Wednesday, October 31, 2018

ALIÁS


Aliás, 13

OUTUBRO 31, 2005


O PRESIDENTE PODE

“Se não for cobarde o Presidente pode…”


Leio esta frase na crónica dominical de António Barreto no “Público” do passado domingo, 23 de Outubro, e constato que ninguém reagiu ou eu não dei por isso.
E, no entanto, a gravidade dos termos pareceria dever suscitar reacção equiparada. Nos tempos em que a defesa da honra se sobrepunha à defesa da vida, alguém teria obrigado AB a um duelo.
Nos dias de hoje, contudo, o instinto de sobrevivência sobrepõe-se a tudo e a honra anda pelas ruas da amargura. Duelos, só verbais, e mesmo assim, com todas as cautelas, não vá alguém ficar arranhado.
Algumas questões elementares se podem, no entanto levantar a propósito da acção possível do Presidente sobre, por exemplo, a decência na política em Portugal.



Se o Presidente tivesse dirigido à Assembleia da República uma mensagem exortando aqueles que, vergonhosamente, apresentaram contas por viagens fictícias, a demitirem-se por peculato, os casos Marco de Canavezes, de Felgueiras, Oeiras e outras roubalheiras teriam acontecido?



Se o Presidente tivesse, em nome da decência política, denunciado publicamente a contradição entre as promessas (de Durão) de não aumento dos impostos e a prática oposta logo que ganhou as eleições, aumentando-os, teria Sócrates procedido exactamente do mesmo modo passado pouco tempo, quando chegou o seu tempo?



Se o Presidente tivesse exortado os agentes da Justiça a procederem de forma que a Justiça exista, teríamos tantos processos acumulados, tantos prescritos, tanta descrença, tanta falta de sentido de Estado?



Se o Presidente, antes de promulgar, perguntar porquê, assistiríamos a esta corrida oportunista dos autarcas para salvaguardar o seu regime especial de reforma antes da entrada em vigor de novas condições, aproveitando o propositado relaxe das entidades por onde transitaram até chegar até ele?



Se o Presidente, eleito por sufrágio universal, usar todos os poderes que a Constituição lhe confere, não poderemos passar a viver num País mais decente, mais justo e mais próspero?



Para exercer tão alto cargo é preciso assim tanta coragem?



Não é. Basta cumprir o juramento.

Saturday, October 27, 2018

SUPER REALISTA AUSTRÁLIA








WHAT IS THE biggest problem facing America? Or Japan? Or Britain? Or France? Opinions vary, naturally, but some worries crop up again and again. Those of a materialist bent point to decades of slow growth in median incomes, which has bred disillusion and anger among working people. Fiscal hawks decry huge public debts, destined to grow even vaster as ageing populations rack up ever bigger bills for health care and pensions. Then there is immigration, which has prompted a furious populist backlash in the United States and all over Europe. That hints at what, for many, is the most alarming trend of all: the lack of any semblance of a political consensus about how to handle these swelling crises.

