Saturday, February 28, 2015

ENTRE A IMPOTÊNCIA E A FALTA DE VERGONHA

As gaffes*  do sr. António Costa na sua alocução aos chineses no primeiro dia do Ano Chinês  apareceram, depois de espraiadas nas redes  sociais e potenciadas nos media, como uma oferta inesperada ao sr. Passo Coelho, numa altura em que o esperançoso carisma do sr. António Costa não consegue melhores resultados nas sondagens do que o discurso morno do seu, por ele apeado, antecessor.  

Mas eis que hoje se soube, vd. aqui, que o sr. Passos Coelho "acumulou dívidas à Segurança Social durante cinco anos, e, questionado pelo PÚBLICO afirma que nunca foi notificado da dívida, criada entre 1999 e 2004, e que ela prescreveu em 2009, facto de que diz ter tomado conhecimento em 2012. Apesar disso adianta que pagou já este mês, voluntariamente, cerca de 4 mil euros".

Se isto é verdade, e se neste país existisse um mínimo de exigência cívica colectiva, o sr. Passos Coelho deveria demitir-se.

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*gaffe -
1. ação ou palavra impensada que provoca uma situação embaraçosa ou um equívoco; deslize
2. disparate, tolice
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(2/3) - Passos: Não tinha consciência dessa obrigação
"Primeiro-ministro insiste que não foi notificado pela Segurança Social por ter estado cinco anos sem pagar contribuições e que só por isso não pagou o que devia. E não vê razões para se demitir."
Marcelo: Como é que Passos pagou uma dívida que já não existe? 



Friday, February 27, 2015

PARA VERGONHA DA HUMANIDADE

O El País publicou ontem e hoje dois artigos - vd. aqui e aqui -, noticiando e comentando a  destruição de estátuas milenárias pelo ISIS. Até onde consentirá a cobardia colectiva das nações livres a continuidade destes actos sem qualificação possível porque qualquer uma será sempre exígua?


dá conta que, apesar de alguns constrangimentos na obtenção de fundos para suportar as suas actividades, nomeadamente a redução dos preços do petróleo, os jihadistas contam com o apoio ou a conivência de quadrantes geopolíticos situados em campos aparentemente contrários. Dito de outro modo, sustenta-se na cobardia ou na hipocrisia de quem assiste, e podendo e devendo intervir, consente. 

Os norte-americanos não parecem disponíveis, desta vez, para colocar as botas dos seus soldados naquele terreno . E os outros? Esperam que os norte-americanos mudem de ideias para, grande parte deles, voltar a criticar o "imperialismo ianque".

Thursday, February 26, 2015

HÁ UMA REDE

"Há uma rede que utiliza o aparelho de Estado e da Administração pública para concretizar actos ilícitos, muitos na área da corrupção". - vd. aqui.

Se há, onde está?
A pergunta que a jornalista não fez e deveria ter feito.  Agora, cada qual interpreta como lhe interessa ou lhe parece. 
Até que por obra e graça da violação de algum segredo de justiça a rede seja puxada, e a peixeirada apareça para regalo dos media e desabono da justiça.

Wednesday, February 25, 2015

O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO DE EMPRESAS

Durante o período de ajustamento pela austeridade já encerraram milhares de empresas, principalmente nos sectores da construção civil, da restauração e dos pequenos comércios em geral. Este é um dos argumentos recordados por quem critica as políticas de austeridade adoptadas e  invoca que havia, e tem de haver, políticas alternativas. São geralmente pró-gregos.
Respondem os pró-troicanos que sim senhor, encerraram muitas empresas que não tinham viabilidade mas, vejam as estatísticas, foram criadas no mesmo periodo empresas em número muito superior ao das que encerraram.

Onde e em que sectores nasceram tantas empresas não nos dizem mas é muito provável que na maior parte  se situem em áreas de outsourcing de serviços, nomeadamente em "call centers" e, algumas outras em resultado de desdobramentos de grupos em empresas que, sendo parte dos mesmos universos empresariais recrutam os seus trabalhadores segundo regimes laborais menos favoráveis do que os garantidos aos que têm vínculos de trabalho junto das empresas originais. Estas engenharias laborais (e não só) determinam  alguns dos efeitos perversos das leis do trabalho que protegem de modo desigual os instalados e os candidatos, tanto nas empresas como nos serviços públicos.


Ouço no noticiário da antena 1 desta manhã que a Deco Proteste está a denunciar práticas comerciais agressivas  da Goldenergy que ludibriam consumidores de gás e electricidade de outros comercializadores oferecendo-lhes condições e formalizando contratos sem que esses consumidores alvo de tais práticas sejam informados de que estão a mudar de comercializador. Diga-se de passagem que entre a Deco e a Goldenergy existe (ou existiu) um protocolo que concede (ou concedia) um desconto no termo fixo dos contratos da Goldenergy aos sócios da Deco. Acrescente-se ainda que muito pouca gente saberá como é que a Goldenergy, que não consta que produza gás ou electricidade, ou que transporte energias, concorra em preços com a EDP, a Galp e a Endesa. 

Ouvido pela antena 1 o responsável pelas relações públicas da Goldenergy, respondeu que vão averiguar o que se terá passado, mas estranha que em algumas das empresas que trabalham para a Goldenergy em acções de promoção e comercialização, pagas consoante os contratos angariados, estejam a ser utilizadas práticas que contrariam as acções de formação dadas pela Goldenergy.

É assim: A Goldenergy não produz gás, nem electricidade, e mesmo os seus serviços  de vendas são realizados em regime de outsourcing, pagos à peça. 
Quantas empresas estão criadas ao abrigo de regimes deste tipo? Muitas.

