Wednesday, March 29, 2017

NO PEOPLE: NO MONEY, NO GOODS

O Reino Unido iniciou hoje, formalmente, a sua saída da União Europeia.
Como se chegou até aqui, é uma história longa que o Economist conta aqui e aqui.
Os gráficos seguintes são muito elucidativos da irrazoabilidade de um instrumento democrático aplicado a uma situação tão transcendente para o futuro do Reino Unido e da União Europeia. Decidido o Brêxit por uma margem quantitativamente irrelevante, considerando a dimensão das consequências da decisão que estava em causa, constata-se que, se fosse agora, o resultado seria provavelmente diferente.  

clicar para ampliar


A propósito, no Financial Times considera-se aqui que Sunderland, uma cidade do Nordeste de Inglaterra, com uma economia que depende em parte muito significativa numa fábrica de automóveis Nissan que exporta a maioria da sua produção para países da União Europeia, mas que votou muito maioritariamente no Brêxit (61,3%) será um teste aos resultados do Brêxit. 

Brêxit, que será disputado entre o Reino Unido e a União Europeia, fundamentalmente, acerca da liberdade de movimentos de pessoas, bens e capitais. 
Muitos dos que votaram Brêxit não se devem ter apercebido, e os sunderlanders pelos vistos não se aperceberam, e muitos deles continuam a não aperceber-se, que as negociações são trocas e só se a União Europeia (a Alemanha, como sempre, à frente) se distrair o Reino Unido ganhará com os resultados das trocas. Porque este, não será, seguramente, um negócio com resultado final vantajoso para ambas as partes.

Tuesday, March 28, 2017

INTELIGÊNCIA CONCORRENCIAL


Chamam-lhe "inteligência artificial" mas a designação é imprecisa porque um robô apenas se distingue de outros artefactos que a humanidade foi desenvolvendo ao longo de milénios, com o intuito de substituir o esforço humano na produção de bens e serviços, pela utilização dos desenvolvimentos científicos nomeadamente da área que, grosso modo, se designa por ciência da computação. Será o seu impacto nas relações sociológicas no futuro superiores, em termos relativos, à invenção da roda, do motor de combustão, da lâmpada de Edison, por exemplo? Sem dúvida, que sim, porque a humanidade cresceu exponencialmente e o planeta, em termos de distância-tempo, encolheu. 

A globalização, apesar das reacções violentas que suscita, vai continuar, salvo se a humanidade se auto liquidar. O planeta não é extensível e não há muros de pedra ou cimento que sustenham a inevitável e crescente mobilidade das pessoas entre todos os cantos do mundo. Globalização significa concorrência, competitividade, e competitividade determina, além do mais, redução do trabalho humano necessário para os mesmos volumes de produção. E os robôs, sem exigências,  salariais nem quaisquer outras, para além de manutenção mínima, não são entes inteligentes mas artefactos concorrentes do emprego humano concebidos e produzidos pelo homem. 

O futuro pacífico da humanidade, se não estiver comprometido pela escassez de recursos naturais - a água, por exemplo - passa pela introdução de meios e políticas que amorteçam os conflitos sociais decorrentes da crescente escassez do trabalho a nível mundial. Não haverá trabalho para todos mas a solução não passa pela destruição dos robôs. O estado social, que tantos diabolizam nestes tempos em que o populismo cresce como escalracho, é a única via para a humanidade sobreviver à crescente e generalizada redução do emprego. Não, por acaso, começam a a parecer propostas de pagamento de salários condignos a quem opta por aceitar não trabalhar. 

Contudo, o crescimento exponencial observado no gráfico, nos últimos cinco anos, e previsto até ao fim desta década, não parte de uma base relativamente reduzida, há quatro décadas. Em 1980, escrevia Jean-Jacques Servan-Schhreiber em "O Desafio Mundial": Há hoje cerca de sessenta mil robots no total, no mundo, instalados em fábricas, como os que vimos na Toyota. A sua localização é a seguinte: 6000 robots na Alemanha Federal, 3200 nos Estados Unidos, 600 na Suécia, 300 em França, 180 na Grã-Bretanha, uma centena, ou menos, em meia dúzia de outros países, e 47000 no Japão". 