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Thursday, October 25, 2018

QUARTEL BOAVIDA



Quando a coronela entrou em casa, faltava pouco para o meio dia, tinha saído para o giro da manhã, apanhar ar, mexer as pernas, palrar com as amigas, quase todas casadas com oficiais do quartel onde o seu esposo, o coronel, era o comandante, por ali toda a gente a conhecia pela coronela ainda que ninguém a tratasse senão pelo próprio nome, deparou-se com o coronel sentado no sofá, esbragalado, a limpar-se a um guardanapo encharcado do suor que, sem parar, lhe escorria em bica na cara e no pescoço. O que é que te aconteceu homem?, perguntou repetidamente a coronela, e o coronel, nada, mudo continuava a enxugar o suor, fala, desembucha, sentes-te mal? queres que chame o médico, que te leve ao hospital? não falas, não consegues falar, saíste e voltaste porquê?, fala, homem, pelo amor de Deus! O coronel não falava nem parava de enxugar-se ao mesmo tempo que atirava à coronela olhares de fera ferida.
Desesperadamente movida pelo mutismo do coronel, chegou-se a ele para repetir vezes sem conta, abanando-o, as perguntas que tinha feito sem obter resposta. O corpo do coronel deixou-se abanar sem resistência, um saco meio cheio que nem tomba nem se endireita. Tanta ausência de reacção impeliu a coronela para um gesto que, nem nos seus mais estrambólicos sonhos, alguma vez pensara praticar na vida: cansada de tanto abanar sem resultado, perdeu a lucidez e o respeito pelo marido e pespegou duas estaladas, uma em cada lado, nas bochechas mais rosadas e encharcadas que nunca do coronel.
Chegados a este ponto, o coronel falou, mas falou a chorar: Tinha sido demitido pelo seu general chefe maior do exército, e porquê?, porque desaparecera o quartel, o seu quartel, para parte incerta.
- Desapareceu o quê? 
- Isso mesmo que tu ouviste, o quartel, o meu quartel, o nosso quartel. 
O homem está louco, pensou a coronela porque não podia pensar outra coisa, encontrando-se ela em perfeito juízo. Quartel não é coisa que desapareça, podem desaparecer coisas de um quartel para qualquer parte, quartel é coisa que não pode desaparecer para parte incerta, pensava com toda a lógica cartesiana que conseguia juntar a coronela, e o coronel, a ouvi-la com olhos ainda mais mal mortos que mostravam o abismo que se abrira na sua cabeça castrense entre uma realidade que não entendia e o raciocínio irrebatível da coronela.
Depois, mais impulsionada pelo arrependimento do gesto irreflectido que pelo amor já desgastado pelos anos de vida em comum, a coronela abraçou o marido e juntou ao suor que o guardanapo não estancava lágrimas incontidas durante largo tempo. O coronel, era evidente, para ela naquele momento, passara-se. Um qualquer acidente vascular, ou, sabia-se lá, talvez uma emergência súbita de alzheimer, tinha-lhe dado volta ao miolo, o coronel saíra bem disposto de casa, e, de um momento para o outro não sabia em que terra estava, alguém conhecido o trouxera para casa, e na mente do comandante o seu quartel desaparecera de onde, de modo algum, podia desaparecer.
Agora não valia a pena perder tempo a tentar reparar o mecanismo estropiado com argumentos, o mais sensato era levá-lo ao hospital antes que o derrame cerebral se agravasse e o homem lhe ficasse em casa sem préstimo durante, possivelmente, muitos anos. Ele ainda era novo, cinquenta e cinco feitos na semana passada, podia recuperar, anda daí coronel, vem mostrar-me o espaço de onde roubaram o nosso quartel, dizia ela ao mesmo tempo que o incentivava a levantar-se com a intenção de o levar para o hospital. Levantou-se o coronel a custo, enorme era o peso do seu desespero em cima do seu corpo bem nutrido, o guardanapo encharcado já lhe deixava mais suor no rosto que retirava dele. Na rua, adiantou-se a coronela a tirar da mala a chave do seu carro, não reparou o coronel na intenção da mulher, e caminhou para a sua viatura estacionada no outro lado da rua. 
- Boavida! Vamos no meu carro.
O coronel encolheu os ombros conformado com a ordem da mulher, aquele era um dia de novidades, tinham-lhe roubado o quartel, o quartel todo, durante a noite, tinha sido demitido pelo seu chefe maior, a mulher dera-lhe duas bofetadas, agora tinha de seguir na viatura dela para o local onde até ao dia anterior houvera um quartel, o seu.
Guiou a coronela o carro na direcção do hospital que ficava no sentido oposto que conduzia ao quartel, e o coronel perguntou-lhe se ela sabia onde ficava o quartel, porque perguntas Boavida? ora por que pergunto, porque vais em sentido contrário, ou dás meia volta ou nunca mais chegas ao sítio do quartel roubado. Percebeu, então, a coronela que o coronel, no fim de contas, tinha os pontos cardeais no sítio, se calhar tinham mesmo feito desaparecer o quartel, há mágicos que até fazem desaparecer aviões, por alguns instantes, deve ter acontecido isso, o general chefe maior precipitou-se, certamente, os generais não sabem de ilusionismo, vou dar meia volta ali adiante, na próxima rotunda, as rotundas foram a grande invenção do século passado, quando chegarmos já ao quartel foi retirada a cortina mágica, o Boavida será reintegrado, tudo está bem quando acaba bem. 
Mas não estava.

