Wednesday, June 30, 2010

O POSSÍVEL E O DESEJÁVEL

Em sequência do que escrevi aqui fui confrontado aqui com um texto de Paul De Grauwe publicado aqui.
(Paul De Grauwe é professor de economia na Universidade Católica de Lovaina, Bélgica, e adviser do Presidente da Comissão Europeia, José Barroso).

Essencialmente, De Grauwe defende neste texto que  a união política é condição necessária à sobrevivência da União Europeia. Como adviser de Barroso, certamente que Barroso há muito tempo que está avisado, se é que, a este respeito, precisava de aviso. Barroso, no entanto, sabe que De Grauwe sabe que a política é a arte do possível. E que a ideia, sendo pertinente, não se consuma com um aviso de De Grawe nem com o manifesto de centenas deles. A Europa está obrigada a percorrer um percurso para o futuro mais sinuoso.

Quanto à união política como forma de consolidar a Europa, que Paul De Grauwe defende (entre muitos outros) não é por aí que discordamos. Se dependesse de mim, ..., teríamos os Estados Unidos da Europa amanhã de manhã. Nesse aspecto não deixo que, quanto à União Europeia, De Grauwe, e outros mais, seja mais federalista que eu.

A questão não é essa.

Eu não discordo daqueles que defendem uma maior integração política europeia para a sobrevivência da União. Do que discordo é que a integração imediata seja condição sine qua non para essa sobrevivência.
A construção europeia não se fez no passado pela força das armas, não se fará por imposição de causas circunstanciais por mais prementes que possam apresentar-se.

As culturas europeias são democráticas e a democracia, já se sabe, não tem o jogo de cintura das ditaduras. A União Soviética foi erigida em três tempos mas deu no que deu.

Um outro argumento de que discordo, é o do carro à frente dos bois: o euro não deveria ter precedido a união política sob pena de, ab initio, ser relegado ao fracasso.

Convenhamos, no entanto, que, há ainda bem pouco tempo, quase toda a gente reconhecia no euro um caso de sucesso sem precedentes.

Em que ficamos?

Alguém pode acreditar que alguma vez seria possível construir uma federação de mais de 300 milhões de pessoas, culturalmente diferentes, convocando-as para uma união política sem antes ter percorrido um caminho em conjunto, ainda que muitas vezes tortuoso?

Acreditam os que não estão de boa fé. Ou têm outros objectivos em vista.

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