Wednesday, June 30, 2010

O POSSÍVEL E O DESEJÁVEL

Em sequência do que escrevi aqui fui confrontado aqui com um texto de Paul De Grauwe publicado aqui.
(Paul De Grauwe é professor de economia na Universidade Católica de Lovaina, Bélgica, e adviser do Presidente da Comissão Europeia, José Barroso).

Essencialmente, De Grauwe defende neste texto que  a união política é condição necessária à sobrevivência da União Europeia. Como adviser de Barroso, certamente que Barroso há muito tempo que está avisado, se é que, a este respeito, precisava de aviso. Barroso, no entanto, sabe que De Grauwe sabe que a política é a arte do possível. E que a ideia, sendo pertinente, não se consuma com um aviso de De Grawe nem com o manifesto de centenas deles. A Europa está obrigada a percorrer um percurso para o futuro mais sinuoso.

Quanto à união política como forma de consolidar a Europa, que Paul De Grauwe defende (entre muitos outros) não é por aí que discordamos. Se dependesse de mim, ..., teríamos os Estados Unidos da Europa amanhã de manhã. Nesse aspecto não deixo que, quanto à União Europeia, De Grauwe, e outros mais, seja mais federalista que eu.

A questão não é essa.

Eu não discordo daqueles que defendem uma maior integração política europeia para a sobrevivência da União. Do que discordo é que a integração imediata seja condição sine qua non para essa sobrevivência.
A construção europeia não se fez no passado pela força das armas, não se fará por imposição de causas circunstanciais por mais prementes que possam apresentar-se.

As culturas europeias são democráticas e a democracia, já se sabe, não tem o jogo de cintura das ditaduras. A União Soviética foi erigida em três tempos mas deu no que deu.

Um outro argumento de que discordo, é o do carro à frente dos bois: o euro não deveria ter precedido a união política sob pena de, ab initio, ser relegado ao fracasso.

Convenhamos, no entanto, que, há ainda bem pouco tempo, quase toda a gente reconhecia no euro um caso de sucesso sem precedentes.

Em que ficamos?

Alguém pode acreditar que alguma vez seria possível construir uma federação de mais de 300 milhões de pessoas, culturalmente diferentes, convocando-as para uma união política sem antes ter percorrido um caminho em conjunto, ainda que muitas vezes tortuoso?

Acreditam os que não estão de boa fé. Ou têm outros objectivos em vista.

DABLIÚ - 3

Este é o terceiro apontamento neste caderno sobre o famigerado dabliú.  A primeira vez, aqui, sobre um artigo de Nouriel Roubini alertando para a eventualidade do preço das commodities vir a fazer mergulhar a economia norte-americana numa nova recessão dentro de pouco tempo, e, um mês depois, um alerta de Stiglitz, aqui, para o mesmo mergulho, em consequência do recrudescimento das operações especulativas nas bolsas, prevendo Stiglitz que, provavelmente, escapariam à prova a  Àsia e a Europa. 

Nouriel Roubini, incansável na sua missão de avisar o mundo, volta de novo a dizer como pode ser evitada a "Double-Dip Global Recession". *
Vale a pena ler o que nos diz agora o guru.

There is an ongoing debate among global policymakers about when and how fast to exit from the strong monetary and fiscal stimulus that prevented the Great Recession of 2008-2009 from turning into a new Great Depression. Germany and the European Central Bank are pushing aggressively for early fiscal austerity; the United States is worried about the risks of excessively early fiscal consolidation.

In fact, policymakers are damned if they do and damned if they don’t. If they take away the monetary and fiscal stimulus too soon – when private demand remains shaky – there is a risk of falling back into recession and deflation. While fiscal austerity may be necessary in countries with large deficits and debt, raising taxes and cutting government spending may make the recession and deflation worse.

On the other hand, if policymakers maintain the stimulus for too long, runaway fiscal deficits may lead to a sovereign debt crisis (markets are already punishing fiscally undisciplined countries with larger sovereign spreads). Or, if these deficits are monetized, high inflation may force up long-term interest rates and again choke off economic recovery.

The problem is compounded by the fact that, for the last decade, the US and other deficit countries – including the United Kingdom, Spain, Greece, Portugal, Ireland, Iceland, Dubai, and Australia – have been consumers of first and last resort, spending more than their income and running current-account deficits. Meanwhile, emerging Asian economies – particularly China – together with Japan, Germany, and a few other countries have been the producers of first and last resort, spending less than their income and running current-account surpluses.

Overspending countries are now retrenching, owing to the need to reduce their private and public spending, to import less, and to reduce their external deficits and deleverage. But if the deficit countries spend less while the surplus countries don’t compensate by savings less and spending more – especially on private and public consumption – then excess productive capacity will meet a lack of aggregate demand, leading to another slump in global economic growth.

So what should policymakers do? First, in countries where early fiscal austerity is necessary to prevent a fiscal crisis, monetary policy should be much easier – via lower policy rates and more quantitative easing – to compensate for the recessionary and deflationary effects of fiscal tightening. In general, near-zero policy rates should be maintained in most advanced economies to support the economic recovery.

Second, countries where bond-market vigilantes have not yet awakened – the US, the UK, and Japan – should maintain their fiscal stimulus while designing credible fiscal consolidation plans to be implemented later over the medium term.

Third, over-saving countries like China and emerging Asia, Germany, and Japan should implement policies that reduce their savings and current-account surpluses. Specifically, China and emerging Asia should implement reforms that reduce the need for precautionary savings and let their currencies appreciate; Germany should maintain its fiscal stimulus and extend it into 2011, rather than starting its ill-conceived fiscal austerity now; and Japan should pursue measures to reduce its current-account surplus and stimulate real incomes and consumption.

Fourth, countries with current-account surpluses should let their undervalued currencies appreciate, while the ECB should follow an easier monetary policy that accommodates a gradual further weakening of the euro to restore competiveness and growth in the eurozone.

Fifth, in countries where private-sector deleveraging is very rapid via a fall in private consumption and private investment, the fiscal stimulus should be maintained and extended, as long as financial markets do not perceive those deficits as unsustainable.

Sixth, while regulatory reform that increases the liquidity and capital ratios for financial institutions is necessary, those higher ratios should be phased in gradually to prevent a further worsening of the credit crunch.

Seventh, in countries where private and public debt levels are unsustainable – household debt in countries where the housing boom has gone bust and debts of governments, like Greece’s, that suffer from insolvency rather than just illiquidity – liabilities should be restructured and reduced to prevent a severe debt deflation and contraction of spending.

Finally, the International Monetary Fund, the European Union, and other multilateral institutions should provide generous lender-of-last-resort support in order to prevent a severe deflationary recession in countries that need private and public deleveraging.

In general, deleveraging by households, governments, and financial institutions should be gradual – and supported by currency weakening – if we are to avoid a double-dip recession and a worsening of deflation. Countries that can still afford fiscal stimulus and need to reduce their savings and increase spending should contribute to the global current-account adjustment – via currency adjustments and expenditure increases – in order to prevent a global shortage of aggregate demand.

