Tuesday, May 18, 2010

ACERCA DA DEMOCRACIA

É entediante a argumentação repetitiva dos políticos. Amarrados aos mesmos argumentos, estafam-nos com a sua incapacidade para consensualizar opções. Perante as câmaras de televisão exacerba- se a sua irredutibilidade e a ânsia para se imporem aos outros de qualquer modo. O Parlamento, uma criação do tempo em que a oratória era floreada para consumo interno, tornou-se apenas mais um palco político onde cada um se quer promover aos olhos da opinião pública. A televisão, mais do que qualquer outro meio de comunicação social, tornou-se, deste modo, o principal promotor da discórdia partidária. Quem é que, perante as câmaras de televisão, reconhece mérito às propostas dos outros partidos?
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- O nosso programa seria outro ...
- Disso, não tenho dúvidas.
- Teríamos mais medidas de redução da despesa.
- Mas que despesa? Que despesa cortaria? Na saúde? Nos apoios sociais? Nas pensões? ...
- Esse é o vosso discurso, da mão cheia de nada. Há muito onde se pode reduzir o peso do Estado.
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Pois há. Mas, geralmente, os políticos fogem da identificação dos onde como o diabo da cruz. Compreende-se. Quem quer ganhar eleições, dizem os cínicos, não enuncia medidas que atinjam interesses gerais ou de uma parte importante da sociedade. A verdade em política tem custos elevados. Qualquer sussurro é ampliado pelos media e pode destruir uma ambição, ainda que seja socialmente acertada e pessoalmente desprendida. Estamos condenados a uma democracia da hipocrisia, do subterfúgio, da sonegação da verdade?
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Não estamos.
Nem tudo são escolhos nas situações de crise. As crises são também portadoras de vantagens. Uma delas é a imposição de, inadiavelmente, questionar escolhas. Mais tarde ou mais cedo a penúria de meios obriga à discussão clarificadora da utilização eficiente dos recursos disponíveis. Somos por natureza relapsos à disciplina, ao rigor, às contas? Só até onde o crédito consente.
E a tia Merkel deixar.

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