Tuesday, November 30, 2010

TOMBO

Sempre considerei Churchill como o maior político do século passado.
Quando metade do mundo se acobardava e outra metade ignorava a ameaça que estrangulava a democracia e ambicionava aprisionar a Europa, Churchill destacou-se da generalidade dos líderes europeus, pusilânimes uns, seguidores explícitos ou acobertados,  outros,  do tirano nazi, enfrentou a besta e contribuiu decisivamente para o seu aniquilamento.

Até ontem.
Quando li na Time desta semana uma súmula de Churchill´s Secret War, de  Madhusree Mukerjee's. Destaco: 
...

In 1943, some 3 million brown-skinned subjects of the Raj died in the Bengal famine, one of history's worst. Mukerjee delves into official documents and oral accounts of survivors to paint a horrifying portrait of how Churchill, as part of the Western war effort, ordered the diversion of food from starving Indians to already well-supplied British soldiers and stockpiles in Britain and elsewhere in Europe, including Greece and Yugoslavia. And he did so with a churlishness that cannot be excused on grounds of policy: Churchill's only response to a telegram from the government in Delhi about people perishing in the famine was to ask why Gandhi hadn't died yet.

...
Churchill enganou-me durante demasiado tempo.  

UMA PARA A CAIXA - 2

O Prós e Contras de ontem prometia: De um lado, Medina Carreira, João Confraria e Miguel Morgado, de outro, Daniel Oliveira, José Castro Caldas e João Ferreira do Amaral.

Desde logo, saliente-se que nenhum dos membros do painel se lembrou  que a competitividade da economia decorre em grande medida da dedicação ao trabalho e essa dedicação fica comprometida quando a RTP insiste em transmitir programas de grande audiência até à uma hora da manhã. Quem é que estará convenientemente acordado para o trabalho no dia seguinte?

Já uma vez enviei mensagem nesse sentido ao Provedor do ouvinte, que deve ter feito ouvidos de mercador ou a administração da RTP, empresa pública, não foi sensível ao argumento.

O programa, apesar do leque de opiniões, deve ter lançado mais confusão do que esclarecimento nos espectadores. Apesar de tudo, destaco o único contributo da   noite para uma solução possível para o impulsionar a competitividade da economia portuguesa. Foi proposto por João Ferreira do Amaral que, aliás, já o vem referindo há pelo menos um ano sem que, até agora, alguém lhe tenha pegado na proposta: a discriminação positiva (fiscal e de crédito) dos sectores transaccionáveis.

Aqui, no Aliás, escrevi em Maio de 2009 num apontamento :

"Se não é politicamente possível reduzir os salários nominais, mas é forçoso reduzir os custos nos sectores transaccionáveis, só vejo uma solução de impacto imediato sobre a competitividade:
a discriminação fiscal positiva para os transaccionáveis, negativa para os não transaccionáveis;
positiva para a propriedade utilizada, negativa para a propriedade não utilizada ou abandonada;
positiva para o emprego, negativa para a especulação, etc.

E, nomeadamente, o incentivo à exportação em função do VAB nacional exportado, a penalização sob a forma de IRC agravado às empresas importadoras, incluindo as de turismo. "

Em Novembro de 2009, J. Ferreira do Amaral escreveu, vd aqui, "Num contexto destes as medidas têm de ser de excepção: apoio claro ao sector exportador, através de discriminação positiva em termos fiscais e de crédito, reforço do seguro de crédito à exportação,..."

Não tenho, no entanto, a  mínima convicção de ter o Prof  Ferreira do Amaral como leitor deste caderno de apontamentos.

Monday, November 29, 2010

PICASSO AOS MILHÕES

A imprensa mundial conta hoje uma história que tem tanto de rocambolesco como de surpreendente. Trinta e sete anos depois da morte do génio espanhol, foram encontradas, por mero acaso, 271 obras suas no sótão de um electricista reformado,  que nunca tinham sido vistas nem catalogadas. Valerão, segundo algumas estimativas, mais de 80 milhões de euros.

O Le Monde, por exemplo, conta assim a aventura dos Picassos esquecidos :

"Le 5 octobre, les policiers de l'Office central de lutte contre le trafic de biens culturels (OCBC) se sont présentés à l'improviste au domicile de Pierre Le Guennec, à Mouans-Sartoux (Alpes-Maritimes). Chez cet électricien à la retraite, âgé de 71 ans, ils ont trouvé pas moins de 271 œuvres inédites de Picasso. Jamais vues, ni inventoriées."

Continua aqui.

O Público noticia a descoberta aqui.

Picasso trabalhou incansavelmente durante toda a vida, que foi longa. As suas obras estão repartidas pelos principais museus do mundo para além dos muitos particulares bilionários que penduram um ou mais picassos em casa. Do que ninguém suspeitava é que um electricista reformado, só à sua conta, tivesse entre as suas paredes 271.



A propósito: No Kunsthaus Zürich está em exibição uma retrospectiva de Picasso datada  até 1932, celebrando a primeira da obra do pintor feita num museu, precisamente o Kunsthaus Zürich, em 1932. A colecção exposta não compreende a totalidade das obras expostas há 78 anos mas a representatividade é muito sinificativa da primeira retrospectiva. 

Inclui, aliás, uma das vedetas no mercado da arte:  "Nu au Plateau du Sculpteur", de 1932, que atingiu, em Maio deste ano, o valor record de 106,5 milhões de dólares,  atrás reproduzido. No site do Kunsthaus Zürich este mesmo quadro encontra-se fotografado, na quarta imagem a contar da esquerda. 

TROMPA ALPINA

clicar nas imagens para aumentar

Ontem, em Adliswil

KRUGMAN, A ESPANHA E O EURO, E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Krugman publicou ontem na sua coluna habitual no New York Times mais uma das suas análises acerca do sistema monetário europeu  e das dificuldades que se colocam a alguns do seus membros  de coabitação com a moeda comum europeia. Aborda, também mais uma vez, a Espanha, um prisioneiro do euro que pode ameaçar seriamente o sistema.

Trata-se de texto que até quase aos dois períodos finais nem é particularmente controverso nem original. Krugman vem afirmando basicamente o mesmo desde há algum tempo: o euro animou as economias de de forma especulativa de alguns países ao mesmo tempo que as endividava e lhes retirava competitividade. Retroceder da posição crítica em que se colocaram não é fácil nem se consegue sem dor. Sem capacidade de manobra monetária, a Espanha é um prisioneiro perigoso para o euro porque é grande demais. O que vale ao Irlandeses é serem poucos, assim começa Krugman a crónica que transcrevo a seguir na íntegra.

Mas esta crónica de Krugman, obviamente, não é escrita para os espanhóis lerem mas para os seus leitores norte-mericanos e, muito particularmente, aqueles (conservadores republicanos, obviamente) que se opõem a mais injecções de liquidez que possam comprometer a solidez do dólar e propulsionar a inflação para patamares dificilmente controláveis. Os dois últimos períodos do texto são a razão fundamental de todo o resto.

Não ironicamente, soube-se hoje que Obama decidiu congelar durante os dois próximos anos os salários do governo federal dos EUA.
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The Spanish Prisoner
By PAUL KRUGMAN

The best thing about the Irish right now is that there are so few of them. By itself, Ireland can’t do all that much damage to Europe’s prospects. The same can be said of Greece and of Portugal, which is widely regarded as the next potential domino.

What’s striking about Spain, from an American perspective, is how much its economic story resembles our own. Like America, Spain experienced a huge property bubble, accompanied by a huge rise in private-sector debt. Like America, Spain fell into recession when that bubble burst, and has experienced a surge in unemployment. And like America, Spain has seen its budget deficit balloon thanks to plunging revenues and recession-related costs.

