Sunday, April 11, 2010

A LUZ E OS ILUMINADOS

Segundo o Expresso/Economia deste fim-de-semana, o CEO da EDP embolsou 3,1 milhões de euros em 2009, o que provocou grande alarido mas não provocou mais nada, mas a CEO da EDP Renováveis, uma subsidiária da EDP, arrebatou 2,4 milhões, um pouco menos que o CEO da PT (2,5 milhões), bem acima do quarto magnífico, o CEO da Zon, que se contentou com 1,6 milhões.
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Feitas as contas, a presidência bicéfala da EDP valeu 5,5 milhões, segundo os accionistas que decidem estas coisas, o mais decisivo dos quais, o delegado do governo que, na oportunidade, representou, ou era suposto representar, os interesses do Estado, isto é, dos contribuintes portugueses.
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Representar, neste caso, não significa defender. Quem representa só defende se o defendido tem vontade própria, e o Estado, sendo uma entidade abstracta, não tem capacidade volitiva e os seus interesses são subordinados aos interesses de quem os tutela ou representa. Daí que o argumento de que os valores pagos às presidências das EDPs são indiscutíveis porque foram decididos pelos accionistas não passa de um sofisma, como já tinha anotado aqui.
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A meio da semana que passou, entenderam algumas personalidades conhecidas manifestarem-se contra a política da energia seguida em Portugal sustentada nas energias renováveis, argumentando que é cara, que o sobrecusto é pago pelos contribuintes, que o défice tarifário é mais um dos buracos escondidos da dívida da República, e que continua a crescer clandestinamente, que é tempo de acabar com o tabu do nuclear e fazer contas.
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Há quem (aqui e aqui, por exemplo) critique o manifesto anti-eólico (ou pró-nuclear) mas não têm razão. Independentemente da crítica que possa ser feita a alguns deles de nada terem feito quando tiveram oportunidade para isso, os tabus nunca são recomendáveis. Por outro lado, é um facto indesmentível que o défice tarifário existe e serão, mais tarde ou mais cedo, os contribuintes que o irão pagar. É ainda indesmentível também que as energias renováveis são discretamente subsidiadas à custa dos contribuintes. É também indesmentível que o défice tarifário é receita da EDP sem reconhecimento na dívida pública.
Entretanto, também à custa do défice tarifário e dos subsídios às renováveis, as presidências das EDPs que temos são os gestores melhor remunerados deste País endividado até aos gorgomilos.

3 comments:

Isabel Ferreira said...

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1542285

-"Imoralidades" não faltam!

rui fonseca said...

"Imoralidades" não faltam!

O mais grave é que se banalizam.
Porque a banalização da imoralidade
mata a moral.

João Vaz said...

O Manifesto ANti-Renováveis é proporcional ao egoísmo dos seus autores, e corresponde a uma vião paroquial e mesquinha.

Sem me alongar muito, seria útil saber quais os prejuízos causados pelas centrais a carvão, e todo o percurso do carvão que compramos na Polónia e na África do Sul, sendo transportado até nós. Energia 100% importada, divisas que saem, custos enormes.

As energias renováveis são produzidas cá, não são importadas.

Há que recentrar as questões no essencial: a energia não deve ser subsidiada, quem mais gasta mais deve pagar. A queima de carvão provoca doses de poluição severas com encargos mensuráveis no orçamento da saúde. Vamos internalizar esses custos no preço da energia ? Porque não ?
Porque pensamos com os pés e a curto-prazo.

Alterações climáticas ? Façamos as contas às emissões de CO2 das centrais a carvão.

O Manifesto Anti-Renováveis é um documento infame, sem consistência e cobarde. Querem vender-nos o nuclear, mas não são capazes de publicamente pronunciar a palavra.