Tuesday, March 24, 2020

COM TERNURA, PARA SAX TENOR


A tua mulher ressona?
Foi assim mesmo, de rompante, sem bom dia nem boa tarde: A tua mulher ressona?
Era o Teófilo, o velho Teófilo Braga, assim registado pelo pai, o Joaquim Braga, entusiasmado com as promessas dos republicanos, que, quando chegavam aquele mundo de curto diâmetro já tinham corrigido várias vezes a rota sem que se quebrasse nem desanimasse a esperança do pai Braga num mundo melhor, sem reis nem duques.
Já não ouvia o Teófilo há algum tempo. Está retido em casa há meses.
Sabes, não saio, não posso sair, eu bem queria mas não posso, as minhas pernas, estás a ver, o reumatismo, o reumatismo está a dar conta de mim, a vida é uma gaita, uma grande chatice, às vezes dou comigo a pensar que só são  felizes os que não nasceram, mas não, também tive muitos momentos felizes, só momentos, momentaneamente, percebes-me? Passo a maior parte do dia sentado, as minhas pernas, dizem que é reumatismo, mas, penso eu, isto não é só reumatismo, o reumatismo já não se usa, conheces alguém preso em casa, como eu, só por causa do reumatismo? Não conheces, tenho a certeza que não conheces, não há, o reumatismo, simplesmente, já não se usa. Não tenho pernas, agora não tenho pernas, tenho trambolhos, percebes?
O maior tormento do Teófilo não era ter de passar os dias sentado, não poder sair, não ir onde lhe desse na gana, o que mais lhe doía era ter sido obrigado a deixar a banda depois de mais de meio século a  tirar delícias de som do seu maior amigo, um fiel saxofone, que ele estimava acima de tudo. Preso em casa por ordem das pernas, ainda abraça o seu sax e tira dele o que em cada momento lhe ocorre, sabe-se lá vindo de onde, mas é agora um desespero improvisado aquele tocar solitário.
Há cinquenta anos, terminado trabalho, o Teófilo refugiava-se no sótão da casa a ensaiar o que, a princípio, a vizinhança não entendia que fosse música o que saía daquela dedicação do Teófilo.
O que é isto? É música, dizem, ouvi dizer que é jaze. A mim, sempre me pareceu que ele não tem queda para a música, quem não sabe tocar coisa que valha a pena toca jaze. O problema é que somos obrigados a ouvi-lo. Quem não gosta que tape os ouvidos. Hum! E achas que é fácil tapar os ouvidos para não ouvir esta trapalhada sonora? Pois, ele bem podia ir tocar para a casa da eira, lá em baixo, no vale. Ele fazia o que queria sem obrigar ninguém a ouvir o que não gosta. Eu gosto!| Pois ninguém te impediria de ir até ao vale ouvi-lo, se gostas. Há gostos para tudo. Talvez até talvez possas vir a casar com ele. Está livre. Sempre esteve livre. Casar, ele?, e a música?, se aquilo é música. 
Música mesmo era a que os punha a dançar, ao som afinado quanto possível de orquestras de amadores formadas nas redondezas, de composição ocasional e variável, geralmente, o apresentador e vocalista, dois violinos, um baixo, um trompete, um baterista, e o sax do Teófilo a deixar o jazz em casa e acompanhar a moda no clube. A menina dança? Dançavam-se modas e o jazz, por ali, não estava, nem nunca chegou a estar na moda.
Até aquela noite de baile quando o Teófilo pediu ao baixista e ao baterista que o acompanhassem e que os outros descansassem até à moda seguinte. Era uma estreia local absoluta de Tenderly, uma pérola de swing que, por mero acaso, tinha caído nas mãos do Teófilo num disco que comprara e ensaiara, tentando seguir Ben Webster durante semanas a fio com a paixão que aquela musicalidade, ali fora da moda, desprendia em cada fôlego do saxofonista. O sax do Teófilo tocava e cantava, assim cantasse o vocalista.
Mas isto é jaze? É, dizem que sim. Se isto é jaze, gosto disto.
A orquestra passou a "Jaze", "Jazz Band" desenhado a letras bem gordas, bem visíveis mesmo ao longe, no tambor da bateria, os bailes passaram a ser abrilhantados, era o termo usado, pelos "Jazes!" onde antes abrilhantavam as orquestras, mas as modas continuaram as mesmas, só perdurou, no meio do sempre o mesmo, o Tenderly e a voz inimitável do sax do Teófilo.
Mais tarde o Teófilo casou-se, nasceram dois filhos, e o sax continuou a animar-lhe a alma depois do trabalho e do jantar, aos domingos no clube, na filarmónica, conforme o calendário dos compromissos.

