Sunday, June 05, 2011

CARO E.,

Escrevo-te porque estamos preocupados mas animados. Animados, porque, sem notícias nem sinais da tua parte, no meio da histeria eleitoralista que tomou conta do país, acreditamos que te tenhas remetido a clausura voluntária, a dar ao dedo para desatar o molho de bróculos em que nos meteram. Alguém tem de trabalhar e até o Fernando já disse que, seja qual for o próximo governo, não vai ter tempo para se coçar antes de começar a trabalhar. Onde está governo subentenda-se ministro das Finanças, que é quem tem de tomar conta do leme e marcar o ritmo à tripulação.

Se PC for esta noite eleito primeiro-ministro, e cumprir a promessa de constituir um governo de dez ministros, o que me parece sensato desde que mantenha o número de ministérios para não se perder tempo e dinheiro na alteração orgânica do figurino actual, o ministro das Finanças que ele escolher não pode desconhecer os cantos da casa nem ser desconhecido dos membros da troica. Mais: A estas horas da manhã, enquanto eu alinhavo aqui estas patacoadas, o próximo MF deve estar já avançar na pormenorização de muitas acções que têm de ser lançadas mal o PR dê posse ao novo executivo.

Esse MF, para além da experiência governativa e negocial, tem de ter pulso firme e descomprometido com os lóbies, sejam eles quais forem, internos ou externos, continentais ou insulares,   que lhe batam à porta a pedir batatinhas. Se PC ainda não pensou nisto, é melhor avisá-lo. Porque, tanto ou mais importante que a eleição de um PM, hoje, é o convite que ele deverá formalizar amanhã a quem quer entregar a pasta das Finanças.

Todos os ministérios são importantes, sobretudo se forem poucos, mas na actual conjuntura há uns mais importante que outros, e o das Finanças tem de ser o pivot do jogo que Portugal não pode perder. Espera-se que PC tome uma decisão acertada: a de escolher os mais competentes para governar. Mas seria desastroso que errasse na escolha do ministro pivot do seu governo. 

Cordialmente,

RF

2 comments:

Luciano Machado said...

Rui seria melhor teres mandado esta carta ao PC com copia para o E e não ao contrário. Quanto a mim acho que não está no MF o nó gordio da questão mas sim no próprio PM e não vejo no PC (perfil socrático) a figura de estado capaz de realizar a espinhosa missão que vai ser cometida ao próximo governo. Daí o sentido do meu voto que já tive oportunidade de te explicar. Abrç

rui fonseca said...

Luciano,

Pois eu penso mesmo que o sucesso ou o insucesso deste próximo governo, o mesmo é dizer do país, está muito dependente da capacidade que o futuro ministro das finanças tiver para controlar a execução financeira do compromisso assumido com a troica.

Foi a incapacidade de Teixeira dos Santos para se impor no governo de Sócrates quando a crise internacional veio colocar a descoberto as nossas debilidades estruturais que esteve na origem do desastre.

Uma ditadura das finanças é absolutamente necessária por uns largos tempos.

Sem se sobrepor ao chefe do governo, o ministro das finanças tem obrigação de ter controladas de forma muito apertada as despesas e as receitas, uma situação que ainda deixa muito a desejar, tantas foram as surpresas que foram conhecidas.

Salvo melhor opinião.