Há quedas que vêm por bem.
A queda do euro contra o dólar (1,04874, no momento em que teclo este apontamento), que agora se situa em mínimos dos últimos catorze anos, depois de ter atingido um máximo em Abril de 2008 (1,59752), tem as suas vantagens, sem que possamos ignorar os seus inconvenientes: o custo das importações de combustíveis fósseis, o aumento da dívida externa titulada em dólares, por exemplo. (vd. aqui gráfico da evolução euro/dólar nos últimos dez anos)
As vantagens, que se traduzem sobretudo no crescimento (transitório) da competitividade monetária das exportações com reflexo no crescimento económico na Europa, são boas notícias no meio de um leque de ameaças que pairam sobre o ocidente europeu, que animam os extremistas nacionalistas, xenófobos, racistas e todos quantos aproveitam as pragas para dominar as sociedades democráticas infectadas pelos vírus que eles espalham descaradamente e quase sem oposição que eficazmente os denuncie e anule. Estão os valores democráticos condenados a submeterem-se à tirania disfarçada dos seus algozes, por uso abusado desses mesmos valores, redimindo-se da sua pusilanimidade apenas in-extremis ou por desgraça de outra guerra?
Se até agora ao euro tem sido atribuído o papel de bode expiatório de todos as causas perturbadoras da união europeia, pode acontecer que, por obra e graça da ascensão do populismo nos EUA, se torne menos grave o contágio deste lado de cá do Atlântico. Pelo menos até que do lado de lá caia Trump por trumpgate.
Vem este apontamento a propósito desta noticia:
"A percepção dos gestores de compras da Zona Euro aponta para que a actividade da indústria dos 19 do clube da moeda única tenha atingido um máximo de quase seis anos em Dezembro, fechando o ano de 2016 com uma tendência de crescimento.
De acordo com a Markit, o índice PMI ficou no último mês do ano em 54,9 pontos, confirmando a primeira leitura e reforçando o perfil de crescimento em relação a Novembro, quando tinha sido de 53,7. É o valor mais elevado desde Abril de 2011, mantendo-se acima da linha de 50, o limite a partir do qual se estabelece que a actividade registou expansão.
A actividade acelerou entre os dois últimos trimestres (passando de 52,1 para 54), elevando a média anual deste indicador para 52,5, levando a que o ano fechasse no valor mais elevado desde 2010.
Por mercados, a Holanda e a Áustria são aqueles onde se denota maior expansão da actividade, ao passo que na Alemanha, a "locomotiva económica" do euro, regista um máximo de três anos. O maior parceiro comercial de Portugal, Espanha, atingiu a melhor marca em 11 meses, enquanto o desempenho de França é o melhor em quase seis anos.
Na base do desempenho do clube dos 19 está, segundo a Markit, um crescimento mais rápido da produção e de novas encomendas, tanto no mercado interno como para exportação, a beneficiar da queda do euro face ao dólar nas últimas semanas.
O crescimento da procura elevou as listas de encomendas também para o maior valor em mais de cinco anos, resultando na criação de mais postos de trabalho. A empresa de estudos de mercado destaca ainda o aumento da pressão inflacionista, perante o aumento dos custos das importações devido a factores cambiais e ao aumento dos preços das matérias-primas.
Apesar de reconhecer o forte final de 2016 para a economia do euro, Chris Williamson, o economista-chefe da Markit, destaca o risco político trazido pelo ano novo, nomeadamente em torno do desfecho das eleições na Holanda, França e Alemanha. Eventuais alterações geopolíticas podem conduzir a uma "intensificação da incerteza política na região", o que leva a organização a estimar um abrandamento no crescimento da economia, dos 1,7% de 2016 para 1,4% no ano que vem."
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