A Grécia mobiliza-se para a quarta greve geral do ano. Começou à meia-noite de hoje a quarta greve geral do ano na Grécia. Durante 48 horas, barcos, autocarros, comboios, metro e aviões deverão deixar de funcionar total ou parcialmente.
Ouço na rádio, esta manhã, Mário Soares comentar a greve geral na Grécia, mais ou menos nestes termos: Compreendo a revolta do povo grego, a Grécia é a pátria fundadora da democracia, das artes, das ciências, não se pode deixar cair a Grécia. O que é que deve ser feito? Bem, o que deve ser feito é derrubar os governos conservadores, os grandes responsáveis por toda esta crise. Veja só: Dos vinte e sete estados membros da União Europeia, só dois não são governados por conservadores! Aí tem a razão deste estado de coisas.
Percebe-se a confusão que paira à esquerda: A crise global, que ameaça de novo estilhaçar o sistema financeiro mundial, mergulha as suas raízes mais fundas na desregulamentação que induziu práticas perversas que agora mostram os frutos bichados. Paradoxalmente, contudo, os europeus têm vindo a eleger governos conservadores, neoliberais, e os extremistas de direita continuam a progredir na maior parte dos países mais desenvolvidos. Porquê?
Esta a pergunta que a esquerda não sabe responder.
A resposta de Mário Soares não resiste à dúvida mais elementar: Que governo pretendem os gregos que, hoje, mais uma vez, estão em greve geral? Um governo socialista? Georgios Papandreou, o actual primeiro-ministro, é lider do Panhellenic Socialist Movement (PASOK). A greve geral, que, como cá, atinge sobretudo os serviços públicos, é convocada pelos movimentos sindicais liderados pelos comunistas, é implicitamente apoiada pelos conservadores, aqueles que endossaram ao actual governo socialista uma situação de desgoverno camuflada na mentira com que enfeitavam as contas públicas.
Se os partidos socialistas governam actualmente em apenas em dois dos vinte e sete membros da UE, e um deles é o PASOK na Grécia, o outro, o PSOE, em Espanha, poderá perder também para os conservadores no próximo acto eleitoral, e, recentemente, os portugueses preferiram a coligação de direita ao governo socialista, é porque alguma coisa está mal no reino da esquerda. E, certamente, não serão as greves pseudo gerais que alterarão a tendência observada.
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A esquerda herdeira de uma tradição contestatária na rua esgota-se no objectivo de derrubar o poder constituido porque não dispõe de ideias para sustentar um debate democrático no lugar próprio:o parlamento. A greve de hoje na Grécia opõe-se à discussão, convocada para o parlamento, de novas medidas de austeridade. Percebe-se que a eventual aprovação dessas medidas desagrade aos gregos. Mas se o poder cai nas ruas quem, e como, é que levanta a Grécia?
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