But unlike America, Spain is on the edge of a debt crisis. The U.S. government is having no trouble financing its deficit, with interest rates on long-term federal debt under 3 percent. Spain, by contrast, has seen its borrowing cost shoot up in recent weeks, reflecting growing fears of a possible future default.

Why is Spain in so much trouble? In a word, it’s the euro.

Spain was among the most enthusiastic adopters of the euro back in 1999, when the currency was introduced. And for a while things seemed to go swimmingly: European funds poured into Spain, powering private-sector spending, and the Spanish economy experienced rapid growth.

Through the good years, by the way, the Spanish government appeared to be a model of both fiscal and financial responsibility: unlike Greece, it ran budget surpluses, and unlike Ireland, it tried hard (though with only partial success) to regulate its banks. At the end of 2007 Spain’s public debt, as a share of the economy, was only about half as high as Germany’s, and even now its banks are in nowhere near as bad shape as Ireland’s.

But problems were developing under the surface. During the boom, prices and wages rose more rapidly in Spain than in the rest of Europe, helping to feed a large trade deficit. And when the bubble burst, Spanish industry was left with costs that made it uncompetitive with other nations.

Now what? If Spain still had its own currency, like the United States — or like Britain, which shares some of the same characteristics — it could have let that currency fall, making its industry competitive again. But with Spain on the euro, that option isn’t available. Instead, Spain must achieve “internal devaluation”: it must cut wages and prices until its costs are back in line with its neighbors.

And internal devaluation is an ugly affair. For one thing, it’s slow: it normally take years of high unemployment to push wages down. Beyond that, falling wages mean falling incomes, while debt stays the same. So internal devaluation worsens the private sector’s debt problems.

What all this means for Spain is very poor economic prospects over the next few years. America’s recovery has been disappointing, especially in terms of jobs — but at least we’ve seen some growth, with real G.D.P. more or less back to its pre-crisis peak, and we can reasonably expect future growth to help bring our deficit under control. Spain, on the other hand, hasn’t recovered at all. And the lack of recovery translates into fears about Spain’s fiscal future.

Should Spain try to break out of this trap by leaving the euro, and re-establishing its own currency? Will it? The answer to both questions is, probably not. Spain would be better off now if it had never adopted the euro — but trying to leave would create a huge banking crisis, as depositors raced to move their money elsewhere. Unless there’s a catastrophic bank crisis anyway — which seems plausible for Greece and increasingly possible in Ireland, but unlikely though not impossible for Spain — it’s hard to see any Spanish government taking the risk of “de-euroizing.”

So Spain is in effect a prisoner of the euro, leaving it with no good options.

The good news about America is that we aren’t in that kind of trap: we still have our own currency, with all the flexibility that implies. By the way, so does Britain, whose deficits and debt are comparable to Spain’s, but which investors don’t see as a default risk.

The bad news about America is that a powerful political faction is trying to shackle the Federal Reserve, in effect removing the one big advantage we have over the suffering Spaniards. Republican attacks on the Fed — demands that it stop trying to promote economic recovery and focus instead on keeping the dollar strong and fighting the imaginary risks of inflation — amount to a demand that we voluntarily put ourselves in the Spanish prison.

Let’s hope that the Fed doesn’t listen. Things in America are bad, but they could be much worse. And if the hard-money faction gets its way, they will be.

Sunday, November 28, 2010

A VIDA PARA ALÉM DO DÉFICE

A União Europeia não é como os Estados Unidos da América e Portugal ainda muitíssimo menos.

Mas compreender o que se passa e o que se discute neste momento nos EUA ajuda de algum modo a perceber a nossa posição relativa, as ameaças e as oportunidades com temos de lidar num mundo que é cada vez mais apertado para os desafios, mas também os conflitos, que a globalização continua a gerar.

Nada é irreversível, salvo o fim da vida, e a globalização não é a excepção à regra. Mas o seu recuo iria certamente determinar conflitos de uma dimensão imparável que poria em causa a continuidade da própria humanidade.

O artigo que a seguir transcrevo na íntegra, publicado no Washington Post de hoje, aborda o tema do momento, e cita Portugal, pela negativa: O défice e a dívida. Duas questões irmãs pouco agradáveis à vista. Que elas preocupem os EUA, num contexto bem mais favorável do que aquele que enfrentamos na União Europeia, e particularmente em Portugal, não nos reduz a angústia mas trazem-nos o lenitivo de que não nos encontramos sós.

Há vida para além do défice, claro que há. Mas engalfinhados os partidos numa discussão com um horizonte de um ano, nenhum pergunta nem nenhum responde o que pode acontecer para além desse horizonte imediato.

A propósito dos cortes salariais em 2011, têm-se entretido os comentadores a discutir se eles são para 2011 ou para sempre, se constitucionais ou inconstitucionais. Uma discussão ridícula, sem sentido, porque os problemas do défice não se resolvem em 2011 e, para sempre, não tem qualquer significado, até,  económico. E a Constituição, por mais volta que lhe dêm, não paga as dívidas.

Seria bem mais útil, porque indispensável à abordagem das medidas que a situação impõe, que discutissem a evolução da situação da dívida e do défice na próxima década. Mas exigiria trabalho, que é coisa a que a demagogia é avessa
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FIVE MYTHS ABOUT CUTTING DEFICIT
By William G. Gale

Suddenly, debt commissions --and commissioners, and reports, and even draft reports -- are everywhere. The president's bipartisan National Commission on Fiscal Responsibility and Reform is due to vote on its final recommendations by Dec. 1 (its co-chairs having put forward a draft plan earlier this month). And earlier this month, another commission -- the Bipartisan Policy Center's Debt Reduction Task Force led by economist Alice Rivlin and former senator Pete Domenici -- reported its own plan.

Budgets may be boring, but the stakes before us are exceedingly high. As we go about reducing the deficit, who will pay which taxes? How will we defend our country? And how will we treat our elderly? Unfortunately, questionable thinking and outright distortions by critics from across the political spectrum are getting in the way of these and other difficult decisions.

1. The United States is on the verge of a fiscal crisis.

Not really. Greece faced a fiscal crisis earlier this year when it had to slash its deficit immediately or risk capital flight and economic collapse. Ireland is in the same straits now, and Portugal may soon be headed that way. The United States faces a very different situation. Long-term interest rates on government debt are low. Investors are not fleeing U.S. capital markets; instead, America continues to be a magnet for capital from around the world.

Of course, the lack of an imminent crisis hardly means there is no problem. If our current policies continue, by 2020 net interest payments on the national debt will exceed $1 trillion, 20 percent of federal revenues, annually - enough for rating agencies to downgrade the quality of U.S. debt, which in turn would raise borrowing costs and increase the deficit further.

Even in the absence of a crisis or a downgrade, the effects of persistent deficits are substantial. For example, the International Monetary Fund has found that for every 10 percentage-point increase in the national debt relative to the size of the overall economy, economic growth in an industrialized country will fall by 0.15 percentage points.


That may not sound like much, but the United States is on a path for its debt-to-GDP ratio to rise from about 40 percent in 2008 to about 90 percent in 2020. That means that our annual growth rate could fall by more than 0.75 percentage points - with major negative consequences for employment and standards of living.

Just because there is no crisis right now, however, doesn't mean we can afford to wait. If we address our fiscal challenges sooner, we can make gradual - if difficult - changes. If we wait too long, we really will be facing a crisis, and the necessary adjustments will be far more severe and sudden.

2. The deficit commissions should propose reforms that are politically viable.

No solution to this problem is going to be politically popular. But even if Congress disregards the current proposals, dismissing them as politically unfeasible, that will not mean the commissions' efforts will have failed.