Tuesday, February 24, 2015

BIRDMAN




"Birdman" (Ou a Inesperada Virtude da Ignorância), vale mais pela sátira às actuais tendências do espectáculo cinematográfico made in Hollywood e menos pela sua trama nuclear, tecida em tons de humor negro dos dramas vividos nos bastidores de um teatro na Broadway.  
Melhor filme do ano?
A brigada da perspectiva ligeira considerou que sim.
Mas vale a pena ver, enquanto não sai das salas de cinema. Depois, só em DVD, daqui a uns meses.

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Monday, February 23, 2015

A CAIXA DE PANDORA

O Observador de sexta-feira passada recordava - vd. aqui - que "em março de 1985, Portugal e Espanha negociavam em Bruxelas a adesão à CEE, mas na altura contavam com um opositor de peso: a Grécia. Ibéricos entravam se os gregos recebessem mais fundos". 
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Esta recordatória não é inocente. Numa altura em que as relações entre gregos e o resto da UE atingem níveis de tensão que podem quebrar as amarras cada vez mais débeis e as declarações do governo português, quer do primeiro-ministro quer da ministra das Finanças, são destacadas nos media internacionais como não gratas ao governo grego, relembrar as exigências gregas em 1985 pode ser lida como um sintoma de revanchismo trinta anos depois.
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Mas admitamos, benevolamente, que não, admitamos que o colunista não quis ir mais além do que registar a efeméride. De qualquer modo podemos interrogar-nos se os governos de Portugal aceitaram incondicionalmente e assinaram de cruz as admissões dos 18 países membros posteriores às entradas de Portugal e Espanha.
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No mesmo dia em que o Observador, diário online liderado por José Manuel Fernandes, recordava a chantagem grega de 1985, Vasco Pulido Valente, - vd. aqui - sustentava-se na opinião de D. Pedro V, em 1860, para concluir que "Hoje a Grécia anda pior do que nós. Mas no fundo não somos muito diferentes. Metemos na cabeça, tanto uns como outros, que o mundo era responsável pelo noso conforto e prosperidade: uma triste ilusão que nos levou ciclicamente à pior das misérias. Uma ilusão que não se muda com demagogia ou com chantagem, por muito que que seja o nosso descaramento e fervor."  Registe-se que  VPV considera que, daqueles que escrevem sobre a Grécia, só Almeida Fernandes e José Manuel Fernandes se deram ao trabalho de estudar o que foi e o que é a Grécia.
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Em que ficamos? Se não somos iguais somos parecidos?
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Sobre a idiossincrasia grega, a análise concisa mais certeira que alguma vez li é a de  Samuel P. Huntington em The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order, de 1996. Transcrevi parte do texto aqui em Julho de 2011. Transcrevo agora o excerto completo.
 
"Greece is not part of Western civilization, but it was the home of Classical civilization which was an important source of Western civilization. In their opposition to the Turks, Greece historically have considered themselves spearcarriers of Christianity. Unlike Serbs, Romanians, ou Bulgarians, their history has been intimately entwined with that of the West. Yet Greece is also an anomaly, the Orthodox outsider in Western organizations. It has never been an easy member of either EU or NATO and has difficulty adapting itself to the principles and mores of both. From the mid-1960s to the mid-
1970s it was rulled by a military junta, and could not join the European Community until it shifted to democracy. Its leaders often seemed to go out of their way to deviate from Western norms and to antagonize Western governments. It was poorer than other Community and NATO members and often pursued economic policies that seemed to flout the standards prevailing in Brussels. Its behavior as president of the EU´s Council in 1994 exasperated other members, and Western European officials privately label its membership a mistake. 
  In the post-Cold War world, Greece´s policies have increasingly deviated from those of the West. Its blockade of Macedonia was strenuously opposed by Western governments and resulted in the European Comission seeking an injunction against Greece in the European Court of Justice. With respect to the conflits in former Yugoslavia, Greece separated itself from the policies pursued by the principal Western powers, actively supported the Serbs, and blatantly violated the U.N. sanctions levied against them. With the end of the Soviet Union and the communist threat, Greece has mutual interests with Russia in opposition to their common enemy, Turkey. It has permitted Russia to establish a significant presence in Greek Cyprus, and as a result of "their shared Eastern Orthodox religion", the Greek Cypriots have welcomed  Russians and Serbs in the island. In 1995 some two thousand Russian-owned business were operaing in Cyrprus; Russian and Serbo-Croatian newspapers were published there; and the Greek Cypriot government was purchasing major supplies of arms from Russia. Greece also explored with Russia the possibility of bringing oil from the Caucasus and Central Asia to the Mediterranean through a Bulgarian-Greek pipeline bypassing Turkey and other muslim countries.  Overall Greek foreign policies have assumed a heavily Orthodox orientation. Greece will undoubtedly remain a formal member of NATO and the European Union. As the process of cultural reconfiguration intensifies, however those memberships also undoubtedly will become more tenous, less meaningful, and more difficult for the parties involved. The Cold War antagonism of the Soviet Union is evolving into the post- Cold War ally of Russia."
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Pandora foi, segundo a mitologia grega, a primeira mulher, que, diferentemente de Eva do Antigo Testamento, nascida para acompanhar Adão, foi criada como vingança dos deuses sobre o homem. Pandora transportava uma caixa (ou talvez uma jarra) contendo tudo o que de mal não existia no mundo. Por curiosidade, um dia abriu a caixa, ainda tentou fechá-la, mas o mal nela contido tinha-se instalado no mundo.

Assim vão as coisas no clube.
Para uns, os gregos são uns refinadíssimos safados, para outros, são vítimas dos algozes do norte, em qualquer caso quanto mais depressa ficarem por sua conta e risco tanto melhor para todos.
A tentação de abrir a caixa é grande.
Já amanhã?
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Mitomaior
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Correl. - Governo viola meta da dívida e falha inversão da tendência
Grécia só entrega lista de reformas amanhã. Governo falha compromisso que tinha com o Eurogrupo
(24/2) - Bruxelas já recebeu a lista "suficientemente abrangente" com as reformas de Atenas
Brussels signs off Greek reform plan 
Eurogrupo aprova medidas apresentadas por Atenas 

Sunday, February 22, 2015

INDIGNIDADE

A notícia, que não chega a ser notícia porque o abjecto já foi relatado por outros media, vem no Die Welt de hoje - Kein Gnade für Athen - Sem piedade para Atenas -  invocando origem em fontes bem informadas - para confirmar que a ministra das finanças Maria Luís Albuquerque terá, durante a reunião do Eurogrupo, assumido uma posição de insólita intransigência relativamente às propostas apresentadas durante a reunião pelo ministro grego. 

