Saturday, November 30, 2013

ONDE É QUE AFINAL ESTÁ O BURACO?

"Apesar da actual conjuntura adversa, influenciada, em particular, pela retração da actividade económica, com particular incidência nas contribuições sociais, assim como o aumento com prestações de desemprego, a situação orçamental do Sistema de Segurança Social mantém-se positiva" - Relatório do Orçamento do Estado para 2014
 
"Estudo entregue esta sexta-feira pelo Governo aos deputados indica que, com o aumento da idade da reforma, o défice do sistema previdencial é adiado de 2015 para 2020" - aqui
 
"Caixa Geral de Aposentações com buraco de 4,3 mil milhões" - aqui
 
É certo que o saldo positivo do Sistema Geral de Segurança Social refletiu desde 2011 os cortes decretados pelo Governo, e é influenciado por transferências feitas do OE. Contudo, do lado das despesas são contabilizados diversos apoios sociais que deveriam ser suportados por toda a comunidade e não apenas por aqueles que são contribuintes do sistema*. Destaca-se, quanto a este último item, certamente o mais importante em valor total, o pagamento de pensões a não contributivos do sistema.
 
Assim sendo, por que bulas se continua a afirmar que o sistema previdencial é insustentável se há défice ele decorre da insuficiência dos contributos de todos, através de impostos, e não das contribuições pagas pelas empresas e trabalhadores ao seu serviço?  
 
Alguém me sabe explicar?
 
---
* Já coloquei alguns apontamentos acerca deste tema em particular. Voltarei a ele.
Desde já acrescente-se que existe uma flagrante iniquidade tributária entre as empresas privadas e os seus trabalhadores e todos quantos com actividades não sujeitas, ou não sujeitas em medida proporcional aos rendimentos obtidos, medindo-se essa iniquidade em mais de um terço do valor bruto das folhas de salários.

Friday, November 29, 2013

AS DÍVIDAS DOS FUTEBOIS

Os banqueiros importaram crédito sem olhar a meios nem a fins durante anos a fio, e, com essa irresponsabilidade à solta, porque o Banco de Portugal perdeu a trela, colocaram o país na situação em que se encontra. São os únicos culpados? Não são. Mas são os mais culpados porque só eles sabiam a que níveis a inundação por eles provocada já tinha chegado.
 
Todos os dias há notícias desse descalabro, um pouco por toda a parte. Que não aconteceu só em Portugal mas que teve em Portugal efeitos mais desastrosos que na Irlanda, por exemplo, porque afogou uma economia que boiava em prosperidade aparente e nadava pouco.
 
Na terça-feira passada o Público publicava um detalhado artigo acerca das dívidas dos maiores clubes de futebol, nada menos que 660 milhões de euros, cabendo ao Benfica e ao Sporting 80% deste valor.
 
Considerando que em poucos anos o número de clubes de futebol profissional cresceu como cogumelos, quantos milhares de milhões estarão envolvidos em negócios da bola que, tudo leva a crer, se transformarão em dívidas incobráveis um destes dias, contribuindo para tornar ainda mais periclitante um sistema bancário ameaçado por um crescente número de falências e insolvências porque a crise não poupa os mais debilitados?
 
Há futebol a mais em Portugal ainda que aos ouvidos dos atletas de sofá ou de bancada uma afirmação destas soe a disparate gordo. E não se observa nesta área de negócios qualquer medida de austeridade ou contenção de investimentos em atletas importados. Dir-me-ão alguns, mas é esse o negócio, importar e reexportar com lucro. Pelos vistos, não é. Dos quatro analisados, só um, o FCP reduziu a dívida.
 
Mas para alguém será, certamente. No fim de contas, algumas, um dia destes, serão apresentadas aos contribuintes por mais que essa hipótese possa parecer por enquanto inverosímil.

Wednesday, November 27, 2013

A CULPA DA LUPA

 
Indignam-se ou rebolam-se de gozo os cidadãos, conforme as circunstâncias, com a incapacidade dos agentes da justiça para julgarem as grandes golpadas. O BPN, acrónimo mal disfarçado durante muito tempo de Bando Português de Negociatas, é apenas o exemplar mais flagrante e retumbante daquela, venha o diabo e escolha, incompetência, complacência ou conivência implícita. Mas se o rol de escândalos publicamente conhecidos é longo, o número de condenados é uma lista quase vazia.
 
Já em matéria de repressão de roubos de um punhado de euros a eficiência dos agentes da justiça em Portugal pede meças às mais admiradas polícias do mundo. Ontem foi notícia o julgamento, por um colectivo de três juízes, de um jovem de 16 anos, por alegadamente ter forçado um distribuidor de pizzas a entregar-lhe a encomenda sem pagar a conta de 31,50 euros. Hoje, - vd. aqui - o Ministério Público pediu a condenação do jovem, que negou a acusação e denunciou a forma canhestra como foi identificado pelo distribuidor, ajuntando o eficiente procurador que "vivemos num país civilizado e este tipo de brincadeiras não se pode aceitar".
 
Para explicar esta muito notória disparidade de sucessos da justiça portuguesa na não aceitação de pequenas brincadeiras, para utilizar a terminologia do diligente procurador, e consentir o regabofe das
grandessíssimas, têm sido avançadas várias hipóteses mas nenhuma suficientemente concludente sem ferir os brios ou a honestidade dos agentes da justiça.
 
A mim, ocorre-me uma, que presumo inédita e satisfatória: constrangidos por razões orçamentais a recorrer à velha lupa, a justiça vê o que pode ver com ela. Só coisas pequenas, e quanto mais pequenas maior a satisfação íntima de ter descoberto um rato.  
 
 

Tuesday, November 26, 2013

O JOGO DA CABRA CEGA

Uma reinação pegada.
 
Um estudante de 16 anos - vd. aqui - vai responder perante um coletivo de juízes das Varas Criminais de Lisboa, por, alegadamente, ter roubado duas pizzas médias, uma pizza infantil,  gelados, gelatinas e asas de frango, quando o distribuidor lhe foi entregar a encomenda realizada online, no valor de 31.50 euros. O arguido não tem antecedentes criminais, não houve recurso à violência nem o uso de nenhum tipo de arma. Serão necessários, pelo menos, três juízes, um procurador, um advogado e um oficial de justiça. Demonstrando enorme clarividência, o MP do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa (DIAP) sustenta que os dois suspeitos tinham o "propósito de se apoderarem da comida encomendada, sem pagar".
 
