Monday, October 31, 2022

Sunday, October 30, 2022

CASA CHEIA EM DIA DA ESTREIA

 

- Está cheia a sala;

- Chegámos mesmo na melhor altura, disseram-nos na bilheteira; de quatro desistências, à  última hora nos quatro melhores lugares.  

- É tão raro entrar numa sala de teatro, já não digo cheia, mas composta ... Gosto mais de um teatro  quando vejo a sala cheia.

- Também eu. 

- Mas, reparem, em quem vem a entrar ... é o ...

- Pois é. Este aqui em frente... é o ... aquele ali na primeira fila, estás a ver?

- É o ...

- Hum! a sala está cheia de gente conhecida. 

- Que não nos conhece!

- Quem terão sido os ilustres convidados ausentes que nos proporcionaram estes lugares?

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Mais um bom espectáculo do Teatro Aberto.  ****

 

INCOMPARAÇÕES

- ... A situação actual na Ucrânia  é incomparável, em termos de destruição e de miséria humana, com a que existia na Europa no fim da Segunda Grande Guerra: cidades inteiras totalmente destruídas, milhões, muitos milhões de pessoas sem casa nem alimentos ...

 - Disse no fim da guerra?

- Disse, e é verdade. Não tem comparação possível a destruição, que nos é mostrada pela televisão, causada pelos ataque russos, com a destruição causada pela Segunda Grande Guerra.

- Não são comparáveis porque são incomparáveis as dramáticas consequências de uma guerra que terminou há 77 anos com outra que começou há oito meses e ninguém sabe como irá terminar. E pode mesmo ninguém sobrar para saber como foi.

Wednesday, October 26, 2022

A HUMANIDADE TEM DE ACABAR COM A GUERRA

ANTES QUE A GUERRA ACABE COM A HUMANIDADE

A citação de John Kennedy (1917-1963) no Público de hoje, no habitual espaço deste diário - Escrito na Pedra -, seria, certamente, o mais alarmante aviso se a humanidade estivesse convictamente consciente do seu alcance. 

O aviso de Kennedy, assassinado há quase sessenta anos, não é original e é, nos dias de hoje, mais certeiro que nunca porque nunca a espécie humana esteve tão perto de tombar no abismo sem deixar semente que a recomece. 

E, no entanto, ainda que aquela parte da humanidade que, por alguma razão, está mais consciente de que a probabilidade da espécie humana se extinguir é incomensurável, a sua inanição volitiva é paralela à ignorância daqueles que não têm a mínima consciência de que a extinção é possível e ninguém escapa. Talvez porque os conscientes, os que se supõem conscientes, acreditam que terão a sorte de sobreviver acantonados à espera que o fim da humanidade passe sem dar por eles.

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AMANHÃ, O FIM DO MUNDO


 

Monday, October 24, 2022

UMA QUESTÃO DE ÉTICA MÉDICA

"Em pouco mais de um ano, um fármaco para a diabetes tipo 2 receitado para obesos e pessoas que querem emagrecer custou 26 milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde. E é agora muito difícil encontrá-lo nas farmácias. - aqui"

Uma questão de impunidade de falta de ética médica.

 

O JOGO DA CABRA CEGA

No Tribunal Constitucional.

Há dias, lia-se aqui no Público um artigo de opinião do Presidente da Direcção da Associação Sindical dos Juízes Portugueses - Bandidos e bandalhos - concluindo: ...

..."Esta maneira de actuar, indo a correr para a lei, como se esta fosse o refúgio de toda a ética, desresponsabiliza os governantes e adensa esse equívoco pernicioso de achar que os valores éticos são apenas aqueles que a lei acolhe. Esta atitude é boa para apanhar bandidos mas não ajuda a distinguir as pessoas sérias dos bandalhos que se podem movimentar livremente nesse espaço não regulado pela lei."

Hoje, no mesmo diário, destaca-se:

"Mandato de juízes do Constitucional é de nove anos, mas quem chegar aos dez tem pensão vitalícia Vice-presidente Pedro Machete já tem esse direito desde o início do mês e Lino Ribeiro perfaz dez anos no cargo em Junho. Demora no processo de cooptação não é aceitável, consideram juristas, que falam em omissão de deveres constitucionais por parte do TC."

 É o jogo da cabra cega, neste caso, ao mais alto nível. Alto ou baixo, conforme o ponto de vista.

