Thursday, October 25, 2012

À ESPERA DE UMA REVOLUÇÃO

O presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária (APEMIP) afirma que, (BPI Expresso Imobiliário, de 20/10)
 
 "Nos últimos 60 dias, em cada dois desempregados, um era do sector da construção e do imobiliário. Se este desemprego continua, não vamos ter taxas de desemprego de 16% no final do ano, mas sim de 20%"  

Provavelmente, o presidente da APEMIP exagera propositadamente nas previsões para reforçar os seus argumentos contra as medidas tomadas pelo Governo, que induziu mais instabilidade nas perspectivas de eventuais compradores com o anúncio do aumento/recuo da TSU, provocando quebras na procura de imóveis de 50% durante aquela semana de indecisão, e desanimou os eventuais compradores ao aumentar de modo avassalador o IMI.
 
São argumentos frouxos e contraditórios os do presidente da APEMIP: primeiro, porque é inacreditável que uma quebra de 50% das vendas de imobiliário numa semana, a ter existido, possa ter algum reflexo significativo nas vendas anuais. Isso acontece com a venda de gelados, por exemplo, se houver ruptura de stocks no verão. Com casas, não; segundo, o anunciado aumento do IMI pode potenciar a queda, em curso, independentemente do aumento do IMI, dos preços do imobiliário. Não será, portanto, em consequência do aumento de preço - que não vai acontecer tão cedo - que os eventuais compradores desistirão de comprar. Se o mercado está estagnado as causas são conhecidsa: stock excessivo de casas à venda, restrição drástica do crédito, expectativas negativas para a economia no futuro proximo e a médio prazo.
 
Mas há no discurso do presidente da APEMIP um dado que não é negligenciável e é mesmo dramático, embora fosse mais que previsível: a embriaguez de cimento que tomou conta da economia portuguesa durante muitos anos provocou a crise em que o sector se encontra e, pior que isso, arrastou com o seu peso desmesurado toda uma economia desde sempre estruturalmente débil .  
 
E agora, que podem fazer 300 mil desempregados do sector, como poderão eles subsistir quando os prazos de atribuição de subsídios se esgotarem? Alguns emigrarão, outros retornarão aos seus países de origem, mas haverá muitos que continuarão à espera da reanimação de uma actividade em coma.
 
Não há nada a fazer? Há. Há muitos prédios degradados, muitos prédios em escombros, muitas ruínas a pedir aproveitamento. A reabilitação tem sido uma promessa recorrente dos políticos mas só muito pontualmente cumprida. Para avançar são precisos fundos? Mais do que isso é preciso imaginação e capacidade que mobilize os recursos disponíveis, à espera de incentivos que podem não custar um cêntimo ao Estado. À espera de uma revolução que derrube obstáculos e promova a eficiência da propriedade expectante ou simplesmente parada.

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