Saturday, May 08, 2010

DOIS GRANDES LOGROS

Os comunistas prometeram que os povos seriam senhores dos meios de produção e dos seus próprios destinos. Viu-se: em nome deles, uns quantos demagogos subiram para o palco, exaltaram o poder popular, e tornaram-se donos e senhores desse poder impotente. O sonho tornou-se pesadelo e a prepotência desse pesadelo implodiu há cerca de vinte anos atrás por disfuncionalidade persistente entre os povos e os imperadores.
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Poucos anos antes de se desmoronar um logro, nascia outro: o capitalismo popular, que prometia aos povos a participação na riqueza que as suas poupanças iriam criar. Viu-se: o poder disperso das multidões de minúsculos investidores foi, obviamente, ignorado pelos donos das coutadas financiadas pelo capitalismo popular. Para vingar e crescer vigorosamente, a fórmula precisava do elixir da especulação e as bolsas tornaram-se casinos. As poupanças se não geravam dividendos que se vissem prometiam ganhos virtuais gordos a quem se mantivesse em jogo. Quem não tinha poupanças pedia emprestado. E a quem não pedia emprestado eram empurrados empréstimos. Resultado: a especulação bolsista espraiou-se ao imobiliário. Construiu-se como se fosse sustentável cobrir o planeta de cimento armado.
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Para sustentar a continuidade do jogo, os bancos negligenciaram as garantias dos devedores, mandaram a análise do risco de crédito às urtigas, fiados na garantia de último recurso dos estados, a rede que lhes permitia todos os golpes e lances possíveis sem riscos insuperáveis. Uma "moral hazard" que os tornava, e ainda torna, imunes e imortais.
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Até ao dia em que a pirâmide, mais uma vez, tremeu, e assustou os jogadores.
Tremeu, desta vez, na Grécia e ameaça tremer em quase toda a falha mediterrânica europeia.
Receosos das consequências do abalo, que pode abrir fissuras graves na aparente solidez do seu próprio sistema, os alemães concordaram na ajuda à reparação da brecha grega. A "moral hazard" voltou a funcionar. Se os gregos colaborarem e não persistirem em sabotar os compromissos assumidos pelo seu governo.
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São estas razões de impunidade dos malabaristas financeiros, e não outras, que forjaram os desequilíbrios com que o mundo se confronta e que permitem continuar a haver dinheiro disponível para financiar investimentos de rentabilidade mais que duvidosa e consumos acima das possibilidades de os pagar. Ignoravam os bancos que permitiram o "milagre grego" que eles ludibribriavam as contas? Claro que não ignoravam. Sabe-se hoje que alguns deles até ensinaram aos gregos algumas práticas de ludíbrio sofisticado. E continuam impunes.
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Mas nada é infinito na terra.

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