Foi difícil chegar ao local do quartel roubado e impossível conseguir ver aquilo a que os repórteres já designavam por ground zero, à volta do qual se tinha formado um cordão de gente vinda de muitos lados, o caso tinha-se tornado notícia mundial, expandira-se globalmente através das redes sociais já  havia por ali muitas explicações para o fenómeno, mas o fenómeno era inexplicável. 
- O que é que aconteceu por aqui?, perguntava um sujeito baixote, que só via gente à sua frente, a um tipo alto que via por cima das cabeças dos outros.
- Parece que durante esta noite desapareceu daqui o quartel.
- E o que é que se vê?
- Só um largo. 
- E que tem o largo?
- Nada.
- Não ficou nenhum buraco?
- Não. Não se vê buraco nenhum.
Coincidia a informação do gigante observador local com as imagens, sempre as mesmas, pescadas em diferentes ângulos, que todas as estações de televisão transmitiam há várias horas, apenas interrompidas pelos compromissos comerciais.
- Está um calor ... sabe onde se pode beber aqui uma cerveja? perguntava um a outro, que por insuficiência de altura também não via senão gente à sua frente.
- Não há cerveja, nem água, nem nada...ouvi dizer que está tudo esgotado nesta cidade.
- O senhor é daqui?
- Oh, não ... ia a passar na autoestrada, ouvi as notícias e dei um pulo até cá.
- Ainda não encontrei ninguém que seja de cá, informou um terceiro que ouvira a conversa dos dois, ... com este calor devem estar em casa, à sombra, regalados a beber o que cá fora não há porque se esgotou, a verem as imagens do largo, sem buraco, transmitidas pelas televisões ... chamem-lhes tolos! 

Se o quartel tinha sido importante para a cidade, aquele milagre poderia vir a tornar-se local de culto, peregrinações, comércio, turismo, há certos males que vêm por bem. Assim pensou a coronela, uma vez confirmado o inimaginável roubo do quartel do seu Boavida, ocorreu-lhe telefonar à esposa do general chefe maior, sua amiga desde os tempos em que tinham frequentado o mesmo colégio, lembrando-lhe que, só podendo ter desaparecido o quartel por milagre, a demissão do seu Boavida era indiscutivelmente injusta e tal injustiça só remediável com a reintegração do coronel demitido. Nada mais óbvio, e o coronel Boavida foi reintegrado no dia seguinte, ficando a aguardar colocação uma vez que o seu quartel havia, milagrosamente, desaparecido.
Não teve que aguardar durante muito tempo porque, passadas não mais que quatro semanas, tão milagrosamente quanto havia desaparecido, apareceu exactamente, milagrosamente no mesmo local, o quartel do coronel comandante Boavida, com ligeiras alterações, veio a saber-se mais tarde. E a tranquilidade voltou à cidade, perdida a oportunidade de uma promoção que o milagre poderia ter potenciado, está visto, não se pode ter tudo. 
Quem não entendeu assim foi a oposição que, invocando as mais ingentes razões de honorabilidade do Estado exigiu a imediata demissão do general chefe maior do exército, do ministro da defesa e do chefe do governo, sem prejuízo do apuramento das responsabilidades pelos, a todos os títulos, intoleráveis acontecimentos, uma exigência imponderada porque poderia vir a desencadear uma crise de consequências não calculadas.
Argumentava a oposição, geralmente temente a Deus, que só papalvos ou coniventes na rábula política arquitectada pelo governo poderiam querer fazer acreditar que é possível, a não ser por artes ilusionistas, fazer desaparecer da noite para o dia um complexo imobiliário de grandes dimensões e voltar a reinstalá-lo no mesmo local algum tempo depois e atribuir à burla dignidade miraculosa, só possível por intervenção divina. E os oficiais, sargentos e praças, em serviço naquela noite no quartel, que lhes acontecera se só o sentinela estava preso para averiguações e só o comandante do quartel demitido, mas transitoriamente? Acrescentava que nem o bispo da diocese nem a Santa Sé tinham dado o mínimo aval à intentona. 
Perguntava, em resposta, o governo, que se reclama laico, como se atrevia a oposição afirmar fosse o que fosse sobre factos que, provadamente, desconhecia uma vez que não se deslocara ao local para constatar fenómenos, sem dúvida insólitos, mas que tinham sido testemunhados por multidões, fotografados e filmados, objecto de reportagens vistas por muitos milhões de pessoas em todo o mundo. E, a rematar  perguntavam os laicos aos crentes se aqueles dois transcendentes acontecimentos, do desaparecimento e posterior reaparecimento de todo um quartel militar, de pedra e cimento, porque já era antigo, não era um milagre o que era?
Uma burla, respondia a oposição, que não tinha visitado o local porque não quisera juntar-se ao rebanho de papalvos que o governo arrebanhara com intuitos de mera propaganda política.
Para esclarecimento público do imbróglio que, segundo o governo laico era um milagre e, para a oposição crente, uma burla, foi aprovada uma proposta de inquirição parlamentar aos protagonistas visíveis do enredo, em paralelo com a investigação dos invisíveis a cargo da Polícia de Investigação Criminal.

