Monday, October 29, 2012

POR ONDE ANDA A DONA ESPERANÇA?


A senhora ministra da Justiça, encontrando-se num dos paineis das recentes jornadas parlamentares dos partidos que suportam o Governo com os senhores Miguel Relvas, Miguel Macedo e Aguiar-Branco, defendeu, na oportunidade, (vd aqui) que


"se nós não formos referências, dificilmente os portugueses aceitarão sacrifícios. A classe política tem de ser exemplar, se não perdemos legitimidade"... " a classe política tem de se bater por uma forma de fazer política que não é a tradicional" ... "não há melhor forma de dizer aos portugueses do que dizer aquilo que se fez, aquilo que se mudou".
 
Garantiu ainda que (vd aqui
 
 "tem uma linha muito clara de combate ao crime económico e à corrupção e que a aposta do seu ministério continua a ser o fim de uma lógica cultural de impunidade".
 
Há neste ramalhete de boas intenções da senhora ministra muitas das razões com que se enche o inferno português. Por inércia, imbecilidade colectiva ou ancestral admiração pela patifaria, o português, em geral, não afina os seus critérios morais pelo diapasão da justiça que, aliás, sempre andou desafinado. A avaliação dos políticos feita pelos eleitores raramente recorre à bitola da ética. Os escândalos, que numa democracia de cidadãos civicamente conscientes irradiariam os envolvidos do campo da res publica para averiguações em sede própria, aqui são condenados na praça pública e absolvidos logo a seguir pela banalidade da frequência das ocorrências perante a indolência da Justiça que nem condena os culpados nem reabilita a honra dos que são alvo de insinuações ou acusações improcedentes.
 
Os casos acumulam-se, fardados de nomes pitorescos, os processos arrastam-se num cortejo interminável, frequentemente percorrendo um labirinto infinito até se evaporarem no tempo da prescrição. A lista é tão interminável que seria estultício sequer dar um resumo dela porque um só caso chega para mostrar que as palavras da ministra cairão, como sempre, em saco roto e as suas boas intenções irão para o sítio do costume.
 
O BPN, senhora ministra! O BPN custará aos contribuintes portugueses, segundo cálculos publicados, mas não definitivos, qualquer coisa como 4% do PIB. Manifestam-se os portugueses contra o maior escândalo financeiro de sempre e o maior assalto aos seus bolsos, exigindo que a Justiça acorde e sejam conhecidos os beneficiários das imparidades? Aquelas centenas de milhares que desfilam pela avenida reclamando pelos cortes que individualmente  sentem alguma vez se vão juntar exigindo justiça e reparação de um assalto de que são colectivamente vítimas?
 
Não, senhora ministra. A apreciação pública feita aos agentes da Justiça é péssima. Mas podem dormir descansados porque os portugueses não os acordarão.
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Correl.- Governo quer magistrados avaliados em função de objectivos

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