficitárias contas do Estado, o governo não hesita em cortar benefícios fiscais a pessoas que ganham por mês um centésimo, ou mesmo 200 e 300 vezes menos que os homens (porque, curiosamente, são todos homens...) da lista dourada que o "Sol" deu à luz há pouco tempo. Curioso é também comparar este valores salariais com os que vemos pagar a personalidades mundiais como o Presidente e o Vice-Presidente dos EUA, os Presidentes da França, da Rússia, e...de Portugal. Acabemos de vez com este desbragamento, este verdadeiro insulto à dignidade de quem trabalha para conseguir atingir a meta de pagar as contas no fim do mês. Não é preciso muito, nem sequer é preciso ir tão longe como o DL 446 de Vasco Gonçalves, Silva Lopes e Rui Vilar: basta ressuscitar a velhinha, mas pelos vistos revolucionária Lei 2105, assinada há 50 anos por Oliveira Salazar. Que tristeza!
O dito cujo diatdor mandava-os para a Argélia e Paris, ou para onde quisessem roubar. Ele lá sabia.
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A Parpública vai pedir dinheiro emprestado para pagar os imóveis que comprou ao Estado.Você sabe o que é uma pescada de rabo-na-boca, não sabe? E um carrossel?
Depois dizem que a culpa do nosso endividamento é dos tugas que vão passar férias a Cancun, do crédito ao consumo, etc. etc.
Já me esquecia das juntas de freguesia.
http://economico.sapo.pt/noticias/spread-da-divida-portuguesa-agravase-para-cima-de-200-pontos_87815.html

Sunday, April 25, 2010

RECADO

"O PEC tem de ser renegociado internamente, para obter o apoio do maior partido da oposição. Não sei se isso obriga a mudar de Governo, ou se pode manter-se o actual. A trajectória de redução do défice público tem de ser acelerada. E tem de começar a ser executada rapidamente (porque ainda mal começou). Vai doer? Vai, muito."
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Daniel Bessa, ex-Ministro da Economia de António Guterres, Expresso/Economia de ontem
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Ando a escrever mais ou menos o mesmo neste caderno de apontamentos há muito tempo. Desde muito antes deste PEC ter sido inventado.
Há muito tempo que me pergunto aqui: Se o actual PM não foi capaz de avançar com várias reformas, porque foi obrigado a recuar pelas oposições e pelas corporações quando dispunha de uma maioria absoluta na AR, como vai o actual governo ser capaz de impor medidas que vão doer, e muito, sem o apoio de uma maioria parlamentar pluripartidária? Não vai ser capaz.
É esta dúvida, é esta convicção que, por maiores que sejam os protestos daqueles que não querem ver, que também se colocam aos credores que nos aumentam os juros e podem cortar o crédito.
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Precisamos de uma reacção rápida, também avisa Beça.
Receio bastante que o olhem de soslaio e não lhe dêm ouvidos. Mesmo quando da Alemanha vêm repetidos avisos à Grécia de que a ajuda comunitária pressupõe o cumprimento rigoroso das amortizações e dos juros contratados e o incumprimento implicará a rescisão imediata do contrato.
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O PEC é uma formalidade, o cumprimento dos objectivos a realidade monitorada. Portugal não é a Grécia. Pois não. Mas não falta muito.
No dia em que celebramos 36 anos de democracia é uma lástima que nos apoquentem perspectivas tão aterradoras.

ACERCA DO HOMEM QUE SE JULGAVA DEUS

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Suddenly Rothko is everywhere, and it’s safe to say he would have liked that. In New York, everyone wants to see Red, John Logan’s play about the artist. In London, the play and Alfred Molina’s confrontational performance for the Donmar Warehouse predictably triggered an outbreak of eye-rolling among the Art Classes. The prospect of yet another melodrama featuring a heroically tormented painter trowelling on the angst in heavy pigment, and monologues about nailing the Tragic to the canvas, brought on an attack of sneering at romantic platitudes; much muttering about Sturm und Drang for the middlebrow. But on the other side of the Atlantic, Rothko’s own side, the play has been received as deep, dark and moving, much like the artist’s late works.
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Saturday, April 24, 2010

