Friday, June 25, 2010

TIROS NOS PÉS

Atentado à bomba na Grécia mata chefe de segurança ministerial, lê-se no Público online de hoje.

Ontem, o artigo do Washington Post que transcrevi aqui era acompanhado desta fotografia, e da legenda "Tourists wait at the Piraeus Port, near Athens, where striking workers prevented hundreds of passengers from boarding ferries."  

Dos muitos milhões de pessoas que lêm estas notícias, aquelas que desejam visitar a Grécia e as suas ilhas, retrair-se-ão perante os perigos e os incómodos que elas promovem.

A ultrapassagem da crítica situação grega (não muito mais crítica que outras, incluindo Portugal) não passa por maior prodigalidade do governo alemão mas, essencialmente, pelo crescimento económico. Ora a economia grega tem de contar com o turismo como um dos sectores mais decisivos  para o seu crescimento.

Não são as notações de ranking que afastam os turistas da Grécia, nem o nível de endividamento dos gregos. O que contraria o crescimento económico não são essencialmente as restrições financeiras mas os bloqueamentos das capacidades produtivas disponíveis. Os constrangimentos financeiros são sempre resultado de deficiente gestão dos recursos disponíveis.

Krugman, Stiglitz, Martin Wolf, Soros, etc., poderão criticar a Alemanha pela sua obsessão com a inflação (e as repercussões que essa obsessão terá na Europa e, mais preocupante para eles, nos EUA e no UK), mas não podem refutar o óbvio: os países financeiramente mais fragilizados são aqueles onde as economias são estruturalmente menos resistentes à crise. O caso da Espanha é pardigmático. Como não se cansa de salientar Krugman, a Espanha tinha antes da crise de 2007 as finanças públicas equilibradas, na realidade estava até a gerar saldos fiscais positivos e a dívida pública apresentava níveis relativamente ao PIB abaixo dos observados na Alemanha.

vd aqui
A azul a Alemanha, a vermelho a Espanha.

O problema de Espanha é a sua fortíssima dependência da construção civil e obras públicas. A reacção de contracção (tardia e conivente) dos bancos credores deve-se à quebra de confiança na capacidade espanhola de solver os seus compromissos após o rebentamento da bolha imobiliária (há muito tempo esperada) e ao elevado nível de desemprego que reduz a capacidade dos tomadores de empréstimos de pagarem as suas dívidas.

O espectro da bancarrota não se avoluma necessariamente em função do limite de endividamento atingido. Como referem Reinhart e Rogoff em This Time is Different, o nível de endividamento público máximo previsto no Tratado Maastricht (50% do PIB) não corresponde ao nível máximo historicamente tolerado. Muitos países (sobretudo os de economias emergentes) entraram em bancarrota bem abaixo daquele limite enquanto outros se sustentaram sem quebrar com níveis de endividamento muito superiores.

É a situação económica que, fundamentalmente, comanda a resistência financeira de cada país.

É por essa razão que Krugman, Stigliz, Martin Wolf, Soros etc. só aparentemente divergem de Constâncio e Beça, por exemplo. Portugal e Alemanha enfrentam problemas completamente diferentes. E a Alemanha não pode resolver os nosso problemas, que têm se ser resolvidos por nós. Pode dar uma ajuda.

E não se apaga o fogo financeiro lançando-lhe dinheiro em cima.

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No Jornal de Negócios on line de hoje: França pretende reduzir o défice orçamental em 40 mil milhões de euros . Ninguém na Europa parece dar ouvidos a Krugman & Cª.

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