Os resultados eleitorais de domingo parecem claros.
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O Bloco de Esquerda obteve um resultado inferior ao de 2005, após a euforia que foi, para ele e para a generalidade da comunicação social, o grande salto de 2009.
E porquê? O BE não tem nada para oferecer para além da contestação sistemática. Vive da contestação e para a contestação. Sem uma base histórica fiel, a dissolução é uma questão de tempo. A proposta de uma auditoria à dívida, já antes da dissolução amplamente reclamada por Louçã, é aparentemente pertinente mas realmente apenas um esbracejar para se manter à tona. Porque Louçã &Cª. se quiserem, podem com grande aproximação e sem grandes investigações, perceber para onde foi o dinheiro. Para onde foi, sabemos todos mais ou menos para onde foi. O que podemos é discutir as políticas, as razões, os interesses, para onde foi e não deveria ter ido.
O Tribunal de Contas tem vindo a dar conta, com os atrasos que lhe são característicos, das irregularidades formais e das ilegais de alguns contratos e compromissos. Aconteceu alguma coisa? Nada.
Propõe o BE alguma coisa que evite que volta a acontecer? Nada.
A CDU foi a única força de esquerda que consolidou e reforçou os seus resultados eleitorais, sendo um factor de esperança para o difícil futuro próximo.
Factor de esperança nosso, como te concretizas?
A partir de 1991, já lá vão 20 anos, quando o número de deputados foi reduzido de 250 para 230, o PCP tem oscilado entre um mínimo de 12 e um máximo de 17 deputados. Sustentado por uma minoria irredutível com raízes no tempo em que o PCP era "o partido", o único partido comunista europeu com expressão parlamentar não avança nem recua. Como o BE, sustenta-se numa posição inamovível anti-sistema, mas, contrariamente ao BE, não se desagrega porque as raízes são profundas ainda que a copa seja rala.
PSD e CDS, com uma coligação pós-eleitoral previamente anunciada, obtiveram uma maioria absoluta colada aos 50% dos votantes. O PSD pouco mais conseguiu que o PS em 2009, mostrando que não conseguiu apresentar-se como suficientemente credível, e o CDS teve de travar a euforia da campanha.
Por outras palavras, PSD e CDS não ganharam as eleições. Foi o PS, e muito particularmente Sócrates, que as perdeu. Aliás, pouco tempo antes das eleições, Passos Coelho parecia determinado a fazer por perder.
O País votou eleitoralmente à direita. Mas é duvidoso que essa maioria eleitoral seja acompanhada por uma maioria social.
O que é uma maioria social? Quando um manifestação estrondosa da função pública convocada pela CGTP desce (ou sobe) a Avenida da Liberdade estamos perante uma manifestação da maioria social. Qual?
O que é importante para o futuro próximo. Porque o que vai estar em causa é a concretização do Programa da troika, que não foi sufragado pois foi ocultado pelos vencedores. Com a ameaça de Passos Coelho de acrescer mais austeridade à austeridade programada. Isso só pode fomentar a conflitualidade social, pois é visível que a multiplicação da austeridade não "valerá a pena". E, contrariamente ao que disse Cavaco Silva, a opção pela abstenção não é impeditivo que os cidadãos possam vir a criticar o Governo e a combater as suas políticas.
É óbvio que não é impeditivo. Mas se a conflitualidade social obstar a concretização do programa, que factor de esperança tem o PCP (e já agora, o BE, que também não subscreveu o memorando) para resolver o problema da dívida e colocar a economia a crescer?
Reestrutura-se a dívida? Um dia destes terá que ser. Mas o que não pode é reestruturar-se sem negociar. O que não será fácil. E o que não é fácil leva tempo.
Sair do euro? Jerónimo diz que não é, não deve ser, assunto tabu. Concordo com ele. O que ele não diz, porque talvez não saiba, é como isso se faz e as consequências que implica.
Saberá Jerónimo que voltar a uma moeda própria implicaria uma desvalorização de 20, 30, 40%? Escolha Jerónimo e diga-nos quem seriam aqueles que pagariam a factura.
Eu digo-lhe: Seriam os que, trabalhando em sectores que se confrontam com o mercado, veriam os seus salários reais reduzidos para aumento da competitividade monetária necessária ao crescimento.
Se não, diga Jerónimo como é que seria, se faz favor.
Esperançadamente,
Rui Fonseca
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