Pode razoavelmente calcular-se que o roubo se destinou ao almoço de pelo menos quatro compinchas, três comeram as pizzas, e um quarto as asas de frango por não gostar de pizza.
Traduzido o golpe do BPN, ainda totalmente impune cinco anos depois da sua revelação, em refeições equivalentes, veremos 700 milhões de tesos esfomeados à volta de uma mesa descomunal de pizzas, asas de frango, gelados e gelatinas.
E um milhão e quatrocentos mil anos de prisão à espera deles.

Monday, November 25, 2013

UM PLANO POR INVENTAR

Afirma o Governo que não há plano B que possa ser sucedâneo da lei que aprova a convergência do regime de protecção social da função pública com o regime geral da segurança social, que  determina o corte de 10% das pensões acima de 600 euros, se o Tribunal Constitucional julgar pela sua inconstitucionalidade. O Ministro da Economia afastou hoje a alternativa do aumento de impostos.
 
Contas explicadas aqui, o efeito líquido da redução das pensões seria de 388 milhões de euros, a que se juntariam 205 milhões por ajuste da idade de acesso às pensões, 100 milhões da "condição de recursos" nas pensões de sobrevivência, 190 milhões de outas medidas sectoriais, e 132 milhões de alteração das contribuições para a ADSE, SAD e ADM. Tudo somado, serão, se forem, 1023 milhões de efeitos positivos no défice anual da Caixa Geral de Aposentações.
 
Acontece que, segundo o Secretário de Estado da Administração Pública, que não foi entretanto desmentido, a Caixa Geral de Aposentações terá este ano um défice de 4,4 mil milhões de euros - vd. aqui.- um défice crescente previsivelmente até 10 mil milhões de euros nos próximos doze anos. Quer isto dizer que, mesmo que o TC considere constitucional a lei aprovada pela Assembleia da República, a diferença, cerca de 3 mil milhões de euros serão suportados por impostos ou por aumento da dívida. Salvo se são, total ou parcialmente, cobertos pelo superavit, se existir, do regime geral da Segurança Social suportado pelas contribuições dos trabalhadores (ou das empresas, o resultado é o mesmo) do sector privado.
 
Lamentavelmente, ou talvez propositadamente, as contas da segurança social não são claramente divulgadas. Não há, mas deveria haver, uma separação clara das contas do regime geral da segurança social, aquelas que são suportadas pelas contribuições de empresas e trabalhadores do sector privado. Todas as despesas de segurança social com não contributivos deste regime deveriam ser, inequivocamente, suportados por impostos.
 
Se não há um plano B nem intenção de o inventar, o Governo ou se demite ou negoceia com a troica o limite do défice. De qualquer modo, o défice das contas da Caixa Geral de Aposentações não se reduz sem aumento de impostos ou redução das prestações sociais aos actuais e futuros beneficiários.

Sunday, November 24, 2013

KILKENOMICS FESTIVAL

O escocês Thomas Carlyle, filósofo, historiador e escritor satírico do séc. XIX, impressionado com as conclusões de outro Thomas, cerca de vinte anos mais velho, o inglês Thomas Malthus, acerca da insustentável progressão geométrica do crescimento populacional perante a progressão aritmética da produção alimentar, considerou lúgubre a teoria malthusiana (dismal theory), expressão com que outros depois passaram a alcunhar a ciência económica (dismal science).
Apoquentados com a crise onde os bancos afundaram a sua economia, com um crescimento vibrante durante 30 anos, os irlandeses, que perderam muitos dos seus ativos e proveitos nos últimos cinco anos, não perderam o sentido de humor nem a capacidade inovadora que os catapultou de lugares na segunda divisão do rendimento per capita para os lugares cimeiros da primeira liga. Há quatro anos iniciaram em Kilkenny, uma pequena cidade do sul, o Kilkenomics Festival, um evento que atrai anualmente em Novembro centenas de economistas e outros interessados na matéria tendo como objectivo a discussão de questões sérias (ou lúgubres, para alguns) de forma descontraída e humorada. Kilkenomics é, segundo a legenda do festival, “Davos with jokes” and “Davos without hookers”.
O Financial Times dedicou ao Kilkenomics dois artigos (pelo menos) e da sua leitura retira-se, para além da notícia da dimensão e do efeito do evento na economia local, alguma informação interessante sobre o estado da economia irlandesa no momento em que dispensou qualquer programa cautelar e se propõe entrar nos mercados financeiros sem rede.
Em 2001 a economia irlandesa tinha superado todas as expectativas após um crescimento notável durante três décadas. Hoje, a Irlanda debate-se ainda com uma recessão tão severa que atira para o desemprego um terço de todos os jovens com menos de 24 anos, muitos deles com pós-graduações universitárias. Já emigrou um décimo da população desde 2008.  Muitos dos que ficaram nunca conseguirão pagar as suas dívidas, geralmente contraídas para compra de casa, que agora valem metade do preço de custo. Segundo o correspondente do FT, a economia irlandesa ainda não tocou no fundo. Para assistir a cada uma das sessões do festival, realizadas num hotel de luxo, completamente cheio, o preço era de 20 euros. "Alguma coisa vai muito mal quando centenas de pessoas estão dispostas a ouvir economistas durante quatro dias", disse um dos economistas convidados.

Se o humor é a linguagem do Kilkenomics,  o optimismo acerca do futuro próximo da Irlanda não é a moeda corrente. Paulo Portas disse há cerca de um mês que “a Portugal convém seguir a Irlanda e não a Grécia. Antes celta que grego mas em qualquer caso português”. Portugal não tem passada nem passado recente que lhe permita seguir a Irlanda e, em todo o caso, nem os irlandeses sabem para onde vão por agora. Só sabem que são obrigados a continuar a emigrar. Quanto a este aspecto, seguimos.


 
---
Correl . - 
Kilkenomics 2013

RONALDO IS THE BEST



c/p aqui

Saturday, November 23, 2013

BARCELÓ

Termina amanhã no Museu Nacional do Azulejo uma exposição de cerâmicas de Miquel Barceló em diálogo com a colecção permanente do Museu. Quem não teve oportunidade, ou não foi avisado, e perdeu a oportunidade de ver os trabalhos do artista maiorquino, não perdeu tudo porque pode sempre visitar ou revisitar uma colecção ímpar de azulejos portugueses, que inclui um longo painel atribuído a outro espanhol, Gabriel del Barco, de uma panorâmica  da Lisboa, cerca de 1700.