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Correl . - Um Tribunal “inconstitucional” e “caducado”?

 

 

Monday, October 17, 2022

O FEITIÇO CHINÊS

- Xi diz que os 3 principais inimigos da China são: a democracia; os direitos humanos; a liberdade de imprensa.
 
- Quando é que ele disse isso? Hoje? Se disse isso hoje, é homem de palavra dada, palavra mantida. Já tinha dito o mesmo a 1 de outubro de 2019.
Nesse dia, o poder em Beijing celebrou com a grandiosidade e exuberância de um espectáculo de luz, cor, música e coreografia, que embasbacou o mundo (que se deixa embasbacar com estas coisas) a fundação em Outubro de 1949 da República Popular da China. Nesse dia, Xi afirmou que os inimigos do comunismo chinês, que ele pretende alargar a todo o planeta a bem da humanidade, são sete, destacando-se três: a democracia, os direitos do homem, a liberdade de imprensa. 
Será por isso, por essa oposição aos valores que o ocidente mais preza, que a China, tem tido um crescimento tão fulgurante?
Há quem na Europa e nos Estados Unidos pense que sim.
Isto é alarmante, penso eu, mas não se ouve nenhum sinal de alarme.
 
Tu ouves? Vocês ouvem?

Saturday, October 15, 2022

TODOS NO MESMO CABAZ, E FICA ASSEGURADA A PAZ

De Miguel Monjardino lia-se no Expresso de 7 deste mês uma das suas habituais crónicas sobre política internacional naquele semanário, que transcrevo.

Transcrevo, 
não porque o artigo acrescente novidade acerca do que tem sido notícia corrente desde o momento em que Putin iniciou "operação  militar especial" em 24 de Fevereiro, há quase oito meses, período durante o qual a "operação militar especial" se transformou "numa guerra civilizacional que tem de ganhar, a todo o custo, para que os seus valores autocráticos prevaleçam. Fascistas, comunistas e departamentos universitários europeus e americanos partilham esta avaliação"
mas porque 
Monjardino escreve, e ele estará muito bem informado sobre o que afirma, "departamentos universitários europeus e americanos" partilham da opinião de que, por um lado, os pérfidos “anglo-saxões” dominam europeus e japoneses para tentar controlar e explorar o mundo. Por outro, o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenam-no à decadência."
 
Que comunistas e fascistas são admiradores de Putin e aplaudem os seus objectivos para,    "autocraticamente, imporem os seus valores civilizacionais contra o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenado à decadência", também não é novidade.
Que departamentos universitários europeus e americanos façam parte do mesmo cabaz, é uma novidade, se for verdade, que não entendo. A expressão "departamentos universitários" é vaga: São todos? Não são todos. São a grande maioria? A maioria? Alguns. Sejam quantos forem, é preocupante que esteja a chocar, outra vez, nos meios académicos o ovo da serpente de uma despótica ditadura fascista ou comunista global. 
 
MM começa o seu artigo recordando que há 40 anos, "as armas nucleares eram recorrentes nas conversas políticas ... (MM refere-se ao ambiente na Faculdade de Direito, que ele frequentava, certamente como exemplo de uma discussão mais generalizada nos meios universitários), ... o fantasma da guerra nuclear era preocupante".
Hoje, a acreditar no que escreve MM, o fantasma da guerra nuclear não parece preocupar os universitários europeus e norte-americanos porque a adesão a uma nova ordem mundial garantida por um regime totalitário global, comunista ou fascista, tanto faz, assegurará a paz e tornará obsoleto o arsenal nuclear, e a espécie humana sobreviverá por mais uns tempos.
 
Devo ter entendido mal. 
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* MM teve a amabilidade de me informar (via e-mail) de que "referia-se a alguns departamentos universitários nos EUA e alguns países europeus onde não existe propriamente grande afeição pela democracia liberal. Aliás, nada disto é novo. A predisposição de alguns académicos /intelectuais que vivem em países democráticos pelas ideologias autocráticas/totalitárias é, infelizmente, antiga."
  