Se a minha mulher ressona, perguntas tu?
Só respondes se quiseres. A minha ressona. E a tua?
Provavelmente, ressonamos os dois. Um empate é sempre um bom resultado nestas circunstâncias, penso eu, agora que me colocaste a pergunta. E tu, ressonas?
A minha mulher diz que sim, que ressono, mas não muito. Ela ressona muito.
Como sabes que ressonas menos que ela?
Tens razão. É possível que ressonemos o mesmo, o problema estará na falta de afinação para ressonar ao mesmo tempo. Como pouco me mexo, durmo de dia mais do que devia, quando chega à noite é o dormes. E agora, nestes últimos dias, com quase todo o mundo em quarentena, tenho o sono completamente virado do avesso. Sabes, habituei-me ao som da rua, à passagem do pessoal, do trânsito, agora não se ouve vivalma na rua, e durmo menos de dia. O silêncio acorda-me. Sinto então um contentamento irreprimível de que logo me condeno, penso no mundo aprisionado em casa como eu, e sinto-me acompanhado, vê lá tu. Não devia dizer isto, mas é verdade, é o pensamento numa igualdade perversa num mundo congenitamente muito desigual. Que mal fiz eu a quem para não poder andar? À noite, nestes últimos dias, já me tinha habituado ao ressonar dela, e estava a dormir alguma coisa. Mas esta noite, sem explicação visível, ela não ressonou e eu, preocupado com o que poderia estar a acontecer-lhe, ali mesmo ao lado de mim, mas receoso de a acordar, porque é que não ressonava?, ela, que ressona todas as noites, estaria a respirar?, não estaria a respirar? Não preguei olho toda a noite. De manhã, perguntei-lhe, como dormiste? Dormi bem, dormi até muito bem, há muito tempo que não dormia tão bem. Mas por que é que perguntas? Não costumas perguntar. Porque não te ouvi ressonar. Porque também dormiste bem, não? Dormi nada. Nada, mesmo.
Talvez este silêncio assustador me tenha bloqueado o subconsciente, em auto defesa, e nem sequer sonhei. E ainda bem porque, quando sonho, é cada coisa mais disparatada ou pesadelo de matar um inocente.

Que me recomendas? Agora que preciso, para dormir, que ela ressone e ela não ressona?
Amanhã telefono-te. Fazia-te bem, e à vizinhança, em clausura, que lhe oferecesses as velhas melodias que o teu sax sabe cantar tão bem. E, sobretudo, não te esqueças de lhes dar dose dobrada do Tenderly, a abrir, e, no final como encore do concerto.

Hoje, 25, liguei ao Teófilo. Atendeu-me a mulher. Então o que é feito do Teófilo a estas horas. São onze da manhã, ou tenho relógio avariado?
O Teófilo está bem. Está a dormir que nem um penedo. Doze horas seguidas.
Tomou algum soporífero?
Qual soporífero, qual quê. Se tomou soporífero só se foi sem eu saber. Mas creio que não. Não há disso cá em casa, ele não foi à farmácia porque, como sabes, não pode, e a farmácia, por estes dias tem mais que fazer que entregar soporíferos ao domicilio. De modo que ele continua a dormir a sono solto porque não dormia há duas noites seguidas. Ah! Ao almoço, bocejou e disse-me que não dormia porque eu agora não ressonava. Alguém, com juízo, entende isto. Ri-me, o que é que podia fazer? Mas está descansado que quando ele acordar, liga-te.

E ligou. Felizmente, disse ele, ela tinha voltado a ressonar.

