Segundo Boletim Estatístico do Banco de Portugal publicado hoje, a dívida pública continua a subir, como, aliás, era esperável e subirá sempre enquanto não houver renegociação que envolva o perdão parcial, ou o prolongamento a perder de vista do termo da sua exigibilidade, de pelo menos metade. De qualquer modo, Portugal não tem, realisticamente, nenhuma possiblidade de inverter esta espiral infernal enquanto não for reduzida a carga do custo da dívida. Tal não significa que os portugueses não tenham de mudar de atitude perante a crise, esperando mais deles próprios e menos do Estado, que a despesa estrutural do Estado não tenha de ser radicalmente reduzida e aumentada a eficiência dos serviços públicos, particularmente em sectores, como o da Justiça, onde é raro o dia em que não se observam indicadores confrangedores da nossa menoridade democrática. Mas é estultice contar-se, desta vez, nestas circunstâncias, com um crescimento económico que possa impulsionar o denominador (PIB) a um ritmo muito superior ao das taxas de juro que, independentemente de outras causas, fazem subir exponencialmente a dívida. Toda a gente sabe que assim é, e também a senhora Merkel, o senhor Draghi, o senhor Selassie, o senhor Gaspar, entre outros sabedores vip.
A persistência numa política cujos objectivos estão, à partida, descredibilizados pela aritmética mais elementar, só pode conduzir a uma constestação social a que nenhum governo em regime democrático poderá resistir. É, evidentemente, confortável para a Alemanha, e em geral para o norte da Europa, receber capitais do sul à procura de segurança, a troco de taxas de juro negativas enquanto os outros pagam a usura resultante da sangria. Mais que imoral é uma afronta. Se existia algum capital de razão da contenção do norte relativamente aos perdulários do sul, aliciados pelos banqueiros de um lado e de outro de braço dado com os políticos, esse capital dissolveu-se numa imoralidade infame. Se o senhor Gaspar não ignora isto, por que é que não reclama da carga e insiste no inviável sem nos explicar porquê? Porque não há alternativa, diz o senhor Gaspar; há alternativa no crescimento e no emprego, diz, sem saber como, o senhor Seguro. E nenhum deles fala da dívida que cresce imparavelmente: o senhor Gaspar porque está à espera que onda passe, mas a senhor Markel não tem pressa, o senhor Seguro porque mais crescimento e emprego implica mais dívida.
Afirma o senhor João César das Neves que em democracia nunca se conseguirá controlar a despesa e atira-se ao Tribunal Constitucional como gato a bofes. Não quero supor que a afirmação do senhor César das Neves decorre do facto de ele vir a ser chamado a contribuir para a caixa de socorro em 2013 mais do que está a contribuir este ano porque não creio que, sendo bom católico, seja ressabiadamente iníquo. Também não quero supor que o senhor César das Neves precreve uma ditadura para colocar a carruagem descarrilada nos eixos.
De modo que fico sem explicação plausível para opor aos argumentos do senhor César das Neves: porque o certo é que, até agora, nem a despesa estrutural baixou e a democracia, se não houver arrepiar de caminho, poderá vir a estar por um fio. Em Portugal e arredores.
---
Correl.- Nomura: Economia vai cair 2,7% em 2013 e dívida pública atinge máximo de 131% do PIB em 2016
A persistência numa política cujos objectivos estão, à partida, descredibilizados pela aritmética mais elementar, só pode conduzir a uma constestação social a que nenhum governo em regime democrático poderá resistir. É, evidentemente, confortável para a Alemanha, e em geral para o norte da Europa, receber capitais do sul à procura de segurança, a troco de taxas de juro negativas enquanto os outros pagam a usura resultante da sangria. Mais que imoral é uma afronta. Se existia algum capital de razão da contenção do norte relativamente aos perdulários do sul, aliciados pelos banqueiros de um lado e de outro de braço dado com os políticos, esse capital dissolveu-se numa imoralidade infame. Se o senhor Gaspar não ignora isto, por que é que não reclama da carga e insiste no inviável sem nos explicar porquê? Porque não há alternativa, diz o senhor Gaspar; há alternativa no crescimento e no emprego, diz, sem saber como, o senhor Seguro. E nenhum deles fala da dívida que cresce imparavelmente: o senhor Gaspar porque está à espera que onda passe, mas a senhor Markel não tem pressa, o senhor Seguro porque mais crescimento e emprego implica mais dívida.
Afirma o senhor João César das Neves que em democracia nunca se conseguirá controlar a despesa e atira-se ao Tribunal Constitucional como gato a bofes. Não quero supor que a afirmação do senhor César das Neves decorre do facto de ele vir a ser chamado a contribuir para a caixa de socorro em 2013 mais do que está a contribuir este ano porque não creio que, sendo bom católico, seja ressabiadamente iníquo. Também não quero supor que o senhor César das Neves precreve uma ditadura para colocar a carruagem descarrilada nos eixos.
De modo que fico sem explicação plausível para opor aos argumentos do senhor César das Neves: porque o certo é que, até agora, nem a despesa estrutural baixou e a democracia, se não houver arrepiar de caminho, poderá vir a estar por um fio. Em Portugal e arredores.
---
Correl.- Nomura: Economia vai cair 2,7% em 2013 e dívida pública atinge máximo de 131% do PIB em 2016
No comments:
Post a Comment