Depôs perante a comissão parlamentar, em primeiro lugar, o ministro da Defesa, tendo declarado desconhecer em absoluto o que se tinha passado, corroborando a tese do governo do duplo milagre no quartel comandado pelo coronel Boavida. Acrescentou que, tendo ouvido o general maior do exército sobre os inexplicáveis acontecimentos, o general declarou saber tanto como ele, o ministro, isto é, nada. Aliás, nem o ministro da defesa nem o general maior do exército se tinham deslocado ao local onde, um quartel que antes houvera voltara a aparecer a haver. Que iriam eles lá fazer?
Pois, muito provavelmente, ripostavam os inquiridores, crentes, confirmar o que muitos afirmavam, o quartel nunca aparecera nem desaparecera, o mal arquitectado milagre não teria sido mais que uma burla anedótica forjada pelos laicos (lacaios, ouviu-se em aparte discreto) do governo. Mas então, perguntava o ministro, como explicavam os crentes aos laicos a presença no local de milhares de mirones, e, entre eles, centenas de jornalistas, fotógrafos, da imprensa, rádio e televisão do mundo inteiro se os fenómenos observados no espaço de um mês não fossem inexplicáveis e, portanto, miraculosos?
Ripostou a oposição que a seu tempo a polícia de investigação criminal desvendaria, porque não lhe faltariam provas, aquilo que, à primeira vista, parecia incompreensível. Mas podiam desde já antecipar-se algumas pistas susceptíveis de conduzirem a respostas para algumas dúvidas só aparentemente muito pertinentes. Por exemplo, o facto de existirem na cidade duas praças com geometrias e dimensões muito semelhantes separadas apenas por um quarteirão de edifícios antigos. Numa delas, foi construído há muitos anos o quartel e na outra realiza-se desde os tempos da idade média a feira semanal local. Ora, não custaria admitir que os visitantes, simples curiosos ou jornalistas, teriam sido conduzidos para o espaço da feira, onde não havia quartel, e encerrado o acesso entre as duas praças. 
Ouvindo isto, mostrou-se o ministro muito indignado considerando que a oposição acabava de ofender gravemente as entidades militares e civis além dos honestos residentes locais. Honestos, sim, sem dúvida, concordou a oposição, mas não tolos para desperdiçarem a promoção da sua cidade levada a todo mundo pelas redes sociais. Visivelmente, a actividade económica da cidade e dos seus arredores estava a observar um dinamismo impensável antes da ocorrência do falso duplo milagre. Contra atacou o ministro perguntando se toda aquela encenação imaginada da oposição não significava apenas o receio de concorrência, receio que os liberais criticam mas normalmente praticam, bem prega frei Tomás ...

