Tuesday, January 31, 2017

A MÁGICA FRAUDULÊNCIA DA BANCA

Como fazer desaparecer 367 milhões de euros de prejuízos?
A pergunta não é anúncio de programa de espectáculo de magia mas título do insuspeito "Bloomberg Businessweek" desta semana para o artigo - How to Make a €367 million Loss Disapear - que é capa da revista.


A história é contada em três páginas da revista e vale a pena ser lida, ainda que não acrescente muito ao que já se sabe acerca dos contornos das ilegalidades, geralmente impunes, praticadas. sobretudo, por uma parte muito significativa da banca norte-americana e europeia.
Em Portugal, é o que se sabe todos os dias.

A propósito,
extrato de entrevista de Cristina Ferreira e Luís Villalobos no Público de hoje:

Público - Como explica o papel da Goldman Sachs na crise financeira, acusada de várias irregularidades, inclusive de fraude?

António Esteves - Se formos ver todos os grandes bancos de investimento, como Deutsch Bank, por exemplo, aparecem associados a casos. Só que cada vez que há um episódio que envolve a Goldman Sachs ele é projectado de outra maneira. Pergunta: porquê? Não sei. Mas qual é o banco que não teve um episódio?

António Esteves é aquele - vd. aqui - que se propõe comprar o crédito malparado na banca portuguesa com ... garantia pública, depois de, entre outras paragens, colaborar na Goldman Sachs, tendo estado no centro da contratação de Durão Barroso para a Goldman.

Sobre a eventual venda do Novo Banco à Lone Star e Apollo, AA considera que estes "private equities procuram comprar querendo ter um poder negocial alto, pois acham que têm a faca e o queijo na mão" e que estão aqui como salvadores..." 

Oh! Esteves ...! 

Monday, January 30, 2017

A EUROPA Á DERIVA



Concordo inteiramente que cimeiras regionais podem precipitar a desintegração europeia. Aliás, registei esse receio há alguns anos no meu caderno de apontamentos, quando já era muito visível que os alinhamentos políticos na União Europeia se faziam, e continuam a fazer, mais numa perspectiva Norte-Sul do que numa vontade maior de avançar com os meios indispensáveis a uma integração política mínima que, sem se sobrepor aos valores culturais de cada estado-nação, garantisse a coesão consistente de uma nacionalidade europeia. 

É muito evidente que, por um ser um conjunto de nações culturalmente vincadamente diversificado, na União  Europeia os interesses não são  disputados acerca das medidas que podem fazer avançar o conjunto mas do confronto de interesses de cada país membro, alinhados sobretudo pelos valores culturais que historicamente se impregnaram no Norte protestante/calvinista e no Sul católico. 

Quando em 2008 a crise latente irrompeu e as dívidas soberanas pareciam ter emergido de um dia para o outro, ninguém minimamente informado e mentalmente honesto pode negar que, sem uma cooperação eficaz e oportuna do conjunto, o problema se tornaria insolucionável. A resposta do Norte, carregada de muitas e reconhecíveis razões, foi exigente mas não foi adequada. 
Os recursos voaram de sul para norte, enquanto a Norte se financiavam a taxas negativas a Sul pagavam, e pagam, juros com língua de palmo. 

Por estas e muitas outras razões, se  cimeiras a sul são mau presságio para o futuro da União Europeia, a convergência do Norte sustentada por preconceitos de superioridade moral já tinha abalado profundamente a estabilidade do edifício europeu quando a crise emergiu. 

Crise que alimentou os nacionalismos e os seus rebentos espúrios desfraldam agora as bandeiras enroladas há décadas. Ensanduichada entre Trump e Putin, e Mrs May a ver no que vai dar, nas democracias europeias crescem trumpitos e putinitos ambicionando escaqueirar o edifício em construção. 

De modo que, Caríssimo António, se a cimeira do sul foi uma masturbação política é porque, definitivamente, Norte e Sul europeus não se sentem bem na mesma cama e o divórcio será uma questão processual. 
Lamentável e extremamente perigosa, ensina a História.

Saturday, January 28, 2017

A VIDA, PELO PARAÍSO

Hà dias, anotei aqui uma leitura possível do "Silence" de Scorsese. Hà outras, mas a minha atenção foi sobretudo mobilizada para as razões, muito explícitas no filme, que explicam o relativo sucesso dos missionários jesuítas, em meados do século XVII, na conversão ao cristianismo de japoneses vivendo em condições miseráveis em povoações costeiras e as crueldades da perseguição que  lhes foi movida pelas autoridades locais: os missionários garantiam um além vida pleno de felicidade que as espiritualidades tradicionais (xintoísmo, budismo) não teístas não ofereciam.

Outra perspectiva aponta para as crueldades cometidas  em nome de Deus pela humanidade contra si mesmo. Mais ou menos nos anos em que decorrem as atrocidades contadas no filme a Inquisição perseguia os judeus em Portugal e Espanha* de forma mais extensiva e sem razões de concorrência imperfeita que ameaçava os monges espirituais no oriente. Em nome de Deus foram, são e continuarão a ser, porque nenhuma mudança desta índole humana se perspectiva para o futuro, cometidos os mais bárbaros e irracionais comportamentos. 

Pelo contrário, assiste-se agora a um recrudescimento do fanatismo religioso, não menos violento em crueldade e vítimas do que aquele que varreu de ódio os séculos passados. 
Ontem contaram-se 72 anos sobre a data da libertação de Auschwitz. Por estes dias voltarão os media a dar conta de atentados islâmicos, geralmente cometidos por terroristas suicidas convencidos que no além vida os espera uma vida de felicidade infinita. 
Entretanto progridem os aplausos aqueles que propõem o regresso às barricadas nacionalistas para o combate racista, xenófobo, chauvinista, esquecendo que o planeta é fisicamente limitado mas, para o eventual uso letal dos progressos da ciência, cada vez mais pequeno. 


