Para o cidadão comum, que entende mal, quando se dá ao trabalho de querer entender, o envolvimento dos políticos na limpeza das sujidades dos bancos é uma azáfama intrigante. Esta vocação de nanny state a substituir-se à banca na resolução dos imbróglios que ela mesma teceu é, geralmente, justificada pelo risco sistémico (leia-se, sem eufemismos, corrida aos bancos) que pode fazer cair este mundo e o outro se o dinheiro dos contribuintes não for colocado a calçar o desequilíbrio banqueiro.
Foi assim que se sumiram vários milhares de milhões de euros depois da nacionalização de um mostrengo que dá pelo nome de BPN, e, tudo leva a crer, continuam a sumir-se mais, mesmo depois da troica ter dito que o queria vendido até ao fim do passado mês de Julho. Foi? Não se sabe bem.
Foi assim que se sumiram mais largos milhões no reembolso de uns finórios, que colocaram algumas massas nessa outra coisa que dava pelo nome de BPP, com o dinheiro de contribuintes que nada tinham a ver com as negociatas que por lá passaram.
E há mais. Mas a questão de hoje é outra.
Decidiram os políticos, supostamente com o acordo dos banqueiros, que 50% da dívida grega será perdoada (mas só a grega!, garante o Zé Manel) e, por essas e por outras, os bancos têm de ser recapitalizados, o que trocado por miúdos significa que os Estados têm de se endividar para que sejam repostos os rácios convenientes entre capitais próprios e crédito concedido.
Isto é: Por exemplo, no caso português, dos 12 mil milhões que vão ser emprestados a Portugal, garantidos pelos impostos a pagar pelos contribuintes, alguns não sei quantos milhares de milhões irão ser colocadados à disposição da (qualificativo à escolha do leitor) gestão do senhor Santos Ferreira, presidente do BCP, passando o Estado à condição de silent partner do banco, representado eventualmente por um boy, ou por um funcionário do Ministério das Finanças que não saberá o que lá faz, a menos que decida fazer qualquer coisa em proveito próprio.
As cotações do BCP voltaram a cair hoje (3,13%) e já estão nos quinze cêntimos por acção. Não é caso isolado, diga-se de passagem. O BPI caiu mais (9,26%), o Banif, 4,78%, o BES, 0,13%. A que cotação se fará a entrada da participação do Estado? Não sabemos. O que sabemos é que a banca está sujeita a uma pressão dos mercados que promete durar. O que quer dizer, muito sucintamente, que para além das contingências do negócio, muito exarcerbadas pela concorrência que fazem aos casinos, a entrada do Estado será, nas actuais circunstâncias, um tiro no escuro, com enormes possibilidades de ricochete sobre o atirador.
Depois, tudo isto é surrealista: O Estado, fortemente endividado perante os bancos vai endividar-se ainda mais (isto é comprometer ainda mais os impostos que pagamos) para se tornar o maior accionista (mas castrado) dos bancos que têm de reforçar os seus capitais próprios precisamente porque o Estado não reduz neles os seus níveis de endividamento.
Não seria mais racional que o Estado com aqueles 12 milhões pagasse parte do que deve, reduzindo a dívida e os juros?
Seria, mas não teríamos mais um enormíssimo buraco.
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Correl - Papandreou vai submeter aceitação do resgate da UE a referendo
MF Global Finance declara-se em situação de falência em consequência dos investimentos em dívidas soberanas de países europeus.
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