Wednesday, June 15, 2011

SÓ PAGA QUEM PODE

Continua a emperrar a solução grega. Porque a Grécia tem solução, de um modo ou de outro, não vai encerrar ou mudar de ramo, por muito que os credores apertem e os gregos desapertem. Hoje é, mais uma vez, notícia a queda das cotações no sector financeiro europeu, com particular, e lamentável, destaque para o BPI, que baixou o seu valor de capitalização para baixo da fasquia dos mil milhões de euros em consequência da sua exposição à dívida grega. (vd aqui). Em finais de Janeiro deste ano, o presidente do BPI reconhecia que o banco tinha uma exposição de cerca de 3,88 mil milhões de euros em dívida soberana de Portugal ( 3 mM), Grécia (0,530), Irlanda (0,350).

Ora a solução grega, agora ou mais tarde, tem de passar por um acordo de credores, e a fixação de  limites da dívida soberana dos membros do euro. Porque nem a Grécia, nem Portugal, nem a Irlanda têm possibilidade de pagar tudo o que devem, a menos que o prazo de amortização seja suficientemente dilatado e os juros contidos dentro de níveis suportáveis pelas respectivas economias. Tudo o que se queira inventar para além destas balizas básicas será puro entretenimento.  

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Esta é a evolução previsível do crescimento dos juros da dívida soberana portuguesa, segundo a AMECO, citada aqui. Simplesmente, sufocante.

Muitos anos a trabalhar na indústria ensinaram-me que quem concede crédito sem considerar o risco do crédito concedido, mais tarde ou mais cedo confronta-se com a difícil situação de ter de negociar o crédito mal parado se não o quiser perder todo. Os bancos, fiados na rede que lhes garantia inimputabilidade  à custa dos impostos pagos pelos contribuintes, para além das habilidades (eufemismo) com que os directores inflacionaram os seus proveitos estratosféricos, alambazaram-se nos créditos concedidos ao Estado, um devedor supostamente de baixo risco. Afinal, não era. Afinal, a rede que garantia o risco do trapezista também se podia romper.

A partir daqui, os credores ou transigem ou vão ao tapete agarrados ao devedor. Quanto mais tarde, maior trambolhão. A menos que, mais uma vez, os contribuintes sejam chamados a pagar por inteiro as irresponsabilidades dos banqueiros. Por exemplo, os contribuintes portugueses serem chamados a pagar o que os contribuintes gregos se recusarem a fazer relativamente às dividas da Grécia*.

Pouco agradável, pelo menos.

Dizendo isto, não subscrevo de modo algum a proposta do  PCP de discussão na AR da reestruturação da dívida. Não é absurda porque é irresponsável e demagógica. Uma decisão unilateral, se por absurdo a proposta fosse aprovada, encaminharia imediatamente Portugal para um gueto com todas as consequências miseráveis daí decorrentes.

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Correlacionado: gregos cercam parlamento para impedir discussão de novo plano de austeridade.

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