Na edição de ontem do Público, Bagão Félix, a propósito de "Silêncio" pergunta aqui

"No meio de tantas provações e devastação de vidas, o que levou homens e mulheres a crerem? Como se alcançou uma tão inalienável fé por Deus, com Deus e em Deus? Como viram no seu Cristo o farol da conversão, o esplendor da compaixão, o ícone quase uterino da absolvição e da purificação? Como se explica o martírio como a mais gloriosa morte a que aspiravam?"

Pergunte aos bombistas suicidas do Daesh, por exemplo.

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O Judeu, de Camilo Castelo Branco, para quem esteja interessado na leitura de um romance centrado na vida de António José da Silva, escritor, dramaturgo, condenado à morte na fogueira com 34 anos em 1739. 


Friday, January 27, 2017

Thursday, January 26, 2017

PODEM BATER À VONTADE

Duma, o parlamento da Federação Russa, votou esta semana a descriminalização da violência doméstica, salvo se das sevícias resultarem danos físicos que exijam intervenção médica. 
Tudo em nome do regresso ao tradicionalismo, um dos pontos de apoio do populismo que sustenta o terceiro mandato do sr. Vladimir Putin, o amigo de Mr. Trump e Mme. Marine Le Pen, entre outros.

A notícia vem publicada aqui, mas parece não estar a mobilizar a consciência colectiva das sociedades por enquanto livres. 


A Igreja Ortodoxa Russa apoia o voto da Duma considerando que, segundo as Escrituras e a tradição russa, a punição física é um acto razoável e de amor porque é parte essencial dos direitos concedidos aos pais por Deus".

Comentários, para quê? Indisfarçadamente os valores civilizacionais estão em retrocesso onde era suposto terem ganhado raízes suficientemente profundas para resistir a vendavais populistas. 
Na Rússia, reconheça-se, nunca ganharam.  

Wednesday, January 25, 2017

CRUELDADES DA FÉ




Quando em 1552 o missionário Francisco Xavier saiu do Japão para pregar o Evangelho na China, havia cerca de 2 mil cristãos japoneses. Hoje, haverá cerca de três milhões de cristãos no Japão, cerca de 2,3% da população total.

A tarefa dos jesuítas defrontou perseguições rematadas com práticas de crueldades extremas sobre aqueles que se recusavam renegar a fé num além vida sem suplicio, nem fome nem impostos, oferecido, sem preço, pelos pregadores vindos do outro lado mundo, perigosamente concorrentes das religiões locais, ancestralmente dominantes, e dos seus monges, que não tinham para prometer um além vida melhor depois da vida miseravelmente vivida nas aldeias onde chegava a boa nova dos jesuítas. 

No Japão, a perseguição sobre os cristãos só terminou em 1873. Muitos, incluindo alguns missionários jesuítas, renunciaram à fé cristã participando num ritual (fumie) durante o qual os cristãos eram obrigados a pisar um símbolo cristão. É acerca da apostasia forçada de dois desses missionários, portugueses, que Martin Scorsese realizou Silence. Do silêncio divino que desesperou os apóstatas sem resposta perante o dilema de aparentemente renegarem,  mas era uma aparência que era uma realidade para os seus seguidores, ou assumirem a culpa e o tormento sem fim de os verem agonizar num sofrimento prolongado. 

A história contada por Scorsese tem início em 1633. 
Nesse mesmo ano, a 3 de Fevereiro, foi Galileu Galilei condenado pelo Santo Ofício (Inquisição). Em 1600 tinha sido condenado à morte na fogueira Giordano Bruno, teólogo, filósofo, escritor e frade dominicano, acusado de heresias. Entre outras, a sua afirmação de que o universo era infinito e o mundo plural.

"A extinção formal da Inquisição em Portugal aconteceu em 1821. 
Entre 1536 e 1821, cerca de mil e quinhentas pessoas foram queimadas e outras 25.000 foram condenadas a diversas penas. Ignora-se quantos morreram nos cárceres e daqueles que foram julgados depois de mortos, os quais, quando condenados, eram exumados e queimados nos autos-de-fé" - cfaqui. 

*** 

UM TIPO ESPERTO

"O Governo e o Banco de Portugal receberam uma proposta de António Esteves, ex-Goldman Sachs, de 15 mil milhões de euros, cerca de 8% do PIB nacional, para comprar 30 mil milhões de crédito malparado no sistema bancário português, metade do qual já estará provisionado.
António Esteves garante ter um cheque pronto com o suporte de um grande banco internacional que não revela e um plano traçado com o apoio da consultora Deloitte e do escritório de advogados Vieira de Almeida.
Sem revelar pormenores, o investidor garante que a proposta reúne duas condições centrais para ter sucesso: compra o malparado aos bancos pelo valor que têm em balanço, pelo que não teriam de assumir essas perdas, nem por isso ser recapitalizados; e exige uma garantia pública sobre títulos a serem emitidos em mercado, o que poderia passar pelo crivo europeu das ajudas de Estado." - vd. aqui

Resumindo: O sr. António Esteves propõe-se limpar os rabos dos bancos (até os banqueiros os sujarem novamente) desde que o Estado lhe limpe o rabo com mais dívida pública. 