A deslocalização da indústria não foi apenas pressionada pela concorrência salarial. A liderança japonesa na indústria automóvel contou bastante com a robotização. Quando o sr. Trump promete aos desempregados de Detroit recuperar a indústria automóvel norte-americana e criar milhares e milhares de novos empregos, e abolir o incipiente estado social norte-americano, em que empregos está a pensar Mr. Trump?

Seguramente no dele, da família dele, e dos amigos mais chegados.  

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O gráfico é copy/paste deste  artigo publicado esta semana no Economist.

Sunday, March 26, 2017

PORTUGAL MENOR

Em Novembro de 2013 apontei aqui:

"Se há uma persistente violação do segredo de justiça a única forma de suster o vício é adequadamente penalizar aqueles que, estando formalmente incumbidos da guarda da confidencialidade dos processos, permitem, consentem, ou até colaboram nas violações do segredo de justiça."

Hoje, leio aqui, no Diário de Notícias:

"Na ausência da solução óptima, então teríamos uma outra também digna e de fácil execução: a de responsabilizar o magistrado titular de cada processo em segredo pela sua manutenção. Caso haja violação, seria esse magistrado responsabilizado disciplinar e criminalmente."

Não têm os meus apontamentos neste recôndito caderno a milésima parte de leitores dos artigos publicados no Diário de Notícias, mas acredito que esta sugestão de António Barreto cairá em saco tão roto quanto aquele em que caiu o meu apontamento há mais de três anos. 
Porque, segundo auto avaliações publicadas, os magistrados em Portugal são, segundo eles, bons ou muito bons, salvo uma ou outra rara excepção para confirmar a regra.  E, naturalmente, sentem-se muito confortados com isso. 
Na Assembleia da República, e em nome da sacrossanta separação de poderes entre órgãos de soberania, assobia-se para o ar. Aliás, uma parte significativa dos deputados, ata e põe ao fumeiro as chouriças com que eles, ou sócios deles, se regalarão mais tarde. 

Saturday, March 25, 2017

O MILAGRE DE SÃO MARCELO - EPISÓDIO SEGUNDO*

(Marcelo diz que o herói do défice é o povo português)