Apresentou-se daí a dias perante a comissão de inquérito, abrilhantado na sua farda e peito medalhado, o general chefe maior do Exército. 
- Senhor general, agradecemos-lhe a sua presença, começou por afirmar o presidente da comissão de inquérito. 
- Não desconhece, certamente, o senhor general, as razões pelas quais solicitámos a sua presença ... 
- Não!, atalhou bruscamente o General, não sei porque estou aqui.
Engoliu em seco o presidente da comissão num compasso de espera para descomprimir a tensão provocada pela reacção que já se antevia não cooperante do general. 
- Senhor general, o caso é que desapareceu um quartel do exército, ... reapareceu cerca de um mês depois ... O que nos pode dizer o senhor general acerca disto?
- Nada! As senhoras ou os senhores sabem como é que pode desaparecer um quartel? Eu não sei. Sei como destruir, não sei como pode ser levado da noite para o dia para parte incerta e traze-lo de volta, também num abrir e fechar de olhos, pouco tempo depois.
- No entanto, o senhor general demitiu o comandante ... mas o sentinela continua preso ..., interveio um dos deputados membros da comissão de inquérito.
- É do regulamento, é do RDM. Readmiti o comandante porque o desaparecimento de um quartel é inexplicável, o sentinela está preso até ao encerramento do processo de averiguações que corre pelas vias competentes da justiça...e não tenho mais nada a acrescentar.
- Mas, senhor general chefe maior, protestam as vias competentes da justiça que estão impedidas pelo chefe maior do Exército de  ouvir uma testemunha, que consideram muito relevante neste processo...
- O processo está em segredo de justiça ... militar..., e, possivelmente, canónica. Não tenho mais nada a acrescentar.
Silêncio na sala, levantou-se o presidente da comissão, e logo o general, muito obrigado senhor general, terminada estava audição do general chefe maior do exército.

A encerrar os trabalhos da comissão de inquérito, foi ouvido o coronel Boavida. 
- Senhor presidente da comissão de inquérito, senhores membros da comissão de inquérito, quero começar por dizer que me sinto muito honrado pela oportunidade de  informar, nesta casa da democracia, que lavra há algum tempo no seio das forças armadas um latente, crescente, mal estar. É muito evidente a falta de recursos humanos e materiais que o desenvolvimento científico e tecnológico impõem na actualidade ao cumprimento das missões que às forças armadas compete realizar como insubstituível sustentáculo da nossa democracia. Para ser mais claro, direi que, salvo raras excepções, as nossas forças armadas se encontram pessimamente equipadas de meios operacionais, e, consequentemente, muito desfasados os conhecimentos da grande maioria dos seus meios humanos relativamente às suas congéneres no âmbito do grupo de nações em que estamos estrategicamente integrados. Resumidamente, andamos a marcar passo. Há, como atrás referi, unidades de elite bem preparadas, capazes de responder às mais complicadas situações bélicas. No entanto, por mais espantoso que vos possa parecer, também nestes casos, onde os meios operacionais são os mais desenvolvidos e os meios humanos os mais bem preparados, o grau de insatisfação destas tropas de elite é preocupante porque as oportunidades de intervenção em teatros de guerra são raras e a maior parte destes militares podem nunca ser chamados a exercitar a formação altamente exigente a que dedicaram toda a sua vida profissional, isto é, muito simplesmente, não há guerras que cheguem para todos ... É esta a chocante realidade com que se confrontam aqueles que escolheram a honrosa missão militar. Uns marcam passo por falta de meios, outros por falta de oportunidades para mostrarem o que valem. Dito isto, estou à vossa disposição para responder a quaisquer dúvidas, rematou o coronel Boavida.
Avançou um deputado da oposição com a primeira questão, precedida de um intróito, para dar conta da sua admiração perante o que chamou a nua franqueza do coronel que exibira considerações que certamente não seriam, pelo menos em grande parte, subscritos por muitos dos seus pares. 
- Mas, considerações à parte, o senhor coronel não abordou o tema que o trouxe a esta comissão. Muito objectivamente, como explica o senhor coronel o desaparecimento e o aparecimento do quartel onde era e voltou a ser o comandante?
- Senhor deputado, membro da comissão de inquérito, julgo que não me fiz entender ou não fui suficientemente preciso e, por esse motivo, admito que as minhas considerações possam ter sido tidas como forma de fugir à explicação do duplo fenómeno para o qual ninguém parece encontrar explicação. Sem rodeios lhe digo, também não sei. Contudo, disse-lhe que há um mal estar nas forças armadas por falta de meios, de equipamentos e competências, mas também de oportunidades, de guerras, sobretudo, porque as revoluções são, no nosso hemisfério, politicamente incorrectas. Sem meios nem oportunidades, o pessoal enfastiado de tanto marcar passo é levado a inventar movimentos que provem a sua existência, mas posso estar errado.
- Pode explicar-se melhor senhor coronel?, pergunta vinda agora do lado do apoio ao governo. Admite o senhor coronel que o desaparecimento tenha sido obra projectada dentro dos muros do seu comando?
- Não admito nada. Dei simplesmente conta aos senhores deputados, membros da comissão de inquérito, que o pessoal anda insatisfeito. Se daí conseguirem retirar alguma conclusão que permita desvendar o mistério, milagre ou burla, tanto melhor. Se puder ajudar, estou disponível. De momento, não sei acrescentar mais nada. 
- Se me permite, senhor coronel, gostaria de perguntar-lhe o que sucedeu ao oficial de dia na noite do desaparecimento. Sabemos, disse-nos o senhor general chefe maior que o sentinela está preso por razões de segredo justiça militar e, possivelmente, até de segredo de justiça canónica. Quanto ao oficial de dia, que informações obteve dele acerca do roubo do quartel?
- Relevantes, nenhumas. Conforme comecei por referir aos senhores deputados, membros desta comissão de inquérito parlamentar, existe um mal estar nas forças armadas por falta de meios e de oportunidades de intervenção. Assim sendo, não se admirem que o oficial de dia, destacado na noite em que nos levaram o quartel para parte incerta, tenha adormecido a gastar horas de solidão no quartel com jogos de paciência e acordado em casa de uma amiga sua. Não sendo esta informação certamente relevante para o processo deve a mesma ser considerada confidencial a bem da continuidade da harmonia conjugal do oficial do dia destacado na noite das ocorrências.

