Friday, June 03, 2011

AS ENCRUZILHADAS DA EUROPA - 2

A União Europeia, ao adoptar na maior parte dos países que a constituem uma moeda única, determinou  a sua evolução para uma união política ou a sua reconfiguração actual. Dito de outro modo, a União Europeia está obrigada, pela força dos pilares  em que se estruturou, a evoluir para uma federação de estados, algo semelhante aos Estados Unidos da América, ou a regressar às origens, eventualmente a desintegrar-se.

A proposta de Trichet faz todo o sentido se os membros da União decidirem avançar para a integração política a prazo. Sendo uma construção original e muito recente, a União Europeia é também uma experiência que não pode realizar-se sem a sedimentação das novas componentes que só o tempo permite. É  natural que a lentidão com que a evolução se processa desespere muitos que entendem que muito poderia já ter sido feito se a audácia e a competência dos actuais líderes europeus tivesse a dimensão das dos fundadores. Não estou tão convencido disto.

E não estou porque, se os antecessores dos actuais líderes europeus traçaram e executaram os caminhos da União Europeia, é agora que esses caminhos se cruzam e as decisões se tornam mais problemáticas. A criação e adopção do euro requereu decisões políticas que não tocavam no âmago da identidade dos países que aderiram. Foi tomado à partida como uma coisa boa, apesar do sobrolho carregado com que alguns olharam para a novidade. Os alemães aceitaram o euro desde que as regras em que a moeda única se enquadrasse não lhe arrombassem a solidez que o marco desfrutava.

Agora que o euro requer a tomada de decisões em que as identidades nacionais são atingidas numa dimensão superior aos avanços anteriores realizados para a integração económica, a construção europeia coloca opções que ninguém conseguirá ultrapassar sem uma definição clara do caminho futuro.

A proposta de Trichet é uma deixa importante para a reflexão que os europeus, e não apenas os seus líderes, não podem deixar de fazer.

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