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No aniversário de Putin - Miguel Monjardino - c/p EXPRESSO

"Há 40 anos, quando frequentava a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, as armas nucleares eram recorrentes nas conversas políticas. Entre as aulas de Direito das Obrigações e de Finanças Públicas, o fantasma da guerra nuclear fazia parte das nossas preocupações. As divergências eram enormes. Nos jornais, o tema era frequente. Na primavera de 1983, o discurso de Ronald Reagan com a proposta da Iniciativa de Defesa Estratégia deu origem a uma polémica nos países da NATO.

É importante recordar isto agora. Em Moscovo, está em curso a inevitável mudança do triunfalismo imperial para a dúvida e a rejeição. É difícil encontrar na história militar caso equivalente ao da Rússia na Ucrânia. Uma grande potência militar, com arte operacional da guerra temida pelas forças armadas europeias e equipamento avançado, não consegue vencer a resistência de um inimigo que, supostamente, devia ter entrado em colapso em alguns dias.

Vladimir Putin faz hoje 70 anos. É um decisor político obcecado pela sua marca histórica. Tal explica, em parte, a invasão da Ucrânia. Como demonstrou o extraordinário discurso da semana passada, o líder russo tem outro objetivo estratégico: desmantelar a ordem internacional que, segundo o Kremlin, garante a hegemonia dos Estados Unidos. Putin acredita convictamente em duas coisas contraditórias. Por um lado, os pérfidos “anglo-saxões” dominam europeus e japoneses para tentar controlar e explorar o mundo. Por outro, o satanismo, o racismo, o liberalismo político e a decadência moral no mundo anglo-saxão condenam-no à decadência. Tal levou-o a concluir que a Rússia está envolvida numa guerra civilizacional que tem de ganhar, a todo o custo, para que os seus valores autocráticos prevaleçam. Fascistas, comunistas e departamentos universitários europeus e americanos partilham esta avaliação.

Como reagirão Putin e o seu regime às crescentes dificuldades da guerra na Ucrânia? Convém termos presente que a tentativa dos Estados Unidos e dos países europeus de o dissuadirem de invadir falhou no dia 24 de fevereiro. Putin tem três opções que podem ser combinadas entre si.

A primeira é continuar a guerra e esperar que a mobilização resolva os problemas da falta de infantaria e de equipamento nos teatros de operações. Na primavera, os problemas políticos e económicos na Europa e nos Estados Unidos deverão levar os seus governos e opiniões públicas a compreender que é do seu interesse negociar com Moscovo e garantir a continuidade do poder de Putin. A segunda opção é uma declaração unilateral de cessar-fogo ao longo da atual linha da frente. Tal poderia criar divisões importantes entre Kyiv e seus apoiantes e dar tempo ao Kremlin para recuperar forças e equipamento. Por fim, resta-lhe a coerção em termos de retórica, sinalização e, no limite, utilização de armas nucleares táticas na Ucrânia ou na vizinhança para quebrar o consenso euro-atlântico e forçar uma negociação favorável aos seus objetivos.

Nos 70 anos de Putin, devemos levar a sério a sua retórica sobre as armas nucleares e ponderar as nossas decisões e dilemas."

Saturday, October 08, 2022

ACERCA DO ARSENAL NUCLEAR ACTUAL

Here are the nuclear weapons Russia has in its arsenal - c/p Washington Post

Giving in to Putin’s nuclear blackmail would be a geopolitical disaster

Há 60 anos, à beira do Abismo  

"No curso de mais de quatro décadas da Guerra Fria, cada um dos lados foi responsável pela sua parcela de arremetidas e tropeços perigosos. No campo soviético, houve o falhado estrangulamento de Berlim em 1948-49 e a invasão da Coreia do Sul pela do Norte em junho de 1950. Passados cinco meses, o arrogante general Douglas Mac Arthur conduziu rapidamente e em força as tropas das Nações Unidas até às fronteiras da Coreia do Norte com a China e advogou depois o emprego de armas nucleares, como forma de retaliação pelas humilhações que os «voluntários» do Exército de Libertação Popular de Mao Zedong lhe tinham infligido no campo de batalha. Mais tarde, vieram, em 1956, a repressão soviética do Levantamento Húngaro e a invasão anglo-francesa do Egito para reaver a posse do Canal de Suez. O ataque a Cuba de abril de 1961 patrocinado pelos EUA abalou a incipiente administração Kennedy. Em 1968, tropas soviéticas suprimiram sangrentamente a «Primavera de Praga». Dois anos mais tarde, as greves dos estaleiros de Gdansk foram do mesmo modo reprimidas a tiro. A intervenção no Afeganistão em 1978-79 revelou-se um desastre para a União Soviética, rivalizando com aquele gerado pela longa agonia da América no Vietname, que se tornou uma tragédia muito mais profunda para os povos da Indochina.

