A partir do momento em que o indiscutível professor Marcelo deu o tiro de partida, a remodelação do Governo passou a prato principal da ementa política e fontes próximas do primeiro-ministro, segundo os jornais, já garantiram que haverá novidades antes da aprovação do OE para 2013. Parecem óbvias as saídas de Relvas e Santos Pereira. Também parece improvável que Gaspar dê lugar a outro. Quanto aos restantes, não é aqui que se vendem palpites.
O ministro da Economia começou cedo a ter que esquivar-se ao mata-moscas. O maior erro do professor Álvaro foi ter-se encadeado com os raios enganadores do poder político e não ter avaliado bem o atalho em que se meteu. Se ele se tivesse mantido como professor, acumulando com a facturação de uns palpites de vez em quando, não facturaria o que factura o professor Marcelo mas manteria a aura que ainda paira sobre os académicos se não se aventuram em caminhos apertados onde lhe descobrem a calva.
Disse-se que o ministro Santos Pereira era vítima da dimensão exagerada do multi ministério. Não me parece. Para as obras públicas não há fundos nem crédito. O que havia a fazer, mas, mais do que do ministro, depende da determinação do primeiro-ministro, era renegociar as parcerias público privadas. Recentemente, soube-se (estas coisas sabem-se sempre, e acabam sempre em águas de bacalhau) que foram efactuadas buscas aos domicílios dos dois anteriores ministros das Obras Públicas e do secretário de Estado da mesma pasta. O senhor PGR já adiantou, como de costume, que não há arguidos, só há diligências. Se houver pontas de ilegalidades por onde pegarem nos famigerados contratos das PPP talvez haja aqui trabalho para o próximo ministro se ele dispensar a assistência do professor Borges. Se não, sem obras públicas, não há razão para um ministério das mesmas.
Mas poderá um outro ministro da Economia imprimir alguma reanimação à doente? Talvez, mas não muito. O crescimento económico sustentado depende pouco do governo numa economia de mercado. Mas se o titular da pasta tiver peso político suficiente para fazer prevalecer algumas medidas dinamizadoras da concorrência e promotoras da economia real, por oposição à economia especulativa, pode dar o contributo político necessário para a reforma de um tecido económico feito em grande medida de peças sem dimensão competitiva. Se não, pouco adiantará a mudança porque os interesses instalados são suficientemente fortes para não permitirem a abertura de brechas no status quo.
Santos Pereira propôs ou deu a cara pela proposta do aumento da produção com o aumento do horário de trabalho e a redução do número de feriados obrigatórios. Foi esmagado e ridicularizado por empregados e empregadores. Defendeu, inicialmente, a redução da TSU mas foi Gaspar quem inventou, ou passou por ter inventado, a inteligente proposta (segundo Borges) de, em simultâneo, a reduzir para os empregadores e aumentar para os empregados.
Há dias, um ex-ministro da Economia afirmava que a economia portuguesa é mais chinesa do que muita gente julga. E é, mas só até certo ponto, porque, para lém dele, é lisonjeira para a economia portuguesa. E sendo, como é que pode - insisto nisto - uma economia ainda em grande parte dependente de actividades de baixa tecnologia competir no mercado globalizado de hoje sem redução de salários ou aumento do horário de trabalho?
Referi aqui há dias, alguns exemplos de confrontação comercial entre alguns poucos produtos made in Portugal e muitos made in China, ou made in PRC, que é a mesma coisa disfarçada. Resta acrescentar que, naqueles casos, a parte de leão contida nos preços de venda cobrada pelos criativos-distribuidores norte-americanos pode um dia destes ser apanhada pelos chineses, uma vez que não lhes faltam dólares. E, os portugueses, o que podem fazer os portugueses, pequenos e com uma crise às costas, cada vez mais encostados a subsídios de desemprego?
Se o ministro da Economia não souber, muitos empresários, que não são ignorantes nenhuns, também não.
---
Correl.- Custos de produção industrial sobem em Portugal acima da zona euro
No comments:
Post a Comment