Tuesday, January 24, 2017

MRS. MAY AND MR. TRUMP

Mrs. May irá na próxima sexta-feira reunir-se com Mr. Trump em Washington. Será o primeiro líder estrangeiro a encontrar-se com o novo presidente dos EUA. Era esperável, Trump iniciou o seu discurso de posse garantindo determinar o futuro da América e do mundo durante muitos anos: 
"We, the citizens of America, are now joined in a great national effort to rebuild our country and restore its promise for all of our people. Together, we will determine the course of America and the world for many, many years to come." 
E o vassalo mais chegado apressa-se a reconhecer e a prestar vassalagem ao poder do suserano que supõe presidir aos destinos de toda a humanidade. May, na oportunidade, solicitará a Trump algumas concessões, geralmente atendidas aos mais próximos.



Segundo o FT de anteontem - Theresa May set for ‘frank’ discussions with Donald Trump - a primeira ministra britânica pretende abordar na audiência com Mr. Trump, nomeadamente, a cooperação entre o Reino Unido e os EUA contra o terrorismo e a Nato, tendo Mrs. May destacado, numa entrevista da BBC no sábado passado, as negociações  com os membros da UE, no âmbito do Brexit, acerca do sistema de controlo de fronteiras, Interpol e outros assuntos de defesa interna. 
Dito de outro modo: Mrs. May pretende assumir-se nas negociações com a UE como portadora dos acordos ou promessas de acordos que tenha obtido junto de Mr. Trump. 

Mrs. May irá propor a Mr. Trump, um antecipadamente garantido acordo bilateral de comércio post- Brexit  entre o Reino Unido e os EUA, que reforce as antigas relações entre os dois países, e (pasme-se!) convencer Mr. Trump a não minar a unidade da Europa! 
Recorde-se que Mr. Trump considerou o Brexit "um grande acontecimento" e disse na semana passada que que os EUA poderão subscrever um acordo com o Reino Unido "muito em breve", expressando cepticismo acerca do futuro da União Europeia, afirmando estar convencido que o Reino Unido não será o único país a abandonar a União Europeia.

Na sexta-feira, dia 20, numa entrevista do Financial Times Mrs. May tinha dito que era importante para os interesses britânicos que o bloco europeu se mantivesse forte. "Pretendo, disse Mrs. May, continuar manter uma associação estratégica conjunta com a União Europeia. É importante por razões de segurança, nos tempos que correm os perigos que defrontamos não recomendam que haja menos cooperação".

Hoje, dia 24, os juízes Supremo Tribunal votaram, cf. aqui (8 contra 3) a obrigatoriedade do parlamento em Londres votar a intenção do governo britânico activar o artigo 50 do Tratado de Lisboa, primeiro passo para o início das negociações da saída do UK. Mas a aprovação parece estar garantida: a oposição de alguns deputados trabalhistas não será suficiente para rejeitar o Brexit.

Perante uma União Europeia aturdida, enrolada nas suas hesitações e contradições, Trump será mesmo o dono do mundo enquanto os norte-americanos deixarem. Desta vez, talvez, por portas travessas os europeus sejam resgatados de uma auto destruição se a dignidade se voltar a impor na política norte-americana.



Monday, January 23, 2017

MENSAGENS VELHAS

O porteiro deste caderno de apontamentos exige-me, para entrar, que clique  em "mensagem nova" e eu ou desisto ou disfarço. Decido-me por carregar, sem comentários, duas mensagens velhas:


Uma - "A dívida pública portuguesa atingiu 133,4% do PIB no terceiro trimestre do ano passado, a segunda marca mais elevada entre os estados-membros da União Europeia (UE). Os dados revelados esta segunda-feira, 23 de Janeiro, pelo Eurostat mostram que a dívida pública portuguesa está entre as que mais subiram tanto em relação ao trimestre anterior como face ao período homólogo, em contra-ciclo com o que se passa no conjunto da zona euro e da UE." - cf. aqui

clicar para aumentar (a imagem ...)

Outra - Juros da dívida portuguesa disparam para quase 4% na maturidade a 10 anos após perspectiva de inflação na Alemanha

AUTO RETRATOS DE DOIS VELHOS QUANDO JOVENS

CORREDOR CENTRAL


- Diga-me, por favor, senhor guarda por que é que está cortado o trânsito automóvel aqui no Saldanha?
- É a inauguração do corredor central ... a senhora não sabe que vamos ter eleições este ano?
(ontem, cerca das 17 horas, nas proximidades do Saldanha) 

Público, 31/08/2003

Sunday, January 22, 2017

WE THE PEOPLE



"We thought (they) were the three groups that had been maybe criticized by Trump and maybe were going to be most, if not necessarily vulnerable in a literal sense, most feeling that their needs would be neglected in a Trump administration," Fairey told CNN.


Saturday, January 21, 2017

UM ATENTADO CONTRA A CRESMINA

Senhor Presidente da Câmara Municipal de Cascais*,

Consideramos o percurso nas dunas da Cresmina uma dádiva natural que, sempre que a oportunidade ocorre, sugerimos a amigos e conhecidos usufruir. 
Hoje voltámos lá, mais uma vez com convidados nossos. 
E ficámos surpreendidos, depois desapontados, e revoltados com o que vimos e ouvimos.

Surpreendidos por ver tantas ramadas de pinheiro serradas a ladear o passadiço.
Perguntámos porquê, disseram-nos que, com aquela barreira feita de ramos cortados no local, pretende o, ou os autores da ideia barrar a entrada de alguns passeantes que, contra o que lhes é permitido, ultrapassam as cordas limitadoras do percurso.

Desapontados porque nem as barreiras assim formadas são obstáculo bastante para impedir os intentos dos transgressores nem é visualmente agradável passear entre ramos, que agora estão verdes, mais tarde estarão secos, sujeitos à imprevidência ou ao crime de fogo posto. 

Revoltados porque para montar as desastradas barreiras decidiram os seus autores cortar pinheiros que ladeavam alguns troços do percurso. A reposição da vegetação de pinhal cortada vai demorar décadas.