Nenhum destes acontecimentos, porém, nem outros que envolveram os dependentes de ambos os lados, se equiparou ao perigo criado pela Crise dos Mísseis de Cuba em 1962. Alguns historiadores procuram hoje em dia diminuir a sua gravidade. Garantem eles: nenhum dos lados queria uma guerra nuclear. Isto é verdade, mas parece totalmente errado supor que era improvável que o pior acontecesse. Em 1992, numa conferência em Havana sobre a Crise, o ex-secretário da Defesa dos Estados Unidos Robert McNamara manifestou o seu espanto perante as revelações sobre o arsenal à disposição dos defensores soviéticos de Cuba trinta anos antes, incluindo armas nucleares táticas. Disse a um repórter: «Aquilo foi aterrador. Significou que se tivesse sido levada a cabo uma invasão americana, caso os mísseis não tivessem sido retirados, haveria 99 por cento de probabilidade de ter tido início uma guerra nuclear.» McNamara disse isto, é claro, durante os seus anos de mea culpa, a seguir à destruição da sua reputação no Vietname. O seu palpite dos «99 por cento» era largamente exagerado. No entanto, o seu choque era bem justificado. 

Ao longo de outubro de 1962, John F. Kennedy citou frequentemente o celebrado best-seller de Barbara Tuchman August 1914, publicado poucos meses antes na Grã-Bretanha, pela empresa familiar do primeiro-ministro Harold Macmillan. O relato de Tuchman é contestado por alguns especialistas modernos. Num ponto, todavia, a sua opinião parece incontornável. Nenhuma das potências beligerantes queria a grande guerra que teve. Mas tanto a Áustria-Hungria como a Alemanha quiseram uma guerra pequena, para esmagar e desmembrar a Sérvia, e alguns generais alemães estavam desejosos de aproveitar qualquer oportunidade para humilhar a Rússia antes que o seu crescente poder económico e militar se pudesse tornar avassalador. Os intervenientes perderam o controlo dos acontecimentos, com consequências para a Europa que se revelaram calamitosas.

Nos primeiros dias da crise de 1962, os chefes do Estado-Maior das Forças Armadas americanas transmitiram à Casa Branca a recomendação unânime de um bombardeamento maciço de Cuba, seguido da invasão e ocupação da ilha. É arrepiante ler hoje nos arquivos da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) o testemunho subsequente dos seus oficiais superiores afirmando a sua impenitência por terem instado à guerra; a sua persistente convicção de que a América podia ter assegurado uma «vitória decisiva»; o seu desprezo pelo presidente e pelos civis que o rodeavam, que se tinham «acobardado».

Houve vários momentos nos Treze Dias – 16-28 de outubro – em que John F. Kennedy foi sujeito a uma enorme pressão por parte de alguns dos membros da sua equipa da Casa Branca, incluindo o Conselheiro Nacional de Segurança, McGeorge Bundy, para ceder aos falcões. «Ken, nunca fará ideia da quantidade de maus conselhos que recebi», disse mais tarde o presidente a Kenneth Galbraith. Parece precipitado assumir que, por mais contrárias que fossem as opiniões do Kremlin, os oficiais russos em solo cubano pudessem ter aceitado milhares de baixas entre os seus 43 mil soldados, juntamente com uma derrota local, sem desfecharem algumas das armas nucleares táticas sob o seu controlo. Não havia salvaguardas tecnológicas que impedissem as guarnições de disparar à ordem dos seus comandantes. Uma vez sofridas pelos invasores as suas próprias pesadas baixas através de uma explosão nuclear, mesmo pequena, é improvável que o povo americano tivesse permitido a Kennedy recusar-se a escalar o conflito.

Há pormenores contestados, quanto a episódios como o que terá envolvido um submarino russo Foxtrot a seiscentas milhas ao largo no Atlântico: o seu comandante, sem saber ao certo se a guerra à superfície tinha ou não começado, ameaçou alegadamente disparar o seu torpedo nuclear quando assediado por navios de guerra dos Estados Unidos. O certo é que ambos os lados tatearam através da crise à sombra de enormes mal-entendidos e que alguns oficiais subalternos dispunham de um controlo sobre o uso de armas de destruição em massa que podia ter desencadeado uma catástrofe não pretendida quer pelo Kremlin quer pela Casa Branca.