OS LIMITES DOS PRESCRITORES

Há muita gente a dizer o que se deve fazer para que o País seja salvo do garrote da dívida, ainda que o País padeça de outros males maiores.
Até em inglês, que, por ser língua franca, alguns economistas devem pensar que facilita o entendimento já que é generalizado o desentendimento entre os portugueses na língua pátria.
Aqui está um mais que excelente elenco de prescrições que eu subscrevo sem reservas.
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Mas se as prescrições me dão o conforto de me parecerem salvíficas não me retiram a inquietação de saber como vão ser administradas. Porque, penso eu, o problema maior com que nos defrontamos não é essencialmente saber o que fazer (há um razoável consenso maioritário acerca disso até porque não faltará quem nos diga o que temos a fazer) mas principalmente como é que vai ser feito. Se os credores nos aumentam continuamente os juros não é tanto porque desconfiem do PEC (deste ou de outro parecido) mas da capacidade deste governo, minoritário e monopartidário, fazer engolir a receita sem rejeição convulsiva do paciente.
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Dessa dificuldade primordial ninguém fala: o chefe do governo porque se obstina na sua autosuficiência, a oposição porque espera a queda do chefe, o presidente porque pelos estatutos o problema ainda não é com ele, as corporações porque sim.
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E sem quem tenha força e vontade para lhe administrar as prescrições, o paciente corre o risco de agonizar com os medicamentos por tomar à cabeceira da cama.

DESPUDOR LOCAL

Dois autocarros para um mesmo grupo excursionista (a Fátima?) na A8, estação de serviço de Óbidos. Promotor : A junta de freguesia do Lumiar a quem pertence o autocarro fotografado em segundo plano. Justifica-se que uma junta de freguesia disponha de um autocarro? Justifica-se que promova excursões? Justifica-se que alugue autocarros para fins excursionistas? Para a "Barraqueiro" e outras empresas de transporte colectivo de passageiros justifica-se plenamente: é com excursões que consegue melhor utilização das suas frotas durante os fins-de-semana quando os transportes regulares suburbanos têm muito menor procura. Também se justifica para os autarcas porque deste modo distribuem rebuçados aos fregueses e recebem votos. Justifica-se, finalmente, bastante para os fregueses das excursões.
Só não se justifica para uns tipos com mau feitio e com a mania das contas.
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Claro que nada disto se compara com os milhões com que se abotoam alguns à custa dos fregueses. Mas isso são outras histórias.

Friday, April 23, 2010

GOVERNO NEGATIVO*

O governo negativo da oposição na Assembleia da República não augura nada de bom. Não é a primeira vez que a conjugação contra natura dos votos dos partidos da oposição bloqueia ou contorna as opções do governo. Não se lhe pode negar legitimidade democrática mas também não podemos deixar de considerar que a base da coligação negativa entre partidos com ideologias totalmente opostas se suporta na demagogia da caça aos votos custe a honorabilidade que esses votos custarem.

Foi assim que cairam os anteriores ministros da saúde e da educação. Por este andar cairão por idênticas rasteiras os actuais titulares, a menos que não dêm passada em frente.

Não. Definitivamente não há condições de governabilidade para um governo minoritário ou monopartidário fazer com que o País honre os compromissos em que está empenhado. O default de credibilidade que já pagamos com juros crescentes alargar-se-á com consequências que poderão ser dramáticas.

Expulsar-nos-ão do euro?, perguntavámos-nos hoje ao almoço.

Por enquanto não é provável mas convém não esquecer que não é impossível.

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*Oposição aprova suspensão do fecho de quatro SAP
O Parlamento aprovou hoje, com os votos favoráveis da oposição e contra do PS, dois projectos que recomendam ao Ministério da Saúde a suspensão imediata do encerramento de quatro SAP.
Encerramento das urgências no Alto Minho na Assembleia

O QUE É ISTO?

clicar para ampliar SDO: The Extreme Ultraviolet Sun

Thursday, April 22, 2010

O JOGO DA CABRA CEGA

Bragaparques: Relação absolve Domingos Névoa de corrupção
O Tribunal da Relação de Lisboa absolveu hoje o empresário Domingos Névoa do crime de tentativa de corrupção do vereador da Câmara de Lisboa José Sá Fernandes.
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(continua amanhã com as declarações desta noite de Ricardo Sá Fernandes, António Martins, presidente do sindicato dos juízes, que pediu a extinção da Ordem dos Advogados, e de António Marinho, bastonário da Ordem dos Advogados)