By publicly proposing deficit solutions, these commissions already have fulfilled their main function: to start a serious national conversation. While the combination of spending cuts and tax reforms recently suggested by Erskine Bowles and Alan Simpson - the co-chairs of the president's deficit commission - may not even win the support of all the panel's members, they might induce the commission's anti-tax and pro-spending forces to release their own proposals. This would allow voters and policymakers to compare plan against plan - and that is exactly the discussion the country needs to have.

Any eventual solution to the deficit problem will involve measures currently considered politically impossible. For example, anti-tax advocates have objected that the co-chairs' plan would constitute a tax increase - even though Congress would raise more revenue by doing nothing for the next 10 years than it would by enacting the plan. Social Security supporters, meanwhile, have heaped criticism on Bowles and Simpson for their proposal to raise the early and normal retirement ages by one year per generation for the next two generations - even though the average lifespan will probably increase even faster, so retirement periods would still grow.

Objecting to these proposals without proposing alternatives is not productive.

3. Social Security has a surplus, so it shouldn't be cut.

Supporters of Social Security argue that the program's 2010 surplus, combined with its projected 27-year solvency, should exempt it from the budget axe.

But ruling out cuts is a bad idea. First, Social Security faces a long-term deficit. And even if the program were running a long-term surplus, the simple arithmetic of the overall fiscal situation dictates that everything - everything - should be on the table.


Simly reducing earmarks; limiting waste, fraud and abuse; or cutting back on government workers won't come close to solving the problem. Social Security, Medicare, Medicaid, defense and net interest payments typically account for 70 percent of federal spending and are on course to account for 80 percent by 2020. Any serious effort on the spending side needs to address each of these items.

Medicaid and Medicare pose the biggest challenges to long-term fiscal conditions, of course, but defense cuts are also critical. (While we're on the topic of defense, it's worth noting that officials such as Secretary of State Hillary Rodham Clinton and the chairman of the Joint Chiefs, Adm. Mike Mullen, have said that the deficit itself poses a threat to national security.)

Finally, keeping Social Security reform on the table isn't just good fiscal policy, it's good politics. It underscores the importance of shared sacrifice. If we are to find a solution that is politically sustainable, we cannot exempt large segments of society from pitching in.

4. We can balance the budget without raising taxes.

Although it is mathematically possible to balance the budget without raising taxes, it is impossible in a political sense.

Budget discipline works only when it is imposed on both sides of the ledger. In 1990 and 1993, the last time we faced a serious fiscal crunch, Congress did just that, slashing spending and raising taxes. In contrast, in 1981 and 2001, massive tax cuts did not lead to reduced spending, despite the hopes of those who espouse the "starve the beast" theory of fiscal reform.


Instead, the tax cuts were accompanied by big increases in spending, thus boosting the deficit from both sides. The logic is clear: If some politicians reward their constituents through tax cuts, other politicians will see no reason that they can't reward their own constituents through more spending. It is only when fiscal discipline is comprehensive and coordinated that it works and endures.

Moreover, we shouldn't balance the budget without tax increases - they are the only way to ensure that high-income households pay a fair share of the deficit burden. Without higher taxes as part of the fiscal reform package, middle- and low-income households - which tend to feel spending cuts most acutely - will end up bearing almost all of the burden.

The nation rapidly raised tax revenues and rates during World War II; for a long time, those rates persisted, and the economy performed well. Well-designed tax increases could help the economy and the budget now, too. We should cut the mortgage interest deduction, which is expensive and regressive and helped deepen the housing crisis. We should impose taxes on greenhouse gases, for revenue and for the environment. And we need to tax consumption, to reduce our propensity to overspend.

5. A new short-term stimulus would be fiscally irresponsible.

The Rivlin-Domenici plan proposes higher near-term deficits as a means of economic stimulus, to be followed by cuts down the line. Some may see this as Washington-style "business as usual" - always putting off cuts until tomorrow - but it makes sense economically. With the recovery stalling, spending more and taxing less now to get the economy going is perfectly consistent with the need for medium- and long-term fiscal discipline. A strong economy can do the budget a lot of good by boosting tax revenues and reducing spending on unemployment benefits and other need-based programs.

As always, there is a balancing act between immediate and longer-term concerns. Fiscal responsibility requires that we spend stimulus funds wisely on projects with the biggest bang for the buck. According to the Congressional Budget Office, these would include infrastructure spending, aid to the states, higher unemployment benefits, hiring credits and a payroll tax holiday.

The other key to a responsible stimulus package is timing. Short-term stimulus cannot become long-term policy. Congress should explicitly legislate an end date for any new stimulus and couple it with a medium-term deficit-reduction package. Together, these policies would do more to spur the economy and curb the deficit than either would alone.

William G. Gale is a senior fellow at the Brookings Institution and co-director of the Urban-Brookings Tax Policy Center.

Saturday, November 27, 2010

MILAGRO

Ontem fomos jantar fora.
- E o cão?
- O cão também vai.
- E deixam?
- Deixam. Claro que deixam, desde que o cão esteja quieto e calado.

Foi num restaurante, pequeno, discreto, mas com muito bom ar. Junto ao lago, uma dúzia de mesas, se tanto, a casa quase cheia quando chegámos. Casais ou amigos que conversavam enqunto comiam ou aguardavam, mas no ar apenas um quase imperceptível sussurro.

Entrámos e connosco o Milagro, um cruzamento de um galgo árabe com uma parceira desconhecida, porque o Milagro e os seus quatro irmãos foram encontrados abandonados em Málaga e adoptados por residentes na Suíça. Ninguém se mostrou perturbado com a entrada do bicho, um ou outro sorriu, e percebeu-se que teria feito uma festa se não estivesse à mesa. 

E o ambiente continuou animado mas recolhido. O Milagro, se bocejou, ninguém deu por isso.

Milagro, um cão suíço.

Friday, November 26, 2010

POR QUE NÃO TE CALAS?

Belmiro apoia Cavaco porque "só ele tem as competências certas"

No início deste ano, o mesmo Belmiro desancava em Cavaco Silva em entrevista que concedeu à revista Visão (vd aqui ): "Cavaco é um ditador. Mandou quatro amigos meus, dos melhores ministros, para a rua, assim de mão directa".
Que os Júdices deste país se voltem para onde sopra o vento, percebe-se. Mas, Belmiro, que não pode acusar-se de se atrelar geralmente ao poder, por que razão diz agora o contrário do que disse ontem?
Por que não entrega definitivamente o palco ao filho, que se tem mostrado bem mais ponderado nas relações com os media que o pai?

Esgota-se a coerência à medida que aumentam as dívidas?

Thursday, November 25, 2010

NO PAÍS DOS JÚDICES

Já nada nos espanta quando o anormal passou a ser norma.
Em todo o caso há coisas mais espantosas que outras apesar da banalização das causas de espanto.
Esta, por exemplo: O senhor José Miguel Júdice, um advogado sempre bem relacionado com o poder político, e melhor retribuido, foi convidado, e aceitou, fazer parte da comissão de honra da candidatura do actual Presidente da República.

Até aqui, nada de muito novo. O senhor José Miguel Júdice é suficientemente hábil para jogar em vários tabuleiros, fez parte da comissão de honra na candidatura para o primeiro mandato, o convite do actual PR não espantou ninguém.

Acontece que, sabe-se agora, Júdice acabou de escrever  um arrasador atestado de mau comportamento do actual PR enquanto primeiro-ministro, que deverá ser posto à venda dentro em breve.

