Sunday, October 07, 2012

SETE DE OUTUBRO

Dia de abertura das aulas e da caça, uma coincidência que não passava despercebida no meio do alvoroço do primeiro recreio do ano lectivo tal a gana com que os atiradores premiam o gatilho na encosta a sul, a que pelo exagero da bitola local chamam serra,  projectando um eco que dobrava a fuzilaria. O professor Pais, que na sala única ensinava os rapazes da primeira à quarta, aproveitava a coincidência para avisar os mais distraídos ou irrequietos que a falta de atenção na aula levaria chumbo certo.
 
Depois do frenezim ansioso de finais de Setembro, porque poderiam as marés afogar as colheitas do arroz ou as primeiras chuvas de Outono apodrecer as uvas e adeus ó vindima, a primeira semana de Outubro tanto poderia ser de amainar um esforço desmedido para salvar as últimas colheitas do ano como o de um esforço redobrado para lhe esfolar o rabo. De regresso da escola, a meio da tarde, tanto se poderia encontrar em casa já uma amenidade outonal como uma inquietação que entrava pela noite dentro. Se o tempo ajudava, por esta altura já os cereais estavam arrumados, as palhas empalheiradas, e o mosto fervilhava inebriado nas pipas até sossegar daí a um mês. Se não, a angústia da incerteza sobre o destino de um ano de trabalho poder naufragar à vista da praia sobrecarregava o esforço para o safar.
 
Era assim o sete de Setembro, dia de aniversário do Pai. Completaria hoje cem anos.

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