Agora é tarde porque as árvores estão cortadas.
Mas não é tarde para evitar outros desmandos.
Continuam nos seus postos os responsáveis?


Foto copiada do site antes do corte de pinheiros.

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* Enviado para
presidencia@cm-cascais.pt

Friday, January 20, 2017

DESTA VEZ, DA AMÉRICA

A partir de hoje, não sabemos até quando, o amigo de Putin, Donald Trump será o 45º. Presidente dos Estados Unidos da América. Venceu o populismo (não venceu o voto popular) excitado pelas redes sociais, inundadas de forma provavelmente decisiva pelas interferências dos hackers russos. Trump já reconheceu publicamente essa interferência, (obviamente) negou que ela possa ter influenciado os resultados que lhe garantiram a presidência. 

Tenha sido ou não decisiva a interferência de Putin na eleição de Trump, é inquestionável que Putin reforça com a eleição do amigo norte-americano a aura atribuída pela Forbes de político mais poderoso do mundo. Se a Forbes o diz, Trump aproveita para engrossar nos EUA a onda de populismo ensaiada na Europa prometendo tornar a América grande outra vez - "Make America Great Again"-. Sub liminarmente, Trump intuiu nos norte-americanos, mas não na maioria, a ideia de que se Putin - líder de um país com uma economia que valerá quanto muito tanto quanto a economia espanhola - é o mais poderoso, é porque a América perdeu a liderança do poder mundial. E ele, Trump, vai reconquistar o poder perdido. Enfrentando Putin, o mais poderoso?

Não, de modo algum. Trump é um bilionário com muitos negócios e muitos amigos na Rússia, com Putin à cabeça da longa lista, e durante a campanha eleitoral, não se eximiram de trocar lisonjas entre eles. O populismo sustentado no exacerbamento  do nacionalismo, que garante a Putin o poder na Rússia e a ambição de a tornar outra vez grande tem a mesma índole daquele que tuíta Trump. 
Porém, o nacionalismo exacerbado em populismo necessita de se alimentar num inimigo externo. Trump escolheu a China, desfraldando a bandeira do proteccionismo para erguer barreiras ao comércio e à circulação de pessoas, e, por tabela, abanar a ainda inacabada estrutura europeia criticando-lhe a perda das identidades nacionais, a permissividade da circulação de pessoas e o disponibilidade no acolhimento de refugiados. 

Desta vez não virão da América os exércitos libertadores das amarras forjadas pelos nacionalismos endémicos no velho continente. A Srª. Theresa May já anunciou que vai forçar um "Brêxit" duro, ameaçando competir com as armas usadas pelos paraísos fiscais. Trump aplaude e augura um desmembramento da União Europeia, Le Pen rejubila, Putin conta com o apoio incondicional do homem soviético, que muitos distraidamente julgaram acabado, para recuperar a influência de Moscovo sobre o leste europeu sem rumo. 
Pela primeira vez na história, os Estados Unidos da América, por vontade de Trump, estarão do lado daqueles que pretendem a fragmentação do ocidente europeu. 
Cúmplices, admiradores ou simplesmente tácitos aliados, não faltam deste lado do Atlântico a Putin e a Trump.

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Correl.- Trump apossa-se

Thursday, January 19, 2017

UMA DESTRUIÇÃO COLOSSAL NA BANCA PORTUGUESA

O Negócios online resumia na sua edição de ontem as declarações de Fernando Ulrich* num encontro com os jornalistas. Transcrevo, vd. abaixo* o artigo, não vá a pérola perder-se pelo caminho.

Ulrich sempre se destacou do comportamento sonso dos seus confrades banqueiros Em alguns momentos foi premonitório, noutros polémico, em alguns casos surpreendente pela falta de razoável contenção ou equilíbrio no discernimento. Registei e comentei algumas das suas declarações públicas: aquiaqui, aqui, aqui ( Ulrich : Fusão PT/Oi é uma tragédia que deve ser travada imediatamente), aquiaquiaquiaquiaqui (se a medida relativa à taxa social única avançar, o BPI deverá ter um ganho de 10 milhões de euros em 2013), aquiaqui.

Ontem, as declarações de Ulrich registadas por Maria João Gago, só são surpreendentes quando "defende que custo suportado por Estado e contribuintes foi muito baixo quando comparado com accionistas ...". 
Mas só são surpreendentes para quem desconheça a convicção desde sempre cimentada na cabeça dos banqueiros de que lhes assiste o direito de embolsar rendimentos estratosféricos sob todas as formas possíveis e imaginárias, e endossar as perdas para os contribuintes quando os accionistas dos bancos batem a asa. Moral hazard, no jargão anglo-saxónico, uma designação dúbia para uma iniquidade evidente que torna legal a penalização dos inocentes. 

Não há outra explicação possível para interpretar a petulância de julgar responsável pelas perdas resultantes de actos de gestão quem não é, nunca foi, nunca será interveniente, nas decisões e moscambilhas dos que se aproveitam ou aproveitaram delas.

Em Outubro de 2006 escrevi aqui:

"É um facto indesmentível, porque eles próprios se encarregam de propagandear, que os lucros dos Bancos (consistentes ou não, um dia se verá) nada têm a ver com a miserabilidade em que a economia portuguesa se arrasta já há alguns anos. Não há Banco que se preze que não anuncie, semestralmente, pulos de lucros sempre de dois fortes dígitos.
Como é possível uma vaca esquelética ser tão generosa na produção de leite?"

Em Janeiro de 2013aqui

"Há muitos anos, em reunião com um banqueiro que hoje é presidente do banco de que na altura era administrador, referi que, com o andamento que se observava na economia portuguesa, enfezada e cada vez mais sugada pelos bancos, um dia a vaca acabaria por tombar para cima dos que dela mamavam em excesso.
Respondeu-me o banqueiro: Esteja tranquilo, os bancos nunca vão à falência.