No tempo em que existia uma coisa, hoje em vias de extinção, chamada honradez, o senhor Júdice seria considerado um velhaco de alto coturno e proscrito duma sociedade minimamente decente. Como no país dos júdices a falta de vergonha é moeda corrente, é bem possível que a falta de honra deste Júdice continue a ornamentar a comissão para que foi convidado e, talvez, por metade de coerência vote no candidato que se opõe aquele de cuja comissão de honra faz parte.

Este Júdice tem todo o direito, quiçá até, a obrigação moral de desancar no primeiro-ministro Cavaco Silva.
O que gente honrada não pode compreender é que, ao mesmo tempo, faça parte da comissão de honra da recandidatura do mesmo Cavaco Silva à presidência da República sem pintar a cara de caca.

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Ainda acerca de Júdice:
aqui
aqui
aqui
aqui
aqui
aqui

e ainda Marques Mendes critica incoerência de Júdice no apoio a Cavaco.

Wednesday, November 24, 2010

SALVE-NOS QUEM PUDER

aqui

INCONTORNÁVEL

Merkel: "É preciso que a política retome o primado sobre os mercados"*

A chanceler alemã diz que o que se está a passar na Zona Euro é a prova de que é fundamental que se ponham limites aos mercados financeiros. Um desses "travões" passa por responsabilizar os investidores caso um país entre em "bancarrota".

Durão Barroso concorda.

Eu também.
Desde logo quando Merkel avançou com a ideia de passar a responsabilizar os credores, isto é, os bancos e os especuladores na reestruturação e reescalonamento das dívidas. Não há alternativa. Não é possível baixar dos patamares de endividamento crescente a que alguns países subiram sem que haja  reduções das dívidas. Aliás, os juros chorudos que já são cobrados são uma antecipação do risco dessa redução.

O resto são mezinhas que não atacarão nunca definitivamente a infecção.
A alternativa seria a injecção irresponsabilizante de liquidez e a inevitável inflação. Mas Merkel, aliás os alemães já disseram e reafirmaram que não querem ir por aí.
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ESTE PAÍS NÃO É PARA CORRUPTOS

O JOGO DA CABRA CEGA

PJ investigou fraude no sector militar que terá lesado o Estado em 1 milhão de euros.

Por tanto dinheiro ninguém vai preso.

OS INSUBSTITUÍVEIS

De insubstituíveis, diz-se, estão os cemitérios cheios.
Esta verdade irrebatível, contudo, não parece ter convencido o par PS/PSD que deixou ontem a porta aberta para excepções à regra de cortes salariais na função pública e nas empresas, exclusiva ou maioritariamente, públicas.

Uma possível excepção que, se vier a ser usada em alguns casos, poderá, e com toda a razão, indignar os excluídos da condição de insubstituíveis.  

Por todas as razões e mais uma: as empresas públicas lucrativas são raras mas o seu sucesso não depende do mérito de quem as gere mas das condições que protegem as suas actividades.

A Caixa tem tido vários presidentes, vários membros do conselho de administração,  nomeados por razões de confiança política. Alteraram-se significativamente os resultados da Caixa com as mudanças no quadro de gestores? Claro que não.

Para além do ridículo receio de saída dos melhores para a concorrência numa altura em que a concorrência está a deitar por fora custos, que já aqui denunciei, para além das mesmíssimas razões poderem ser invocadas por outros sectores públicos, acresce este facto óbvio: Difícil não é gerir a Caixa, difícil é gerir a CP, por exemplo.

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Na foto: Gorila prateado, espécie em vias de extinção.
Dizem os sóciobiólogos ou o zoosociólogos que quando o Gorila assume o comando do grupo ele troca o pêlo das costas por um pêlo prateado para demonstrar a sua posição de chefe.

Tuesday, November 23, 2010

TRINTA E OITO MIL

Há dias, a propósito da Cimeira da Nato, o Público dava conta dos efectivos militares de cada um dos membros da Aliança Atlântica. Portugal, segundo a notícia, conta com  38 mil militares. São muitos? São poucos?

Comparando o efectivo militar com o território do país, Portugal tem uma relação idêntica à Dinamarca e à França, aproximadamente 41 militares por 100 km2, e mais baixa que a Bélgica (118), a Holanda (123),  Grécia (101), a Itália (65,4), o Reino Unido (80,5), a Alemanha (71,1) e a Turquia (62,9). Todos os outros membros têm relações inferiores. De salientar que para os EUA a relação é de 14,6.

Se a comparação for feita com a população, Portugal faz parte de uma short list de países com mais militares por mil habitantes (3,6), só inferior à Noruega (4,0), à Grécia (11,8), à França (3,7), à Turquia (6,8) e aos EUA (4,4).

Se a relação for estabelecida entre o Rendimento Nacional Bruto por cada milhar de militares, só para a Bulgária, a Albânia, a Grécia e a Turquia a relação é pior que para Portugal.

Acrescente-se que, dos países da União Europeia, não fazem parte da Nato a  Áustria, Chipre, a Finlândia, a Irlanda, Malta e a Suécia, um aspecto que deveria questionar deveres e obrigações em matéria de defesa da Europa e, muito particularmente, da União Europeia.

De salientar ainda o significado do elevado número de efectivos de alguns países membros vizinhos: a Gécia e a Turquia, sobretudo, mas também da Holanda, da Bélgica, entre outros.

Membros sim, mas pouco confiantes nos outros.
E, Portugal, não confia em quem?
É curioso que, durante as discussões à volta das medidas de austeridade, este aspecto continue a ser considerado tabu.

31 MIL MILHÕES

Quando não se fala de outra coisa senão da dívida, do défice, da dívida externa, da falta de liquidez dos bancos, e outros sintomas correlativos, ficamos a saber (Expresso do passado Sábado) que

- A banca portuguesa tinha, no final de 2009,  31 mil milhões na Irlanda, ao câmbio euro-dólar médio de 2009. 
- Em meados do corrente ano os bancos portugueses tinham empréstimos a entidades irlandesas no valor de 14 mil milhões de euros (números do Banco de Pagamentos Internacionais)
- Só em dívida pública, três bancos - CGD, BCP e BPI - tinham em Março 800 milhões.  
- A economia  irlandesa é o principal destino do investimento financeiro nacional.
- O sistema bancário nacional é o oitavo maior credor do conjunto dos PIGS, exluindo Portugal.

Prequenos, mas potentes.

Maiores credores do PIGS, em milhões de euros:
Alemanha ----    287.835
França       ----   224.764
Reino Unido--  214.419
EUA -----------   92.319
Holanda --------  75.708
Espanha --------  68.028
Bélgica --------  56.444 
Portugal ------ 38.326
Japão ----------  38.281
Itália ----------- 37.172

Na mesma edição do Expresso, (vd reprodução aqui) afirma-se que, no ano passado, 1,6% do PIB, cerca de 2600 milhões de euros voaram para Caimão, onde já se encontravam quase 13 mil milhões.

Estranha forma de vida.

Monday, November 22, 2010

O QUE É ISTO?

ACIMA DO PAÍS

"Uma coligação seria um erro gravíssimo com consequências dramáticas,... seria a última tábua de salvação para o PS se aguentar no poder" - Alexandre Relvas, empresário, muito próximo de Cavaco Silva, ao Expresso do último fim-de-semana.

O partido acima do País. 

Sunday, November 21, 2010

COLIGAÇÃO PS/FMI

- Sem um governo de maioria os credores continuarão a olhar desconfiados para a capacidade de execução dos objectivos fixados para 2011. É imperiosa uma coligação que permita um apoio parlamentar claro à execução das medidas anunciadas. 
- Mas como, se à esquerda não há coligação possível e o líder do PSD já declarou que antes de eleições não está interessado em participar no governo?
- Se assim é, não resta outra coligação possível senão PS/FMI. Além do mais, tem a vantagem de poder negociar-se num curto período de tempo. É uma questão de os chamar. E, quanto mais tarde, pior. 
- E resolve?
- Pode não resolver. A história do FMI conta com vários insucessos. Dos países intervencionados, claro, porque o FMI nunca sai fora de pé.  .

