Wednesday, May 26, 2010

PROFESSORES

Ontem, o professor Ferreira do Amaral afirmava em entrevista ao Jornal de Negócios que "a economia tem sido destruída pelo euro" e propõe, como uma das soluções a adoptar para a recuperação, a saída temporária do euro. Cortar salários, segundo ele, não resolve o problema.  
Hoje, o professor António de Sousa, Presidente da Associação Portugesa de Bancos afirmou em entrevista à Rádio Renascença e reportada pelo Jornal de Negócios que se Portugal saísse do euro "todos os bancos e famílias portuguesas iriam à falência". Acrescentou ainda que os bancos nacionais estão  ter problemas de financiamento e salientou que "não há financiamento" para mega-projectos.
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Presume-se que, sendo presidente da APB, os avisos que António de Sousa deixou na entrevista à RR estão sintonizados com o sentimento dos associados da entidade a que preside. Também é de presumir que tais avisos se dirigem a quem decide em matéria de mega-projectos, isto é, o Governo, e a todos quantos, com destaque para o professor João Ferreira do Amaral e seus seguidores, possam ver na saída do euro uma escapadela da camisa de onze varas em que estamos metidos.
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Não sendo a matéria em causa susceptível de modulações ideológicas por que diabo professores com formação e informação idênticas a avaliam de forma tão díspar? Não encontro resposta.
Não encontro resposta mas parece-me que a afirmação de António de Sousa é incontornável: A dívida externa encontra-se titulada em euros (ou em dólares, o que nas actuais circunstâncias cambiais apenas reforça o argumento de A Sousa) foi na sua maior parte veiculada pela banca nacional. Dito de outro modo, as famílias portuguesas devem aos bancos portugueses que por sua vez devem a credores estrangeiros. Se num determinado momento saímos (ou somos forçados a sair do euro), transitória ou defenitivamente tanto faz, as famílias portuguesas sendo pagas numa moeda depreciada (o escudo ou o escudo com outro nome) não poderão honrar os seus compromissos assumidos em euros.
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É impossível que o professor João Ferreira do Amaral não tenha encarado as consequências da sua solução. 
Mas não conhecemos a sua evidência. Só a sua persistência.
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As minhas dificuldades em compreender João Ferreira do Amaral vêm de longe. Pelo menos, desde Fevereiro de 2006. Vejam-se, por exemplo, os apontamentos seguintes:
O euro e eu
Contos da água tónica

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