Monday, March 23, 2020

SÓ NÃO GOSTA QUEM TEM ALTERNATIVA


E dos pássaros, por aqui, continuamos sem cantos, sem saltitos, sem voos. Só este silêncio de limbo.
Porquê? Não sei.
Diz-nos uma amiga nossa que é preciso dar-lhes de comer para aparecerem. No jardim dela tem comedouro e os pardais chegam em bandos e bulham uns com os outros.
A nós, parece-nos estranho que a passarada tenha desaparecido porque nunca os habituámos a dar-lhes comidinha no prato. Chegavam, saltitavam, debicavam na relva, onde quer que encontrassem o que procuravam, e agora sumiram-se. Porquê?
Seguimos a sugestão da nossa amiga e, desde esta manhã, têm ao dispor prato com arroz descascado, carolino, e flocos finos de aveia. É do que se consome cá em casa.
Por outro lado, recordo-me bem que em casa de meus pais se alimentavam os pintainhos, acabados de sair das cascas, com arroz. Rondava a passarada para petiscar mas a mãe galinha mantinha-os de fora a ver os seus pequenotes comer.
Os pássaros não aparecem, salvo um outro melro para se banhar na piscina deles, cá em casa não temos outra piscina. Porquê?
Dê-lhes alpista, diz-nos a nossa amiga.
Não tivemos alpista em casa. Nunca tivemos aves em cativeiro a pedir alpista, alpista nunca fez parte do nosso rol de compras.

Por outro lado, só não gosta quem tem alternativa.
Nunca ninguém morreu com fome tendo comida à sua frente.
Assim, sendo, concluo: a passarada anda por outro lado onde fisgou melhor petisco, alternativo ao que aqui sempre tiveram à sua vontade, e à ementa que, excepcionalmente, colocámos hoje à sua disposição.
Que lhes faça bom proveito.
Voltem quando entenderem.
Serão sempre bem vindos.



Sunday, March 22, 2020

PARA ONDE FOSTE PRIMAVERA?


20 de Março, começa hoje a primavera.

Ouviste cantar a poupa?
Não. E, tu?
Também não?
É estranho...
Hum! Ela aparece e desaparece, depois volta.
O mais estranho é que também não vejo os nossos melros. Nem a alvéola azul, que todos os dias nos visita, nem o pisco, nem a toutinegra, nem o rabi ruivo, nem os chapins, nem em voo alto, diário, de ida e regresso, a garça real, nem, quando menos se espera, o gaio.
Devem ter ido dar um giro, voltarão ao fim do dia.
E os pardais? Desapareceram os pardais?
Pardais é bicho que nunca desaparece.
Dizem os ecologistas que até os pardais estão a desaparecer.

21 de Março

Estás a ouvir a poupa?
Estou. A poupa voltou.
Voltou e já a vi hoje aqui a picar no jardim.
Mas não vejo os melros nem pardais. O que mais me intriga é que não se veja um único pardal, para amostra. Nem o gato que, sorrateiramente, costuma vir até cá tentar deitar unha em petisco alado distraído
É do frio e do vento. Arrefeceu o tempo, estão escondidos.

Hoje, 22 de Março

Ainda hoje não ouvi a poupa.
Nem os melros, nem os pardais.
E o dia está lindo. Há sol, o céu azul, o castanheiro mostra vigorosos ramos de folhas viçosas, os callistemon thomasi estão exuberante de flores, os outros mais atrasados, nas gravíleas vêem-se todos os dias mais flores, as felícias estão lindas, as rosas sevilhanas estão prenhes de botões e um deles partiu hoje o cálice, a estrelícia mostra ao sol, vaidosa, três exuberantes cristas, os malmequeres vestem-se ufanos de branco rosa, os leptospermum voltaram a ser fantásticas bolas de florinhas rosa, que perduram assim meses sem que o vento ou frio as desanime. Até no jacarandá, que plantámos o ano passado, já estão a apontar rebentos. O ginkgo, que o Miguel plantou há quinze anos, há muito que cresceu mais alto que o plantador, que também cresceu bem, é o gigante da família. Os loureiros estão vigorosos, o pinheiro plantado pela Rita anda em competição de crescimento com o loureiro que ela também plantou.
O loureiro maior, plantado em dia de celebração conjugal, abrigo de melros e pardais, quando precisam, é agora um garboso cone com não menos de uma dúzia de metros de altura.
Tudo tão bonito, mas tudo tão silencioso. Com um dia tão bonito por que razão não comparecem os melros, por que não recreiam os nossos olhos os pardais, por que não voltou a poupa, porque nem sequer a ouvimos cantar?
E as abelhas? Já reparaste que não se vêem abelhas? Ainda há dias saltavam milhares delas nos muitos milhares de florinhas dos leptospermum, das gravíleas, dos callistemon? Por que razão fugiram daqui, agora quando chegou a primavera?

