Eh!Eh!Eh! Hoje, toca-me a vez de escrever o que penso. Para começar, penso que o meu passeio matinal deveria começar mais cedo. Ou então, que me abrissem a porta do quintal para eu poder fazer o que toda a gente costuma fazer logo que se levanta. Assim, não: obrigam-me a apertar, a apertar, até que abram a porta e eu possa chegar ali acima, aquela curva onde começa o relvado. Mas antes, farejo a ver se o sítio continua conveniente. Depois vamos por ali acima, mais uma mija aqui, uma cagada ali... Eh!Eh!Eh! Vá lá, abre lá o saco, apanha e dobra para dentro. Isso, agora dá um nó e mete no cagão. Não há por perto? Aguenta até que apareça. O Urs costuma por no bolso. Aquece-o, penso eu. O Urs é um tipo catita. A Cherry nem tanto. Não é má cachopa, mas com aquele ar de quem está a olhar sempre contra o governo, nem alegra nem chateia. E passa pelos outros como se não os visse. Eu, não. Cada encontro é uma confraternização. Cheiramo-nos como e onde é da praxe, abraçamo-nos, e corremos doidos de alegria. Nisto, o Urs é mais parecido comigo. Cada encontro dá para uma conversa longa. Não é do tipo para passar, grüezi, e está feito. Não. Em cada encontro põe a escrita em dia. Já no físico, parece-se com mais com a Cherry: aquele andar a tombar para um lado e para o outro, ou o copiou da Cherry ou a Cherry o copiou dele, vá lá a gente saber quem é que começou a balançar-se. Toda a gente me conhece. Não admira: sou civilizado, cordato, gosto que me cumprimentem, que gostem de mim, e correspondo.
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Já por aqui ando há algum tempo, uns três anos, talvez. Cheguei cá de avião, sim senhor. Eu e os da mesma ninhada, nascidos em Málaga. Eh! Sou um emigrante espanhol. Chegados cá, cada qual foi para onde o levaram. A mim, coube-me a sorte de cair aqui, ao pé da montanha, onde se pode caminhar entre as árvores, ouvir a passarada e farejar relva todo o caminho. Há tempos, fizeram um encontro de famílias. Lá fui encontrar-me com os meus irmãos. É sempre bom o reencontro familiar, não acham?Foi uma festa em grande, sim senhor. Reconheci-os à distância, claro. Todos me gabaram a pele sedosa, o ar lavado, a elegância. Disse-lhes o mesmo, como é norma nestas circunstâncias. Mas não fui franco com eles. Deveria ter sido?Também não me pareceram muito disciplinados. Nem toda a gente aqui é disciplinada. Dizem que são, mas não é verdade. O Urs, por exemplo, é disciplinado. Sempre que encontra um saco de plástico no chão ou uma lata vazia no meio da erva, pega neles e coloca no lixo. E pragueja. Coloca, mas pragueja: Estúpida gente! Gente estúpida! Depois faz-me umas festas e dá-me uma cookie. O Urs não gosta é dos gregos. Volta e meia, gregos à parada para uma ensaboadela! Lá terá as suas razões mas não sei se os gregos o ouvem. Desconfio que não. Hum! Para a semana tenho responsabilidades redobradas: o Urs só vem às terças e quintas, nos outros dias tenho de acompanhar a C., e a Bébé. E, se chove? A mim, lava-me o pêlo.
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