Estou cá há 23 anos. Saí de Lamego, tinha dez. Mas vou com frequência a Portugal. Os meus pais regressaram, estão bem, o meu pai tem uma reforma que ronda os três mil francos suíços, comprou uma quinta, entretem-se com a quinta. A mãe tem um negócio de importação de artigos para eventos sociais, sobretudo para casamentos, vão muitos emigrantes portugueses casar a Portugal, não, não só no Verão, mas mais no Verão, claro. E eu acompanho o negócio. Gosto de montar negócios. E compraram dois apartamentos no Algarve. O meu irmão, é mais velho que eu dois anos, tem duas filhas, casou novo, é importador de vinhos portugueses para aqui e para a Alemanha. O negócio tem-lhe crescido bastante, apesar da pouca presença de vinhos portugueses na Suíça e na Alemanha.
Quando completei o décimo segundo ano, candidatei-me ao ensino técnico. O ensino técnico aqui é diferente. Os candidatos que passem na admissão vão trabalhar em empresas, dedicando dois dias à escola e três à empresa. Recebem um pequeno salário, cerca de 500 euros, e começam por fazer os serviços mais simples. Estes estágios são apoiados com fundos do governo e, no fim do curso de três anos, os estudantes não têm nenhuma obrigação de permanecer na empresa onde fizeram o estágio. Só podem chumbar uma vez. Eu trabalhei durante três anos num banco, depois transferi-me para um segundo, e agora estou há seis anos noutro. Durante a minha passagem pelo segundo banco, obtive uma equiparação ao bacharelato concedido pelas universidades, equivalente à licenciatura segundo o "Protocolo de Bolonha", através da frequência de vários cursos relacionados com a gestão bancária, mercados finnceiros, entre outros. Equivalência absoluta. Já mudei duas vezes de emprego porque é a única forma de progredir na carreira. Quem não se muda não sobe. É verdade que o custo de vida é muito elevado na Suíça e o sistema de previdência social não tem nada a ver com o "estado social" em vigor em muitos países da União Europeia. Para a reforma descontamos cerca de 11%, metade o empregador, metade o empregado. É o primeiro pilar, que nunca excede os 2200 francos mensais. Para a contagem do tempo deste primeiro pilar não se incluem os tempos de ausência ao serviço, por desemprego, por exemplo. O segundo pilar é constituido, individualmente, junto de seguradoras. É um complemento do primeiro e garante um valor proporcional às contribuições feitas. O terceiro pilar corresponde ao que em Portugal são os PPR. Quanto à saúde, não há protecção social como em Portugal, à excepção das pessoas que, estando doentes, não tenham recursos, por estarem desempregadas, por exemplo. Quem trabalha na Suíça é obrigado por lei a comprar um seguro de saúde. É também por essa razão que não há na Suíça, praticamente, imigração clandestina. Como também não é permitida a habitação clandestina, isto é, habitação não legalmente aprovada, é muito difícil encontrar-se alguém a trabalhar na Suíça que não cumpra com as exigências legais que um emprego requer. Habitação social, não há. Mas há apoios concedidos pelo Estado a determinadas organizações que permitem arrendamentos mais baixos do que aqueles que são correntes no mercado. Eu, até agora, estive a beneficiar de uma situação dessas. Mas não são habitações de propriedade plena. São arrendadas. A renda é limitada a uma percentagem dos rendimentos do arrendatário e actualizada consoante a progressão desses rendimentos. De tal modo que, em determinado momento, se a renda ultrapassa os valores praticados no mercado, o arrendatário troca aquela casa por outra com renda mais barata, disponibilizando a casa para outro candidato com menores rendimentos. Quem quer comprar casa própria tem de o fazer com recursos próprios ou emprestados, havendo possibilidade de descontar no IRS o valor dos juros pagos até determinado montante, que é baixo. Não penso que venha a ter uma oportunidade para voltar a Portugal. Mas vou lá frequentes vezes, tanto por razões pessoais, familiares e de negócios, como profissionais. Estou a construir uma casa aqui, e um dia caso-me. Mas não vai ser tão cedo. Tenho uma carreira a consolidar. Até lá, vou namorando ..., namoradas não faltam. Elas dirão o mesmo, claro. Casar pode esperar.
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