Amanhã voltarão todos: a poupa, os melros, os verdilhões, os pardais, de vez em quando o gaio, a alvéola, a toutinegra, os chapins, o pisco, o rabi ruivo, a garça real, as garças brancas a passear do outro lado da vedação, as gaivotas a dar sinal de temporal, o bando de estorninhos a chegar e a por-se a andar, todos!

Notícia de última hora: cerca do meio dia, foi avistada a alvéola, também o gato já foi visto a rondar.



O tempo do azevinho (à frente na foto) pintar-se de bolinhas vermelhas aconteceu por alturas do Natal. Agora é o tempo dos vizinhos, atrás, os leptospermum se revestirem de flores rosa.

Friday, March 20, 2020

SUPER ABEL


Fomos clientes durante seis anos de um estabelecimento de venda de mercearia e produtos geralmente consumidos em casa, aqui nas proximidades, que orgulhosamente se afirma "SUPER ABEL".
Depois instalou-se, também relativamente próximo de nós, um supermercado de uma cadeia super conhecida. Tinha mais espaço, melhor apresentação de produtos, os preços não se distanciavam significativamente dos praticados no SUPER ABEL, o pessoal era geralmente amável.
Depois aconteceu o bloqueio, entrámos em clausura, tínhamos que comprar o necessário. Fomos lá, como de costume, e o costume era praticamente diário, ainda não havia muita gente, ainda que mais que o normal.
Como os nossos hábitos compram à medida que precisamos, comprámos o normal. 
Daí a três dias voltámos e encontrámos uma fila à espera de entrar, suportando o vento e o frio. 
Tentámos telefonar para saber se faziam entregas ao domicílio. Fazemos, disseram, mas neste momento não aceitamos mais encomendas.
Demos meia volta e fomos ao SUPER ABEL. Comprámos tudo o que queríamos.
Fazem entregas em casa?
Fazemos, geralmente entregamos no próprio dia, o mais tardar no dia seguinte.

Ontem, encomendámos por e-mail. Pagámos por transferência bancária. Fizeram a entrega hoje ao fim da tarde. Vantagens de um estabelecimento familiar que conhece e estima todos os clientes.
Prometemos a nós mesmos que, aconteça o que acontecer, a partir de agora só contamos com o SUPER ABEL.
 

Sunday, March 15, 2020

BOCEJOS EM CLAUSURA


Esta noite, pouco tempo depois de desligarmos a luz, percebi que a Aurora estava a bocejar. 
Talvez não conseguisse dormir. A ouvi-la bocejar, o bocejo é contagioso, comecei a bocejar também.
Conheci em tempos um fulano que se sentava no banco da frente do carro eléctrico da manhã e, propositadamente, bocejava, bocejava, bocejava, até que punha, entretenimento dele, todos os passageiros do eléctrico a bocejar.
Estávamos, eu e a Aurora, cansados ou pouco cansados, ou seria a tensão provocada pelas notícias do dia que não nos deixavam dormir, ou as dezenas de mensagens que os amigos insistem em reencaminhar recomendando-nos  balas de pólvora seca para matar o vírus. Antes de nos deitarmos paramos os pim! nocturnos de chegada de mensagens, desligamos o som dos telemóveis, quem quiser urgentemente falar connosco fora de horas utilize o telefone fixo.
Adormecemos, nenhum de nós sabe a que horas, mas já era tarde.

Talvez, cerca das cinco da manhã, ouço o telemóvel a tocar. Teria deixado o som do meu telemóvel ligado ou teria apenas reduzido ao mínimo o som do aparelho porque o ouvia a tocar em tom baixo? Estendi o braço para calar o intruso, e concluo indignado que aquela era a sexta tentativa de alguém, que não constava da minha lista de contactos, para falar comigo. Intrigado decidi ouvir quem era e o que queria. 
Coloquei o telemóvel ao ouvido debaixo do edredão para não acordar a Aurora mas tinha dificuldade em ouvir a voz que vinha não sabia de onde. Até que, ao fim de algum tempo, pareceu-me perceber Ol-de-mi-ro.
Oldemiro? 
Sim, sou o Ol-de-mi-ro do Va-le, pareceu-me ouvir, com boa vontade da minha parte. Oldemiro, só me recordava de um, tínhamos sido colegas no liceu, já não sabia por onde andava o Oldemiro há umas duas dezenas de anos. Sabia vagamente que vivia sozinho, era solteiro com várias namoradas, segundo uns, vivia em castidade como membro da opus dei, segundo outros.