Para além da lindíssima igreja da Madre de Deus, do antigo Convento onde o museu está instalado.
 


Friday, November 22, 2013

EXUBERÂNCIA















Mais belo que o hat-trick de Cristiano Ronaldo contra a Suécia. "O que há é pouca gente para dar por isso. óóóó---óóóóóó óóó---óóóóóóó óóóóóóóó. (O vento lá fora.)".

Thursday, November 21, 2013

O BANDO PORTUGUÊS DE NEGOCIATAS

Estado assume dívidas de 17 milhões de euros de Luis Filipe Vieira ao BPN, dizem os media mas dizem mal. O Estado não assume nada, quem assume é o governo, central ou local, em nome dele.
Neste, como em todos os casos em que os contribuintes sāo atingidos pelos actos dos tutores do Estado, os boys têm nomes.

Do antro que o governo do senhor José Sócrates nacionalizou de forma anedótica há já cinco anos continuam a sair ratos mas a maior parte continua encoberta e ainda nenhum foi apanhado e obrigado a regurgitar alguma coisa do que abocanhou. O que só pode ser percebível se considerarmos que os ratos tiveram, e continuam a ter, coniventes.

Do grupo daqueles que, de uma forma ou de outra, facilitaram ou consentiram o monumental roubo nāo podemos excluir a indiferença ou a ignorância de muitos portugueses.

Hoje, num restaurante popular, com um patrão benfiquista ferrenho, comentava-se a notícia envolvendo o patrão do Benfica.

- Que me diz a isto?
- Que lhe digo? Digo-lhe que outros houve que roubaram muito mais e ninguém os incomoda.

E assim se desculpabilizam os grandes larápios em Portugal.

----
BE questiona crédito ligado a L F Vieira







Wednesday, November 20, 2013

RICOS E PORCOS

Há dias foi notícia a venda em leilão a um comprador incógnito de um dos trípticos de Francis Bacon (Three Studies of Lucien Freud) pela espantosa soma de 142 milhões de dólares, qualquer coisa como 106 milhões de euros. Comentei aqui acolhendo uma das hipóteses que li algures de ter sido o quadro adquirido por um mafioso multimilionário com o objectivo de branqueamento de capitais. O mercado da arte é uma das vias conhecidas para aqueles propósitos, a hipótese era verosímil.

Hoje soube-se que o tríptico de Francis Bacon foi adquirido - vd. aqui, cit. aqui - pela  Sheikha Al-Mayassa_bint_Hamad_bin_Khalifa_Al Thani, do Qatar, geralmente considerada como a pessoa mais importante no mundo da arte. Ao que parece, a senhora, de 33 anos, anda numa roda viva com propósito de tornar o Qatar um centro cultural de nível mundial, mandando arrematar sem ter que olhar aos meios, que são incontáveis, o que de melhor aparece nos leilões internacionais. Tenho as maiores dúvidas que aos fanáticos da bola interesse o tríptico de Bacon ou outra obra de arte qualquer, salvo a arte dos artistas da bola, mas ela lá terá as suas respeitáveis razões.

Menos respeitáveis, porque repugnantes, são as condições a que o regime de sua Sheikha condena os trabalhadores imigrantes, sobretudo asiáticos, contratados (?) para trabalhar na construção dos estádios com que o Qatar quer embasbacar o mundo em 2022. Vd. aqui e aqui: " A Amnistia Internacional publicou um relatório de 169 páginas sobre os imigrantes que trabalham no Catar nas obras para o Mundial2022, em que alerta que são tratados como "escravos" e "animais". Intitulado "O lado negro da imigração no Catar", o documento revela que os trabalhadores, grande parte de nacionalidade nepalesa, vivem em condições desumanas, não têm todos acesso a água corrente e são muitas vezes impedidos de receber salário e ter acesso ao seu passaporte, naquilo que classifica de "forma moderna de escravatura".

A denúncia desta situação abominável, observada num país que detém por obra e graça da natureza, o maior PIB per capita do mundo, já tinha sido feita há alguns meses atrás, e, segundo as notícias, o governo do Sheik teria dito ao senhor Blatter, presidente da FIFA, que as leis do trabalho estavam a ser melhoradas. O senhor Blatter ouviu e assobiou para o ar. Os imigrantes continuam escravos de um regime que tem recursos de sobra para a ostentação e nenhuns para garantir a dignidade humana dos que lhes constroem as obras faraónicas.

Resumindo: O dinheiro com que a senhora Sheikha compra as obras de arte com que recheia os museus destes novos ricos não foi branqueado mas confirma que estes reinos do petróleo são sujos e não se limpam nem com Bacon.

Tuesday, November 19, 2013

SUÉCIA - 1958 - APOTEOSE AO BRASIL

Não fui eleito pela fé clubista, mas gosto de ver um jogo de futebol se o espectáculo for bom. A propósito do Suécia-Portugal, a começar daqui a hora e meia, recordo o campeonato mundial de 1958 realizado na Suécia, ganho pelo Brasil que bateu a Suécia na final por 5-2, tendo a Suécia inaugurado o marcador.  
 
O António tinha emigrado com a família, três ou quatro anos antes para São Paulo, e enviou-me um magnífico álbum, orgulhoso da sua nova pátria.
 
 
O excrete canarinho tinha ganho a primeira copa do mundo e Pelé, então com 17 anos, a mesma idade do António, iniciava uma carreira que ainda hoje é ponto de referência de todos os grandes artistas da bola. Foi o maior de sempre? Se não foi ele, quem foi? Just Fontaine, da equipa francesa, marcou 13 golos na Suécia, e detém ainda o recorde de golos marcados numa única edição do campeonato do mundo de futebol.
  
Ontem foi dia de aniversário do António. Estava entusiasmadíssimo com o campeonato do próximo ano e as Olimpíadas em 2016.
 
-Você não vai perder isto, não?
- E, Portugal, vai?
- Não pode. Portugal não pode perder. Precisamos de Portugal na final com o Brasil.
- E nesse caso, António, por quem vais torcer tu?
- Puxa vida, vai ser difícil mesmo. Mas se Portugal nos der, aos portugueses daqui,  a alegria de estar na final com o Brasil, acredito que a maioria, lá no fundo, no fundo mesmo, vai torcer por Portugal sem que ninguém à volta dê por isso.
- Pois eu, António, por agora faço votos que a frieza sueca não consiga vir a retribuir em 2014 o calor que o Brasil lhe levou em 1958.
- Não pode! Aposto que não pode!
----
Pois não! 
 