Saturday, November 20, 2010

COERÊNCIA, PRECISA-SE

Coerência,  honestidade e alguma vergonha.
Pelo menos em algum vértice do aparelho de Estado.
Coerentemente, o PR deverá vetar esta Lei.
Se o não fizer, abdica dos princípios que apregoa e sumete-se ao dictat dos interesses partidários, lesando os interesses do País.

Friday, November 19, 2010

O JOGO DA CABRA CEGA

Ministério Público não sabe onde pára a "Lista Pinota" e pede explicações à PSP.

Documento com nomes de políticos e juízes desapareceu ou nunca existiu. Procurador quer saber a verdade e, se for o caso, avançar com punições.

O Ministério Público é um manancial caudaloso e inesgotável.
Se o Pinota existe, e não é ficção de algum jornalista mais imaginativo do que a deontologia da profissão lhe consente, onde é que está a dificuldade em recompor, nem que seja parcialmente, a lista? Se a lista alguma vez existiu. Se nunca existiu, quem é que levantou a atoarda? O Pinota ou o jornalista?   

Questões que o homem comum não percebe como é que o Ministério Público se enreda nelas. 
A menos que a lista exista, ou tenha existido, e mais uma vez não há culpados, só suspeitos incógnitos caídos em águas de bacalhau.

Nestes casos, nem as birras da  Merkel nem as imposições do FMI nos podem valer.  

Thursday, November 18, 2010

A MENINA DANÇA?

São necessários dois para dançar o tango, afirmou há tempos o PM que temos.
Entretanto, por culpa de não sabe bem de quem, o tango virou fado à desgarrada, cada qual a gargarejar a sua cantilena. Entre acusações mútuas ao centro e vaias dos extremos, continuamos a dar uma imagem aos credores de incapacidade notória para levar a barca a porto ingrato mas mais seguro.

Com a Irlanda a resignar-se a aceitar a ajuda externa para remendar o seu sistema financeiro roto, Portugal, que terá bancos muito menos fragilizados mas tem uma economia muito mais débil, fica agora na frente da fila dos alvos à mercê da desconfiança dos credores. E, não se vê bem como poderá escapar a ter de, a curto prazo, recorrer ao FEEF/FMI. 

Sem parceiro da casa para o tango, o PM que temos não terá qualquer hipótese de continuar a enjeitar quem o leve a dançar e lhe conduza as voltas.

Continuo a apostar que lhe cairá nos braços antes do Natal.

ASSIM FALOU PAUL KRUGMAN



Entretanto, o euro está a valorizar-se,  desde ontem, nomeadamente, contra o dólar e o franco suiço.

Mistérios cambiais.

Wednesday, November 17, 2010

SECRETAS E MAL PAGAS

Antecipando-se às eventuais deserções na Caixa por corte nos salários (vd. apontamento anterior),

Director das Secretas demitiu-se.

Os cortes no Orçamento do Estado (OE) de 2011 fizeram uma baixa. E inesperada. Jorge Silva Carvalho demitiu-se na semana passada de director do Serviço de Informações Estratégicas e Defesa (SIED). Em ruptura com o secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira, por causa da redução no orçamento do serviço e do fecho de “estações” no estrangeiro – vão fechar sete num total de 11.

Se a moda pega teremos o problema do défice resolvido mais cedo do que se esperava.
Irá para a Prosegur? Ou para a Securitas?

FARIA MELHOR ESTAR CALADO

Ainda acerca dos receios do presidente da Caixa.

O presidente da Caixa, segundo notícias públicas, terá enviado ao Governo uma mensagem preocupada com a eventual fuga de quadros do banco do Estado em consequência da redução salarial que abrangerá os funcionários públicos e as empresas maioritariamente públicas. Como a Caixa está num mercado concorrencial, argumenta do o presidente da Caixa, a concorrência ir-lhes-á buscar o que tiverem de mais válido. O que pode ser, ainda segundo as notícias, bastante prejudicial para o banco público, aliás, muito lucrativo.

Esquece-se o presidente da Caixa, no seu argumentário, que a concorrência a que se refere é a concorrência no mercado do trabalho, a qual, tanto abrange a Caixa como todos os serviços públicos abrangidos pela medida. Porque de todos eles poderão sair quadros aliciados por posições mais vantajosas no sector privado.

Esquece-se ainda que, no momento crítico que o país atravessa e de que o sector financeiro não escapa, a mobilidade não se alicia com uma redução de 10% no vencimento, tanto mais que a Caixa, por ser respaldada pelo Estado em múltiplas vertentes, oferece garantias que justificam os lucros que o presidente da Caixa realça, como realçaram todos os seus antecessores e realçarão os seus sucessores.

Nos tempos que correm, a segurança de emprego é, mais do que nunca, dinheiro em caixa.

Tuesday, November 16, 2010

BARBARIDADE

Se isto é verdade, e não tenho razões para duvidar que seja, é uma barbaridade.

c/p de aqui

ANEDOTA DO DIA

CGD teme fuga de quadros por causa dos cortes salariais.

Fogem, para onde?
Para o BPN? Para a China?
Mesmo que saiam alguns quantos ficam ainda na fila de espera?

LEI DE GRESHAM

A hipótese de o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, substituir o primeiro-ministro, José Sócrates, numa estratégia de alternância de liderança do Governo interna ao PS, foi ponderada há uns meses, quando esteve em discussão e foi aprovado o primeiro PEC, em Maio. Mas a maioria dos dirigentes socialistas, incluindo do sector soarista, contactados pelo PÚBLICO, são unânimes em afirmar que o nome de Luís Amado não está neste momento em cima da mesa da discussão sobre uma eventual substituição interna do primeiro-ministro.
A boa moeda expulsa pela má moeda. (Gresham )

Monday, November 15, 2010

A COR DOS CARRIS

Ligo o televisor. Passam uma peça gravada da discussão do orçamento na especialidade. Assunto: TGV.
Pelos vistos, o acordo partidário que permitiu a aprovação do OE 2011 na especialidade é obscuro quanto a um assunto que tanta paciência já consumiu aos portugueses. Para o ministro das obras públicas, as obras vão iniciar-se no primeiro trimestre do próximo ano porque o TGV é um projecto prioritário,  para a oposição o acordo determina a reavaliação da realização do TGV.

Responde o ministro que reavaliar não é suspender.

Realmente não é. Mas se não há suspensão o que é que reavalia? A cor dos carris?

Numa altura em que, mais que nunca, precisamos de carrilar o país que pretende este ministro, ou este governo, com estas manobras na via impedida? 

Sunday, November 14, 2010

ANTOLOGIA



c/p de aqui

Comunicação de uma (então) criança, em 1992, durante a Conferência do Rio.
Nada se mudou desde então? Alguma coisa mudou.
Se a globalização trouxe algumas vantagens para a humanidade, a cada vez maior consciencialização de que habitamos na mesma aldeia é, seguramente, uma delas. 

CONVERSA FIADA

É notável a impotência da autodenominada esquerda progressista para ultrapassar os limites da sua dialética e assumir-se responsavelmente como alternativa aquilo que odeiam: o statu quo do braço dado pelo centrão. Vocacionados como contra-poder derrubam as pontes e ficam do outro lado a fazer manguitos se os desafiam a mostrar o que valem. O PS, pela voz dos seus mais destacados dirigentes, reafirma a cada passo que não há viabilidade para uma governação em coligação à esquerda. 