Segundo este relato, o ministro Schäuble ter-se-ia contido durantes as discussões com  Yanis Varoufakis, não se destacando no grupo de vozes que se lhe opuseram. Destacou-se a ministra das Finanças de Portugal que terá pedido pessoalmente ao ministro Schäuble que se mantivesse firme nas exigências a Atenas.

"Doch der nüchterne Schäuble war nur so etwas wie das Sprachrohr einer Reihe von Regierungen, die wenig Verständnis hatten, dass sich Griechenland Reformen verweigert, die sie längst schulterten. Wie es aus informierten Kreisen heißt, hatte Portugals Finanzministerin Maria Luís Albuquerque Schäuble sogar persönlich gebeten, hart zu bleiben."

Saturday, February 21, 2015

DA ALEMANHA PARA O BRASIL

Notável.  ****
Heimat passou no Nimas há umas semanas atrás.
Mas em DVD continua a merecer ser visto.

Friday, February 20, 2015

MAS NO FIM PAGAM OS DO COSTUME

Os reguladores-supervisores do Banco de Portugal e da CMVM têm dado, e continuam a dar, uma prova pública de evidente descoordenação em matérias que exigiam, e exigem, para serem tratadas convenientemente, a maior cooperação nomeadamente na produção e troca de informações entre eles. Agora, descartam responsabilidades na emissão e venda de papel comercial da Rio Forte remetendo cada um deles ao outro as culpas pelo imbróglio.

Qualquer observador minimamente atento e interessado não pode deixar de recear que tanto nos serviços de supervisão do Banco de Portugal como nos da Comissão de Mercado de Valores a análise dos bancos e das empresas cotadas em bolsa deve processar-se segundo regras e procedimentos do tempo da maria caxuxa. De outro modo como se compreende que nem num lado nem noutro se tenha soltado um clique durante mais de dez anos perante aquela aplicação financeiramente absurda, a vários títulos, da PT ao GES? 

A emissão de papel comercial da Rioforte, entusiasticamente promovida pelos balcões do BES, foi permitida numa altura em que tanto o Banco de Portugal como a CMVM tinham informações suficientes para a desaprovar. O recíproco endosso de responsabilidades ente BP e CMVM significa isso mesmo: são ambos culpados. Mas decorre daqui que é devido o reembolso aos investidores dos valores investidos nas condições contratadas? É, mas é devido pelo emitente, a Rioforte.

A opinião da CMVM desta tarde de que o  Novo Banco deve compensar os investidores porque "criou expectativas" é semânticamente confusa e não se lhes vislumbra suporte legal possível. Quem se deve estar a regalar com estas cenas burlescas são aqueles que engenheiraram todas as manobras de uma enorme mascambilha de que a emissão de papel comercial foi apenas um dos últimos actos. É a estes que os ludibriados com o papel comercial da Rioforte devem exigir compensações.
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Deco pede indemnizações a ex-gestão do BES, Banco de Portugal, CMVM e Governo

Carlos Costa descarta responsablidades com papel comercial e remete para CMVM

CMVM contesta BdP e rejeita responsabilidades no papel comercial

CMVM diz que Novo Banco criou expectativas de reembolso do papel comercial e deve compensar

Thursday, February 19, 2015

A CONFISSÃO DE JUNCKER

Juncker sobre a troika: "Pecámos contra a dignidade" de Portugal e Grécia - aqui

É sempre arriscado fazer contas com o que dizem os políticos. Mme. Christine Lagarde disse e repetiu vezes várias que a política de austeridade estava a ser sobre administrada e os representantes do FMI na troica continuaram impávidos e decididos a apertar o parafuso na porca mesmo quando a porca, de modo muito evidente, já não dava mais aperto. E as declarações de ontem do sr. Jean-Claude Juncker são, no mínimo, espantosas se considerarmos as suas responsabilidades e anuências anteriores.  

Apesar de espantosas, as declarações de Juncker dificilmente deixarão de ter consequências porque, sendo ele presidente da Comissão Europeia, a partir de agora a sua posição tornar-se-á insustentável se não existir coerência entre o que ele afirmou ontem e o modo como se relacionará Bruxelas com Berlim a respeito do dossier grego. Entre a inflexível dureza, por vezes por demais arrogante, da posição de Schäuble, interpõe-se a partir de ontem a confissão de Juncker que ou o remete de volta para a sua casa ali ao lado ou obriga Schäuble a baixar a bitola para o governo poder saltar para um campo menos minado.

Juncker, por mais volta que se dêm às suas declarações de ontem, não podem senão considerar-se também um claro apoio a algumas das considerações e reivindicações do governo de Alexis Tsipras.  

Mas também pode continuar tudo na mesma?
Pois pode. Da capacidade de contorcionismo dos políticos é sempre possível esperar todos os enrolamentos. Mas para já haverá muita genta, pelo menos temporariamente, engasgada.
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Correl. - Marques Guedes diz que Juncker foi infeliz e dignidade de Portugal nunca foi beliscada 

Nuno de Magalhães diz que críticas de Juncker à troika coincidem com alertas do CDS 

Wednesday, February 18, 2015

CULPAS E DESCULPAS DOS GREGOS

Pedro Romano aponta aqui os dois argumentos a evitar na culpabilização dos gregos 


1 – O PIB per capita dos gregos é mais alto do que português.

