Estou cá há 24 anos. Vim com catorze. O meu pai veio primeiro, para a construção civil, depois viemos nós. Não, não somos de Braga, somos de Penafiel, conhece? Aqui em Hombrechtikon e nas vizinhanças, quando registámos o restaurante*, há seis anos, havia cerca de duzentos portugueses. Agora devem ser para aí uns trezentos, pelo menos. Sim, a maioria ainda trabalha na construção civil, mas já há muitos que têm outras ocupações: cabeleireiros, pequenos comércios, padarias, restaurantes. Eu até há seis anos, até abrir o restaurante trabalhava num supermercado, o meu marido trabalhava num restaurante. Aqui, é ele o cozinheiro. Dantes, as pessoas trabalhavam aqui com a mira de fazer uma casa em Portugal e regressar quando se reformassem. Agora, não. Quem vem, pensa ficar por cá, e arranja cá casa. Depois já há muita gente a estudar, a entrar nas universidades, a tirar cursos superiores, medicina, cursos assim. Aqui ao restaurante vêm muitos portugueses, mas também temos muitos clientes suíços, alemães, vêm de todo o lado porque gostam da nossa cozinha, anteontem tivemos aí um casamento civil, hoje o meu marido está a servir quarenta almoços numa "crisma". Dá muito trabalho. Ontem, saímos daqui eram duas e meia da manhã. Mas compensa. Fechamos três semanas para férias, normalmente vamos a Portugal, a Penafiel, claro, mas também ao Algarve, e a outros sítios. Tenho duas filhas, a mais velha tem catorze anos, felizmente são boas alunas. Tenho quatro irmãos, um voltou para Portugal, abriu um talho em Penafiel, dois estão aqui a trabalhar para o mesmo patrão: um vende carros o outro lava-os. Aquela ali é minha irmã, vem cá ajudar nos fins-de-semana. A minha mãe morreu há quatro anos, o meu pai, já está reformado, passa o tempo cá e lá. Por causa dos netos. Hoje os pratos do dia são pescada com molho verde e raspada de costela. Raspada de costela é o entrecosto de porco, com mais osso que carne, mas os clientes gostam. Esse cliente aí atrás, está a comer a raspada de costela e ainda agora me disse que está óptima. É servida com batata frita, arroz e uma salada. Mas também temos "à carta" muita coisa boa. O bacalhau é bom, não está salgado, sim, temos com batatas a murro, o polvo é tenro, servimos com batata cozida, mas também pode ser com batata a murro. A raspada de costela custa 23 francos, o bacalhau 27. A broa é boa? É fornecida por uma padaria portuguesa daqui perto. Vêm cá entregá-la. O vinho verde tinto é da Cooperativa de Monção. Penso que ainda tenho aí umas garrafas. O preço? Deixe-me ver... são 23 francos, a garrafa. As pessoas não pedem muito o tinto verde. Vão mais pelo branco. Não, ainda não temos passaporte suíço. Nem eu nem o meu marido. Nem pedimos ainda. Porquê? Olhe porque temos um passaporte tão bom.
É o nosso, não é?
É o nosso, não é?
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