Thursday, June 30, 2011

BRUNO

Sou da Rondónia, isso, não longe de Manaus, não, já na Amazónia. De onde lhe vem o nome de Rondónia, não sei, não. Eh! mas posso ver no google, e da próxima já sei dizer ao senhor de onde vem esse nome. Rondon?* Não, nunca ouvi falar. De Ferreira de Castro? Também não. Nunca. É brasileiro? Ah!, é português? Pois também nunca ouvi falar, não. E saiu daqui com doze anos para o Brasil? Para Rondónia?!! Uh! Sozinho? Há cem anos? Incrível, não é? Sair daqui há cem anos para a Rondónia ... com doze anos? Verdade? Nesse tempo a Rondónia ficava no fim do mundo, senhor. O seringal era o inferno para quem lá caía. De fora, é uma coisa, lá dentro é outra. Agora o negócio da borracha não existe mais. Não li, não. Como se chama esse livro? A Selva? Não, esse não li. Mas conheço o rio Madeira, sim senhor, nem podia deixar de conhecer, passa por Porto Velho, nós vivíamos pertinho de Porto Velho ... Se, um dia destes, arrumar esse livro, vou ler. Eu vim para cá há quatro anos com a mãe e quatro irmãs. Pai? Não... Pai não tenho... Lá, em Porto Velho, Porto Velho é a capital do estado, a coisa estava ruim, por isso viemos, eu, a mãe, e minhas quatro irmãs da parte da mãe. Da parte do pai tenho mais sete irmãs. Onze, no total.  Tudo mulher, menos eu. Uma é surda-muda. Você sabe como é: não ouve, não fala. Devia estar em ensino especial, mas sabe como é, não dá. As outras irmãs? Oh! Estudam... Eu, na Rondónia, estudava. A mãe era doméstica, como aqui. As outras, as da parte de pai, não sei. Faz muito tempo que não sei nada delas. Eh! Gosto de cá estar. Mas isto agora começou a ficar mal, não começou? Esperemos que melhore, se não lá terei de voltar a Porto Velho. Pois fica combinado: vou ao google, e na próxima,  já sei de onde veio esse nome de Rondónia.

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Ferreira de Castro, O Instinto Supremo, romance que narra a missão de pacificação dos índios parintintins, na selva amazónica, por um grupo de discípulos do general Cândido Rondon, no início dos anos 20 do século XX. O famoso lema de Rondon orienta a acção dos homens enviados pelo Serviço de Protecção aos índios e transmite-se aos trabalhadores por eles recrutados: «Morrer se necessário for; matar, nunca!».

O etnólogo Curt Nimuenda jú, um alemão naturalizado brasileiro, é a personagem que assume maior relevância, servindo de porta-voz do autor, na defesa da civilização indígena. c/p de aqui

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