 Anotei há algum tempo já no meu bloco de notas que os gregos não são hoje mais pobres que os portugueses se compararmos os PIB per capita em ppc dos respectivos países. E não são, se tivermos em conta os valores publicados pelas principais instituições internacionais.
É evidente que tendo o PIB observado na Grécia um tombo de cerca de 25% (cá terá sido de 6% em período idêntico) o recuo não se fez como os barcos na maré vazia: os mais pobres recuaram mais, por múltiplas razões que seria fastidioso repetir, alguns dos mais ricos provavelmente até se aproveitaram do tombo.
Mas se isto é verdade, também é verdade que os gregos (e não só) têm um trabalho a realizar: introduzir mecanismos fiscais que reduzam as desigualdades estatisticamente evidenciadas entre os mais afluentes e os mais desfavorecidos. Constitucionalmente, os armadores e a Igreja Ortodoxa, o maior proprietário grego, estão isentos de impostos.
Ora, a este propósito, o que a mim me surpreende é o coro de lamentações que por aí vai acerca da pobreza grega como se não existisse, e cada vez mais evidente, pobreza em Portugal. 

2 – A recessão grega foi enorme porque a Grécia não cumpriu o Memorando de Entendimento, ao contrário de Portugal e Irlanda.
Os gregos terão feito, segundo PR, até agora um ajustamento superior ao de qualquer outro país da zona euro.
Considero desde o começo das intervenções da troica, cá e lá, que era no mínimo absurdo que os programas, ditos de estabilização, obrigassem os que tinham sido empanturrados com crédito fácil a regurgitá-lo em três ou quatro anos. 

E daqui passo, de forma sucinta, a um terceiro ponto por minha conta:
Quem emprestou inicialmente os fundos? Os bancos.
Quem tinha conhecimento dos níveis de endividamento atingidos? Os bancos
Quem deveria ter analisado o risco dos empréstimos concedidos? Os bancos
Quem embolsou os rendimentos astronómicos dos contratos de empréstimos concedidos? Os banqueiros.

Estava tudo a dar certo, inclusivé do ponto de vista dos devedores, quando os banqueiros disseram, acabou o jogo, mandem entrar os políticos.
E os políticos entraram e começou a guerra entre os povos do norte e os povos do sul.
Foi nesta perversa passagem de responsabilidades dos banqueiros para os políticos que o sistema claudicou e não se vê como possa recompor-se.
Às discussões entre devedores e credores, públicos e privados, não deveriam ser chamados os políticos para castigo dos contribuintes. Quem deveria estar a negociar com o sr. Yanis Varoufakis não deveria ser o sr. Schäuble mas os banqueiros que, inicialmente, irresponsavelmente inundaram a Grécia, e não só. Perante vinte ou trinta banqueiros, o sr. Varoufakis ou alguém por ele, teria uma capacidade de negociação, legítima e reforçada, muito maior. Se os banqueiros soubessem que seria assim, nem a Grécia (e Portugal, e a Espanha, e etc.) estariam hoje metidos nos buracos em que se encontram.
Há uns anos atrás, o sr. Bern Bernanke afirmava numa entrevista da Time (que o considerou personalidade do ano) que o maior problema com que, no campo financeiro, os EUA se confrontavam era o “too big to fail”, o “moral hazard” que infecta todo o sistema.
Sem que ninguém, apesar da crise, queira e consiga vaciná-lo. Ou sequer falar mais nisso.

Monday, February 16, 2015

JOGO PERIGOSO


O Eurogrupo deu hoje ao governo grego quatro dias para que peça a extensão do actual plano  de resgate, que expira no fim deste mês.

Um ultimatum que não se vê como possa Tsipras aceitar sem ser apeado por manifestações daqueles que ainda esta semana passada lhe manifestaram o seu incondicional apoio. 

O desmoronamento da União Europeia pode ter começado hoje.


Sunday, February 15, 2015

MIRÓ POR 21 MILHÕES DE EUROS

 Women, Moon, Birds
Juan Miró
Vendido em Londres pela Christie´s no dia 4 deste mês por 15 538 500 libras, atingindo um valor record para um artista surrealista do pós-guerra
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Há um ano atrás a opinião pública continuava excitada pelas divergências no seio dos meios culturais e governamentais acerca da venda dos 85 mirós caídos por obra e graça do colapso de uma coisa  que em tempos se chamou BPN. Perguntado ao presidente do veículo incumbido do que resta dos salvados acerca do destino dos tais badalados mirós respondeu o incumbente - vd. aqui - que subsiste o interesse em realizar o leilão dos ditos em Londres, mas que "pendem dois recursos do Ministério Público,  e sem haver 'paz jurídica' não vale a pena marcar um novo leilão."

Parece razoável, até porque o mercado da arte parece andar em contraciclo com a crise. Só não se entende o que impede, encontrando-se os 85 mirós em Portugal, que os mesmos sejam temporariamente expostos ao público enquanto a decisão do tribunal não chega. Sempre se poderiam amortizar os custos, vd. aqui, do adiamento do leilão e os desgostos daqueles que não querem vê-los partir.

Saturday, February 14, 2015

PROPAGANDA AUTÁRQUICA

Um dia, era presidente da Câmara Municipal de Lisboa o sr. Pedro Santana Lopes, quando descia a  Joaquim António de Aguiar em direcção ao Marquês de Pombal, andava uma equipa a remendar uns buracos no asfalto no cruzamento com a Rua Castinho. Apesar de se tratar de um dos mais elementares trabalhos que competem às autarquias - reparar os pavimentos dentro da sua área de intervenção - a Câmara aproveitou a oportunidade para propagandear os méritos da sua gestão e mandou colocar no local um cartaz em que se lia, mais ou menos, isto: "Repare que estamos a trabalhar para lhe garantir uma vida melhor".

Aquela mensagem, que não é um caso extremo do ridículo demagógico da propaganda com que muitos autarcas caçam votos, é apenas um exemplo do uso e abuso dos dinheiros públicos de  despesas camarárias em propaganda pessoal daqueles que os cidadãos elegem para administrar os interesses locais comuns.