É péssimo. Quando as eleições não atribuem maiorias absolutas, Portugal está condenado a governos minoritários ou a acordos, de coligação ou de incidência parlamentar ao centro. Em situação de crise profunda e prolongada, é dramático. É, sobretudo, nestas ocasiões que a esquerda dita progressista desempenha um papel extremamente nocivo para a democracia e para o País, porque nem quer governar nem deixa governar. 

Enquanto, por via de uma solução de sistema eleitoral, não for reduzido o papel dos partidos que se alimentam do descontentamento dos eleitores e recusam acordos que lhes possam atribuir responsabilidades governativas, os eleitores portugueses estão condenados a não terem alternativas credíveis: ou o centrão ou a confusão. 

Aqui escrevem uma dezena de economistas que configuram bem a revolta mas também a impotência dessa esquerda que quer mudar o mundo mas não sabe por onde lhe pegar. Hoje, diz um deles, "Isto está tudo mal ligado... " e atribui as culpas aos economistas de Belém, ao actual PR, a Angela Merkel.

Está tudo mal ligado?
Respondi-lhe: Está, claro que está.

Quando o JR faz uma análise crítica disto e culpa os economistas de Belém e Cavaco, até parece que o PR é quem governa.
Não é possível escrever com um pouco mais de isenção?

Por exemplo: Não seria esperável que Alegre, candidato que os LB apoiam, dissesse claramente o que fará se for Presidente?

Demite o Governo e convida o PS a formar uma coligação de esquerda com o BE, eventualmente, e desejavelmente com o PCP?

Se Alegre é apoiado pelo BE e pelo PS, o mais óbvio seria, para bem da separação das águas, que defendesse um governo de maioria à esquerda. Não?

E, então, a influência de Belém passaria pelos LB, que apoiam Alegre.

Assim, nada feito. Os LB continuarão envoltos de revolta contra Merkel, Cavaco etc., mas também na própria impotência da sua esquerda de se assumir, como tal, como alternativa de governo.

Porque é aí que a porca torce o rabo: rabejadores por vocação não sabem como agarrar-se ao cachaço do touro e dominá-lo, de caras ou mesmo de cernelha.

NÃO HÁ AMIGOS AMARELOS DEMAIS

Chineses fazem renascer o sonho de Sines

NÃO HÁ AMIGOS PEQUENOS

Ramos Horta: Timor Leste está disponível para comprar dívida soberana portuguesa

A MUDANÇA NECESSÁRIA

Leio no Expresso de hoje que "Passos não entra no Governo sem ir a votos".
Se a notícia é consistente, e não me admira que seja, as perspectivas apontam para eleições gerais logo que expire o período de defeso, isto é, em Maio do próximo ano.

Estamos a sete meses de distância e, na melhor das hipóteses portuguesas, a oito ou nove da tomada de posse de um novo governo. Entretanto, chegam as férias de Verão. Até lá, Portugal, um barco à deriva, acabará, fatalmente, por encalhar com rombos incalculáveis no casco.

Agora suspenso da aprovação do OE 2011 na especialidade, o Governo esquece-se da execução do OE 2010, que deve concluir-se com o agravamento da enorme derrapagem já revelada, alterando substancialmente o ponto de partida para 2011. É, no mínimo, inexplicável que o Governo, perante a derrapagem em curso e a urgência na decisão de a travar, adie para 1 de Janeiro de 2011 o início da execução das medidas que entende necessárias e suficientes.

Tudo conjugado, Portugal vai estar sujeito a um longo período de turbulência sem esperança de que daqui a um ano haja condições de governabilidade que permitam adoptar as medidas que possam contrariar as causas que conduziram à estagnação económica, à ameaça de falência do Estado, do sistema financeiro, de muitas empresas e de grande parte das famílias.

Porque, em Maio de 2011, se os resultados das eleições conduzirem a uma maioria absoluta do PSD, ou do PSD/CDS, e não é um dado adquirido que isso venha a acontecer, Portugal encontrar-se-á numa situação em que a sua governabilidade estará condicionada  pela execução do OE 2010 e pelo OE 2011 de que ainda não se conhecem os contornos definitivos. O que, inevitavelmente, implica que o novo governo herdará um testemunho em brasa. E que, ou o deixa cair mais cedo do que esperava, ou terá de suportar os efeitos dolorosos do escaldão.

A aposta, se é aquela a aposta de Passos, não parece inteligente: Desvincula o actual governo e o PS das suas responsabilidades para carregar com um fardo que só lhe pode dar dissabores. Após uma vitória eleitoral, mesmo que seja robusta, passados poucos meses estará com a popularidade no charco.

Do que o País precisa, como condição necessária à sua reabilitação, é da mais ampla coligação possível para chegar ao fim da actual legislatura. Com outro PM.

Saturday, November 13, 2010

A CULPA DOS OUTROS

Sócrates: Opinião de Amado é também a do Governo mas a Oposição não quer assumir responsabilidades.

A quem compete diligenciar no sentido de formar um governo de coligação?
À oposição, segundo o PM que temos.

O JOGO DA CABRA CEGA

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c/p de aqui

Friday, November 12, 2010

OBVIAMENTE, VOTO NELE

Escrevi o mesmo aqui no Aliás várias vezes,  desde há muito tempo.
Acerca de Luís Amado, referi-me aqui e aqui.

 aqui escrevi, a 17 de Outubro: Luis Amado seria, seguramente, nas circunstâncias políticas actuais, que não consentem nem recomendam eleições gerais, que aliás se ocorressem não alterariam sensivelmente o arco parlamentar actual, seguramente um PM com características de apaziguamento e negociação que a situação altamente crítica requer e que, de modo algum, o actual possui.

Luís Amado não será, provavelmente o Primeiro Ministro de um governo de coligação, mas a partir de agora, acredito, nada vai ficar na mesma por muito mais tempo.

Thursday, November 11, 2010

O JOGO DA CABRA CEGA

Busca a escritórios e residências de ex-administradores do BPP. Um dos alvos foi o ex-presidente João Rendeiro.

MORAL DA HISTÓRIA

A intenção alemã, secundada pelos franceses, de comprometer os credores na solução das dívidas soberanas dos países mais fragilizados está a exacerbar a subida das taxas de juro e a suscitar um coro de protestos tanto da parte dos países devedores como dos tomadores das dívidas (vd. aqui ).

Percebem-se as declarações de Merkel e Lagarde e os protestos dos devedores e credores.

Merkel e Lagarde avisaram que o FEEF não pode ser um saco roto de onde os credores sacam juros sem riscos. A partir de um certo patamar crítico de endividamento, o "point of no return", não há medidas de saneamento financeiro que valham porque o tecido económico deixa de as poder suportar e o conjunto claudica. Nessa altura, não resta alternativa aos credores senão aceitarem o reescalonamento ou o perdão de parte da dívida, ou uma coisa e outra. 

A menos que, por moral hazard, as dívidas fossem  saldadas pelos contribuintes dos países não endividados. Ou, dito de outro modo, a menos que os alemães, holandeses, etc., fossem chamados a pagar as contas com impostos ou com inflação. Estes, pelos vistos, contudo, não estão pelos ajustes e avisam os credores que, apesar do FEEF e do FMI uma parte das responsabilidades em caso de incumprimento, quase certo, têm ser assumidas por eles.

A impossibilidade de recurso à emissão de moeda, uma das medidas geralmente adoptadas pela terapêutica do FMI, implica inevitavelmente que o FEEF seja um fundo com fundo, isto é, que seja protegido da irresponsabilidade dos credores sob pena de implodir mais tarde ou mais cedo.

Como português, não acho graça à ameaça mas percebo-a.
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Wednesday, November 10, 2010

CONTRASTES


Portugueses cortam 6% nas compras de presentes de Natal mas, ainda assim, gastam mais em prendas natalícias que os alemães.