E, até agora, o tal banqueiro acertou. O moral hazard que permite aos banqueiros tudo e mais alguma coisa, em Portugal não abriu até agora uma única excepção. "

Em Junho de 2014, aqui :
"Olhando para trás, da geração de banqueiros que se vangloriava dos lucros espantosos no meio de uma economia débil por, diziam eles, terem sabido aumentar os seus níveis de produtividade quando ela estagnava nos outros sectores, quantos sobram hoje? A maioria caiu dos pedestais para onde haviam pulado em trampolins manhosos de formas diversas mas geralmente indignas. Dos da primeira divisão sobra Ulrich, ou, se se preferir, a dupla Artur Santos Silva e Fernando Ulrich. Todos os outros tropeçaram, mais ou menos estrondosamente, nos seus próprios dribles."

Sabe-se agora que o La Caixa vai adquirir cem por cento do Grupo BPI.
O srs. Artur Santos Silva e Fernando Ulrich, reformam-se, ainda que muito provavelmente continuem com um pé no estribo e financeiramente bem estribados. 

Nada estribados estão os portugueses com as dívidas que os banqueiros importaram. Se a taxa média de juro subir mais 1 ponto percentual, só não haverá novo resgate se a tempestade sobre a Europa for tão forte que nem um novo resgate seja possível. 

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* Desde 2001 "houve uma destruição colossal de capital" na banca portuguesa" ""O BPI fez contas ao capital injectado em cinco bancos e aos seus dividendos e resultados e concluiu que houve "destruição" de 35 mil milhões em capital. Ulrich defende que custo suportado por Estado e contribuintes foi muito baixo quando comparado com accionistas e outros países."  - aqui

"Cinco dos maiores bancos portugueses - CGD, BCP, BES/Novo Banco, Banif e BPN - destruíram cerca de 35 mil milhões de euros em capital injectado pelos seus accionistas entre 2001 e 2017, de acordo com as contas feitas pelo BPI com base em informação pública, cujas conclusões foram apresentadas esta quarta-feira, 18 de Janeiro, por Fernando Ulrich, num encontro com jornalistas.
"É uma história de destruição de capital brutal. Em 16 anos é uma verba verdadeiramente colossal", sublinhou o banqueiro. Em causa está "19% do PIB estimado para 2016".
Já o balanço dos apoios do Estado aos bancos analisados mostra que as perdas públicas nos bancos podem variar entre 4,4 e 6,4 mil milhões de euros, ou seja, o equivalente a 2,4% a 3,5% do PIB. "Até agora, o esforço efectivamente suportado pelo Estado e pelos contribuintes foi muito baixo quando comparado com o dos accionistas e o que foi suportado pelos outros países", defendeu Ulrich.
Com base nestes dados, o banqueiro pretende contestar a ideia muitas vezes transmitida na opinião pública de que "os custos dos bancos têm sido suportados pelos contribuintes. É mentira!", sublinhou o líder do BPI.
O levantamento também incluiu o BPI, mas no caso do banco que lidera, Ulrich conclui que entre dinheiro injectado pelos accionistas e os dividendos pagos, o balanço é positivo, já que os accionistas fizeram um esforço líquido de dividendos de 53 milhões. 
Já o apoio do Estado ao banco foi liquidado em 2014, com ganhos líquidos de 102 milhões de euros para o Tesouro "Os bancos não são todos iguais", frisou o banqueiro, garantindo que destacar a diferença do seu banco não foi o objectivo da análise realizada." 

Wednesday, January 18, 2017

FRANCISCO VS TRUMP

O canal National Geographic está a transmitir um docudrama (a próxima transmissão será na segunda-feira, 23, às 6,00h) sobre o papel desempenhado pelo Papa Pio XII durante a Segunda Grande Guerra. Foi Pio XII o "papa de Hitler" ou o anátema lançado é injusto?

"Nos dias mais negros da Segunda Grande Guerra, São Pedro estava encoberto pela sombra da suástica. Mas enquanto o Führer o rodeava, o Papa planeava uma contra ofensiva secreta. O Pontífice de Guerra Pio XII foi ridicularizado pelo seu silêncio sobre o Holocausto. Mas provas mostram que o seu silêncio poderá ter sido subterfúgio. E o homem marcado como "papa do Hitler" poderá ter querido eliminá-lo. Pio serviu de intermédio com os rebeldes alemães para montar uma revolta. Entretanto, uma rede de espiões da Igreja coloca os planos em marcha. Mensageiros católicos transportam mensagens entre Roma e Berlim, enquanto conspiradores se juntam na cripta de São Pedro. É um capítulo esquecido de uma guerra. Um confronto secreto entre o vigário de Cristo e o anti-Cristo. Papa Vs. Hitler é um docudrama entusiasmante de duas horas que explora uma das histórias menos conhecidas da Segunda Grande Guerra - o papel do Vaticano na conspiração para assassinar Adolf Hitler." - cf. aqui

Um docudrama, um neologismo que pretende significar uma versão entre a ficção e a realidade, e a ficção, neste caso, enrola-se sobretudo nas eventuais conexões entre o Pio XII e aqueles que na Alemanha arriscavam e pagavam com a vida a ousadia de parar as desmedidas atrocidades dos nazis. A realidade é um facto comprovado: Pio XII nunca fez ouvir publicamente a sua voz em protesto e condenação do holocausto em curso, que ele não ignorava porque viu, com os seus próprios olhos, uma amostra real do horror desencadeado pela fúria da besta. 