Quanto mais me dedico a escrever relatos históricos, mais me deixa arrepiado a névoa de ignorância em que os governos tomam grandes decisões. No século xxi, os Estados Unidos e a China compreendem-se mutuamente pouco melhor do que se compreendiam há seis décadas. Não é mais fácil à Casa Branca adivinhar as intenções do autocrata irritado e meio doido que é inquilino do Kremlin em 2022 do que era as do seu predecessor em 1962. Os governos de todas as três superpotências, para não falar de nações nucleares menores, assumem riscos que podem um dia revelar-se desastrosos para a humanidade, porque alguém calcula mal, se excede ou concede a subordinados a oportunidade de o fazer.

Há um ponto importante quanto a esta crise que é muitas vezes ignorado: foi predominantemente uma questão política, não estratégica. John Lewis Gaddis escreveu: «As armas nucleares […] tiveram um efeito notavelmente teatral no curso da Guerra Fria. Criaram um clima de presságio sombrio que trespassou o mundo enquanto os últimos anos de 1950 se tornavam os primeiros de 1960. Obrigaram os estadistas a tornarem-se atores: o êxito ou o fracasso dependia, ou assim parecia, não do que uma pessoa estava a fazer realmente, mas do que parecia estar a fazer.» Racionalmente, e vista em qualquer quadro temporal que não seja curtíssimo, a instalação de armas nucleares soviéticas em Cuba não tornava os americanos significativamente mais vulneráveis do que eram antes: de ambos os lados, os mísseis balísticos de lançamento por submarinos estavam a tornar-se realidades omnipresentes nos oceanos do mundo inteiro. A questão era, antes, de perceção: os Estados Unidos sentiram-se obrigados a reagir à intenção indiscutivelmente agressiva do gesto cubano dos soviéticos.

Se o conflito coreano de 1950-53 foi o mais sangrento choque no campo de batalha da Guerra Fria, a Crise dos Mísseis foi o seu episódio mais perigoso, abrangendo um extraordinário elenco de personagens em todos os lados – temos obviamente de incluir os cubanos a par dos americanos e dos russos.

(…)

Semanas antes de que Cuba explodisse, Kennedy enfrentou o motim asperamente divisivo da Universidade do Mississippi, organizado por racistas brancos que se opunham à admissão de um estudante negro. Fidel Castro, entretanto, tinha realizado a sua ambição de sempre de se tornar o revolucionário mais famoso do mundo, a despeito de chefiar um dos Estados mais pequenos. Alguns historiadores sustentam que as personalidades desempenham apenas um papel menor na determinação do curso da história, que é dominado ao invés por marés de acontecimentos e ideias. Depois de estudar a Crise dos Mísseis, é difícil defender uma tal tese como verdade universal. Três homens extraordinários – Castro, Khrushchev e Kennedy – dominaram as suas decisões e decidiram o seu resultado.

(…)

Durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill observou com sardónica complacência que a respetiva história o trataria com amabilidade porque ele próprio a ia escrever, como de facto fez. Isto é também parcialmente verdade de John F. Kennedy e da Crise dos Mísseis de Cuba. Foram feitas gravações das reuniões diárias, e às vezes quase de hora a hora, na Casa Branca, cuja transcrição constitui a principal fonte dos historiadores que analisam a conduta americana. Só dois participantes sabiam que as máquinas estavam a rodar – o presidente e o seu irmão mais novo. Não há razão para acreditar que isto tenha influenciado significativamente as suas palavras e atos, mas deve ter havido momentos em que o presidente, especialmente, se tenha lembrado de que estava a preservar para futuras gerações uma crónica do seu comportamento numa crise.