Reuniu-se a comissão para concertar conclusões do relatório final. Não foi possível obter consenso, os laicos agarraram-se sem cedências à tese dos milagres, os crentes não cederam um milímetro na acusação de burla. Prosseguem as investigações da polícia de investigação criminal. 






Wednesday, October 17, 2018

ESTÁ POR AÍ ALGUÉM?

Há no universo incontáveis estrelas e planetas. As leis da natureza que suportam a ocorrência de vida na terra são as mesmas em todo o universo. Ainda que nenhum sinal de vida extra-terrestre já tenha sido detectado pelos astrónomos que os procuram, o universo deve estar repleto de civilizações alienígenas. 
Então, pergunta-se aqui, no Economist: 
Porque é que os humanos não conseguem encontrar no universo sinais alienígenas?
Porque o esforço feito até agora é comprável com a tentativa de encontrar um peixe num copo de água mergulhado ao acaso no oceano, ou, mais esperançosamente, numa banheira.

Correl. - EXPLICAÇÃO EXTRA-TERRESTRE DA SALVAÇÃO DA TERRA

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Where is everybody?Why have humans never found aliens?

Perhaps they haven’t been looking hard enough

“IF ALIENS are so likely, why have we never seen any?” That is the Fermi Paradox—named after Enrico Fermi, a physicist who posed it in 1950.

Fermi’s argument ran as follows. The laws of nature supported the emergence of intelligent life on Earth. Those laws are the same throughout the universe. The universe contains zillions of stars and planets. So, even if life is unlikely to arise on any particular astronomical body, the sheer abundance of creation suggests the night sky should be full of alien civilisations. Fermi wondered why aliens had never visited Earth. Today, the paradox is more usually cast in light of the inability of radio-telescope searches to detect the equivalent of the radio waves that leak from Earth into the cosmos, and have done for the past century.