...
Noc! noc! noc!
- Entra!... - Estimado Frutuoso, manda retirar essa porta logo que possível ...
- Retirar a porta???
- Isso mesmo: retirar, puxar para cima, de modo a que desprenda das dobradiças, e, já está!
  E, já agora, manda retirar também as outras.
- As outras ??? 
- As outras todas.
- As outras todas???
- Isso mesmo, as outras todas!
- Interiores e exteriores???
- Todas, é isso mesmo, todas! A minha, é uma presidência verdadeiramente aberta, ainda não entendeste, estimado Frutuoso?
- Mas no inverno ... chove ...
- Bom! No inverno ou quando chover, andaremos de capa de plástico e um gorro de defesa contra as frialdades. Já aqui estamos há um ano e continuas a bater à porta antes de entrar. Sem portas, deixas de bater, é só entrar ...
- Perturba-me ...
- O quê? O que é que te perturba, estimado Frutuoso?
- Perturba-me entrar e surpreender o nosso muito amado presidente a escrever com as duas mãos ao mesmo tempo ... fico com a sensação de estar a delirar ... Será milagre? Só pode ser milagre ... acho eu.
- Deixa-te de taumaturgias, e vamos ao que interessa ... O que temos hoje?
- O défice ...
- O défice?!! O que é que tem o défice?
- É pequeno demais ...
- É quê?
- Pequeno demais, segundo o Bloco.
- Essa é do careca ...
- Segundo o Bloco o governo deveria ter gasto mais 600 milhões ... Segundo os comunistas ...
- Quais?
- Os outros do mesmo lado...
- O que dizem os outros a propósito do défice?
- Dizem o mesmo, o que disseram os do Bloco, ou vice-versa, eles nunca se entendem sobre quem disse primeiro, dizem que o défice não devia ser tão curto. 
- E o que dizem os nossos?
- Que o défice é mais alto do que dizem, que foi maquilhado, que tem cativações, que não tem investimento, que tem perdões fiscais, que tem tudo o que não pode voltar a ter mais ..
- E depois?
- Depois logo se verá, responde o Governo que se gaba de ter conseguido o défice mais baixo dos últimos 42 anos ...
- Milagre?
- Não chegam a tanto mas andam lá por perto ... 
- É porque não são crentes. Este défice é um milagre, estimado Frutuoso. E sabes quem fez este milagre?
- Posso imaginar. Quem faz o milagre de escrever ao mesmo tempo com duas mãos é bem capaz de muito mais, digo eu, para não nomear o nome ao santo, mas branco é ...
- Não, estimado Frutuoso. Este milagre deve-se ao heróico povo português! É ao bom povo português, que devemos este milagre, e a quem todos os afectos que lhes dermos são poucos!... 
- Se assim for, e acredito piamente que assim seja, a canonização não tardará, e vai ser de arromba altares. 
- Oh! Frutuoso!!! Que blasfémia! 
- Não era essa a intenção, nosso bem amado Presidente. Mas li, há dias, algures*, que temos défice de santos. Não mais que dez, bem abaixo da média comunitária. Se há milagre, haverá canonização, e dez milhões de uma assentada é muito santo.
- Talvez, talvez ...mas faltam testemunhas...
- Somos todos testemunhas ...
- Ninguém é testemunha de si mesmo. E, repara: Para o Governo não houve milagre porque houve mérito; para as oposições nem uma coisa nem outra. 
- Pelo povo, só o nosso bem amado Presidente ...
- E tu, estimado Frutuoso. Testemunhas, são sempre precisas pelo menos duas. 
- Já somos três!
- Três???Qual é a outra?
- A Teodora. A Teodora disse que era milagre ... 
- Reconheça-se que foi ela a primeira a dizer ... Mas, milagre, só em Fátima, corrigi eu.
- Então, a canonização é possível!
- E constitucional. Prepara-me o processo de candidatura para entregar ao Francisco em Fátima.
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Aqui, o primeiro episódio
** Vd. aqui



Thursday, March 23, 2017

JUVENTUDE GLORIOSA

O sujeito, trintas, quarentas, estava dentro do carro mal estacionado num parque automóvel de um centro comercial, de telemóvel na mão.
Entrei no parque, ao passar ao lado do carro mal estacionado, reparei que ia sair um carro, mesmo em frente. Fiz sinal de que ia estacionar, formou-se atrás de mim uma fila impaciente, o carro em frente dificultava-me a manobra. Buzinei, o fulano olhou de lado, encolheu os ombros, e continuou atento ao telemóvel. Buzinei outra vez, e o sujeito nem olhou. Buzinei, buzinei, buzinei...
O sujeito sai do carro e vem na minha direcção.

- Qual é a ideia?
- Pelos vistos, nenhuma da sua parte. Está mal estacionado, não consigo estacionar, estão aí atrás várias pessoas à espera que eu estacione, e eu só posso estacionar se retirar o seu carro mal arrumado.
- Vou mas é tirar uma fotografia ao seu carro; se me aparecer alguma amolgadela, responsabilizo-o.
- Tire as fotografias que quiser, mas antes tire o seu carro mal estacionado.

Encolheu os ombros, e disse
- Sabe uma coisa? Estou a trabalhar para que possam pagar-lhe a reforma.
- Essa é boa! Mas quem é que lhe disse que eu sou reformado?

Entrou no carro, e saiu dali.