 

Monday, November 18, 2013

PORTUGAL MENOR

O presidente da Associação Sindical dos Juízes, Mouraz Lopes, Juiz Conselheiro do Tribunal de Contas voltou a indignar-se. Desta vez pelo facto da PGR Joana Marques Vidal ter enviado aos advogados um inquérito para que estes revelem nomes de magistrados e polícias que violaram a confidencialidade dos processos. [JN]
 
Mas, para além do protesto em si, o que é verdadeiramente notícia é o facto hilariante do Juiz Conselheiro ter declarado que "o que a senhora procuradora vem agora falar que tem de ser feito já decorre da lei, ou seja, quando qualquer advogado ou qualquer profissional tem conhecimento, no exercício da sua profissão, que são cometidos factos ilícitos, concretamente crimes, tem o dever de identificar quem são as pessoas que o fazem".
 
O cidadão comum, pouco habituado aos termos hábeis dos administradores da justiça, lê, volta a ler aquelas declarações, e interroga-se: como é que pode um juiz, e demais a mais juiz conselheiro do Tribunal de Contas, contestar uma diligência da Procuradora Geral da República tendo como objectivo o efectivo cumprimento de uma lei, que, pelos vistos, não está a ser correntemente integralmente cumprida?
 
Afirma o Juiz Conselheiro que "o que o preocupa na dimensão pública deste inquérito é criar-se aqui mais uma cultura de desconfiança entre as profissões, mais uma acha para uma cultura de denúncias anónimas, muito pouco corretas e muito pouco éticas e que vão, se calhar, agravar-se" e que "seria preferível fazer uma investigação mais adequada e mais instrutiva e verificar exactamente de onde é que vêm os problemas". "A violação do segredo de justiça não devia acontecer, como é óbvio", mas "o apelo público feito aos advogados para que se insista nesta cultura de denúncia não é muito saudável num sistema democrático onde já há esses deveres na lei".
 
É óbvio, que o presidente do sindicato (de membros de um órgão de soberania!) está contra os termos da lei, unicamente na parte aplicável a magistrados e polícias!, supõe-se, que a procuradora quer fazer cumprir. Provavelmente, até tem razão e o inquérito não atingirá os objectivos procurados pela PGR. Se há uma persistente violação do segredo de justiça a única forma de suster o vício é adequadamente penalizar aqueles que, estando formalmente incumbidos da guarda da confidencialidade dos processos, permitem, consentem, ou até colaboram nas violações do segredo de justiça. Mas cai em flagrante contradição quando protesta por uma diligência que, podendo ser ineficaz e até contraproducente, pretende fazer cumprir uma lei, porventura obtusa quanto ao crime de violação do segredo de justiça.
 ---
Correl.- PGR rejeita intenção de apelo a delação com questionário sobre violação do segredo de justiça.
O dever de identificação enunciado na lei reporta-se aos cidadãos em geral; se reportado a magistrados e polícias aquele dever inverte-se em delação!

Sunday, November 17, 2013

A BANALIDADE DO MAL

"Hannah Arendt". Vimos o filme, hoje.
Em Janeiro de 2010 tinha visto no Teatro Aberto "Hannah (Arendt) e Martin (Heidegger).
Decorrem as acções de um e outro espectáculo em períodos diferentes da vida de Arendt - o filme em 1961, e as crónicas que escreveu a propósito do julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém após a sua captura na Argentina, onde se refugiara; a peça de teatro reporta-se à época da relação amorosa de Arendt com o filósofo Heidegger entre 1924 e 1928.  
 
Apesar das distâncias temporais é muito evidente que a tese fulcral da banalidade do mal, a que dedicou grande parte da sua construção filosófica, e que lhe fundamentou a justificação do comportamento de Eichmann enquanto corresponsável pelo extermínio de milhões de judeus, se sustenta nos princípios filosóficos bebidos durante a relação com o seu amante e mentor nos anos da juventude.
 
Linearmente, para Hanna Arendt, o julgamento de Eichmann foi um erro porque alvejou um indivíduo, que não era mais que uma peça inconsciente de um sistema demoníaco, e ao enforcá-lo não enforcou o sistema que ele, por imposição das funções que desempenhava, serviu esmeradamente. Se esta perspectiva bondosa de Arendt já tinha, só por si, um efeito detonador da ira dos judeus que sobreviveram ao holocausto, a responsabilização que ela carregou sobre alguns líderes judeus, mais disponíveis para a aceitação que para a resistência, por um tão elevado número de vítimas do nazismo, ostracizou-a para toda a vida.
 
Que culpa tem o indivíduo que não é mais que um elo numa cadeia do mal? Eichmann, argumentava Arendt, não pensava, e a prova que não pensava é que agiu como agiu. Quantas vezes não ouvimos, entre nós, a propósito de crimes incomparavelmente menores, o mesmo argumento invocado por criminosos deixados à solta? Pelos crimes perpetrados no BPN apenas Oliveira e Costa, que aliás ainda nem foi julgado, é responsável?

O JOGO DA CABRA CEGA

PGR instaura inquérito disciplinar ao procurador que arquivou o processo de Manuel Vicente.

Não se alteram os poderes da Rainha de Inglaterra se sua majestade muda de sexo.
E, pelas razões aduzidas pelo senhor anterior, as da PGR também não.
Continua, imperturbável, o jogo.

Saturday, November 16, 2013

NOTÍCIAS DO PARAÍSO COMUNOCAPITALISTA

Um noivo chinês ofereceu à sua futura mulher 8,88 milhões de yuans (1,08 milhões de euros)... em notas, uma prenda que pesava qualquer coisa como 102 quilos. Esta enorme quantidade de dinheiro, levada para casa da noiva por 18 pessoas, pesava 102 quilos no total, conforme noticiou o jornal Shanghai Daily. Os cestos de bambu, cheios até cima de maços notas de 100 yuans - cor vermelha e com a imagem de Mao Tse Tung - foram entregues à noiva por um grupo de familiares do noivo, que viajaram em várias viaturas de luxo, como um Maserati. Segundo o jornal chinês, os dois jovens noivos, que começaram a namorar há apenas três meses, vêm de famílias abastadas da zona de Zheijang, uma região onde se dá valor à tradição de presentes de noivado faustosos. As duas famílias - com o apelido Huang - decidiram que o valor oferecido à futura esposa teria sete oitos consecutivos (os tais 8,8 milhões), um número considerado auspicioso na China e significado de riqueza. [DN]