A proósito:

A 18 de Outubro, André Barata colocou no blog da Sedes  um apontamento “Exportações/Importações – Uma pergunta sobre o Orçamento de Estado 2011″ que comentei* sugerindo que os rendimentos do trabalho fossem pagos em 12 mensalidades, e não nas habituais 14, de modo a reduzir-se o incentivo a gastos supérfluos que contam sobretudo nas importações. Além de constituírem períodos de grande stress para as tesourarias das empresas.

Respondeu-me, discordando, porque, em sua opinião, os meses adicionais são, sobretudo em tempos de crise, uma oportunidade de poupança.

Ontem, foi tornado público um relatório (vd pf. http://aeiou.expresso.pt/natal-portugueses-cortam-6-nas-compras-de-presentes=f614152) que conclui que os portugueses gastam em prendas de Natal mais que os alemães. E que, este ano, os portugueses cortarão em média 6% na despesa com prendas.

Ainda a propósito: A prática corrente na Alemanha é o pagamento de 12 meses.

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* O comentário que coloquei no blog da Sedes transcrevia o apontamento que coloquei no Aliás aqui

Tuesday, November 09, 2010

ADSE 2

Ouço Ruben Carvalho, militante do PCP, revoltar-se contra a decisão do Governo, anunciada hoje, de alterar o sistema ADSE, (vd.aqui ) com o apoio entusiasmado de Maria José Nogueira Pinto, num frente-a-frente da Sic notícias imoderado por Mário Crespo. 

A demagogia, já se sabe, não tem partido e é contagiante.

CRIME, DISSE ELE


Pedro Passos Coelho expressou-se no sentido de que a gestão ruinosa de dinheiros públicos deveria conduzir à responsabilização civil e criminal dos políticos. O PS, entre outras pela voz de Vitalino Canas, de imediato se escandalizou e veio dizer que responsabilidade dos políticos é exclusivamente responsabilidade política. Não haveria outra em democracia. Sendo o caso, o povo julga em eleições e corre com quem o arruina.

Espantado já não fico eu com a gritante falta de conhecimento. É que desde 1987 vigora a lei que tipifica como crimes determinadas condutas dos titulares de cargos políticos e consagra o dever de ressarcimento pelos danos causados (responsabilidade civil). Legislação que aliás foi recentemente alterada pela Lei nº 41/2010, de 3 de Setembro.

Pelos vistos quem anda pelo Parlamento não sabe que é designadamente crime a violação de norma de execução orçamental, nestes termos:

"O titular de cargo político a quem, por dever do seu cargo, incumba dar cumprimento a normas de execução orçamental e conscientemente as viole:

a) Contraindo encargos não permitidos por lei;
b) Autorizando pagamentos sem o visto do Tribunal de Contas legalmente exigido;
c) Autorizando ou promovendo operações de tesouraria ou alterações orçamentais proibidas por lei;
d) Utilizando dotações ou fundos secretos, com violação das regras da universalidade e especificação legalmente previstas;

será punido com prisão até um ano" (artigo 14º da Lei nº 34/87, de 16 de Junho).

...

1. Tem suscitado os mais diversos e acalorados comentários – quase sempre em tom de crítica ácida - a declaração recente de Pedro P. Coelho (PPC) defendendo a responsabilidade criminal dos titulares de cargos políticos pelo incumprimento das regras de execução orçamental de que resultem graves desvios aos objectivos orçamentais assumidos.

2. Por isso e para além do oportuno Post do Ferreira de Almeida “Santa ignorância!”, editado no último Sábado 6ª Feira, julgo ser apropriado recordar o teor do nº1 do artigo 70º da Lei de Enquadramento Orçamental (Lei nº 91/2001, de 20 de Agosto):

“-Os titulares de cargos políticos respondem política, financeira, civil e CRIMINALMENTE pelos actos e omissões que pratiquem no âmbito do exercício das suas funções de execução orçamental, nos termos da Constituição e demais legislação aplicável, a qual tipifica as infracções criminais e financeiras, bem como as respectivas sanções, conforme sejam ou não cometidas com dolo”.

3. Aqui chegados, custa a crer naquilo que temos ouvido e lido nas manifestações de total surpresa ou de indignação pelas referidas declarações de PPC...

4. A única questão que faltará averiguar é se PPC tinha efectivo conhecimento destas normas...e, em caso afirmativo, porque não as mencionou aquando daquela polémica declaração?...

5. Tudo o resto são efusivas manifestações de IGNORÂNCIA MILITANTE que ajuda a explicar, entre outros relevantes factores, o estado lamentável do País...

(c/p de Quarta República )

ADSE

ADSE passa a ser um sistema voluntário
ADSE gastou mil milhões com a saúde na função pública no ano passado, aproximadamente 1000 euros, em média, por cada beneficiário do sistema.

Uma das grandes vantagens da falta de dinheiro é a inevitabilidade da racionalidade das escolhas.

TUDO EM FAMÍLIA

Por puro prazer.
Secretário de Estado nomeou dois antigos sócios para a administração dos CTT

Nada de original.
As administrações das empresas públicas sempre foram, e continuam a ser, quase exclusivamente, coutadas dos amigos e conhecidos dos partidos do poder.

A confiança política, o predicado decisivo para estas nomeações, sobrepõe-se a todos os critérios de competência porque pelos resultados da gestão dos nomeados responde a massa adormecida dos contribuintes.

O QUE É ISTO?

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An Extremely Thin Galaxy

Monday, November 08, 2010

PORTUGAL ADORMECIDO

Dívida pública a 10 anos renovada a novo máximo de 6,902%.

O que dirá Teixeira dos Santos se, amanhã ou depois, as taxas atingirem os 7%? Recorre ao FEEF/FMI? 
As declarações de há dias do ministro das finanças de que o recurso a ajuda externa seria inevitável se as taxas da dívida pública atingissem  o patamar dos 7%  foram desastradas.  Porque, agora, é quase certo que, mais dia menos dia, estarão lá.
O Financial Times de hoje dedica a Portugal uma longa reportagem pelas piores razões: mais do que o fantasma do FMI é a perspectiva da inevitabilidade da perda da moeda única que se agiganta e nos torna cada vez mais vulneráveis. Muitos continuam a argumentar que o problema não é só nosso nem pode ter solução com recurso único aos nossos próprios meios. Mas só têm meia razão.

António Vitorino, de quem se dizia ocupar lugar decisivo na definição da estratégia do PS afirma, em entrevista ao "Diário Económico" que o Governo de José Sócrates acordou tarde para o problema da dívida soberana e  defende a convergência das forças políticas numa plataforma comum. Sem ela, acrescento eu, a confiança dos credores na execução compromissos assumidos no OE 2011 esvai-se e os espculadores regalam-se.

Pelas minhas contas, que não recorrem à tabuada de Vitorino, o Governo ainda não acordou, está agora, quanto muito, estremunhado. Há muito tempo que Sócrates deveria ter  reconhecido que não poderia governar sem uma base parlamentar de apoio alargada. E a plataforma comum de que fala Vitorino só  Sócrates a poderia, e deveria, ter construído. Vitorino também acordou tarde, pelos vistos. Sócrates não construiu essa plataforma em tempo oportuno e continuará pouco disposto a fazê-lo. Porque não quer? Porque não é da sua índole.

Por este andar não será Teixeira dos Santos que terá de dar o dito por não dito, mas Sócrates, que terá de chamar a ambulância.

O QUE É ISTO?