Failure to implement such coordinated policy measures – to sustain global aggregate demand at a time when deflationary trends are still severe in advanced economies – could lead to a very dangerous and damaging double-dip recession in advanced economies. Such an outcome would cause another bout of severe systemic risk in global financial markets, trigger a series of contagious sovereign defaults, and severely damage the growth prospects of emerging-market economies that have so far experienced a more robust recovery than advanced countries.
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Uma tradução deste artigo encontra-se aqui.

Tuesday, June 29, 2010

ONDE É QUE ESTÁ O MOURINHO? - 2

Há dias perguntei-me aqui por que razão não foi Mourinho convidado para seleccionador nacional em part-time, aplicando a esse convite a mesma lógica que está por detrás da convocatória dos jogadores.

Portugal perdeu contra a Espanha. Poderia ter ganho se o seleccionador tivesse sido Mourinho? Não sabemos. O que sabemos é que Mourinho apresenta um palmarés de sucessos incomparável.

Quando Ronaldo responde que deve ser Queiroz a explicar o resultado aos portugueses, intui-se que o treinador não convenceu o capitão da equipa dos seus métodos. E quando a falta de convicção começa pelo capitão, o batalhão dificilmente sairá vencedor de uma batalha se o adversário não for coxo.

PREMATURAMENTE

Samir Amim, o economista egípcio que os neo-marxistas veneram, escreve aqui acerca da impossibilidade da União Europeia, juntando-se ao coro das carpideiras que, prematuramente, se convocaram.
A sumidade é, naturalmente, citada aqui, e o seu vaticínio mereceu-me o comentário seguinte:

Órfãos de um sistema que sucumbiu por implosão, os ideólogos marxistas não conseguiram ainda atinar com um modelo substituto.

Sem rumo autónomo, dedicam-se a encontrar lesões no sistema que sempre combateram. O que não é difícil, porque tem muitas.

Há neste esforço peregrino um paralelismo intrigante com os criacionistas: também estes, incapazes de se confrontarem cientificamente com o evolucionismo, vivem nos lapsos que a ciência sempre contém.

"Amin continua em boa forma intelectual e política"? Para os seus seguidores, certamente que sim.

Não vou analisar em pormenor do documento, até porque, como seria esperável, não é refutável em toda a sua extensão.

Remeto-me apenas a uma afirmação de Amim: "A Europe composed of 25-30 states remains profoundly unequal in terms of capitalist development."

Amim fala de uma Europa de que não sabe sequer de quantas nações é constituída. Depois aquele "remains" dá conta de toda a sua aversão ao objecto que analisa.

Amim deve saber que a Europa é uma construção recentíssima. A Europa não continua a ser, a Europa ainda é.

Mas será assim tanto, que, dessa perspectiva, esteja ferida de morte?

Os EUA são uma federação de estados que comemora dentro de dias 234 anos. Pois bem: A relação entre o PIB per capita entre o estado mais rico (o Connecticut, se excluirmos o Distrito de Columbia por pouca representatividade) e o estado mais pobre (o Mississipi) o primeiro excede em 87% o último.

Na Eurozona, a mesma relação entre a Holanda e Portugal, (exluindo o Luxemburgo pelas mesmas razões que exluimos o Distrito de Colúmbia) apresenta uma vantagem de 69% do mais rico relativamente ao mais pobre.

Há, no meio de todo este rezar de responsos à Europa, uma casualidade intrigante: a esmagadora maioria das carpideiras ou são norte-americanas, ou inglesas, ou marxistas.

Vá lá perceber-se porquê.
 
(Estou convicto que os seguidores de Amim também não vão dizer)

PARA ONDE VAI A CHINA?


"Who actually benefits?
...  the question is: At what cost to indigenous populations and the environment? "Nobody disputes that there are now many miles of roads and many airports and people coming in on planes," said Robert Barnett, a Tibet expert at Columbia University. "It's misleading to just ask if there's been economic progress. Who benefits from it? What is the cost locally, culturally and politically?"

Nicholas Bequelin, a China expert with the Asian division of Human Rights Watch, said: "It's not a people-centered modernization program. It's a top-down program that has mostly benefited state enterprises and the party-controlled institutions."

Xinjiang is China's largest region, making up one-sixth of its landmass, and Tibet is the second-largest, twice the size of Texas and accounting for one-eighth the area of the country.


INTERROGAÇÕES

- Percebes de arte contemporânea?
- Não.
- E de astronomia?
- Também não.
- Então porque razão te preocupas com estes temas?
- Não me preocupo. Interrogo-me.
- Já agora, de economia, de finanças ...
- Também.

POR 7,6 MILHÕES DE EUROS

Yves Klein *
RE 49
Vendido ontem, em Londres, num leilão da Sotheby´s.
No mesmo leilão foram vendidas obras de Joana de Vasconcelos (Coração Independente Vermelho 2, por 148, 5 mil euros) e de Paula Rego, uma pintura sem título de 1995 por 472 mil euros.
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* Aqui, uma apreciação sintética da Obra de Yves Klein

Monday, June 28, 2010

A OESTE, TUDO CONFUSO

O Washington Post de hoje publica um artigo (que anotei aqui ) com um título marcante: A outra superpotência.
Depois de se ter  tornado no maior credor do Ocidente, a China prepara-se para ultrapassá-lo no domínio da investigação científica e da inovação tecnológica. A evolução observada nos últimos cinco anos, de que o WP dá uma imagem impressiva, já espanta os norte-americanos.

Confrontados com duas guerras de que ainda não vislumbram o fim, com uma crise financeira ainda não resolvida, a continuar a recuar em muitas frentes do seu sector realmente produtivo, os EUA constatam agora que os chineses vieram buscar às suas melhores universidades os conhecimentos que lhes permitiram arrancar para uma liderança à vista. Por outro lado, a UE, defronta-se com problemas que podem colocar em causa a sua própria sobrevivência. O artigo de Wolfgang Münchau, que trancrevi aqui, não sendo um epitáfio, é uma reflexão altamente desconfortável. O fim da eurozona poderia significar o fim da União da Europeia, o princípio dos nacionalismos e o fim da paz na Europa.

Pergunta, por outro lado, o editorial do Economist desta semana, que apontei aqui: "Há vida para além da dívida?". Claro que há. Mas é uma vida de subserviência perante os credores.
Ao privilegiar o sector financeiro como produtor de mitos, o Ocidente deixou-se embalar numa queda que pode conceder à China a condição de superpotência do sec XXI e determinar o declínio irreversível da cultura ocidental e o fim da democracia.

Porque nada garante que os chineses, uma vez emancipados economicamente, venham a reclamar os valores que ilustraram as culturas ocidentais até agora, e ambicionem a democracia.

O fim da história, se acontecer, acontecerá com o fim da humanidade.

HÁ VIDA PARA LÁ DA DÍVIDA?