E hoje? 
O que diz o Papa Francisco perante a vaga de populismo carregado de ódios racistas, xenófobos, chauvinistas, que ameaçam desagregar a Europa e intensificar o incêndio ateado às suas portas? O que pensa, e se pensa deve dizer porque a força do Papa está na sua palavra, das declarações de Trump quando classificou de catastrófica a política de Merkel perante os refugiados?
Francisco esteve em Lesbos e até levou com ele 12 refugiados sírios para o Vaticano. É pouco, a bem dizer, é nada.
Fala Francisco!, "Estar atento não chega"* para que a história não venha a interpretar o teu silêncio como conivência.  
"Per ché non par li?".

foto c/p aqui
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* Correl . - Papa Francisco: " O que pensa de Donald Trump?"

"A resposta de Francisco que rejeita julgar políticos e diz que está atento às consequências que os seus comportamentos causam aos pobres e aos excluídos"

Tuesday, January 17, 2017

TRUMP NA GRELHA DE PARTIDA

cf. aqui

Entretanto, em Davos, no World Economic Forum, Xi Jinping, presidente da China, onde participou pela primeira vez, defendeu a globalização, o comércio livre, os acordos de Paris sobre políticas ambientais, a protecção aos refugiados, alertou para o perigo das guerras comerciais, atacou os populismos ... , atacando Trump, sem nunca o nomear.
Putin, por outro lado, tinha considerado pior que prostitutas quem ataca Trump.

Em Londres, Theresa May anunciou as linhas gerais em que pretende enquadrar o Brêxit, com renúncia do Reino Unido ao Mercado Único Europeu e a intenção de estabelecer acordos bilaterais com os outros 27 membros da União Europeia. - cf. aqui.  O Reino Unido prepara-se para reerguer-se como paraíso fiscal, destruindo a unidade europeia.

O mundo está virado do avesso.
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Act. - Hoje, 18/01, soube-se - vd. aqui, que Obama indultou Chelsea Manning, um soldado transsexual condenado a 35 anos de prisão por ter entregue documentos diplomáticos e militares confidenciais à WikiLeaks  de Julian Assange, permitindo que Manning seja libertado em Maio. Assange, o amigo de Trump, comprometeu-se a entregar-se à justiça norte-americana se Manning fosse libertada.
Aguarda-se agora o que tuitará Trump sobre o assunto.

Monday, January 16, 2017

PESADELO

Merkel para Trump: 

"Nós, europeus, temos o nosso destino nas nossas mãos"vd. aqui 

Trump, em entrevista publicada hoje em todo o mundo, permitiu-se classificar de catastrófica a política de acolhimento a refugiados decidida por Angela Merkel, augurou o desmembramento da União Europeia, classificou a NATO como obsoleta, voltou a congratular-se com o Brêxit, além de outras afirmações que deveriam merecer uma reacção à medida deste lado do Atlântico mas foi a voz da chanceler alemã que se fez ouvir.

Nós, europeus, não temos o nosso destino nas nossas mãos mas nas mãos de Merkel. 
Se a sua determinação for submergida pela onda populista que Trump e seus apaniguados continuam a bolsar, o destino dos europeus cairá nas mãos de Putin e Trump. 
Até que um deles engula o outro. 

OITO BILIONÁRIOS E A METADE MAIS POBRE DA HUMANIDADE

Segundo relatório da Oxfam, uma organização britânica de luta contra a pobreza, divulgado hoje aqui, voltou a observar-se a tendência de acumulação de riqueza a nível mundial:
Apenas oito homens detêm agora riqueza equivalente à metade mais pobre de toda a humanidade.
São eles:

- Bill Gates, o fundador da Microsoft; - 75 milhares de milhões
- Amancio Ortega, dono da Inditex/Zara; - 76 mM
- Warren Buffett, investidor; - 60,8 mM 
- Carlos Slim, emprsário mexicano; - 50 mM
- Jeff Bezos, dono da Amazon e do Washington Post; - 45,2 mM
- Mark Zuckerberg, fundador do Facebook; - 44,6 mM
- Larry Ellison, da Oracle; - 43,6 mM
- Michael Bloomberg. 40 mM

Os números são calculados tendo por base dados do Credit Suisse e da Forbes. 



Em O Capital no século XXI, Thomas Piketty procura demonstrar os efeitos perversos da acumulação de riqueza sobre o declínio do crescimento económico. Não sendo inatacável, porque nenhuma obra no campo das ciências sociais o consegue ser, o bastante documentado ensaio do economista francês mereceu generalizada aceitação e aplauso mesmo de quadrantes ideológicos liberais. E a anémica evolução das economias mais desenvolvidas parece confirmar as suas conclusões. 
Por outro lado, em o Economist on line pode ler-se um artigo - The curious case of missing global productivity growth  - que parece confirmar a tese de o crescimento estar a ser travado pela estagnação da produtividade apesar dos desenvolvimentos tecnológicos observados nas últimas décadas. Falha nas expectativas ou demora na repercussão desses desenvolvimentos ou esmagamento generalizado do crescimento das classes médias por apropriação insaciável dos que se situam no percentil da extrema direita da distribuição de rendimentos? Piketty afirma que é este o caso. 

Sunday, January 15, 2017

DÍVIDAS E RESULTADOS

Não me motivam as discussões futeboleiras (o futebol é um espectáculo, pode ser bom ou mau, gosta-se ou não se gosta) mas o assunto ocupa um espaço tão intenso na comunicação social e em reuniões de amigos que é impossível não perceber que, para além das discussões à volta das opções dos treinadores ou dos erros dos árbitros, o futebol é um negócio, as compras e vendas de jogadores animam as opiniões divergentes entre os aficionados e as jogadas dos presidentes dos clubes suscitam frequentemente discussões tanto ou mais acaloradas que as  dos jogadores em campo.

