Sunday, October 28, 2012

A REFUNDAÇÃO DO GOVERNO

PSD e CDS jornadearam conjuntamente este fim-de-semana.
O primeiro-ministro encerrou os trabalhos afirmando que pretende a refundação do acordo com a troica. O que é que ele quer dizer com isso, perguntou (vd aqui) ontem o líder do PS que, estranhando o termo mas supondo perceber a intenção do eufemismo, avisou logo que o PS não está disponível para colaborar no desmantelamento do Estado Social.
 
Descodificando o discurso do primeiro-ministro a partir dos excertos divulgados pelos media pode entender-se que, por refundação do acordo com a troica, o Governo
 
- pretende realizar uma reforma profunda do Estado;
- antes do cumprimento do programa de ajustamento;
- o programa de ajustamento não deve ser prolongado no tempo nem acrescido nos fundos,
- deverá limitar o Estado aquilo que faz bem e deve fazer muito melhor aquilo que não pode deixar de fazer,
- deve comprometer todos aqueles que assinaram o memorando de entendimento.
 
Se o sr. Passos Coelho é homem de boa-fé, como o testemunhou o exigente critério na matéria do sr. Mário Soares, e não lhe falta sentido de Estado,

a sua intenção de realizar uma profunda reforma do Estado, começando por delimitar o seu perímetro, implica o envolvimento dos partidos que possam politicamente sustentar essa reforma; não por terem assinado o memorando de entendimento mas porque sem uma base de apoio político suficientemente alargada não há reforma que se construa com equilíbrio bastante para perdurar, aguentando sem abrir fissuras os embates partidários,

e, terá, incontornavelmente, que negociar com o sr. Seguro a refundação do Estado que, objectivamente, não requer a refundação do acordo com a troica, se pode ser dispensado, como pretende e garante ser possível, o prolongamento do programa de ajuda.

A troica, se o sr. Passos Coelho garantir que não quer nem mais tempo nem mais dinheiro, terá, certamente, todo o gosto em garantir o cumprimento da promessa feita durante as jornadas pelo sr. Miguel Relvas de nos deixar a contas connosco dentro de 20 meses. De modo que só por lapsus linguae se percebe que tenha sido anunciada uma refundação do acordo com a troica quando a ambição legítima e digna de aplausos do sr. primeiro-ministro o que requer é uma refundação do governo.

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Correl. - Marcelo Rebelo de Sousa: Falar em refundação é um erro político monumental porque um novo acordo com a troica deixa o PS à solta.
Deixa? Há muito tempo que deixou.
 

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