The age of easy credit and its aftermath
Rich countries borrowed from the future. Paying the bill will be difficult, and so will living in a thriftier world
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O QUE DIZ WOLFGANG MÜNCHAU

By Wolfgang Münchau

I was speaking recently to a group of investors who forced me – all but at gunpoint – to tell them how long I thought the euro would last. I normally prefer conditional forecasts but, in this case, I was asked to make an unqualified prediction. And so I yielded. My answer was that the eurozone would probably not survive the decade in its current form. As it turned out, I was the most optimistic person in the room, by far.

There are few people in Brussels – where I live and work – who would consider me an optimist. The point is not so much about how policymakers and investors relate to my predictions, but how the two groups relate to each other. They are worlds apart. Europe’s political classes still believe they are in control of the situation – and that a combination of austerity and financial repression will do the trick. Investors, meanwhile, do not understand how Greece, Spain and Germany can coexist in a monetary union.

I have noticed that whenever the European Council meets in Brussels, the European bond markets tend to slump with short delay. Yields are now close to the level they were at in early May, when the European Council set up the €440bn ($540bn, £360bn) European Financial Stability Facility and when the European Central Bank started to buy bonds. This crisis goes on and on.

The reason is that investors have lost confidence in the political economy of the eurozone. European politicians such as Wolfgang Schäuble, German finance minister, praise their own long-termism. But investors ask with some justification: what is long-termist about a bank bail-out without bank resolution? Or a sovereign bail-out without fiscal union?

I recently had an eye-opening experience appearing in the finance committee of the German Bundestag as a witness to testify on the proposed legislation to ban naked short sales. It turned out that the finance ministry could not produce the basic statistics on short selling, let alone provide even an anecdotal link between short selling and the bond crisis. I told the Bundestag that this cynical piece of legislation has contributed far more to the European bond market crisis than the naked short sales it purports to ban. Helmut Schmidt, the former German chancellor, said later that he almost died laughing when he heard about this legislation.

The proposed ban is the latest reminder that European Union members, and Germany in particular, have not learnt a single lesson from their serial communication failures during the crisis. In February, they made the mistake of announcing a political agreement on a Greek rescue package without backing it up for another three months. In May, they hailed the stability facility as a historic breakthrough in political governance; it then turned out to be little more than bail-out facility.

I only hope that they know what they did when they recently announced the publication of the stress tests for 25 banks. Once these are published, the markets will immediately demand to see the tests for all banks. Once that happens, in turn, governments will need to produce a convincing recapitalisation strategy. I fear, however, that they are once again committing themselves to going down a road without a map.

Without an endgame, this exercise will end in disaster. At some point the markets will realise that large parts of the German and French banking systems are insolvent, and that they are going to stay insolvent. You might think that Europe’s policy elites cannot be so stupid as to commit themselves to stress tests without a resolution strategy up their sleeves. But I am afraid they probably are. Europe’s political leaders and their economic advisers are, for the most part, financially illiterate.

Is there a way out? Yes there is, but the chance of a resolution to the crisis is starting to fade. The first step would have to be a serious attempt to resolve bank balance sheets. This is as much a German and French banking crisis as it is a Greek and Spanish debt crisis. You need to resolve both problems simultaneously. Resolution would require a large fiscal transfer, not from Germany to Greece, but from the German public sector to the German bank sector – in the form of new capital. The same would apply to France.

Beyond this restructuring, the eurozone will need to commit itself to a full-blown fiscal union and proper political institutions that give binding macroeconomic instructions to member states for budgetary policy, financial policy and structural policies. The public and private sector imbalances are so immense that they are not self-correcting. And you have to be very naive to think that peer pressure is going to resolve anything.

There is no point in beating about the bush and issuing polite calls for the creation of independent fiscal councils or other paraphernalia. This is not the time for a debate on second-order reforms. I am aware that, at a time of rising nationalism and regionalism throughout the EU, there is no consensus for such sweeping reforms. But that is the choice the EU’s citizens and their political leaders will have to make – a choice between reverting to dysfunctional and, as it transpires, insolvent nation states, or jumping to a political and economic union.

A OUTRA SUPERPOTÊNCIA



A newly unhindered China invest billions for a scientific edge

Last year, Zhao Bowen was part of a team that cracked the genetic code of the cucumber. These days, he's probing the genetic basis for human IQ. Zhao is 17.

Centuries after it led the world in technological prowess -- think gunpowder, irrigation and the printed word -- China has barged back into the ranks of the great powers in science. With the brashness of a teenager, in some cases literally, China's scientists and inventors are driving a resurgence in potentially world-changing research.

Unburdened by social and legal constraints common in the West, China's trailblazing scientists are also pushing the limits of ethics and principle as they create a new -- and to many, worrisome -- Wild West in the Far East.

A decade ago, no one considered China a scientific competitor. Its best and brightest agreed and fled China in a massive brain drain to university research labs at Harvard, Stanford and MIT.

But over the past five years, Western-educated scientists and gutsy entrepreneurs have conducted a rearguard action, battling China's hidebound bureaucracy to establish research institutes and companies. Those have lured home scores of Western-trained Chinese researchers dedicated to transforming the People's Republic of China into a scientific superpower.

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Sunday, June 27, 2010

INFORMAÇÃO ASSIMÉTRICA

Joseph Stiglitz, the Nobel prizewinner who predicted the global crisis, delivers his verdict on the Chancellor's first Budget and tells Paul Vallely it will take the UK deeper into recession and hit millions – the poorest – badly.
George Osborne will probably not be very bothered that there is a man who thinks he got last week's emergency Budget almost entirely wrong. But he should be. Because that man is a former chief economist at the World Bank who won the Nobel Prize for Economics for his work on why markets do not produce the outcomes which, in theory, they ought to.
...
Governments should set up their own banks to restart lending to businesses and save struggling homeowners from repossession. "If the banks aren't lending, let's create a new lending facility to do that job," he says. "In the US, we gave $700bn to the banks; if we had used a fraction of that to create a new bank, we could have financed all the lending that was needed."
...

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Lê-se no Público que "a chanceler alemã, Angela Merkel, adiantou hoje que as 20 economias mais industrializadas do mundo (G20), reunidas no Canadá, acordaram reduzir para metade o seu défice até 2013."

Quanto a bancos do Estado, propostos por Stiglitz para ultrapassar a escassez de crédito, Portugal já tem um e o governo tem dois. Não consta, no entanto, que daí decorra maior liquidez a jorrar para quem quer crédito.
Quanto a este confronto entre prémios Nobel (pelo menos Stiglitz e Krugman) e vários colunistas financeiros, por um lado, e o G20, por outro, salienta-se a escolha do caminho mais difícil por estes últimos.

Não costuma ser assim.
Será que os primeiros não conhecem os dados todos? 

A ALEMANHA E OS OUTROS

Há muita gente a culpar a Alemanha pelas dificuldades que alguns membros da UE, financeiramente fragilizados, estão a passar. Já toda a gente percebeu, no entanto, que essas dificuldades também decorrem da forma como se comportaram as suas economias e do excesso de liquidez que foi colocado à sua disposição durante a última década por banqueiros ávidos de remunerações e bónus respaldados pelo crédito (i)moral. 