 
 
Deng Xiaoping (1904-1997) inventou e vendeu aos seus camaradas do politburo a ideia do  socialismo de mercado e com essa manobra evitou a queda do partido comunista chinês, migrando o sistema para um capitalismo protegido pela ditadura do partido único. "Não importa a cor do gato desde que cace os ratos", argumentou Deng Xiaoping para convencer os membros do partido. E, a provar que Deng Xiaoping tinha razão, aí temos o crescimento impressionante do gigante amarelo a embasbacar e a amedrontar o mundo. Na China, a liberdade é mínima e a desigualdade é máxima. Nada que repugne a qualquer capitalista típico. Mas nunca, em lado algum, o homem prescindiu definitivamente da sua maioridade cívica. Nenhum crescimento material é perdurável sem germinar o anseio pela liberdade. O comunocapitalismo também não é o fim da história.  
---
 

Friday, November 15, 2013

ACERCA DA HIPOCRISIA POLÍTICA

Ouço na rádio esta manhã que os deputados do PSD estão desapontados com a recusa do governo em aplicar taxas extraordinárias sobre os resultados obtidos  pelas PPP que superam os valores previstos nos contratos e ainda sobre os lucros das grandes empresas, nomeadamente as telecomunicações e a grande distribuição. O PS apresentou um conjunto de medidas alternativas (26 se ouvi bem), entre as quais uma delas aponta, sensivelmente, para aquele mesmo alvo dos deputados do PSD.

Nestas circunstâncias, das duas, uma:

Ou os deputados de PSD faziam vingar na AR a sua proposta com o apoio do PS
ou
os deputados do PSD por amor ao governo procediam como costumam: seguiam as directivas do governo, isto é, apoiavam-nas.

Procedendo da forma que procederam, o mínimo que pode dizer-se é que os desapontados deputados do PSD estão, neste caso, a ser refinadamente hipócritas ou altissimamente ingénuos. Como a ingenuidade é incompatível com a política, a hipocrisia é a única razão explicável para o fenómeno.

Entretanto, há quem tenha levantado a hipótese de estar o governo a reservar aquelas alternativas no banco dos suplentes para recorrer a elas no caso do Tribunal Constitucional chumbar algumas das  medidas constantes do OE2014. Se assim for, a posição do grupo parlamentar do PSD não se limpa com o desapontamento anunciado hoje: porque, propositadamente, o governo e o PSD estão, outra vez, a endossar ao TC a tomada de uma decisão política que, por competir ao poder político, nunca deveria ser endossada ao poder judicial.

Thursday, November 14, 2013

ARTE CONTEMPORÂNEA - LAVANDARIA


"Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado de lhe vem" (Aritmética Elementar)


Anteontem foi notícia o recorde atingido em leilões de arte por um dos 28 trípticos de Francis Bacon, "Three Studies of Lucien Freud" (1969,) pela assombrosa soma de 142,4 milhões de dólares, qualquer coisa como 106 milhões de euros.
 
 

No mesmo dia "Balloon dog (Orange)", uma escultura da série "balloons" de Jeff Koons foi vendida  por 58,4 milhões de dólares, uns 43 milhões de euros, tornando-se a obra mais cara vendida em leilão de um artista vivo.*



 
Hoje é notícia um novo recorde de obras de Andy Warhol: "Silver Car Crash (Double Disaster) (1963) foi arrematado ontem por 105 milhões de dólares, quase 80 milhões de euros.
 
 
Explicações para este fenómeno de crescimento exponencial dos preços da arte contemporânea há várias. Os jornais de ontem apontavam várias, algumas coincidentes, outras nem tanto. A que me parece mais convincente é aquela que atribui a compra (por gente anónima) a intuitos de branqueamento de capitais. Pode não ser verdade mas é difícil encontrar outra tão verosímil.

Quando, em Portugal, durante os dez, doze anos, que antecederam a emergência dos indicadores da crise, ficava abismado com a exuberância do crescimento de consumo supérfluo e de investimento público que me parecia sem sustentação económica racional, dizia-me o DJ que tudo aquilo só podia estar a ser sustentado pelo negócio da droga e outros negócios correlativos. E, afinal de contas, não exagerava, ainda que o alcance das suas palavras não fosse esse, se hoje considerarmos que, para além do tráfico de droga tout court, houve um tráfico de crédito importado que drogou a economia portuguesa, actuando os banqueiros como traficantes.

---
Correl - Um estudo da Faculdade de Farmácia de Lisboa detetou uma presença de cocaína nas águas residuais da capital que mostra um elevado consumo desta droga na cidade, mais concretamente uma dose diária de 0,1 grama por 50 pessoas. Esta foi a primeira análise em Portugal à presença de metabolitos de cocaína nas águas residuais.[RTP]

Os multimilionários portugueses são mais e estão cada vez mais ricos [P]
Segundo o relatório da UBS : World Ultra Wealth Report, apesar da crise, eles não ficaram para trás da restrita frente crescentemente multimilionária. São, obviamente, aqueles que integram esta frente que investem à vara larga. Cá, como lá.
Note-se que um multimilionário da base (aquele que não tem muito mais que 25 milhões de fortuna), mesmo que alienasse tudo o que tem não poderia comprar mais que meio dog do Jeff Koons. Um pelintra, no fim de contas.
---
* Jeff Koons é, além de outros dogs,  também o autor de Puppy, a mascote do Guggenheim de Bilbao. Que não está venda. Pelo menos, por enquanto.


 

Wednesday, November 13, 2013

OS ÚLTIMOS DIAS DO KING

Encerra dentro de alguns dias aquele que foi durante vinte e cinco anos um dos poucos espaços não ocupados quase exclusivamente  pela cinematografia norte-americana. Sobrevive o Nimas, não se sabe até quando. Para quem gosta de cinema não formatado pelos gostos de Hollywood, Io e Te, o mais recente filme de Bernardo Bertolucci, e provavelmente o último, é uma excelente razão para se despedir do King. 
 
 

Tuesday, November 12, 2013

SOU INCONSCIENTE

 
Até onde irá, até onde deixarão ir Jorge Mario Bergoglio na sua intenção de renovação da Igreja e, por essa via, tornar o mundo menos dominado pela sofreguidão da riqueza e menos desigual entre os extremos sociais? O Papa Francisco está consciente de que do outro lado da barricada se encontram adversários que não lhe perdoarão a heterodoxia e o atingirão fatalmente na primeira oportunidade que descortinarem.
 