Curiosamente, aos resultados obtidos em campo não correspondem os resultados registados nos balanços e contas de exploração. Vd. aqui os campeões das dívidas e dos resultados publicados pela UEFA. 
Notáveis: Pela positiva, os resultados dos negócios do Sporting e do Porto; pela negativa, o endividamento do Benfica, que ocupa o segundo lugar do ranking. O que coloca a recorrente questão da sustentação dos resultados desportivos pelas dívidas contraídas pelos clubes. 


Ainda a propósito de resultados e dívidas é inevitável registar que à satisfação com que a opinião pública maioritariamente corresponde ao exercício do governo actual não corresponde a inflexão do crescimento imparável da dívida pública a voltar a impulsionar o crescimento insustentável dos juros. A dívida pública de Portugal é a quinta mais elevada do mundo.
  
E, já agora, registe-se, ainda a propósito do tema em título, a notícia publicada aqui, que pesquei aqui: O PS tem penhoras de 50 mil euros correspondentes a rendas por pagar e um endividamento líquido a rondar os 22 milhões.
Mas continua folgadamente no primeiro lugar das sondagens.

Thursday, January 12, 2017

JUSTIÇA IMPLACÁVEL


Já várias vezes dediquei apontamentos neste bloco de notas ao sucesso internacional conseguido pela filmografia de alguns realizadores iranianos.
"O Vendedor" do realizador de "A Separação", uma obra também premiada em Cannes, merece ser visto.
***
Perante o fim, de algum modo inesperado, da morte por vergonha de um velho apanhado com a boca na botija, ocorreu-me a eleição de Trump, apoiada nos votos da maioria das mulheres brancas, porventura encantadas com a recorrente falta de vergonha do seu ídolo.  

Wednesday, January 11, 2017

O PAI


Em cena no Teatro Aberto.
Solicitada por um actor veterano ao autor, um ainda jovem, mas já muito aplaudido, dramaturgo francês,  "O Pai" é uma obra que obriga a um desempenho esgotante do protagonista.
João Perry responde ao  desafio, com uma interpretação notável, de uma obra construída a pensar num actor, centrada num tema - Alzheimer e as relações familiares - que não suscita reflexão porque se fica pasmado perante a inevitabilidade da tragédia das saídas conhecidas. 
Pela admirável interpretação de João Perry, ****

Tuesday, January 10, 2017

PLUTOCRACIA AMERICANA

Podem os norte-americanos considerarem-se governados por um regime democrático a partir do próximo dia 20, data da "inauguration" do mandato de Trump, não atribuído por uma maioria de votos mas pela conjugação constitucionalmente consentida da sua distribuição globalmente minoritária pelos 50 estados da União? Podem. Não foi esta a primeira vez que o candidato eleito não obteve a maioria dos votos a nível nacional. 
Será um poder democrático conquistado por portas travessas onde as redes sociais tiveram influência preponderante nas opções de voto de muitos eleitores confundidos ou enganados por mensagens que, em larga medida, foram forjadas a partir do Kremlin com a intenção de favorecer Trump denegrindo Hillary Clinton. Será um governo plutocrático formado por alguns dos membros mais ricos da sociedade norte-americana, vários deles oriundos de Wall Street, uma das fontes do mal que Trump prometeu secar durante a campanha. Não só não a secou como agora bebe dela. 

A plutocracia, como qualquer outra forma degenerescente da democracia, instala-se no poder utilizando a flacidez inerente ao voto popular, fulcro onde se assenta a base do funcionamento democrático. A denúncia e o combate desse aproveitamento perverso, que as redes sociais potenciaram e Trump, um malabarista do twitter, aproveitou e continua a aproveitar, só pode ser travado pela dedicação primeira ao interesse público que é suposto ser ponto de honra daqueles que se candidatam ao governo da res publica. 

Trump, aliado dos populistas instalados e dos candidatos a instalarem-se, vai poder contar com muitos daqueles que o combateram durante a campanha, chegando a sugerir que desistisse quando o viram quase a  afundar-se no pântano de escândalos que ele alegremente ia alargando, porque o poder atrai os vampiros que dele se alimentam.

Vem este apontamento a propósito deste artigo - Los gemelos Trum y Assange - publicado no El País de hoje. Vale a pena uma leitura integral.


Monday, January 09, 2017

HÁ BANCOS A MAIS À VOLTA DESTA MESA

Afirma Centeno,

"Não podemos correr riscos com a estabilidade financeira porque todos sabemos a importância que o sector financeiro tem numa economia moderna como a nossa e não podemos ficar reféns de soluções e vamos explorá-las todas as que tivermos à nossa mão, sendo que neste momento o foco é claramente o processo de venda" ... " "não tem que ser a extinção, antes pelo contrário, isso está basicamente fora de causa"... "... "nenhuma porta pode ficar fechada porque, para conseguir combinar critérios ou objectivos, que às vezes parecem contraditórios, nós temos que alargar o conjunto de possibilidades de actuação." ... "perante um cenário que não se consubstancie numa venda, (pode) haver outras alternativas que permitam atingir o primeiro dos critérios que é a estabilidade do sector financeiro". - aqui 

Resumindo, Centeno afirma que, se as negociações ainda em curso com o Lone Star falharem, o Governo avançará para a nacionalização (pretensamente temporária) do Novo Banco. 
Aliás, registe-se, para memória futura, que se a nacionalização for a opção última, por exclusão da extinção, conta até com o parecer favorável de opiniões emitidas a partir de quadrantes ideologicamente contrários.

E a nós, contribuintes, continuará a obrigação de continuar a ajoujar com a carga cada vez mais pesada dos erros, das conivências, das incompetências, dos crimes praticados por acção ou omissão, daqueles que inicialmente engendraram os monstros e depois daqueles que não os tendo dominado os deixaram crescer. 