Terá, no entanto, sido a Alemanha a grande beneficiária da moeda única europeia, proporcionando-lhe supéravites comerciais tendo como contrapartida os défices que provocaram o descalabro das finanças dos outros membros, e particularmente da Grécia, de Espanha, da Irlanda, de Porugal, de Itália?

Depende do ponto de vista.

Analisando os relatórios do PNUD - Programa para o Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, edições de 2009, aqui e 2000, aqui, que registam valores respeitantes a 2007 e a 1998, respectivamente, a evolução observada durante a década que precedeu a erupção da crise nos EUA não parece confirmar a ideia generalizada que a Alemanha foi a grande ganhadora. 

Se não, vejamos:
Em 1998, a Alemanha ocupava o 14º. lugar do ranking do índice de desenvolvimento humano (HDI), e o seu PIB per capita, em termos de paridade de poder de compra (PPP) era de 22169 dólares.
No mesmo ano, a Irlanda ocupava o 18º. lugar, com um PIB per capita de 21482 dólares.
A Itália ocupava o 19º, e o PIB per capita, 20585 dólares.
A Espanha era 21º. e o PIB per capita, 16212 dólares.
A Grécia era 25º., e o PIB per capita, 13493 dólares
Portugal era 28º., e o PIB per capita, 14701 dólares.

Em 2007, a Alemanha tinha descido para 22º. lugar, e o PIB per capita subia para 34401 dólares.
A Irlanda subira para o 5º. lugar, o PIB per capita passara para 44613 dólares.
A Itália subiu do 19º lugar para 18º., O PIB per capita 30353 dólares.
A Espanha subiu para o 15º .lugar, o PIB para 31560 dólares.
A Grécia manteve-se no 25º lugar,  o seu PIB subiu para 28517 dólares.
Portugal desceu para o 34º. lugar, o PIB per capita subiu para 22765 dólares.

Culpada, a Alemanha?

UM EXERCÍCIO COMPLICADO

G-20 faces contortions over growth, debt

Leaders wonder how to solve one problem, not create other 

The world's developed countries have built extensive public health systems, promised citizens a paycheck for life and erected a welter of protections around some industries and types of jobs. Now their leaders are conferring over a singular dilemma: how to take some of it back without undermining the economies they are trying to sustain.

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Saturday, June 26, 2010

ALGO TERÁ DE MUDAR - 2

As negociações entre Congressistas e Senadores para aprovação da lei que pretende disciplinar os mercados financeiros nos EUA terminaram de madrugada (vd notícia registada aqui). É considerada a segunda grande vitória política da administração Obama (a primeira foi a segurança social) mas, como a primeira, ficou a meio caminho, segundo uns, excedeu-se, segundo outros.

É ainda considerada a maior alteração legislativa do sistema financeiro depois da Grande Depressão de 1929. Essencialmente reformula a actividade dos reguladores, reforçando-lhe as competências, mas,  e esta é a mais contundente crítica de que desde já  é alvo, atribui aos próprios reguladores a regulamentação de grande parte das condições de operacionalidade das suas atribuições. O que, dito de outro modo, coloca os reguladores na eventual pendência da sua captura pelos operadores financeiros.  

E esse foi, e continua a ser, o maior problema da regulação e da supervisão. Quando se dá por eles, cairam nas mãos daqueles que deveriam supervisionar. Para cada regra, já o tenho anotado neste caderno, há sempre alguém que concebe uma contra-regra. A inovação financeira consiste em grande parte na invenção de soluções que ultrapassem os constrangimentos dos regulamentos.

Lamentavelmente, os grandes colossos financeiros acabaram por, cedendo aparentemente alguma coisa  manterem, realmente, o que para eles era essencial: a continuidade da promiscuidade entre as actividades bancária e a de casino.

Sem uma separação absoluta entre uma coisa e outra nunca os contribuintes se livrarão de pagar os abusos dos banqueiros, too big to fail.

PARA ACABAR DE VEZ COM A TORTURA - 2

Há muita gente a criticar a obsessão da Alemanha com o reequilíbrio das contas públicas dos estados membros da UE, e em particular do SME, numa altura em que, segundo os críticos, importava fazer exactamente o contrário, a começar pela Alemanha, que deveria deixar subir os salários e, desta forma, induzir um crescimento da procura.

Ontem, transcrevi aqui um artigo, recentemente publicado no Financial Times, onde o autor, Cambiz Alikhani,  Chief Investment Officer at Iveagh Private Investment House, propõe que os fundos (cerca de 750 mil milhões de euros) concertados para respaldar os países financeiramente fragilizados (nomedamente a Grécia, mas também Portugal e Espanha) sejam atribuídos a um Fundo Monetário Europeu com o objectivo de comprarem a dívida externa grega e, subsequentemente, a de Espanha e de Portugal. 

A ideia parece aliciante, pode é perguntar-se para quem. Sê-lo-á para a Alemanha? A pergunta é prioritária a qualquer raciocínio que possa estabelecer-se a propósito da proposta. Porque se não interessa à Alemanha, acontecer-lhe-á o que acontece a todas as boas ideias que não funcionam.  

O governo alemão, tem no actual contexto, uma posição pouco invejável: é condicionado internamente pelos alemães e pelas suas leis, mas também pelo forte envolvimento dos bancos alemães nas dívidas externas da Grécia e de Espanha; externamente, é compelida a não deixar cair qualquer membro do SME para salvar o euro e, consequentemente, a União Europeia.

A conversão de um fundo de respaldo de dívidas num fundo de aquisição de activos implica a imediata criação de moeda. Resolve o problema dos bancos envolvidos, reduz os custos da dívida para os devedores, mas, por outro lado, descomprime as acções de redução da despesa pública, do défice e da dívida, e reforça o papel de mau da fita da Alemanha.  

Não sei se é sequer uma boa ideia mas duvido que o seja do ponto de vista da Alemanha. Não é, certamente, uma ideia óbvia.
Se fosse, já estaria a funcionar.

ALGO TERÁ DE MUDAR

para ficar (quase) tudo na mesma.

Lawmakers guide Wall Street reform into homestretch

Nearly two years after tremors on Wall Street set off a historic economic downturn, congressional leaders greenlighted a bill early Friday that would leave the financial industry largely intact but facing a more powerful network of regulators who could impose limits on risky activities.

The final bill took shape after a 20-hour marathon negotiation between House and Senate leaders seeking to reconcile their separate versions. The legislation puts a lot of faith in the watchful eye of regulators to prevent another financial crisis. New agencies would police consumer lending, the invention of financial products and the trading of exotic securities known as derivatives. Bank supervisors would have the power to seize large, troubled financial firms whose collapse could threaten the entire system. The bill calls for banks to hold more money in reserve to weather economic storms but leaves the details to regulators.

But with a few exceptions, the measure avoids dictating to Wall Street what it can and cannot do. The bill does not break up big banks or ban the trading of derivatives. Nor does it significantly streamline the confusing array of financial regulators in Washington.

The House and Senate are set to vote on the legislation next week, and administration officials said President Obama could sign it into law before July 4.