Consciente dos poderes que se propõe enfrentar, a sua declaração de inconsciência sustenta-se, por antítese, na ausência de medo que a idade, o seu passado e a sua fé lhe transmitem. Uma inconsciência que é uma temeridade que outros mais velhos na idade e não menos confortados pelas mesmas convicções religiosas raramente assumiram ao longo de uma história duas vezes milenária. O seu antecessor, debilitado pela idade e pelos escândalos que viu irromperem publicamente à sua volta, resignou perante a força daqueles poderes que a popularidade carismática de João Paulo II também não tinha ousado desafiar. Conseguirá Jorge Mario Bergolio afastar a Igreja da conivência antiga com o mundo do dinheiro que ele tão cristalinamente condena?
 
Esta semana foi notícia a divulgação do lançamento de um inquérito a nível mundial à Igreja para saber o que pensam os católicos de questões como o casamento entre homossexuais, o divórcio, a união de facto e o uso de contraceptivos. O Papa procura, através deste inquérito, saber o que pensam os católicos, para discutir o assunto no sínodo extraordinário da família, que está marcado para o próximo ano. Esta consulta às bases parece estar a atormentar a hierarquia eclesiástica, embaraçada com a forma como poderá dar seguimento conveniente à iniciativa.
 
E, se Papa Francisco, para passar das palavras aos actos decide um dia destes abolir a forma mais conseguida de protecção católica dos usurpadores de direitos por vias moralmente condenáveis, abolindo o perdão a troco de bulas ou rezas aos protagonistas daqueles casos? Acabaria a Igreja tal qual a conhecemos hoje, construída durante séculos de compadrio com os donos do mundo. Estará Jorge Maria Bergoglio também decidido a isso antes de levar um soco?

---
Correl.- Teresa Forcades, a freira sem medo

Monday, November 11, 2013

INFLAÇÃO QB, PRECISA-SE

A zona euro precisa de níveis de inflação menos baixos. Quem o diz é Wolfgang Münchau, o irrequieto analista alemão do Financial Times, especialista em temas económicos europeus, incansável na procura de soluções que possam salvar o euro para salvar a Europa. Num artigo publicado hoje no FR - The eurozone needs to get inflation up again - Münchau começa por mostrar-se surpreendido que a decisão do BCE de redução das taxas de juro, contra a posição do Bunsdesbank, tenha sido uma surpresa para a generalidade dos analistas e agentes financeiros.
 
Na origem da decisão do BCE está a queda dos preços para níveis que, até recentemente, Mario Draghi não vislumbrava que pudessem ocorrer se não a médio e longo prazo. Para além da descida das taxas de juro dos empréstimos (manteve as taxas de juro dos depósitos), o BCE assumiu a garantia de liquidez ilimitada do sistema até Julho de 2015, criando, deste modo, um teto à subida das taxas. Por tabela, a decisão do BCE só pode vir a beneficiar a transição da gestão da dívida pública portuguesa para o pós-troica sem que, evidentemente, resolva só por si a questão da sua sustentabilidade.
 
O fantasma da inflação continua a apoquentar a sociedade alemã e as propostas de Münchau (estas e outras) continuam a ser geralmente rejeitadas pela opinião pública do seu país, que, obviamente, condiciona as posições políticas do governo de coligação, qualquer que seja o parceiro da CDU de Merkel, relativamente às políticas de maior integração europeia.
 
Resultarão deste ensaio resultados que reanimem as economias europeias, e sobretudo as financeiramente mais fragilizadas, e convençam os alemães que a inflação pode ser um factor virtuoso sem risco de se tornar incontrolável? Não sabemos. O que sabemos é que enquanto o espectro da inflação pairar sobre as cabeças alemãs a Europa continuará a derrapar para a desintegração.

---
A propósito contrário: Maduro, o venezuelano, quer proibir a inflação.
Correl. - A falta que nos faz mais inflação
Inflação na zona euro em terreno negativo

Sunday, November 10, 2013

TODOS CONTRA A ESCOLA PÚBLICA

Todos? Nem todos. Mas quase todos.

Desde logo os professores e os sindicatos.
Durante décadas os professores barricaram-se atrás dos sindicatos reivindicando tudo e mais alguma coisa, sem distinção de méritos e resultados. Do outro lado, o ministro, este, o anterior, o anterior do anterior, todos, isolados no topo de uma estrutura que não tem, efectivamente, responsáveis intermédios, cederam o que deviam e não deviam enquanto houve crédito importado sem rei nem roque. Esticaram a corda até ao ponto de ruptura. Aí chegados persistem em recusar avaliações e reconhecer a mais elementar das distribuições estatísticas: há professores excepcionais, há professores muito bons, há professores bons, há professores sofríveis, há maus professores, há indivíduos tidos por professores que são indignos da função de que os incumbiram. Como em todos os grandes universos estatísticos, a distribuição de competências, capacidades, vocações, dedicações, etc., é normal, e um universo que se mede em centenas de milhares não é excepção. Mas os professores, e em nome deles os sindicatos, continuam a recusar-se a reconhecer esta evidência estatística elementar, a benefício de uma imperdurável coesão de classe, contribuindo efectivamente para a degradação da escola pública.
 
Ontem foram publicados os ranking das escolas secundárias e, mais uma vez, o ensino privado ocupa a generalidade dos lugares cimeiros. E a justificação invocada, só parcialmente pertinente, é sempre a mesma: as escolas privadas podem escolher os melhores alunos, o ensino privado é quase exclusivamente frequentado pelos filhos das classes mais abonadas, permitindo-lhes condições e ambientes mais favoráveis ao sucesso. A ninguém ouvi referir que as escolas privadas, ao contrário do que sucede nas escolas públicas, podem escolher os alunos mas também podem escolher os professores. A escola pública não pode recusar alunos e os professores da escola pública recusam-se a provas de selecção e avaliação, e recusam-se ainda a progressão na carreira consoante avaliação séria do mérito exigindo a progressão por antiguidade.
 
São também culpados os pais porque, replicando os padrões médios de comportamento, o seu grau de exigência é geralmente baixo, o seu alheamento é elevado, as excepções são muitas vezes perversas, descambando em agressões físicas aos professores sem que a polícia seja convocada a intervir.
 
Mas o governo, este governo, o anterior governo, o outro, quase todos, se não todos, são culpados pela desqualificação da escola pública. Pelas mais diversas razões, e também por estas, objecto de uma suficientemente esclarecedora reportagem da TVi24.
 