A Câmara de Cascais, por exemplo, desdobra-se em esforços de chá e simpatia para vender a ilusão de uma democracia directa dispendendo fundos que, espremidos os resultados, não deitam sumo que se veja, para além dos ganhos daqueles que ganham os contratos de publicidade e propaganda, e que se receia sejam sempre os mesmos. A mais recente acção de promoção pessoal do sr. presidente da edilidade e da sua equipa suporta-se na demolição de uma estrutura inacabada e na construção, no mesmo local, de um edifício menos volumoso e dedicado ao que os municipes, segundo a propaganda, quiserem ver naquele sítio. Garante a sabedoria popular que um camelo é um cavalo desenhado por uma comissão mas tem de admitir-se que possa sair desta iniciativa da edilidade cascalense uma saída de se lhe tirar o chapéu.



Nada justifica, no entanto, a não ser a propaganda pessoal dos autarcas, os dispêndios com a divulgação de uma iniciativa que não encobre, porque evidencia junto de quem não emprenha pelos olhos ou pelos ouvidos, o facto de existirem no centro de Cascais, dezenas de edifícios degradados e abandonados há décadas sem que alguém, alguma vez, tenha dado conta aos munícipes das razões pelas quais aqueles fantasmas estão e, parece que fatalmente, continuarão ali.


Correl. - Cascais também é isto
Cascais 

Friday, February 13, 2015

AS REGRAS DO JOGO

O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras terá reafirmado na reunião de líderes da União Europeia que o seu objectivo é encontrar uma alternativa para as políticas de austeridade “que estão a matar a economia”. Em comentário a estas declarações a chanceler alemã reafirmou, por seu lado, que regras são regras e que "não há alternativa ao cumprimento das regras previamente estabelecidas".

Estarão as negociações irremediavelmente comprometidas pelo inabalável dogmatismo das regras estabelecidas?  A Grécia é membro da União Europeia e da Zona Euro com perfeito conhecimento das regras do clube e dos contratos que os governos gregos anteriores subscreveram. Logo, indiscutivelmente, o governo do sr. Alexis Tsipras não pode renegar as regras do clube ou desrespeitar os contratos subscritos pelos seus antecessores enquanto o seu país for membro de pleno direito da União de que o seu país é parte.

Mas, por outro lado, ao sr. Alexis Tsipras, enquanto primeiro-ministro da Grécia, não pode ser negado, ou sequer desvalorizado, o direito de propor o que entender em matéria de alterações das regras ou das condições subscritas anteriormente. Deste modo, o comentário da srª. Merkel pode ter um forte alcance psicológico junto daqueles que lhe admiram a fibra e lhe apaudem incondicionalmente a tenacidade nos lances, mas é políticamente inconsistente porque o respeito pelas regras não inibe os que as estabelecem do poder de as alterarem. Se a chanceler alemã não tem argumentos mais consistentes para rechaçar todas e quaisquer propostas dos dirigentes gregos que visem alterar as regras actuais, o sr. Alexis Tsipras ganhou aquele dia. E, dificilmente, não ganhará outros. Se a Grécia é uma incomodidade para a srª. Merkel dentro da União Europeia, fora dela as incomodidades provocadas pela saída não serão (ou seriam) menores. Obviamente, a srª. Merkel sabe que é assim.

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Thursday, February 12, 2015

O VARREDOR DA CAIXA

O sr. José de Matos, anunciou ontem os resultados obtidos pela Caixa Geral de Depósitos em 2014: A Caixa só perdeu 348 milhões de euros. O que eleva para mais de 1800 milhões de euros o montante total das perdas da Caixa durante os últimos quatro anos, precisamente o período durante o qual o sr. José de Matos assumiu as responsabilidades executivas máximas do banco do Estado. Na oportunidade, o presidente da Caixa atribuiu as responsabilidades pelas perdas a erros de análises de riscos no passado, erros esses que impuseram ainda em 2014 o reconhecimento de imparidades superiores a 1000 milhões de euros, uma parte das quais, mas ele não concretizou em que medida, se reportam a créditos concedidos ao GES. Num contexto generalizadamente perdedor (dos maiores bancos, só o Santandertotta registou lucros, o BES caiu e do Novo Banco ainda não se conhecem os a quanto se elevarão as perdas) a Caixa obteve, ainda assim, o record dos prejuízos. 

Tendo, em 2012, sido foi recapitalizada em 1 650 milhões de euros - vd. comentário em A Caixarrota -, as perdas acumuladas no quadriénio já ultrapassam os montantes da recapitalização. A alienação de alguns activos de entre os quais se destaca a venda de 80% do grupo segurador "Fidelidade" repôs uma pequena parte do desequilíbrio provocado pelos resultados negativos acumulados. Quando questionado se a Caixa necessita de um novo aumento de capital, o sr. José de Matos declarou evasivamente que não, espera que em 2015 a Caixa volte aos lucros. 

A mesma esperança anunciada pelos outros presidentes perdedores, porque todos alegam que as perdas registadas resultam de estratégias embaladas no passado, num passado em que eles desenhavam vacas gordas em exercícios de desenhos à vista de vacas nitidamente magras. Vale isto por dizer que quando o sr. José de Matos e os outros remetem para o passado as culpas dos resultados actuais, reconhecem que foram os banqueiros  de então os promotores da crise que colocou o sistema financeiro, com todas as consequências daí decorrentes, no estado de patas para o ar em que se encontra.

Com uma notável circunstância agravante para a Caixa: Apesar de desfrutar ainda, por razões históricas, de inagáveis vantagens na obtenção das melhores condições de obtenção de liquidez e de ter absorvido o maior quinhão dos fundos de recapitalização, por ter a irresponsabilidade dos seus administradores promovido ou consentido estratégias de crédito conivente ou absurdo, o sr. José de Matos, apesar do muito lixo que já varreu continua a ter ainda muito por varrer. 