The action capped a surprisingly good week for Wall Street. On Thursday, Democrats failed to pass a separate bill that would have raised taxes on some of the country's wealthiest financiers. On Friday, stocks of financial firms jumped when trading opened in New York. Many analysts said the markets breathed a collective sigh of relief that the regulatory reform talks were over and that the results could have been much worse for the financial industry.

One firm that is likely to face more oversight is Goldman Sachs, which has become emblematic of the excesses of Wall Street. Regulators would more carefully track the firm's riskiest activities. In the coming year, a regulatory council could force the bank to shed its sizable hedge funds and private-equity activities. It also could be banned from making financial trades for its own profit instead of for clients, shaving roughly 10 percent from the firm's revenue. But after those changes, Goldman Sachs and a few other financial titans will still dominate the financial system, the analysts said.

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IGUAIS À FORÇA

"Professores preferem ser todos iguais", Maria de Lurdes Rodrigues, hoje, no Expresso


Igual-Desigual

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as acções, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.

Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
ímpar.

Carlos Drummond de Andrade, in 'A Paixão Medida'
pescado aqui

Friday, June 25, 2010

PARA ACABAR DE VEZ COM A TORTURA

Europe´s "shock and awe" needs on overhaul

By Cambiz Alikhani

The sovereign debt crisis currently being experienced in Europe has many analogies with the global banking crisis that erupted in 2008. In both cases insolvency was at the heart of the problem. But in the early stage of the financial crisis authorities were essentially in denial of that and instead only recognised and dealt with the liquidity problem that had arisen from what was essentially a solvency issue.

The banking crisis was eventually only addressed when the bankruptcy of Lehman Brothers meant that a solvency problem could no longer be denied. Only then did the US Treasury ask the legislature for a taxpayer-funded bail-out of the banking system in the form of Tarp (Troubled Asset Relief Programme).

The solvency problem in peripheral Europe has two key elements to it. With regards to Greece, we are dealing with a simple inability to repay debt at the prevailing market rate of refinancing. Without European Union support, Greece would by now have had to restructure its debt and triggered an event of default.

Spain, on the other hand, has a severe solvency problem from within its banking system, in particular the “Cajas” that are exposed to bad loans made during the real-estate bubble. This simply has not been dealt with in a meaningful manner. Once it is, the balance sheet of the sovereign entity is likely to be affected as the US and the UK discovered when bailing out their banking systems. If done poorly, a solvency issue may arise at the sovereign level.

European policymakers have therefore been naïve, so far, in painting their woes as being a consequence of liquidity problems created by “speculators” and not recognising the true extent of the solvency issue that faces them. The lessons of 2008 show that such an approach is doomed to failure and that if not addressed correctly, the eventual problem and its cost is likely to be even bigger than it is now.

So what should they do? Below is a four point plan that may be sufficient to stem the crisis and deal with it in a pro-active, rather than reactive manner as well as addressing the medium-term necessity to move closer to fiscal union.

1. Announce the immediate creation of the European Monetary Fund (EMF), supported by all EU states and utilise the €750bn ($908bn) rescue package agreed to in May to fund the EMF.

2. The EMF’s first action should be to arrange a reverse auction that bids for all Greek government debt outstanding. The size of this is about €260bn (based on Bloomberg data). This would allow it to take control of Greek debt and to negotiate with Greece as one single creditor. If a debt restructuring does occur, the ensuing default does not affect previous holders of Greek government debt or the European banking system. In return for a restructuring of Greek debt, the EMF has total oversight of Greece’s deficit reduction plans.

3. The EMF also announces that for the next 18 months (until January 2012) all the funding needs of Spain and Portugal will be taken care of by the EMF. These countries will therefore not tap international bond markets over that period. This action helps to “ring fence” Spain and Portugal for the foreseeable future. The EMF then decides the appropriate course of action in Spain and Portugal both with regards to deficit reduction measures and with regards to financial system restructuring. Spain agrees to work with the EMF and to assume the ensuing increase in sovereign indebtedness that arises from bailing out its defunct “Cajas”.

4. EU puts into motion its plans for fiscal union at a future date such as 2015 and goes through the necessary process to achieve this over the next three-and-a-half years. The EMF would therefore eventually become the European Treasury and countries that do not wish to accept fiscal union exit the euro and possibly peg their currencies to the euro. This would not be disruptive to markets in the near term as the eventual plan (and possible euro exit) is still a long way away.

The sum of the above would not only allow EU policymakers to get ahead of the curve with regards to the short-term issues at hand but would also allow a long period of deliberation towards fiscal union. It has the advantage that the institutional framework for an eventual European fiscal authority would already be in existence.

The plan would go to the heart of addressing the solvency issues facing different European peripheral states. Politicians could explain to their electorates that by implementing it, the eventual cost of “restructuring” in Europe is likely to be significantly less to the European taxpayer than a disorderly collapse of the financial and currency system and that the foundations for a fiscal union would be built. This would stop the mistakes of the past being made in the future.

comentado aqui

PARA A HISTÓRIA DA INDIGNIDADE DA BANCA EM PORTUGAL

Conheço Filipe Pinhal e sempre o considerei, e ainda considero, uma pessoa de bem, apesar de algumas situações ainda pouco claras em que interveio enquanto administrador do BCP.

Em Março do ano passado, Filipe Pinhal, quando interrogado pelo Expresso "Incomoda-o o facto de o presidente do banco, Carlos Santos Ferreira, e o vice-presidente, Armando Vara, serem do Partido Socialista? Pinhal respondeu: "A filiação partidária não conta para estas coisas. Era o mesmo que dizer que o Benfica tinha tomado o BCP pelo facto de Armando Vara ser adepto convicto do clube". vd aqui

Em que ficamos, Filipe, considerando o que se lê aqui ou aqui?

"O ex-presidente do BCP, Filipe Pinhal, tece duras críticas  ao Governo por este ter nacionalizado informalmente o banco. Mas não fica por aqui. PS, CGD, BES e Joe Berardo são igualmente alvo de críticas, com o responsável a considerar que o banco passou a ser uma “central de informações e de influência”.

As declarações constam de um documento que está na posse da defesa do ex-responsável, citado pelo jornal “Sol”.

No documento Pinhal adianta que a administração de Santos Ferreira e de Armando Vara foi constituída e passou a liderar uma instituição que é “uma central de informações e de influência” e que passou o seu “comando efectivo” para Joe Berardo.

Filipe Pinhal acusa ainda o grupo de accionistas liderado por Joe Berardo de se ter aliado a “figuras proeminentes do PS a membros do Governo, com destaque para o primeiro ministro e o ministro da Economia [na altura Manuel Pinho], beneficiando do apoio secreto do presidente do Banco Espírito Santo”, Ricardo Salgado. Uma atitude que o ex-presidente do BCP considera ter sido para “tomarem de assalto o poder” do banco.

No mesmo documento, citado pelo “Sol”, Filipe Pinhal considera que “a destruição do BCP” é “um crime que não prescreve”. E traça o percurso do banco: “foi dificilmente construído em 20 anos, rapidamente destruído em 20 dias e severamente arruinado em três anos”.
.
Que o PS tomou conta do BCP é por demais evidente para Pinhal só agora ter descortinado o óbvio. Por que razão deu a resposta que deu em Março de 2009 só ele poderá responder.
Seria interessante que o jornalista lhe colocasse a pergunta.

