Saramago, depois do incidente provocado pela decisão de Sousa Lara, nunca mais se reconciliou com Portugal. A sua reclusão em Lazarote foi mais uma reacção de protesto que uma procura de tranquilidade para escrever. A sua ligação com Pilar foi, por outro lado, decisiva para a sua opção por Espanha para a concretização de um protesto que hipervalorizou uma decisão obscurantista mas isolada.
A Espanha retribuiu. El País, em particular, nunca lhe poupou encómios e sempre lhe ofereceu espaço para exprimir as suas convicções políticas mesmo quando elas atingiam personalidades políticas do país onde residia.
Em Portugal, foi o Nobel que lhe atribuiu o reconhecimento que, de outro modo, não teria atingido. Saramago foi uma personalidade controversa e, em Portugal, essa condição sobrepôs-se frequentemente à dimensão do escritor. Em Espanha, pelo contrário, a pessoa era menos conhecida que o seu pensamento e as contradições entre a mensagem e a imagem menos salientes.
O tempo tenderá a relevar a obra e a desvanecer o homem. E a fazer desaparecer um Lara qualquer que entrou abusivamente na sua história.
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