Ali ao lado, o antecessor do sr. José de Matos na presidência da Caixa, sorri-se confortavelmente promovido como presidente da associação dos bancos portugueses porque o culpado de tudo foi o porteiro que o deixou ou o mandou entrar. 

Wednesday, February 11, 2015

ARTES DE ROUBAR ARTE

A notícia vem publicada aqui e aqui: Foi apreendido e confiscado ontem  a um banco privado suíço de Lugano um retrato de Isabel de Este, duquesa de Mântua, atribuído a Leonardo da Vinci, que é uma réplica quase exacta de um desenho conservado no Louvre. A obra, que há séculos se encontrava desaparecida, iria ser transaccionada por 120 milhões de euros, presumindo a polícia que esteja envolvida na transacção uma poderosa rede de exportação de obras de arte furtadas.
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Também no El País é hoje notícia - vd. aqui -  o início do julgamento do electricista de Picasso durante os seus últimos três anos de vida do artista, acusado de lhe ter furtado 280 obras. Em Novembro de 2010 anotei aqui a notícia da descoberta de tantos  "Picassos" no sótão da casa do electricista. A história contada hoje é sensivelmente diferente e melhor conhecida, continuando o agora réu a argumentar que os quadros lhe foram oferecidos pela última mulher de Picasso, para quem continuou a trabalhar, durante mais treze anos, até ao suicídio desta.
E por que não? É inverosímil mas é possível.

Acresce que também o motorista, que terá recomendado o electricista a Picasso, foi acusado de ter roubado quase 200 quadros, não tendo o processo judicial conta ele e a mulher prosseguido por ambos terem, entretanto, falecido. Não consta que tenha o motorista invocado também em sua defesa a benemerência da viúva suicida,  mas não é impossível que a prodigalidade de Jacqueline Roque, que Picasso terá retratado mais de 400 vezes, não tenha beneficiado também o motorista.

Tuesday, February 10, 2015

O CAPITALISMO, HOJE

O Economist desta semana publica um artigo - Capitalism’s unlikely heroes - Why activist investors are good for the public company - que é uma apologia aos méritos das intervenções dos hedge funds, que o colunista qualifica como investidores activistas, nas empresas cotadas em bolsa. 
A abordagem é focalizada nas empresas norte-americanas mas não deixa de reflectir as manobras que na Europa e na Ásia transferem enormes volumes de riqueza para os CEO´s  que, frequentemente, não têm, bem pelo contrário, correspondência nos resultados atingidos pela sua gestão. E porquê? Porque os managers de topo são suportados por accionistas coniventes ou naturalmente complacentes. É da conjugação perversa entre a conivência e abstenção que germinaram nos  últimos 15 anos fiascos como a Enron e a Lehman Brothers. 

Analisadas as diferentes hipóteses de intervenção accionista que possam apear, com vantagem da empresa e dos accionistas, os gestores ineficientes e, ou, oportunistas, o articulista conclui que são os investidores activistas aqueles que obtêm melhores resultados com menos meios financeiros envolvidos.

Leio este artigo e é inevitável recordar o caso PT, tão recente e já tão esquecido. A PT é apenas um dos casos que nos últimos tempos mostraram ao mundo a bandalheira (não encontro adjectivo mais adequado, posto que convenientemente incisivo) em que mergulhou grande parte da nata do capitalismo português. E não aconteceu nada. 

Porquê?
Porque por cá as águas são turvas demais e a profundidade é baixa.
O único investidor (no caso, investidora) que se propôs entrar nas águas turvas em que se movia, e move, a administração da PT SGPS, foi rechaçado pelo argumento de que a sua oferta se encontrava
abaixo do previsto na lei. As cotações da PT SGPS encontram-se hoje a cerca de metade da tal oferta curta. E ninguém é obrigado a responder por isto. Entre a conivência e abstenção continuam a mover-se impunemente as sumidades galardoadas.



c/p de aqui

Monday, February 09, 2015

HOJE HÁ PERCEBES*

O sr. Passos Coelho rejeita publicamente qualquer renegociação com a Grécia porque uma posição complacente colocá-lo-ia em dificuldades perante o eleitorado que ele necessita em Setembro/Outubro que lhe dê a maioria absoluta com que ainda (ou cada vez mais) sonha.
Apostou, mais por convicção que falta de outra alternativa, num propósito, e qualquer mensagem que sugerisse sequer uma inflexão nesse propósito seria aproveitado partidariamente pelos seus adversários políticos, internos e externos. Está refém de uma estratégia que falhou em grande medida mas que nem Merkel & Companhia do Norte nem ele querem, por diferentes razões, reconhecer.

Intimamente, as coisas passam-se modo diferente. Imagine-se que Merkel & Companhia do Norte acabam por conceder ao Syriza o benefício da dúvida e que, decorrente de recuos de parte a parte, a Grécia obtem parte daquilo que pretende: p.e., o pagamento da dívida em função do crescimento do PIB. Persistirá o sr. Passos Coelho na sua cruzada contra os relapsos gregos ou ficará satisfeito por nos poderem tocar por tabela algumas vantagens das eventualmente concedidas à Grécia? A resposta parece óbvia, não?

Esta, aliás, tem sido a praxis politica do sr. Passos Coelho desde a sua tomada de posse: exibir uma atitude de sobre cumprimento dos objectivos do MoU, uma exibição sempre coniventemente aplaudida pela srª Merkel e pelo sr. Schäuble, e aproveitar o que pode das vantagens consequentes da rebeldia grega. Hipocrisia ou oportunismo, chamem-lhe o que quiserem, mas não me parece que possa haver outra leitura à  superfície da obediência a uma estratégia, que falhou em grande medida, na Grécia, em Portugal, na Europa, e a que, aparentemente, o sr. Passos Coelho se continua a agarrar como os percebes à rocha.