COMO ÍAMOS DIZENDO

Os orgãos do estado, centrais e locais, têm de ser mais eficientes: menos caros e de melhor qualidade. Enquanto tal não acontecer a competitividade de um largo segmento da economia portuguesa estará, também por esta razão, irremedivelmente comprometida. A Justiça, quase toda a gente concorda, é o mais gritante caso de ineficiência e ineficácia das instituições estatais e um dos principais factores de repulsão do investimento em Portugal.
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Mas a ineficiência da administração do estado não se situa apenas a nível dos orgãos de maior dimensão e complexidade mas observa-se igualmente nas células mais elementares do estado: as juntas de freguesia. Considerando a evolução demográfica, económica e social do País nos últimos cem anos, mais ou menos tantos quantos já leva a actual organização administrativa do País, e os meios tecnológicos de que hoje dispomos, a estrutura orgânica da administração local está completamente desfasada daquelas realidades.
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Não sendo o poder local aquele que mais recursos emprega é nele que se observarão sempre as maiores resistências às mudanças que o progresso do País impõe. Se há convicção atávica das populações de que as suas fronteiras são sagradas e o seu castelo invicto juntarmos as confrontações demagógicas das lutas partidárias teremos de reconhecer que a mudança só pode ser obra de um poder democrático forte e muito determinado que, por entre estes dias de crise aguda não se vislumbra.
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E, no entanto, há exemplos simples, que deveriam convencer todas as mentes despidas de preconceitos, das ineficiências decorrentes da administração de territórios tão partilhados.
Tomemos um que é paradigmático de muitos outros que nos adiantam para justificar o stato quo: Há dias um presidente de uma junta de freguesia do concelho de Oeiras decidiu ocupar o lugar do motorista de um transporte de crianças para a escola, não sei se por ausência do profissional do volante ou por decisão de trabalho do autarca para aquela dia. Evidentemente, apareceu a televisão a dar conta da ocorrência. Estava toda a gente feliz: as crianças, os pais das crianças e, naturalmente, o presidente motorista.
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Pergunta-se: Por quê e ninguém dá uma resposta que valha uma junta de freguesia. Porque se a opção é transportar as crianças para as escolas a resposta mais conveniente não pode ser dada por um orgão de dimensão que não justifica um serviço de transporte privativo e muito menos por uma pessoa que não é profissional do volante. Se a substituição se deu por falta do profissional, e não pode uma junta de freguesia contar com dois, um titular e outro suplente, é óbvio que o serviço deverá ser da responsabilidade de um orgão que tenha dimensão adequada e um quadro de pessoal que conte com vários titulares e os suplentes em número conveniente para um nível de intervenção geograficamente alargado.
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Mas quem é que vai convencer os autarcas e os fregueses? Só se forem estes a pagar directamente as contas.
Porque pagar, pagam, mas pagam sem dar por isso.

UMA MÃO CHEIA DE INTOLERÂNCIA

Ontem, no Parlamento, o ministro da economia esteve visivelmente colérico ao comentar a proposta do PSD de introdução de algumas alterações de critérios de escolha das medidas a adoptar no âmbito do PEC e, liminarmente, pretendeu reduzi-las a pó: "são uma mão cheia de nada", no entender do ministro. Em tonalidades diferentes afinaram as outras bancadas da oposição: segunda umas, porque a proposta do PSD mais não era do que uma continuação das medidas do governo, para outra, porque repescava serodiamente o que eles já tinham proposto antes.
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Ouvem-se os representantes do povo e não é difícil perceber que, mesmo numa altura extremamente crítica da situação económica e financeira do País, aquela gente se julga ainda (ou já?) em campanha eleitoral. Porque se existem no âmbito da Assembleia da República comissões especializadas, e uma delas é a de economia e finanças, porque razão não se reunem os deputados, e apreciam, discutem e concertam as medidas consensualmente mais adequadas? Porque razão vêm acusar-se mutuamente em plenário a ignorância de uns e outros acerca dos valores que estão ou não estão considerados no PEC e no OE? Só há uma explicação: por razões de interesses meramente partidário a que a televisão dá palco.
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O País, está dito e redito, encontra-se numa situação dramática. Quanto maior for o espectáculo de conflitualidade partidária e social maiores serão os juros exigidos pelos credores. Há que reduzir a dívida pública mas, sobretudo há que reduzir a dívida externa, reequilibrando a balança comercial, objectivos de realização complicadíssima que sem um compromisso social e politicamente alargado não serão atingíveis e o barco em que todos estamos metidos afundar-se-á.
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Para reequilibrar as contas públicas não é suficiente nem desejável aumentar a carga fiscal, é forçoso reduzir a despesa exigindo maior eficiência e qualidade aos serviços prestados pelos orgãos centrais e locais do estado. Mas isso impõe um consenso pelo menos maioritário acerca das medidas a tomar. O PEC foi aprovado com a abstenção do PSD e a Comissão Europeia aprovou os objectivos nele fixados mas não rejeita que se modifiquem os meios a utilizar para os atingir.
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As palavras do ministro Vieira da Silva de ontem não auguram nada de bom para a economia e as finanças públicas portuguesas num futuro muito perto de nós.