O governo quer acabar com a escola pública, como clama o senhor Mário Nogueira? Tanto quanto o senhor Mário Nogueira. Nenhum quer. Mas tanto de um lado como do outro não deixam de contribuir para isso.

Saturday, November 09, 2013

Friday, November 08, 2013

O FUTURO DOS PAPA GIGABYTES

Se a televisão já tinha colocado a generalidade dos cidadãos ensimesmada horas a fio em frente da "caixa que mudou o mundo", os telemóveis, e toda a gama da mesma espécie, desde os mais elementares aos mais espertos, estão a viciar a espécie humana no consumo intensivo de megabytes.
Segundo estudo realizado nos EUA - Children´s Media Use in America 2013 -, citado aqui, 38% das crianças com menos de dois anos usa smartphone. Parece incrível, mas é esse um dos resultados citados no relatório.
 
Em Portugal, a crise fez disparar o consumo médio de televisão para cinco horas e meia por dia! [P]
e, há duas semanas atrás, os portugueses correram à meia noite para as lojas para adquirirem novos iPhones [N], estando os smartphones em primeiro lugar na lista de preferências das compras de Natal[DD]. Segundo esta notícia, em 2013 o número de telemóveis no mundo será equivalente ao número de habitantes do planeta, cerca de 7 mil milhões. Segundo esta informação, em Portugal, o número médio de telemóveis era, em 2008, de 137 por 100 habitantes, um dos mais elevados da Europa, e é muito provável que aquela relação tenha, entretanto, aumentado apesar da crise. As constantes filas de espera junto aos balcões dos operadores denunciam bastante bem a crescente adoração portuguesa pelos telemóveis. Nos EUA, em 2013, a relação era de 91 telemóveis por 100 habitantes. Significa isto que, para cada 100 habitantes, em Portugal haverá hoje mais de 50% de telemóveis que nos EUA!*
 
Qual será o produto de uma sociedade futura entretida, na maior parte dos casos, a papar gigabytes?
Acabará por enjoar-se? O twitter lançou-se ontem na bolsa, tendo ultrapassado na abertura os 50 dólares por acção, caindo no fecho da sessão para 44,90 [G]. Os analistas acreditam que este nível é insustentável e as cotações irão resvalar mais. Até onde subirá a onda da moda das redes sociais, ninguém sabe.
 
O que sabemos é que as crianças, todas as crianças do mundo, tendem a mandar para o sótão os brinquedos que um dia os embeveceram. Os adultos costumam fazer o mesmo.

---
*Para aqueles que acreditam, ou querem fazer acreditar, que o reequilíbrio da balança comercial é uma conquista irreversível do actual programa de ajustamento, a propensão portuguesa para a  procura desenfreada de bens importados, de que os telemóveis são apenas um exemplo, deveria suscitar uma reflexão séria sobre o assunto.

Thursday, November 07, 2013

A CRISE DOS MULTIMILIONÁRIOS

As consequências negativas da desigualdade social já foram muitas vezes demonstradas sem que essa evidência, por mais elaborados que sejam os critérios científicos que a suportam, tenha derrubado as convicções daqueles que defendem a  desigualdade como geradora do crescimento. Segundo estes pregadores da desigualdade, o "trickle-down" de dar mais dinheiro a quem mais tem será vantajoso para todos.
 
Aparentemente, as políticas de austeridade impostas pela troica e entusiasticamente abraçadas por este governo (tão entusiasticamente, que dispensou o partido do primeiro subscritor do contrato de participar na sua execução), deveriam ter aplainado os níveis de desigualdade que colocam Portugal nos lugares cimeiros do ranking da desigualdade entre os países mais desenvolvidos. E é muito provável que, sendo o funcionalismo público, os reformados e pensionistas, com rendimentos acima dos níveis de subsistência os alvos mais atingidos pelas medidas de austeridade, se tenha observado um esbatimento médio significativo da desigualdade nestes grupos sociais.
 
Contudo, e como seria de esperar pelo andamento da carruagem, a crise não só não atingiu a maior parte dos indivíduos com elevados rendimentos como lhes proporcionou oportunidades para aumentarem significativamente as suas fortunas. Como é que isso foi possível? Não sei.*
 
Mas sabe-se que há quem saiba. Sabe-se de quem recorrentemente apregoa que neste país de ressabiados ainda há quem, discreta e persistentemente, trabalha para que o país se reerga e pague a quem deve. De entre eles, segundo relatório do UBS, há  870 com fortunas superiores a 25 milhões de euros, mais 10,8% que no ano anterior [DN] Mais: as fortunas desta gente exemplarmente obreira subiram 11%, de 90 para 100 mil milhões de dólares.
 
A notícia não refere quantos são e quanto possuem aqueles que não atingindo um lugar no pódio multimilionário andam por lá perto. Serão muitos mais estes menos exemplarmente obreiros, mas tão capazes de escaparem às medidas de austeridade como os outros.

---
Correl. - Portugal: dois países
---
*"Quando nos interrogamos como é possível que as agências financeiras enriqueçam tanto, parte da resposta é simples: ajudaram a redigir uma série de regras que as beneficiam, mesmo nas crises que ajudam a criar"- Joseph Stiglitz / O Preço da Desigualdade
 

Wednesday, November 06, 2013

SUBMARINOS EM ÁGUAS DE BACALHAU

"Ministério Público pede penas suspensas no caso dos submarinos" [P]

Resumo da história: Em 2004 o governo português, na altura presidido por Durão Barroso e Paulo Portas ministro da Defesa comprou a um consórcio alemão dois submarinos por mil milhões de euros, uma ninharia inferior a 20% do buraco cavado pelo bando português de negócios (bpn). O contrato previa contrapartidas a serem traduzidas em fornecimentos de empresas portuguesas. Nove anos depois da assinatura do contrato e após um ano de julgamento, o Ministério Público concluiu que as contrapartidas negociadas eram fictícias, que os arguidos portugueses foram pressionados, que o Estado português foi lesado em 34 milhões de euros, que os arguidos devem devolver 104 mil euros, e que os arguidos devem ser condenados a penas suspensas não superiores a cinco anos.
 
Quanto aos restantes 33,896 milhões de euros (34 milhões menos 104 mil euros) pagamos nós, os que pagam impostos. Para além, obviamente, dos mil milhões pagos pelos submarinos.
 