Resumindo: O sr. Passos Coelho não vai mudar de estratégia. Espera apenas que a estratégia venha ter com ele.
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* Colocado aqui

SONO DE INVERNO

Sono de Inverno
Muito Bom. ****

Sunday, February 08, 2015

FLATULÊNCIAS DE UM CABOTINO

A surpreendente entrada do Syriza na ribalta política europeia, e até mundial, está a provocar as mais desencontradas, e frequentemente extremadas, reacções. Se para uns Alexis &Yanis são uma diabólica parelha vermelha que não se aguentará na corda bamba mais que dois meses ou três, para outros o Syriza é a lufada de ar fresco que, para salvação da UE penetrou na claustrofóbica câmara em que, até agora, se moviam os eurozónicos. Se para uns a democracia em Atenas não vale menos que a democracia em Berlim, a inversa é logo argumentada pelos outros. Contudo, nenhum dos políticos no activo ou na reserva, ou comentadores remunerados, ou pro bono, vulgo bloggers, tinha atingido o cúmulo de aversão ao Syriza a que o sr. Vasco Valente Correia Guedes desceu num artigo que o Público colocou ontem aqui.

Transcrevo:

"Os fanáticos vêem o mundo por uma fresta e ganham pela demagogia e pela intimidação. Na história política contemporânea, há centenas de casos parecidos. Dos maiores, como Hitler, aos mais pequenos, como o PRD de Eanes. Hitler declarou guerra ao Império Britânico, à URSS e à América: toda a gente percebeu que o desastre era inevitável, mas só ao fim de 55 milhões de mortos, com os russos a 100 metros da porta, ele percebeu. Eanes imaginou que se criava um partido com meia dúzia de militares e dúzia e meia de tresmalhados ou desiludidos, sem uma tradição e uma função social evidente e durável, mas bastou Mário Soares dissolver a Assembleia para se ver o vácuo daquela traquitana. O Syriza esperneia e faz barulho, mas passará depressa."

Que o sr. Vasco Valente Correia Guedes junte no mesmo saco Hitler e o Syriza é uma pesporrência a que nenhum grego dará a mínima atenção; mas o envolvimento do General Ramalho Eanes é uma infâmia que só pode merecer a indiferença de qualquer português minimamente informado se considerar que tamanha bacorada deve ter germinado na cabeça daquele senhor em algum momento de delirium tremens.

YANIS E A SEXIDADE

“O ministro das finanças grego é sexy, porra!”
Isabel Moreira, deputada do PS - vd. aqui

Citada no Financial Times, aqui: "Like that Bruce Willis character, Mr Varoufakis even arrived at his first cabinet meeting on a 1300cc Yamaha and is not short of female admirers. “Damn, the Greek finance minister is sexy,” Isabel Moreira, a Portuguese socialist member of parliament, wrote on her Facebook page"


Saturday, February 07, 2015

OS GERMANOS AMERICANOS

A presença de descendentes de alemães é muito saliente no sul do Brasil, na Argentina, no Chile. Nos EUA, a impressão que nos fica das histórias contadas no cinema, na televisão, mas também da vivência nas ruas das principais cidades, ou dos nomes mais sonantes na política ou nos negócios, não é a preponderância germânica como maior grupo étnico entre os mais de 300 milhões que compõem o melting pot norte-americano. Mas, realmente, é. Segundo um artigo publicado ontem - vd. aqui - no Economist, não menos que 46 milhões são descendentes de alemães.

"Discretos, é pouco visível a sua presença. Toda a gente sabe que Michael Dukakis é grego-americano, que o clan Kennedy é oriundo da Irlanda, que Mario Cuomo era ítalo-americano. Poucos saberão que John Boehner, o speaker da Câmara dos Representantes ou Rand Paul, o senador do Kentuky ex-candidato e sempre candidato à presidência do país, têm origens alemãs. A mediana do seu rendimento situa-se 18% acima do valor nacional, é mais provável que possuam um grau universitário e menos provável que estejam desempregados. Foram os seus antepassados que levaram para os EUA alguns dos mais representativos símbolos e sabores da cultura popular da terra  que os acolheu,  as árvores de Natal, os coelhos da Páscoa, pretzels, hot dogs, sauerkraut–and coffee."


Friday, February 06, 2015

A RODA DA FORTUNA

A notícia vem publicada aqui e dá conta que  o sensual "Nafea Faa Ipoipo" (Quando é que casamos?)  de  Paul Gauguin, pintado em 1892, terá sido vendido  por um coleccionador suíço a um cidadão do Qatar por cerca de 300 milhões de dólares, provavelmente o valor mais elevado até hoje pago por uma obra de arte.


A roda da fortuna roda até da Suíça para o Qatar.
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Reparo - 300 milhões de de dólares, aproximadamente 264 milhões de euros, é sensivelmente equivalente ao preço total do medicamento para tratamento de 11000 doentes com hepatite C, que tanta polémica provocou esta semana em Portugal. Um só indivíduo possui fortuna suficiente para investir num só quadro um valor equivalente ao que coloca o SNS em dificuldades para obter cabimento orçamental em Portugal.

Thursday, February 05, 2015

DANÇA COM DRAGHI

Venho a chegar a casa e ouço na Antena 1 que milhares de gregos se manifestaram esta tarde em Atenas contra a decisão do BCE de hoje, que muitos consideram uma chantagem, de recusar aos bancos gregos a aceitação como colaterais de empréstimos os títulos da dívida pública grega e, deste modo, provocar o asfixiamento do sistema financeiro grego. No Parlamento, Tsipras afirmava que  "a Grécia não pode ser chantageada".
Mas não é, ou ainda não é, este o caso. 