Wednesday, April 21, 2010

A CONSPIRAÇÃO CONTRA PORTUGAL

Ouvi ontem na Sic Notícias João Ferreira do Amaral num frente-a-frente com Nogueira Leite repetir a sua convicção de que "se não tivéssemos entrado no euro estaríamos hoje melhor".
Evidentemente, João Ferreira do Amaral é totalmente livre de expor as suas convicções mas a sua qualidade de professor de economia deveria sugerir-lhe que deveria, ao mesmo tempo, reconhecer que não tem nenhum meio de prova desta sua convicção, que repete sempre que a questão do euro vem à baila.
João Ferreira do Amaral sabe que a sua afirmação, ainda que perfilhada por outros colegas seus, para além de não ser susceptível de confirmação, é contraditada pelas convicções de sentido contrário de vários outros economistas.
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Deste confronto de convicções não viria mal algum ao nosso mundo se por detrás da afirmação de Ferreira do Amaral não se insinuasse subliminarmente a ideia de que a volta ao escudo poderá resolver os nossos problemas. É certo que Ferreira do Amaral não afirma isto mas a sua insistência, ainda que não tenha esse propósito, acaba por induzir a opinião pública no sentido da maldição do euro. Se considerarmos as recentes declarações de alguns reputados economistas norte-americanos acerca das dificuldades em que Portugal se encontra para permanecer no euro, não podemos deixar de convir que a probabilidade do euro se transformar no bode expiatório dos nossos problemas é cada vez maior.
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Philip Roth em The Plot Against America ficciona imaginando as consequências da eleição de Charles Lindbergh, admirador do nacional socialismo alemão, putativo candidato republicano às eleições presidenciais de 1932 que elegeram, realmente, o candidato democrata Franklin Delano Roosevelt sendo Herbert Hoover o candidato republicano. Trata-se de uma obra literária que, obviamente, não pretende rebobinar a História até porque se tal fosse possível seria, neste caso, desastroso.
A presunção de que a não entrada no euro teria sido mais favorável para Portugal poderia, eventualmente, gizar uma boa novela se João Ferreira do Amaral a quisesse escrever. Mas não mais que isso.

O VULCÃO

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(com os meus agradecimentos ao Eduardo C.)



















































































1 - Photographer Martin Rietze got to within 250 metres of the lava fountains to capture his stunning series of images
2 -Lava hits the sea from the volcanic eruption between the Myrdalsjokull and Eyjafjallajokull glaciers, east of Iceland's capital Reykjavik
3/ 4 - Only around an hour old, this lavaflow is falling from a steep cliff a few hundred metres from the main eruption
5 - Lava spurts out of the site of a volcanic eruption at the Fimmvorduhals volcano near the Eyjafjallajokull glacier.
6 -Close-up: The dark cloud of smoke coming from the Icelandic crater as seen by an Icelandic Coast Guard helicopter
7 -The plume from the Icelandic volcano - seen as a grey-brown streak drifting across the middle of the image is visible from space. It was imaged by the Modis instruments on two Nasa satellites as it blew towards the Shetland Islands
8 -Coating: Researchers at Sheffield Hallam University collected these particles of volcanic ash (seen here under a microscope) which fell on cars in the centre's grounds earlier today
9 -Frozen: Ice chunks carried downstream by floodwaters caused by volcanic activity lie on the Markarfljot riverbank in Iceland yesterday
10 -Dusty: A car in Iceland drives through the ash from the volcano
11 -Widespread: Ash from the erupting volcano sweeps in an arc across the Netherlands, Germany, Poland, and Russia in this image from NASA yesterday
12 -Spectacular: A satellite image of the volcano under the Eyjafjallajokull glacier in Iceland Around 800 people have had to be evacuated and 70 tourists were rescued after they were trapped by the rising flood waters
13 -Spectacular: Plumes of smoke shoot up from a volcano under the Eyjafjallajokull glacier in Iceland today which has erupted for the first time in 200 years
14 -The Eyjafjallajokull eruption is the second in less than a month and has seen hundreds of international flights cancelled
15 -Workers have been forced to smash holes through roads in Iceland to allow the surging flood water to escape out to sea
16 -Part of the glacier has melted under the ferocious temperatures causing the flood swell to pour down the mountain
17 -Experts are concerned the recent eruption could trigger another more powerful one from the nearby Katla volcanoThe eruption has caused travel disruption across Europe as airspace has been shut down