Consta que Portugal desceu na última década da 23ª. para a 33ª. posição num ranking [DN] da percepção de corrupção em 2012. Mas não deve ser fiável. O Ministério Público tem vindo insistentemente a demonstrar o contrário. Ninguém vai preso, salvo algum caso de peixe miúdo, que não fica em águas de bacalhau.
 
---
 
 

Tuesday, November 05, 2013

UM JUIZ COM OS CÁGADOS FORA DO SÍTIO

O Conselho Superior de Magistratura tem na agenda de trabalhos de hoje a recusa do juiz Rui Teixeira em lidar com documentos escritos ao abrigo do acordo ortográfico.

"Nos tribunais, pelo menos neste, os factos não são fatos, as actas não são uma forma do verbo atar, os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso e a Língua Portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário".
 
Um juiz com os cágados fora do sítio, dirá o poeta Vasco da Graça Moura. Por graça, porque o juiz não foi certeiro nos exemplos que deu.

 

Monday, November 04, 2013

A SUBTIL IRONIA DO CORONEL CRACEL

A Associação de Oficiais das Forças Armadas sugeriu a extinção do Ministério da Defesa Nacional , argumentando que, para fazer os cortes que faz, o Ministério das Finanças chega e sobra. Há uma semana atrás, o Ministro da Defesa defendeu que todos os chefes militares, comandantes e soldados "são obrigados a ser ministros das Finanças".

Irónico, o Coronel Cracel?
Não tanto. O que faz o Ministério da Defesa, o que fazem as forças armadas, para além de pagar e receber? Se fazem muito mais que isso, o cidadão comum não dá por ela.

---
Correl .- Despesas militares em percentagem do PIB

Sunday, November 03, 2013

ELES ESTÃO É GANHANDO DEMAIS

A 2 de Novembro de 2008, o governo anterior decidia privatizar o BPN. Se o facto da inevitabilidade da privatização, ao tempo, é discutível, é indiscutível que ela foi realizada de forma claramente incompetente. Cinco anos depois do anúncio do monumental roubo, ninguém foi condenado. E, no entanto, o maior escândalo financeiro português de sempre, teve e continuará a ter um impacto tremendo nas contas públicas, o mesmo é dizer no bolso de (quase) todos os portugueses.
 
De um artigo publicado no jornal "Público" de ontem, transcrevo:
 
"Na qualidade de ex-accionista e de ex-administrador da SLN/BPN, Dias Loureiro interveio, no início da década passada, em várias operações, nomeadamente na compra e venda de duas empresas tecnológicas de Porto Rico (a Biometrics e a Newtech). A Biometrics, qu estava falida, e a New Tech, que não chegou sequer a iniciar actividade, custaram ao BPN 36,4 milhões de dólares. Mas esta verba não chegou a ser registada nas contas do grupo e procura-se o seu rasto."
 
Este é apenas uma das muitas actividades a que se dedicaram uns quantos indivíduos na abertura de um buraco de que ainda não se vê o fundo, e que os media têm, ao longo deste anos, descrito e reescrito repetidamente em vão.
 
Do Expresso de ontem, transcrevo, também a propósito:
 
"Juntou meio mundo o casamento de Miguel Relvas (do governo só não estiveram os ministros do CDS, Nuno Crato e Maria Luís Albuquerque) ... Manuel Dias Loureiro foi das presenças mais divertidas, dançou até as tantas e foi o último, consta a deixar a pista"  
  
Hoje, o "Público" relata declarações do presidente do sindicato dos juízes, resumindo em título que  os juízes "estão no limite da indignação". E porquê? Porque, segundo o sindicato, os juízes se consideram mal pagos. Não terão os juízes ainda reparado que a opinião pública avalia muito negativamente a administração da justiça em Portugal de que resulta, em grande parte as razões pelas quais se queixam militares, polícias, enfermeiros, professores, etc., além deles, juízes?

Saturday, November 02, 2013

O CRIME QUE COMPENSA

Cinco anos depois da intervenção estatal no Bando Privado Português, um dos ninhos de ratazanas financeiras que a crise de 2008 colocou ao léu, o Banco de Portugal multou em 11 milhões de euros os 11 arguidos do processo de contra-ordenação por falsificação de títulos praticados pela anterior gestão do Banco Privado Português. João Rendeiro foi multado com dois milhões de euros, a pena máxima na lei anterior. Todos os 11 condenados estão impedidos de exercer actividade no sector financeiro. [Público]

Depois de ter primado pela ingenuidade (assim se desculpou o governador de então, agora vice-presidente do BCE) nas suas funções de supervisor, o Bando de Portugal arrasta a averiguação dos factos durante cinco anos e acaba por multar (multa susceptível de contestação pelos bandidos) em valores que são ridiculamente insignificantes quando comparados com os montantes de que se apropriaram os meliantes e seus coniventes.

Desculpar-se-á o regulador que aplicou a pena máxima prevista na lei em vigor à data da ocorrência dos factos, mas é uma desculpa canhestra porque os contornos dessa lei, e da lei actual, foram e são em grande medida da responsabilidade do próprio supervisor. Se o montante de uma multa é legalmente limitado, é sempre compensador o crime que essa multa pretende reprimir se os proveitos do crime excedem o valor máximo legal da penalização. E, deste modo, a multa deixa de actuar como travão repressivo para se tornar num incentivo legal ao crime.

Razão óbvia pela qual são tão frequentes casos como este nas mais diversas áreas de negócios.
Tão óbvia que só os legisladores não dão por ela, vá lá saber-se porquê.
Por reflexão de antecipação de uma situação em que um dia se podem encontrar do lado de lá?

Friday, November 01, 2013

OS TRÊS DA VIDA AIRADA

Ministério Público,
Caixa Geral de Depósitos, e o
BPN

Ministério Público investiga gestão da Caixa no BPN [DN]

Estado, através da Parvalorem, denunciou vários casos de concessão de crédito sem garantias depois da nacionalização do banco.
Só agora é que deram por ela?
 
Ex-administradores prometem contra atacar.
Para além do exercício de um legítimo direito dos visados, este contra ataque seria, se o Ministério Público entendesse da poda, uma oportunidade única para eles identificarem quem foi responsável pela duplicação, durante a sua gestão, da dimensão do monumentalmente criminoso buraco aberto nas finanças públicas por uma nacionalização feita em moldes estúpidos.

---
Correl . - Ex-administrador diz que liquidar o BPN teria tido custo zero, e que a privatização do banco trará milhões de euros de perdas para os contribuintes. [Publico]