Cada vez com mais dificuldade em entender o que queria o Oldemiro, a requerer doses adicionais de paciência da minha parte acabei por concluir que o Oldemiro, quando se deitara, começara a bocejar imparavelmente e, tão frequente e intensamente o fez, acabou por deslocar o maxilar. 
E dói-te? 
Se dói, caramba, é uma dor insuportável, quase não consigo falar...
Via-se. Só com muita paciência conseguia compor as respostas do Oldemiro juntando os monossílabos intermitentes com que se expressava.
E como tu seguiste para estomatologista ...
Não Oldemiro, estás equivocado. Segui para engenharia, mas não de maxilares. Já ligaste para o 808242424?
Para quê? Não quero cá médicos em casa. Não quero cá ninguém. Estou em clausura.
Já tomaste um analgésico? Se reduzires a dor e descansares pode acontecer que o maxilar volte à posição normal. 
Já tomei um saridon, estava a guardá-lo para o corona .
Um saridon? Saridon já não se recomenda, Oldemiro, onde é que foste desencantar o saridon?
É o que tenho cá em casa.
Desde quando?
Sei lá, há nos.
Mas, Oldemiro, isso já perdeu o prazo de validade.
Naquele tempo os fármacos não tinham prazo de validade. Depois é que inventaram os prazos de validade para aumentarem as vendas, disseram-me. 
Tretas. Vai à farmácia e compra um analgésico dentro do prazo de validade. E depois arrisquei: não tens ninguém em casa?
Tenho a minha mulher. Mas está na mesma.

Sabe-se lá porquê, dei uma gargalhada que, por inacreditável que pareça, não acordou a Aurora.
Ui!!!!, ouvi do outro lado um longo e doloroso grito.
O que é que te aconteceu agora, Oldemiro?
Uma dor terrível ... com essa gargalhada, esqueci o maxilar e também me ri  de mim, ia para dar uma gargalhada, e foi o maxilar ao sítio.
Agora só a falta a tua mulher ...
É isso agora só falta ela.

Levantei-me, fui à casa de banho e voltei para a cama. Depois comecei a bocejar. 
A clausura não resiste à electrónica.








Thursday, March 12, 2020

REFLEXÃO : OS NÚMEROS COMPLICADOS DA PANDEMIA

No princípio desta semana, o Público transcrevia um aviso  do presidente do Instituto de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, Antony Fauci, aos norte-americanos:

"Não vá para sítios com muita gente, pense duas vezes antes de viajar de avião e, pelo amor de Deus, não faça um cruzeiro"

Muitos dos que, de fora ou dentro dos EUA, leram esta recomendação do sr. Antony Fauci, certamente que a consideraram patética.
O facto de nos EUA não existir um sistema nacional de saúde, obviamente por decisão da maioria dos norte-americanos, as epidemias encontram um terreno susceptível de propagação imparável.
Hoje, 13/03, ouço na rádio que Trump decidiu proibir durante 30 dias todos os voos para os EUA a partir da Europa, salvo do UK, invocando a necessidade de proteger os norte-americanos da incapacidade dos europeus de limitarem a expansão da doença infecciosa. E que as seguradoras se abstêm de cobrar as taxas de comparticipação dos segurados atacados pelo covid-19. Para aqueles que não têm seguro as análises e tratamentos serão gratuitos.

À primeira vista de um europeu, a proibição de voos entre a Europa, salvo o UK, é mais um acto de manifestação da diabólica vontade de Trump desagregar e acabar com a União Europeia. E é. É incontestável que é, de outro modo não teria excluído o UK do banimento.
E, no entanto, a afronta de Trump pode suscitar uma pergunta: podem os países conter a expansão da epidemia sem controlar entradas e saídas de pessoas nas suas fronteiras?
Dito de outro modo: até quando resistirá o acordo Schengen sem uma suspensão temporário por tempo indeterminado?