Se o Novo Banco for nacionalizado será contida a sua fome de mais recursos e, consequentemente, de mais impostos? Como? Se a reversão da deterioração da situação, que à partida era suposto ter deixado de fora o que estava infectado, não foi possível durante dois anos e duas tentativas de venda, o que é que pode ocorrer para acontecer o que até agora foi impossível? Visivelmente, nada.

Nada, porque há bancos a mais e economia a menos em Portugal.
O Novo Banco não faz falta à economia portuguesa. O que faz falta é mais economia capaz de sustentar um sistema financeiro solvente. A economia não cresce por crescerem os bancos. Os bancos crescem, e não necessariamente em número mas em dimensão, com o crescimento económico num ciclo evolutivo onde o ovo precede a galinha.
A extinção do Novo Banco é a única opção economicamente justificável. Todas as outras decorrem da falta de ousadia para recorrer à medida politicamente mais difícil de engolir. 

Sunday, January 08, 2017

MÁRIO SOARES

Cito de cor  a resposta de Mário Soares a uma pergunta de Fátima Campos Ferreira  nesta entrevista de 30 de Maio de 2013, e retransmitida ontem à noite na RTP.

FCF - Mas como é que o senhor enfrentou as opiniões contrárias à sua dentro do seu próprio partido?
MS  - Sucedeu-me isso quando, dos catorze membros do Secretariado, só três se mantiveram ao meu lado. Mas enfrentei-os, e depois pensei, como é que estes tipos me obedecem?, gente com muito melhor preparação académica do que eu, gente com vinte e dezanove valores ...
FCF - O engenheiro Guterres ...
MS - Sim, o Gueterres, o Constâncio, mas também o Sampaio, todos se viraram contra mim. E eu dei um murro na mesa, e eles obedeceram-me! 

Creio que é difícil encontrar melhor síntese do carácter determinado, possante, de antes quebrar que torcer, de Mário Soares. 
Figura central da democracia portuguesa, não foi o protagonista pacífico que a bonomia com que mobilizava o aplauso entusiástico de muitos portugueses intuiria parecer. Ficarão memoráveis nas páginas que a história lhe dedicará as rupturas crispadas, em momentos muito distanciados no tempo, com amigos do peito, Zenha e Alegre, entre vários outros. 

Depois de ouvir grande parte da entrevista, inquestionavelmente um testemunho imprescindível para compreender a personalidade de Mário Soares, vi, salvo erro na mesma estação televisiva, o programa das cerimónias e o trajecto do funeral entre a saída da sua casa no Campo Grande até ao Cemitério dos Prazeres, em voltas que vão atravessar a parte central e ribeirinha de Lisboa até aos Jerónimos para retornar a locais mais intimamente ligados à sua vida política.

A despropósito, admito-o, mas ocorreu-me a recente peregrinação das cinzas de Fidel Castro de uma ponta à outra de Cuba. A humanidade, quaisquer que sejam as suas convicções sobre a vida depois da morte, nunca admite a inexistência de seres superiores aos comuns mortais mesmo quando se afirma convictamente ateia. 

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Pela resistência com que, durante toda a vida, e nas mais diversas circunstâncias, lutou pela democracia, 
Obrigado, Mário Soares.


Friday, January 06, 2017

TRUMP CONTRA TODOS, EXCEPTO PUTIN E COMPANHIA

Mr. Trump recebe hoje os relatórios de 3 agências de "intelligence" norte-americanas que concluem ter havido interferências dos serviços russos de espionagem nas eleições norte-americanas com o intuito de o favorecerem. Veremos como como é que Trump, que tem insistentemente tuitado contra os serviços secretos de informação do seu país se limpa a este guardanapo. 

Atirando em todas direcções, salvo Putin, Marine Le Pen, Nigel Farage, e outros comparsas da mesma trupe, a quem não regateia abraços, Trump, depois de avisar os chineses que vai colocar barreiras alfandegárias para proteger os empregos nos EUA, que Obama deixa em situação de quase pleno emprego, ameaça impor direitos aduaneiros à importação de carros Toyota se o fabricante japonês não desistir de aumentar as suas actividades no México. Já tinha ameaçado a Ford e a General Motors no mesmo sentido, mas enquanto estas, por serem norte-americanas vão dizendo que sim, veneradoras e obrigadas, os japoneses não parecem amedrontados e já anunciaram que não vão desistir do fazerem o que melhor entenderem, não se esquecendo de recordar a Trump as muitas fábricas que têm nos EUA e os empregos que elas garantem, principalmente no Kentucky.

Trump tem estado a negociar vários processos em disputa judicial antes de tomar posse no próximo dia 20. Um desses casos parece, no entanto, pairar sobre a "inauguration" como uma nuvem de mau augúrio para o sujeito que tem por lema comprar o que for preciso comprar para chegar onde quer chegar. 
José Andrés, um mundialmente reputadíssimo chef espanhol aceitou um convite de Trump. Quando Trump, durante a campanha eleitoral, começou a atirar ameaças contra os mexicanos, José Andrés denunciou o contrato invocando que a sua cozinha é espanhola e a maior parte dos que a apreciam são falantes da sua língua materna. Reagiu Trump exigindo a Andrés uma indemnização de 10 milhões por quebra de contrato, ripostou Andrés pretendendo ser indemnizado com 8 milhões por alteração dos pressupostos em que assentava o sucesso do seu trabalho. 
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Segundo notícias de última hora Trump já reagiu aos relatórios das agências considerando-os como uma caça à bruxas e que se recusa acusar a Rússia de interferência nas eleições em que foi eleito.
Ninguém esperaria o contrário.