Sunday, May 23, 2010

AFIRMA CONSTÂNCIO

Desde que foi nomeado vice-presidente do Banco Central Europeu, Constâncio tem sido pródigo em afirmações. Ontem saiu-se com esta: "salários a descer é para todos".
Não sabemos se a afirmação é uma recomendação, ou imposição, de política económica que o novo cargo lhe faculta, ou impõe, ou simplesmente uma opinião de natureza moral.
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Que terá de haver redução de salários parece cada vez mais uma inevitabilidade. Que essa redução atinjirá a maioria da população, também. Todos, é um exagero em que facilmente se cai mas contra o qual o senhor futuro ex-governador, próximo vice-presidente, deveria precaver-se. 
Se fosse um governador precavido contra generalizações perigosas nunca teria partido do princípio que todos os banqueiros são minimamente honestos e teria tomado medidas que evitassem enormes buracos como o BPN e o BPP que os portugueses terão de pagar sob a forma de aumento de impostos e, certamente, pela redução de salários.
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Voltando à  afirmação de ontem, qualquer que seja a sua condição, trata-se de uma afirmação inconsistente porque ignora as condições de práticas políticas para a executar. Como é que se obriga o sector privado  a reduzir salários?  Pode induzir-se, impor-se é complicado.
Por outro lado, Constâncio sabe bem que a redução de salários ocorrerá de qualquer modo. No sector dos transaccionáveis, aliás, há muito que essa redução se vem a observar de um modo geral. Quem perde o emprego dificilmente encontra outro com salário superior ou igual sequer.
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Não, Vítor Constâncio. Quem tem visto os seus salários aumentados, de um modo ou de outro, têm sido aqueles que trabalham nos monopólios de facto, com preços regulados ou/e subsidiados. Porque Vítor Constâncio não pode ignorar que a cada aumento de impostos correspondem aumentos de preços prestados pela função pública, quaisquer que eles sejam. Há é pouca gente a dar por isso.
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De modo que, já o anotei várias vezes aqui no Aliás, só há um modo de, de forma consistente, regular os preços da função pública e dos monopólios de facto: limitar o seu crescimento máximo ao crescimento do rendimento nacional em cada ano. O sector dos transaccionáveis são compelidos pelos mercados a ajustarem-se.
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Já agora, por onde andou Constâncio este tempo todo que também não deu por este outro buraco em que nos enfiaram? Constâncio ouviu Olivier Blanchard há quatro anos, durante a Conferência do Banco de Portugal, considerar que a convivência da economia portuguesa  com o euro se faria necessariamente por um caminho muito estreito. Mas não o levou a sério.
Seriamente?

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