TIROS NOS PÉS

Atentado à bomba na Grécia mata chefe de segurança ministerial, lê-se no Público online de hoje.

Ontem, o artigo do Washington Post que transcrevi aqui era acompanhado desta fotografia, e da legenda "Tourists wait at the Piraeus Port, near Athens, where striking workers prevented hundreds of passengers from boarding ferries."  

Dos muitos milhões de pessoas que lêm estas notícias, aquelas que desejam visitar a Grécia e as suas ilhas, retrair-se-ão perante os perigos e os incómodos que elas promovem.

A ultrapassagem da crítica situação grega (não muito mais crítica que outras, incluindo Portugal) não passa por maior prodigalidade do governo alemão mas, essencialmente, pelo crescimento económico. Ora a economia grega tem de contar com o turismo como um dos sectores mais decisivos  para o seu crescimento.

Não são as notações de ranking que afastam os turistas da Grécia, nem o nível de endividamento dos gregos. O que contraria o crescimento económico não são essencialmente as restrições financeiras mas os bloqueamentos das capacidades produtivas disponíveis. Os constrangimentos financeiros são sempre resultado de deficiente gestão dos recursos disponíveis.

Krugman, Stiglitz, Martin Wolf, Soros, etc., poderão criticar a Alemanha pela sua obsessão com a inflação (e as repercussões que essa obsessão terá na Europa e, mais preocupante para eles, nos EUA e no UK), mas não podem refutar o óbvio: os países financeiramente mais fragilizados são aqueles onde as economias são estruturalmente menos resistentes à crise. O caso da Espanha é pardigmático. Como não se cansa de salientar Krugman, a Espanha tinha antes da crise de 2007 as finanças públicas equilibradas, na realidade estava até a gerar saldos fiscais positivos e a dívida pública apresentava níveis relativamente ao PIB abaixo dos observados na Alemanha.

vd aqui
A azul a Alemanha, a vermelho a Espanha.

O problema de Espanha é a sua fortíssima dependência da construção civil e obras públicas. A reacção de contracção (tardia e conivente) dos bancos credores deve-se à quebra de confiança na capacidade espanhola de solver os seus compromissos após o rebentamento da bolha imobiliária (há muito tempo esperada) e ao elevado nível de desemprego que reduz a capacidade dos tomadores de empréstimos de pagarem as suas dívidas.

O espectro da bancarrota não se avoluma necessariamente em função do limite de endividamento atingido. Como referem Reinhart e Rogoff em This Time is Different, o nível de endividamento público máximo previsto no Tratado Maastricht (50% do PIB) não corresponde ao nível máximo historicamente tolerado. Muitos países (sobretudo os de economias emergentes) entraram em bancarrota bem abaixo daquele limite enquanto outros se sustentaram sem quebrar com níveis de endividamento muito superiores.

É a situação económica que, fundamentalmente, comanda a resistência financeira de cada país.

É por essa razão que Krugman, Stigliz, Martin Wolf, Soros etc. só aparentemente divergem de Constâncio e Beça, por exemplo. Portugal e Alemanha enfrentam problemas completamente diferentes. E a Alemanha não pode resolver os nosso problemas, que têm se ser resolvidos por nós. Pode dar uma ajuda.

E não se apaga o fogo financeiro lançando-lhe dinheiro em cima.

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No Jornal de Negócios on line de hoje: França pretende reduzir o défice orçamental em 40 mil milhões de euros . Ninguém na Europa parece dar ouvidos a Krugman & Cª.

O QUE É ISTO?

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The Starry Night of Alamut

Thursday, June 24, 2010

POR OUTRO LADO, A CHINA

Um interessantíssimo artigo de Robert Reich, aqui.

Why China's Currency Annoucement is Hokum

MATRAQUILHOS

Vi hoje por televisão, pela primeira vez, um jogo de futebol em 3D.
Gostei. Lembrou-me os matraquilhos.

A EUROPA CONTADA AOS AMERICANOS

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For an entire generation of European leaders, the euro coins jangling in their pockets are more than just a currency. They are a powerful driver of political unity on a continent where people speak more than two dozen languages and spent much of the 20th century fighting each other.

Now, as the euro faces a challenge like none before, the question is whether it will last.

The debt crisis that began in Greece and menaces half a dozen other European nations has caused the euro to lose 15 percent of its value relative to the dollar since January. Some economists consider it obvious that the currency union will not survive in its present form, that one or more southern European nations will end up reverting to liras, pesetas and drachmas.

That leaves the future of European unity to be decided not merely by politicians in Paris, Berlin and other capitals, but in a glass skyscraper in this banking hub, by a French banker named Jean-Claude Trichet and his 1,600 employees. Less than a decade after cash machines across the continent started spitting out the same currency -- and less than a month after it laid the cornerstone for a new permanent headquarters -- the European Central Bank is facing extraordinary pressure to keep the euro, and Europe, together.

The bank has crossed into virgin territory in response to the crisis, buying billions of euros' worth of government bonds to try to stabilize markets. But those actions have unleashed new tensions at the heart of the ECB as its largest member, Germany, recoils from what it sees as a violation of the most deeply held principles of central banking.

The challenge

The ECB's challenge is to craft one policy that will work for in 16 member countries from Finland to Portugal, which have different economic conditions -- and views about inflation and employment.

Trichet testified Monday that a broad new strategy of cooperation -- perhaps involving stronger restrictions on government deficits and new means of helping troubled states -- is the key to Europe's economic future. He told the European Parliament that he envisions "the equivalent of a fiscal federation," which would "require a quantum leap in terms of progress" toward a stronger economic union.

In their effort to hold Europe together, Trichet and his colleagues have upended the traditional rules under which they operate, taking a page from the playbook that Chairman Ben S. Bernanke used at the U.S. Federal Reserve during the financial crisis. But these efforts have exposed new strains within the organization, complicating their efforts.
Early last month, the European debt crisis spiked and markets turned hard against Spain, Portugal, Italy and Ireland, significantly increasing their cost for financing government spending. One solution would be for the ECB to intervene in the market, buy some of those countries' bonds and thus force down the price of borrowing money.

But the ECB has no authority to buy government debt, a power that other central banks, such as the Federal Reserve and Bank of England, have. That restriction reflects deep German opposition to any policies that carry a risk of fueling inflation, borne of the hyperinflation in that country in the 1920s. The rules are meant to prevent the ECB, which is modeled after the German national bank, from essentially printing money to lend to national governments. German politicians and economists were aghast at the idea of compromising that core principle because of, in their view, the fiscal profligacy of a few euro member states.

As the situation grew dire, however, Trichet and his colleagues decided that the goal of European unity was more important.

The compromise: They would buy bonds on the open market, not directly from governments, getting around the prohibition on funding government debt. At the same time, they would take other steps to avoid increasing the money supply, thus easing any inflationary pressures.