No verão de 1940, Churchill murmurou muitas vezes, na presença do seu pessoal, a frase de Andrew Marvell a respeito da execução do rei Carlos I em 1649: «Nada fez, ou significou, de banal naquela memorável cena.» Churchill, é claro, estava conscientemente determinado que a posteridade dissesse o mesmo dele. Pode bem ser que John F. Kennedy, um estudante aplicado de Churchill, pensasse uma coisa parecida em outubro de 1962. Outros, entretanto, sentiram-se traídos quando em 1973 foi revelada a gravação. Dean Rusk telefonou à Biblioteca Kennedy para protestar nos termos mais veementes por ter sido conservado um tal registo sem conhecimento de membros do governo como ele. Algumas testemunhas contemporâneas já afirmaram que existem disparidades entre o que Kennedy e outros disseram durante as reuniões do EXCOM e opiniões por eles manifestadas noutras ocasiões e lugares durante aqueles treze dias, mas não foram gravadas. Tais apartes não invalidam as gravações, que são muito mais credíveis do que as atas escritas das grandes conferências internacionais.

(…)

A causa duradoura da nossa gratidão pela Crise dos Mísseis é, claro, que ainda estejamos aqui para ler e escrever a seu respeito. Hoje, na esteira dos novos atos monstruosos de agressão por parte da Rússia, esta história possui uma atualidade profundamente deprimente. Mostra os perigos de que as grandes potências se aventuraram até à borda do abismo da qual, felizmente, recuaram em 1962. O mundo não pode estar certo de que tenhamos sempre a sorte de ver os líderes nacionais mostrarem uma sabedoria comparável."


Tuesday, October 04, 2022

ARTE NFT

Milionário fez festa para queimar desenho de Frida Kahlo em plena febre NFT 

 

O acto não foi original. Já foram queimadas "obras" para criar, a partir delas, NFT. De Picasso foi enefetizado Fumeur V, por exemplo. 

Corr. - Os museus, os NFT e as festas de piscina

De Banksy, 2006,  Morons.


É arte?

É, pelo menos, arte de fazer dinheiro.
 

AMANHÃ HÁ MAIS

Há 3 dias Líder checheno defende que Rússia deve recorrer a armas nucleares

Há dois dias - Ex-diretor da CIA: se Putin utilizar armas nucleares, EUA vão destruir todas as tropas russas e frota no Mar Negro  

Hoje -  “A Coreia do Norte parece ter lançado um míssil. Por favor, abriguem-se em edifícios ou subterrâneos.” A população do Norte do Japão acordou esta terça-feira ao som de sirenes e de mensagens de texto com estas palavras. As emissões televisivas foram interrompidas e os comboios suspensos. Este foi o primeiro míssil a sobrevoar o Japão em cinco anos, num acto descrito pelo primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, como “bárbaro” e “escandaloso”. Seguiram-se condenações e promessas de uma resposta “robusta” por parte do Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos, mas os analistas não esperam mais do que uma “resposta retórica”.


OS FILHOS DE PUTIN


 

UTOPIA MAIOR

Para alterar os comportamentos humanos no sentido de evitar os seus efeitos sobre as alterações climáticas e as dramáticas consequências dos desastres naturais que elas provocam, é necessário que milhares de milhões de pessoas estejam convencidas das consequências perversas de alguns dos seus hábitos, sobretudo sobre as gerações mais jovens e as gerações futuras. 

Para eliminar o stock de armas nucleares é suficiente convencer os líderes de cerca de uma dezena de nações.

O que é mais utópico: convencer milhares de milhões de seres humanos ou obrigar, através de manifestações massivas a nível global, umas poucas centenas de indivíduos colocados em posições com poderes para espoletar as armas que, inevitavelmente, provocarão o extermínio da espécie humana? 

Quem tem armas nucleares:


 

Sunday, October 02, 2022

TODA A DIFERENÇA

 ...

- Houve, e ainda há, movimentos importantes da juventude para tentarem modificar os comportamentos humanos e, com isso, salvar o planeta e a humanidade de uma catástrofe irreversível resultante das alterações climáticas. Têm conseguido alcançar os seus objectivos? Parece que não.

- Terão alcançada alguns ...

- Que, no entanto, a guerra movida pela Rússia à Ucrânia, e as suas intenções de alargar essa guerra a todo o ocidente "dissoluto", está a inverter grande parte, senão a totalidade, das medidas mais significativas para reduzirem a tendência crescente das catástrofes resultantes das alterações climáticas: as centrais a carvão voltaram a estar activas e a poluir, ....