Porque os bancos gregos podem continuar a financiar-se junto do banco central grego e, hoje mesmo, o BCE deu luz verde a financiamento de 60 mil milhões aos bancos gregos. A curto prazo, observou o sr. Schäuble para que toda a gente perceba que ele também tem voto na matéria. Ora, das duas decisões do BCE, só a segunda é substantiva porque a primeira não ditou nada de novo e não se aplica apenas à Grécia. Só atinge a Grécia porque só a Grécia, neste momento, é atingida pelas regras do BCE em consequência do rating da sua dívida pública.   Funcionou com recordatória para quem, eventualmente, estivesse esquecido.  

A missão de Draghi é extremamente difícil porque não lhe basta ser um técnico de craveira excepcional, tem de ser também um político suficientemente hábil para demarcar o terreno em  que governa e antecipar-se às tentativas de intromissão nas suas competências e nos seus objectivos num tempo de enorme perturbação da UE, e, em particular, da Zona Euro.  

Aqui pergunta-se, e recomenda-se: Draghi está seguro dos resultados da sua intervenção? De modo algum - ninguém nesta confusão sabe o que vai acontecer. Mas não entrem em pânico - para já.

Wednesday, February 04, 2015

DE MÃOS DADAS


Estimado António,

Posso também ter, e tenho, as minhas dúvidas acerca do rato que vai sair da montanha, mas não podemos deixar de reconhecer que negociações são feitas de avanços e recuos.

Desagrada-me muito a ideia de ter de pagar para os gregos. Aliás, se as estatísticas da ONU (PNUD), do FMI e da CIA, entre outras, estão correctas,o rendimento médio per capita grego, em termos de paridade de poder de compra, é agora equivalente ao português, apesar do trambolhão que eles deram (-25%) ter sido muito superior ao que demos nós (-6%).

Parece-me, no entanto, que não devem subestimar-se as propostas que colocaram em cima da mesa: pagam a dívida consoante lhes permitir o crescimento económico. Pode ser de outro modo?
Alguém alguma vez pagou a outrem se não tiver com quê?*

E, repara aqui como já andam de mãos dadas.
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* Excluindo propostas ultrajantes como as de dois deputados alemães, um liberal, outro democrata-cristão, que em Março de 2010 - vd. aqui - defenderam que a Grécia deveria vender as ilhas para reduzir o défice orçamental.
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Em 1953, a delegação alemã assina o acordo que lhe perdoaria parte da dívida e lhe atribuiria juros favoráveis para pagar o restante. Hoje, a Alemanha é a principal credora de países como a Grécia ou Portugal e é contrária a um perdão dessa dívida - c/p aqui
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Correl .
- Yanis Varoufakis : Confessions of an Erratic Marxist /// 14th May 2013

Refém de Atenas

Tuesday, February 03, 2015

A TEORIA DE TUDO


Emocionante, ainda que sensivelmente divergente em alguns detalhes da versão contada em Travelling to Infinity: My Life with Stephen de Jane Wilde Hawking (vd. aqui), detalhes que não distorcem a trama nuclear do filme.
Provavelmente o melhor filme de 2014.
Oito nomeações aos Óscares de 2015, incluindo melhor filme, melhor actor principal e melhor actriz principal.
A não perder. ****

Monday, February 02, 2015

MUDANDO DE ASSUNTO


A notícia vem publicada, vd. aqui, no Economist de hoje: Peritos da Universidade de Cambridge e do Fitzwilliam Museum, também em Cambridge, identificaram Miguel Ângelo como autor de duas esculturas de bronze, representando dois homens nus, bem musculados, um jovem, outro velho, ambos montados sobre panteras. O que torna esta descoberta uma notícia entusiasmante para o mundo da arte é o facto de, sendo Miguel Ângelo o mais  conhecido escultor em mármore de todos os tempos, não serem conhecidas obras suas em bronze, ainda que se soubesse que também tinha tabalhado nesse material. Se a atribuição for confirmada por académicos de todo o mundo, estas esculturas com  metro e meio de altura, realizadas há 500 anos serão a mais espectacular descoberta renascentista depois de "Salvator Mundi" de Leonardo da Vinci, representando Cristo  abençoando com uma mão e segurando um globo transparente com a outra, redescoberta e restaurada em 2011. Comentado aqui.

Sunday, February 01, 2015

VERDADE OU CONTO DE OGRES?

No fim de Abril de 2011, segundo o Expresso o programa imposto pela troika iria reestruturar Portugal de alto a baixo.*


Ao começo da tarde de 2 de Maio do ano passado o Governo revelava os resultados da última a avaliação da troica. Paulo Portas, tendo a ministra a seu lado, disse, vd. aqui, que "a avaliação foi bem superada e que a sua conclusão significa que o programa está no bom caminho para o seu termo". Aliás, todas as avaliações anteriores, segundo as notícias vindas a público, tinham sido positivas, os níveis de cumprimento dos compromissos assumidos tinham sido sempre satisfatoriamente atingidos. Sabíamos que não era assim. Os objectivos do programa, vd. aqui, não estavam a ser atingidos mas nem o governo nem a troica quiseram, por razões tácticas, reconhecer o incumprimento parcial.

Hoje, noticia-se aqui que "A missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal fez uma avaliação muito severa do programa de ajustamento português, mas a Comissão Europeia, que divulgou a sua versão no final de dezembro, também não se fica atrás e dá nota de 36% no exame das reformas estruturais. O governo, através do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, argumentou na sexta-feira que as conclusões do FMI refletem "uma realidade que já não existe".
Em todo o caso, uma análise da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), divulgada anteontem à noite, mostra que a Comissão Europeia também deu uma nota negativa à concretização do pacote de reformas estruturais na economia: apenas 36% das medidas combinadas (cinco em 14) foram "observadas". Chumbou três e carimbou seis com "progresso limitado". A avaliação europeia é de final de dezembro."

Estão a brincar connosco?
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* Curiosamente, na mesma edição do Expresso lia-se que Eduardo Catroga afirmara "O governo de José Sócrates devia ir a Tribunal. O fartar vilanagem foi uma tragédia nacional", na sequência de troca de acusações com Silva Pereira.- vd. aqui