Announced in conjunction with a $1 trillion European Union program to backstop governments' debts, the actions worked to stop the free fall in debt markets, and European financial markets have been more stable since the announcement.
 
But speculation remained rampant, especially in Germany, that the program was a backdoor way to print money for free-spending Greek, Portuguese and Spanish governments. The blowback from Germany has been immense.

German blowback

Axel Weber, the head of the German national bank and a member of the ECB governing council, said in a newspaper interview that he sees the decision "in a critical way" because of the risks that it could undermine long-term economic stability.

After fighting back one threat to the euro, Trichet and his eventual successor now must deal with another: German frustration.

"Euro area governments have effectively thrown away the rulebook," said Volker Wieland, an economist at Goethe University Frankfurtand a leading ECB-watcher. "It's a complete regime change. No-bailouts and individual fiscal responsibility have been replaced with mutual guarantees" for government debt.

These tensions, in part, reflect decisions made by European leaders almost two decades ago. Instead of waiting to adopt the euro until European countries had grown more integrated with each other, making a currency zone easier to administer, the leaders decided to move ahead. They calculated that having a single currency would bring the countries closer together, leading to better collaboration on everything from the environment to defense policy.

This mission gives the ECB a political importance that is in some ways greater than that of its counterparts overseas, such as the Fed. The ECB is designed from the ground up to achieve that unity. The bank keeps minutes of policy meetings secret for 30 years, in contrast with the Fed, which releases minutes three weeks later. The ECB's aim is to allow policymakers to advocate what they think is best for the euro area as a whole, freeing them from public pressure to represent their nations' interests.

With Trichet's eight-year term expiring late next year, followers of the ECB see Weber as the most likely successor because he is the most powerful central banker in the largest eurozone country. Other European leaders might worry, though, whether he will be flexible enough to keep the euro together.

But even as the debt crisis has cast Europe's fissures into high relief, it has reminded European leaders of how much they stand to lose if these divisions are left unaddressed.

"The stakes are so high, I think the incentives are high to sort it out," said Michael Dicks, chief economist of Barclays Wealth. "That's the biggest silver lining. That's why you are seeing huge pressure to do what Europe has never done before, which is work together."

QUEM É QUE FALOU EM GUERRA?

A Alemanha é um perigo para a Europa, afirma Soros numa entrevista que registei ontem aqui e aqui. O artigo do Jornal de Negócios que resumia a entrevista acrescentava, em abono da posição de Soros que,
"Mais mordaz foi o Nobel da Economia Paul Krugman. "O mundo não precisa de menos, mas sim de mais programas de apoio à conjuntura, e a política de estabilidade alemã actualmente é o caminho errado". "Só quando a armadilha da depressão estiver afastada é que os governos devem ocupar-se dos défices", disse, sublinhando que "a deflação é um perigo muito maior do que a inflação".
O professor da Universidade de Princeton adverte inclusive para o cenário de uma guerra comercial entre EUA e Europa. "Se o euro passar a ter paridade com o dólar, os europeus vão ficar admirados com a s exigências que o Congresso dos EUA fará, e eu apoiarei", vaticinou. "Não permitiremos que alguns países exportem a sua política de austeridade e façam aumentar o desemprego nos Estados Unidos", alertou ainda Krugman.

A reacção dos alemães às contundências de Krugman não se fizeram esperar. Como pode constatar-se  aqui, a opinião de Krugman acerca da política mais conveniente neste momento depende do ponto de vista do observador. E a de Krugman é muito clara nos seus propósitos. Aos EUA não convém que o euro se desvalorize a ponto de favorecer as exportações da Europa e, em particular, da Alemanha. Já lhe basta a China e o  persistente atrelado da renminbi ao dólar. 
   
No seu blog, Krugman queixa-se (ou acusa) "They hate me".

Quem se perfila do lado alemão é Trichet: Trichet pede medidas credíveis de consolidação orçamental na Zona Euro.
Os receios de uma recaída grave das economias ocidentais pairam no ar: "Vamos ter um crash algures em 2008, afirma Tim Howkins, CEO do IG Group. Os principais problemas são a crise da dívida pública e os bancos. Bolsas europeias em queda com Grécia e Espanha a liderar as perdas  num dia em que os receios com as dívidas de alguns países da região voltam a penalizar o sentimento dos investidores.
Et pour cause, o Secretário do Estado do Tesouro português entende que o BCE pode reforçar o seu papel no apoio à banca. Supõe-se que onde o SET disse "pode" queria dizer "deve".

Provavelmente, não terá alternativa.

AS GUERRAS DE OBAMA


Obama retira a McChrystal o comando das tropas norte-americanas no Afeganistão e chama Petraeus para o substituir.

McChrystal tinha-se permitido fazer considerações que denegriam os seus superiores civis. 
Obama chamou-o e despediu-o. É assim que funciona  democracia.

President Obama dismissed Gen. Stanley A. McChrystal on Wednesday after concluding that his military chief in Afghanistan had badly damaged the chain of command and could no longer work effectively with the civilian leadership at a crucial moment in the war.

By selecting Gen. David H. Petraeus to take charge of the war in Afghanistan, President Obama has minimized the turmoil of a leadership change and built at least a temporary buffer against growing concern that his strategy is not demonstrating enough progress against the Taliban.
But in turning to the nation's most prominent general, Obama has embraced a commander who may become a formidable advocate for slowing, or arresting outright, the pace of troop reductions next summer.
In the short term, choosing Petraeus to replace Gen. Stanley A. McChrystal avoids many of the problems associated with removing the commander of a war effort involving 120,000 U.S. and NATO troops, billions of dollars in reconstruction projects and sensitive diplomatic negotiations.
------
U.S. identifies vast riches of minerals in Afghanistan
A bleak Ghazni Province seems to offer little, but a Pentagon study says it may have among the world’s largest deposits of lithium.

Wednesday, June 23, 2010

POR 42 MILHÕES DE EUROS

"O bebedor de absinto"
Picasso
Previa-se que atingisse um valor entre 30 a 40 milhões de libras (36 a 48 milhões de euros).
Foi vendido por 42 milhões de euros.

NÓS E OS OUTROS

A crise continua a ameaçar as economias ocidentais e, naturalmente, as medidas de austeridade adoptadas, ou em vias disso, suscitam polémica entre políticos e economistas, defendendo uns que a recuperação económica passa pela redução dos défices fiscais e das dívidas públicas, avisando outros que, nas actuais circunstâncias, a contracção da despesa pública terá inevitavelmente como consequência o agravamento da crise, a deflação, uma peste pior que a inflação.

O artigo de Martin Wolf que transcrevi na íntegra (este meu hábito de transcrição total resulta do facto de não ter subscrição do FT e o acesso ser indirecto) aqui, aborda, uma vez mais, o assunto reforçando a convicção do autor que é cedo para retirar estímulos e que a boa política estará na continuação da emissão de liquidez pelos bancos centrais, contrariando a persistência alemã na redução dos défices públicos (incluindo o da Alemanha) mas também, por exemplo, a do novo governo do Reino Unido (vd aqui ).