- Concordo, mas há um aspecto fulcral que distingue, do ponto de vista das percepções individuais, as ameaças das alterações climáticas das ameaças de uma guerra nuclear. As alterações climáticas, ainda que significativas e radicalmente demolidoras em muitos casos, progridem, de modo relativamente imperceptível para a maior parte da humanidade. Muitos não acreditam na tese, aliás sustentada por alguns cientistas (ou dito cientistas) de que não é o comportamento humano que interfere nas alterações climáticas. Muitos outros ainda, perante as notícias e as imagens de desastres naturais, encolhem os ombros e pensam, não é comigo. 

- E continuam  os mesmos níveis de indiferença perante a hipótese de uma guerra nuclear.

- Também concordo. Mas essa indiferença só existe e subsiste enquanto não forem despertados pela medonha verdade. Há uma imensa diferença entre a percepção colectiva dos efeitos das consequências das alterações climáticas, apesar da sua dimensão, lentas e resultados localizados, e a falta de percepção das sociedades em geral, por ausência de informação daqueles que sabem, e têm todos os meios de divulgação da apocalíptica verdade: a de que os efeitos de uma guerra nuclear são instantâneos e dizimadores de todos os seres humanos. Se os indiferentes soubessem, que são quase a totalidade da humanidade, se lhes dissessem a verdade nua e crua, quais as consequências de uma guerra nuclear, imparável se o stock de bombas nucleares alguma vez começar a ser activado, não importa onde nem quem o possa activar, a atitude da juventude, sobretudo da juventude, seria radicalmente diferente. Toda a diferença está no facto da juventude não saber isso.

- E depois, se soubessem o que fariam, ou melhor, o que poderiam fazer?

- Seria uma revolução global pelo extermínio dos stocks nucleares. Se a juventude russa, por exemplo, estivesse consciente de que o uso de armas nucleares pelos seus governantes num cenário de guerra global provocaria, inevitavelmente, a sua própria destruição, manter-se-ia indiferente sentada num canto que o extermínio nuclear passasse e os deixasse ilesos?

Saturday, October 01, 2022

PARA QUE A HUMANIDADE NÃO SE AUTO DESTRUA

 ...

- Mata-se o Putin e fica resolvida a questão!

- Errado. Matar seja quem for não mata a ameaça da guerra nuclear e, consequentemente,  a auto destruição da humanidade. Para que a humanidade não se auto destrua por apocalipse nuclear só há uma via: a destruição total do stock nuclear.

- Hum! E como é que isso se consegue?

- Por consciencialização da juventude de que o seu futuro só existe se sobre a sua geração não impender a destruição total da espécie humana. Se a juventude, em qualquer parte do globo, estiver consciente da ameaça que representa a existência de um stock nuclear  capaz de eliminar todos os seres vivos, nem Putin nem nenhum outro com capacidade para carregar no botão e deflagrar um conflito nuclear, que será o primeiro e o último, será capaz de afirmar que pode usar as armas nucleares ao seu dispor e manter-se na posição que ocupa.

23andMe

- Eu sou cinquenta por cento arménio, a L.(a mulher dele) é cem por cento arménia. Sou cinquenta por cento arménio e cinquenta por cento judeu. A minha trisavó era judia.  E tu, és cem por cento português?
 
- Nasci em Portugal, sou português. Tanto quanto consigo recuar na minha genealogia, só encontro gente nascida neste país. A este pequeno território, a que hoje chamamos Portugal, chegaram as mais diversas gentes  das mais variadas origens ao longo dos milénios com registo histórico,  e daqui partiram no século quinze portugueses ao encontro das mais diversas e variegadas gentes em longínquos sítios do planeta. Não há, desculpa que te diga, meu amigo, nenhum povo no mundo com uma só raiz. Terei marca no ADN de raiz lusitana, grega, romana, visigótica, céltica, árabe, palestiniana, judia? Se enviasse cuspo para análise, o mais provável é que o resultado me garantisse que sou cem por cento português. E continuaria sem saber o que é isso; mas sei que, entre os portugueses, não há problemas de identidade nacional, mesmo depois do tremendo tombo com a  perda do Império no século dezasseis. Ainda assim, sobrou até há quase cinquenta anos pequena parte fora deste rectângulo que nos calhou em sorte, mas o ADN manteve-se. E o 23andme, não pode garantir-me o contrário. Não, não vou querer saber o que sei de fonte segura: sou, somos todos resultado de uma mistura.