Ontem ouvimos Merkel afirmar que, segundo os especialistas, a Alemanha será confrontada com uma propagação do vírus de cerca de 75% da população do país (se bem me recordo Merkel referiu um intervalo entre 60 e 80%) o que significa mais de 60 milhões de infectados ainda que a maior parte, cerca de 80% deles, o seja de forma ligeira. Acrescentou que, ainda assim, não se justificava o encerramento de fronteiras. E, no entanto, para além da Itália, a confrontar-se com o maior surto na Europa, e o maior em todo o mundo, em termos relativos, a Áustria encerrou a fronteira. A Hungria e República Checa decidiram o mesmo.
A propósito: Espanha a epidemia coloca o país em sexto lugar do ranking maldito. Aproxima-se a Páscoa, altura em que muitos espanhóis nos visitam. Vamos manter as fronteiras sem nenhuma vigilância de importação do vírus? Algumas cadeias de infecção registados em Portugal têm origem em Espanha.
Se sim, o que faremos com as excursões de estudantes portugueses à  Costa Brava? É complicado, é, mas as instituições que velam pela contenção do surto em Portugal deveriam ser mais afirmativas.
Hoje o governo prepara-se para, seguindo orientação do Conselho de Saúde Pública, moderar
o encerramento das escolas conforme a situação observada pelos serviços de saúde em cada local do país e não antecipar as férias da Páscoa. Oxalá amanhã não seja tarde demais.

Hoje, às 8:20 ouço na rádio que o presidente chinês anunciou que o surto entrou e declínio em território chinês.
Nas estatísticas publicadas em contínuo pela Organização Mundial de Saúde, vd. aqui, ao meio dia o número de infectados em todo o mundo era 128.058 e o número de mortes 4.717.
Na China, dos 80.796 infectados, já foram recuperados 62.813. Hoje registou 18 novos casos e 11 mortos.
À mesma hora a Itália registava (números de ontem) 12462 infectados, 827 mortos, 1045 recuperados. À mesma hora, a Alemanha registava (números de ontem) 1.966 infectados, 3 mortos, 25 recuperados. Ainda à mesma hora, (números de ontem) a França e a Espanha, indicavam, respectivamente, 2.281 e 2.277 infectados, 48 e 55, mortos, 12 e  183 recuperados.
Na Suíça, vizinha do norte de Itália (números de hoje) há 865 infectados, 4 mortos e 4 recuperados.
Nos EUA registam-se 1.337 infectados, 38 mortos, 15 recuperados.

Olho para estes números e não consigo encontrar explicação para o facto de o presidente chinês, Xi Jinping anunciar o começo da inflecção do surto no seu país, quando o número de infectados se situa em cerca de 80 mil e a primeiro-ministro alemã anuncia que, segundo as previsões dos seus serviços de saúde pública calculam em 80 milhões o número de infectados.
Alguém sabe explicar-me porquê?

Ontem, o pneumolologista dr. Filipe Froes, membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, em entrevista da RTP1, com contactos desde há anos com colegas italianos, estes lhe disseram que havia hoje forte evidência que o vírus foi importado de Wuhan através de um cidadão chinês que se deslocou a uma clínica no norte de Itália para uma intervenção cirúrgica não correlacionada com o covid-19, de que o paciente ignorava ser portador numa altura em que a emergência do surto ainda não tinha sido anunciada pelo governo chinês.
O paciente chinês, muito provavelmente o paciente zero em Itália, infectou a equipa médica, enfermeiros e estes todo o pessoal do hospital. Como nesta altura do ano ocorrem aos hospitais (muito bons no norte de Itália, segundo F. Froes), por razões de gripe comum muitos pacientes idosos, com menos imunidade e, portanto, mais propensos a contrair a infecção, sendo muitos deles pessoas de rendimentos baixos a viver nos subúrbios, a epidemia encontrou terreno para se propagar. Depois (acrescento eu) a displicência inicial dos italianos deve ter contribuído para a situação de calamidade pública que hoje defrontam.

Em resumo: Trump tem razão quando, acintosamente, fecha as ligações da Europa, salvo o Reino Unido, porque os europeus são incompetentes para combaterem a pandemia dentro dos seus muros
derrubados?

Sunday, March 01, 2020

O JOGO DA CABRA-CEGA

 
O número de jogadores foliões tende para sem conta.

Presidente da Relação de Lisboa suspeito de irregularidades na distribuição de processosResultados preliminares de auditoria aberta pelo Conselho Superior da Magistratura implicam actual presidente da Relação de Lisboa, Orlando Nascimento. Esta terça-feira órgão de gestão da magistratura reúne-se para tomar medidas.