Martin Wolf está bem longe de estar isolado nesta sua cruzada. Soros, por exemplo, critica duramente a política de Angela Merkel (vd aqui ). Paul Krugman (vd aqui, por exemplo), Stiglitz, entre outros propõem a continuação de uma intervenção expansionista dos Estados, avisando que a redução precipitada dos défices fiscais poderá ter consequências dramáticas globais nas economias. 

O que é que tudo isto poderá ter a ver connosco? Tem muito, porque envolvidos numa economia aberta, nela se reflictirão as consequências das políticas adoptadas pelos nossos principais parceiros comerciais. 

Por outro lado, o nosso grau de liberdade de escolha encontra-se fortemente condicionado pelas medidas adoptadas pela UE, em particular pela Zona Euro, mas também pelas restrições que impendem sobre a nossa capacidade de razoavelmente aumentarmos os níveis de endividamento público e privado. Porque essa capacidade não somos só nós que a avaliamos mas, sobretudo, os credores externos.

Dito de outro modo: Mesmo que Wolf, Krugman, Soros, Stiglitz, etc. tenham razão, mesmo que o BCE decidisse garantir-nos a liquidez necessária à continuação do crescimento do endividamento do País, faria sentido continuar uma política de auemento da despesa e dos investimentos públicos? Aumentar o investimento faz sempre sentido desde que o retorno esteja muito provavelmente assegurado. Quem pode assegurar?

Mais tarde ou mais cedo as taxas de juro da dívida pública irão subir para além dos níveis preocupantes que já atingiram. Uma política de redução do défice certamente que terá um efeito contraccionista sobre  a economia a curto prazo. A continuaçao de uma política de crescimento da dívida seria uma tragédia a média prazo.

Se a Alemanha expandisse, ganharíamos com isso, certamente. Mas quem é que convence os alemães a gastarem mais do que desejam? 

O QUE DIZ MARTIN WOLF

Martin Wolf

Festina lente – hurry slowly – is advice we have inherited from the ancient Romans. Western policymakers should now take it to heart. Confronted with huge fiscal deficits, many have concluded that they should hurry fiscal tightening on as fast as possible, in the hope that it will prove expansionary. What are the chances that they will be right? Small, I believe. Moreover, rather better alternatives are on offer. But their drawback is that they are unorthodox: alas, many “sound” people prefer orthodox recessions to unorthodox recoveries.

Why might a sharp structural fiscal tightening promote recovery? As Harvard’s Alberto Alesina and Silvia Ardagna note in an influential paper, smaller prospective deficits may improve confidence among consumers and investors, thereby raising consumption and lowering risk-premia in interest rates.* Meanwhile, on the supply side, fiscal tightening may increase supply of labour, capital or entrepreneurship. The broad conclusions of their paper are that fiscal adjustments “based upon spending cuts and no tax increases are more likely to reduce deficits and debt over gross domestic product ratios than those based upon tax increases. In addition, adjustments on the spending side rather than on the tax side are less likely to create recessions.” This line of argument has strengthened the will of George Osborne, the UK’s new chancellor of the exchequer.

Is it persuasive? In a word: no. The authors group together data for members of the Organisation for Economic Co-operation and Development between 1970 and 2007. But the impact of fiscal tightening is going to depend on circumstances.

A reduction in the fiscal deficit must be offset by shifts in the private and foreign balances. If fiscal contraction is to be expansionary, net exports must increase and private spending must rise, or private savings fall. Thus, experience of fiscal contraction is going to be very different when it occurs in a few small countries, not in many big ones simultaneously; when the financial sector is in good health, not impaired; when the private sector is unindebted, not highly leveraged; when interest rates are high, not close to zero, when external demand is buoyant, not feeble; and when real exchange rates depreciate sharply rather than remain fixed.

In short, when, as now, the economies affected by financial sector fragility make up half of the world economy (indeed, together with the still feeble Japanese economy, close to 60 per cent); when the most dynamic large economy in the world – China – is mercantilist; when interest rates are near zero; and when businesses and households are credit-constrained, the view that an early fiscal tightening will prove strongly expansionary is surely heroic. I hope it will be true. But there is little reason to believe it.

Another study, by the US Committee for a Responsible Federal Budget, examined the cases of Canada, Denmark, Finland, Ireland and Sweden. What emerges is the importance of external demand and, in several cases, of huge exchange rate depreciations (see chart). Are these successful examples really relevant to the US and European Union today? I very much doubt it.


Yet another approach is to find a situation that is indeed quite like today’s. The closest parallel is the 1930s, in terms of the proportion of the world economy affected by the crisis, the low interest rates and the disinflationary (or, in that case, deflationary) background. A study published last year concluded that fiscal stimulus was effective when tried.** It follows that fiscal tightening would have been – indeed was – contractionary at that time.

In current circumstances, the belief that a concerted fiscal tightening across the developed world would prove expansionary is, to put it mildly, optimistic. At this stage, I will inevitably be asked: what is the alternative? If these huge deficits continue, markets will take fright, interest rates will jump and the debt dynamics will become truly awful.

I have two responses to this.

The first, one I made a week ago, is that the deleveraging cycle is generating huge private sector financial surpluses across the developed world. Unless we expect a shift into aggregate external surpluses (and corresponding deficits in the emerging world), these surpluses must now to be invested in government liabilities. This helps explain why yields on the bonds of safer governments remain so low.

The second response is that if governments need to run deficits, to support demand at a time of private sector weakness, they can always borrow from central banks. Yes, this is “printing money”. It is also an insanely radical policy recommended by no less insane a radical than Milton Friedman, back in 1948. His view was that the government could expand the money supply during recessions and contract it in the subsequent booms. A country with a fiat currency and a floating currency could, thus, stabilise the economy without destabilising credit markets. The neat thing about this proposal is that one does not have to decide whether fiscal policy or monetary policy is doing the heavy lifting: they are two sides of one coin.

The argument for aggressive monetary expansion remains strong, though not equally everywhere, since the growth of broad money and nominal GDP is weak (see chart). So Friedman’s policy of “quantitative easing”, as it is called, still makes good sense. Am I recommending the economics of Robert Mugabe? No. As in everything else, it is the context that matters. At present, we have “too little money chasing too many goods”. In this environment, monetary policy must be aggressive. When the economy recovers, the monetary effects should be withdrawn, via budget surpluses obtained via long-term control over spending. In the short term, changes in reserve requirements can offset the impact on monetary expansion of the rise in deposits of commercial banks at the central bank. Since, in practice, the money supply is driven more by the demand for credit than reserves, this may be unnecessary.

The conventional wisdom is that a strong and co-ordinated structural fiscal contraction, focused on spending, will promote the growth of a thousand private blooms. I hope this will prove true. But I doubt it. Governments should hurry slowly. If they all hurry quickly, they – and we – may regret it nearly as soon.

* Large changes in fiscal policy, working paper 15438, www.nber.org
** Almunia et al, The effectiveness of fiscal and monetary stimulus in depressions, www.voxeu.org