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700 Kilometers Below Comet Hartley 2

Sunday, November 07, 2010

INVERSÃO DE MARCHA

Está quase tudo dito e redito acerca das consequências da entrada de Portugal no SME: Com uma moeda forte nas unhas, os portugueses consumiram o que produziram e o que pediram emprestado. Agora, como era inevitável, a festa acabou e há que mudar de vida.

Como?

O como é o nó que não sabemos desatar. Com moeda macaca a dificuldade nem tinha chegado a surgir: imprimiam-se notas (uma forma arcaica de dizer)  e a inflação ajustava as contas. Com moeda alemã andamos mais baralhados que uma mosca na teia. Ninguém gosta de ver o rendimento nominal reduzido, o hábito é vê-lo crescer. Até porque, sendo da natureza humana viver das expectativas, se elas são negativas os comportamentos retraem-se e a espiral de crescimento passa a rodar ao contrário.

Recentemente, têm aparecido algumas propostas para quebrar o ciclo vicioso em que nos deixámos enredar. Mas são mais ideias soltas que parte de uma teoria consistente capaz de se institucionalizar e inverter o sentido desta marcha que nos leva para a catástrofe.

Uma dessas propostas sugere a redução drástica da taxa social única compensada pelo aumento do IVA*, alargando a todos os bens e serviços transaccionados a taxa máxima da tabela actual. O resultado esperado seria um aumento de competitividade das empresas, nomeadamente daquelas que podem reequilibrar a nossa dependência do exterior, e a redução do consumo, nomeadamente dos bens e serviços importados.

É uma questão de contas? Não há universidade ou  instituto capaz de as fazer? E, já agora, de completar o exercício integrando-o numa estratégia que possa perdurar e não encalhar no primeiro senão com que a medida isolada possa deparar?

Porque, é óbvio, que um primeiro ajustamento não garante tranquilidade para sempre, independentemente das circunstâncias futuras. Esgotado este efeito, a que recurso se deita mão?

Sem uma estratégia orientadora da convivência de uma economia extremamente dual como a nossa com uma  moeda forte não teremos possibilidade de assegurar aquela convivência por muito mais tempo. Com ou sem FMI será o fim dela. Porque, mais do que financeiro, o que temos é um problema de competitividade, um grave rombo na parte frágil do nosso tecido económico.

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*(act.)
" ...e dos impostos sobre a propriedade."

CONVERSAS AO JANTAR

- Uns amigos nossos atravessaram o Irão de bicicleta e não encontraram sinais daquela raiva transmitida pelas imagens da televisão. As pessoas mostraram-se, em todo o lado por onde eles passaram, amáveis, cooperantes, acolhedoras. As pessoas nascem intrínsecamente boas em todo o lado, é a sociedade que as perverte.
- Duvido. Quantas vezes o relacionamento com outros não é mais fraterno do que com o vizinho do lado? A inveja, um vício que cresce na razão directa da proximidade, é frequentemente a forma mais demolidora da amizade.

Saturday, November 06, 2010

CONVERSAS AO ALMOÇO

...
- E que me dizem da nomeação de Horta Osório para presidente do Lloyds, a convite do governo britânico? É o oitavo maior banco do mundo, caramba! Afinal também há portugueses com mérito excepcional mesmo quando avaliado pelos standards internacionais. Andamos sempre a queixarmo-nos das nossas incapacidades e, afinal, há quem demonstre o contrário.
- Sem querer diminuir o feito do Horta Osório, porque, sem dúvida, é de realçar, penso que devemos relativizar esta nomeação e, sobretudo, o desafio a que Horta Osório se propôs. Porque dar a volta ao Lloyds não vai ser uma tarefa fácil, o Lloyds mais do que um grande banco  é um banco grande com grandes problemas. Mas, por outro lado, os banqueiros há muito tempo que deixaram de me impressionar. 
- Mas não é, para nós, motivo de orgulho ver um português à frente do maior banco inglês?
- É motivo de orgulho, por exemplo, para os indianos verem vários compatriotas à frente de grandes corporações norte-americanas? Só se partirmos do princípio que descobrimos que não há motivos rácicos que obstem ao aparecimento de génios, seja do que for, em qualquer parte do mundo. Porque, mais do que orgulho, é de surpresa ou espanto que estamos a falar.   
 A ideia de que Mourinho, Cristiano Ronaldo, Damásio ou Horta Osório são dos nossos, e que isso significa que, afinal, não somos assim tão maus, é um lenitivo que não nos torna nem individualmente nem colectivamente melhores do que aquilo que realmente somos. E, sobretudo, é uma ideia errada: a de que a natureza não distribuiu com equidade as potencialidades humanas pelos diferentes povos do mundo, de que há povos superiores. É, afinal, um complexo de inferioridade pontualmente superado.
- Mas não fica safisfeito por ver um português bem sucedido no estrangeiro?
- Ficaria mais satisfeito por vê-lo bem sucedido aqui. Imagine que Horta Osório tinha permanecido em Portugal e era hoje o presidente de uma grande empresa industrial com impacto internacional, uma espécie de Nókia. Gostava de o ver aqui, neste palco, a fazer aquilo que aqui deveria ser feito: produzir. 
- Mas a banca não produz?
- A banca deveria contribuir para a produção. Lamentavelmente, a banca é um dos grandes responsáveis pela ruína da economia portuguesa. Porque canalizou poupanças e empréstimos para negócios especulativos, para o consumo desenfreado, para a construção civil execessiva, para o Estado perdulário. Aliás, um homem insuspeito a este respeito, António Borges, afiirmava há dias na Gulbenkian isto mesmo. Pena é que o tenha feito tão tarde e que, ele próprio, tenha estado envolvido nessa banca que aqui e lá fora engendrou a crise. 
- Em todo o caso há algumas razões para os emigrantes portugueses serem bem sucedidos: geralmente emigram os melhores, os mais audazes.
- A grande maioria emigrou e continua a emigrar porque é compelida por razões económicas. E, dos que emigram, só conhecemos os casos de sucesso. Tomamos facilmente a parte pelo todo. Foi sempre assim. Desde o tempo em que "os brasileiros" ricos impressionavam com a construção de palácios nas terras onde haviam nascido levando os que tinham ficado à conclusão, errada, que para singrar bastava emigrar e abanar a árvore das patacas.
- Então o Horta Osório não merece grande admiração.
- Merece alguma, certamente. Mas, reparem, em Portugal quantos presidentes de bancos não foram considerados casos de sucesso? Todos, sem execepção, até ao momento em que alguns cairam no charco, ainda que fabulosamente ricos. Do que Portugal precisa, e só agora nos começamos  dar conta disso, não é de banqueiros de génio nem de merceeiros em larga escala. Desses, temos que baste. Do que precisamos é de quem seja capaz de criar riqueza consistente. A banca trabalha com rede. Quando a crise chega e o espectro do "risco sistémico"  ameaça destruir todo o tecido económico quem paga pelas jogadas dos banqueiros? Os contribuintes. Esse é o problema que continua por resolver após esta crise. Porque, de verdadeiramente novo, não há nada no sistema.
- Em todo o caso o nome de Portugal fica prestigiado.
- A Colômbia prestigiou-se com Garcia Marquez, o Chile com Pablo Neruda, o Peru com Vargas Llosa? Como ou em quê? O prestígio de um país não decorre do sucesso individual de um dos seus filhos a menos que ele se repercuta no prestígio da sociedade em que nasceu.
- Mourinho prestigia Portugal. Muitos descobriram Portugal através de Mourinho. Mourinho é uma marca portuguesa.
-  Vende o quê? Alguém escolhe o Algarve para passar férias porque Mourinho nasceu em Setúbal?
Os credores do Estado português baixam os juros porque o José Barroso é presidente da Comissão da União Europeia? E Constâncio vice-presidente do BCE? E António Borges director do FMI para a Europa?