Thinking up answers to this apparent contradiction has become something of a scientific parlour game. 
Perhaps life is really very unlikely. Perhaps the priests are right: human beings were put on Earth by some creator God for His own inscrutable purposes, and the rest of the universe is merely background scenery. Perhaps there are plenty of aliens, but they have decided that discretion is a safer bet than gregariousness. Or perhaps galactic society avoids communicating with Earth specifically. One chilling idea is that technological civilisations destroy themselves before they can make their presence known. They might blow themselves up after inventing nuclear weapons (an invention that, on Earth, Fermi had been part of), or cook themselves to death by over-burning fossil fuels.

In a paper published last month on arXiv, an online repository, a trio of astronomers at Pennsylvania State University have analysed the history of alien-hunting and come to a different conclusion. In effect, they reject one of the paradox’s main pillars. Astronomers have seen no sign of aliens, argue Jason Wright and his colleagues, because they have not been looking hard enough.
Dr Wright’s argument echoes that made by another astronomer, Jill Tarter, in 2010. Dr Tarter reckoned that decades of searching had amounted to the equivalent of dipping a drinking glass into Earth’s oceans at random to see if it contained a fish. Dr Wright and his colleagues built on Dr Tarter’s work to come up with a model that tries to estimate the amount of searching that alien-hunters have managed so far. They considered nine variables, including how distant any putative aliens are likely to be, the sensitivity of telescopes, how big a portion of the electromagnetic spectrum they are able to scan and the time spent doing so. Once the numbers had been crunched, the researchers reckoned humanity has done slightly better than Dr Tarter suggested.Rather than dipping a drinking glass into the ocean, they say, astronomers have dunked a bathtub.  The upshot is that it is too early to assume no aliens exist. Fermi’s question is, for now at least, not a true paradox.

This article appeared in the Science and technology section of the print edition under the headline "Where is everybody?"

Tuesday, October 16, 2018

VOLATILIDADE AMERICANA

Daily chartAfter a year of #MeToo, American opinion has shifted against victims

Survey respondents have become more sceptical about sexual harassment



ONE year ago Alyssa Milano, an American actress, posted on Twitter: “If you’ve been sexually harassed or assaulted write ‘me too’ as a reply to this tweet.” Within 24 hours she had received more than 500,000 responses using the hashtag “#MeToo”. Ms Milano’s tweet came days after the New York Times and New Yorker had published detailed allegations of sexual harassment by Harvey Weinstein, a Hollywood producer. Mr Weinstein was the first in a long line of prominent entertainers and executives to be toppled by such investigations, which dominated the headlines throughout late 2017 (see chart below).

Even as these stories broke, it was #MeToo that resonated most on social media, as millions of women shared their experiences of abuse, intimidation and discrimination. In the past 12 months, the hashtag has been tweeted 18m times according to Keyhole, a social-media analytics company. The phrase has come to encapsulate the idea of sexual misconduct and assault. In recent months American journalists have used the hashtag in their articles more frequently than they have mentioned “sexual harassment”, according to Meltwater, a media analytics company.

c/p Aqui

CAUSAS NATURAIS

RETROVISOR - JUN 30, 2017

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CAUSAS NATURAIS

Em Fevereiro deste ano soube-se que, vd. aqui, tinham sido roubadas 57 pistolas de armazém da PSP.

Ontem soube-se que foi roubado de Tancos diverso material de guerra. 
Hoje, vd. aqui, soube-se que o roubo foi maior do que se pensava (quem é que pensava?, não sabemos). Sem explicitamente reconhecer que houve roubo, o "Exército informou que foi detectada a falta de “granadas foguete anticarro, granadas de mão de gás lacrimogéneo, explosivos e material diverso de sapadores como bobines de arame, disparadores e iniciadores". 

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Act. - (1/7/207) 

Chefe do Estado-Maior do Exército admite fuga de informação no furto em Tancos
"Para haver algo deste género tem de haver informação interna", diz o responsável. - aqui
Demita-se, sr. Chefe do Estado-Maior do Exército! Se homens sob seu comando roubaram ou deixaram roubar armas, e o senhor não sabe quem roubou, só tem uma saída minimamente honrosa: a demissão.