Monday, October 15, 2012

GASPAR CONTRA TODOS

Ouço na conferência de imprensa de hoje um jornalista perguntar ao ministro das Finanças porque razão não tinha o governo em conta a revisão da posição do FMI quanto às políticas de austeridade impostas aos países intervencionados. Respondeu o ministro que não há uma posição oficial do FMI, o que há, segundo Gaspar é um texto, sem precedentes, subscrito por Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI. Acrescentou Gaspar que a imprensa confundiu opiniões Paul Krugman com as do FMI.

Ora não foi apenas Blanchard que colocou em causa a persistência das políticas de austeridade em economias em fase recessiva. A directora-geral do FMI, Christine Lagarde em declarações recentes publicadas em todo o mundo alertou para a necessidade de cautela com as consequências das medidas de austeridade, e nomeadamente com as que estão a ser impostas em alguns países europeus. São também declarações sem precedentes, são também declarações irrelevantes, apesar das suas funções de responsável máxima do FMI?

Poder-se-á perceber que não poderia Vítor Gaspar alterar as principais linhas de força (ou de fraqueza) do OE que teria de ser apresentado hoje na AR dois ou três dias depois daquelas declarações serem conhecidas. Mas, se o ministro das Finanças conhece, e não poderá deixar de conhecer, as posições públicas desde há algum tempo mais benevolentes do FMI do que aquelas que têm sido também publicamente reveladas do BCE e da Comissão Europeia, é difícil perceber o distanciamento a que colocou a sua resposta de hoje.

Contrariamente ao que Gaspar reafirmou não há apenas uma via  para ultrapassar a situação crítica em que Portugal se encontra mergulhado. A sua proposta de OE poderia não ser outra neste momento mas tal facto não invalidava que Gaspar pudesse invocar a expectativa de medidas que têm sido enunciadas (união bancária, globalização dos seguros de depósitos, por exemplo) com reflexos nos custos da dívida pública e privada.

Já que não lhe seria possível admitir o caminho mais provável: o da renegociação da dívida, aquele que, segundo Willem Buiter, economista-chefe do Citigroup, é a única via para salvar o euro.



 

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