Tuesday, March 21, 2017

SE FOSSE EU A MANDAR

Quem passa pela Praça de Espanha, em Lisboa, não passa sem deparar-se com outdoors durante todo o ano. Refiro a Praça de Espanha como poderia referir outras praças de Lisboa ou de outras cidades deste país, mas se refiro a Praça de Espanha é porque, para além de cartazes de todo o ano de partidos políticos prometendo-nos, todos eles,  o melhor dos mundos, a Junta de Freguesia das Avenidas Novas colocou ali, e em outros locais da sua área, grandes cartazes com uma mensagem "SE FOSSE EU A MANDAR", acompanhada de fotografia de dois figurantes, e a indicação do anunciante - a Junta de Freguesia das Avenidas Novas

A mensagem pretende, segundo me disseram, convidar os fregueses (a designação é dúbia mas parece ter ganho raízes)  a participarem na eleição de três projectos sustentados por um minúsculo orçamento total de 150 mil euros. Quanto vai despender a Junta de Freguesia das Avenidas Novas na promoção do convite à participação dos seus fregueses se considerarmos que os outdoors são apenas uma parte, mas a mais visível, das despesas para promover a ilusão da participação no governo da freguesia?  

Reconheça-se que esta acção da  J F das Avenidas Novas, mais promocional dos políticos que das políticas, não é original nem pioneira. Outros municípios, outras juntas de freguesia, embarcaram alegremente nesta forma de iludir o pagode gastando-lhe dinheiro com proveito para a promoção política dos autarcas e o dos produtores dos outdoors. 

Para além da demagogia do dispêndio acresce a chocante conspurcação do ambiente. Naquela praça, como em outras praças, avenidas e ruas, deste país à beira da falência, os outdoors  sobrepõem-se à vegetação ali plantada transformando-a visualmente numa floresta de cartazes. E se outras as freguesias de Lisboa, ou todas, por que não?, se todas as freguesias deste país, colocassem outdoors a promoverem os seus orçamentos participativos? 
Alguém mais se indignaria? 



Que pensas tu disto, Sebastião José? (Clicá-lo para aumentá-lo)






A Junta é muito rica: Auto promove-se com outdoors, tamanho XL, com figurantes diferentes.

Monday, March 13, 2017

POLÍTICA POSITIVA*

"Núncio esteve ligado à criação de 120 novas sociedades na Zona Franca da Madeira.
Ex-secretário de Estado trabalhou para uma empresa que fez transferências não fiscalizadas pelo fisco. E esteve ligado, durante dez anos, à Zona Franca da Madeira. Os dados relativos à região autónoma foram os únicos que lhe levantaram dúvidas para não publicar estatísticas."aqui

A ver vamos como é que o ex-secretário Núncio vai descalçar esta outra bota depois das complicações que defrontou para descalçar a primeira.

A propósito, ocorre-me, por outro lado, uma dúvida: 
Como é que se explica que, durante cinco anos, ninguém no PS, a começar pelo ex-secretário de Estado Sérgio Vasques, autor da medida de publicitação, não tenha detectado a ausência da publicação das estatísticas de transferências para offshores? 



O CDS tem outdoors instalados exibindo uma foto da sua actual líder e uma mensagem simples, conforme as mais que testadas e elementares regras do marketing político.
O conteúdo é vazio de ideias mas funciona. 
Sempre que vejo este tipo de mensagens políticas, com que os partidos, todos os partidos sem excepção, conspurcam o horizonte, recordo-me de um anúncio que na década de 60 do século passado garantia : 
Toddy contém! Toddy contém porque contem mesmo!!!
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* O título original (Política Activa) foi corrigido.

Sunday, March 12, 2017

ANDAM TODOS A ASSOBIAR PARA O AR?

Há cerca de três semanas, anotei aqui  a minha tímida desconfiança sobre a consistência do anúncio do défice das contas pública de 2,1%, em 2016, o mais baixo em democracia, que nos libertaria do jugo do PDE, Procedimento por Défice Excessivo:

"O anúncio, à espera de confirmação pelo Eurostat, que, à última hora, geralmente acaba sempre por desacertar-nos as contas, de que o défice do ano passado teria ficado em 2,1%, não mereceu reparo da oposição à direita, que prefere continuar a assobiar para o ar o tiroliroliro dos sms trocados com o sr. Domingues, enquanto, não surpreendentemente, o BE critica o governo por não ter gasto tanto quanto poderia ter gasto se não tivesse exagerado nos cortes para situar o défice abaixo das exigências de Bruxelas. "

Na edição de ontem do ECO, a jornalista Margarida Peixoto confronta as posições contraditórias do primeiro-ministro a propósito das eventuais consequências das perdas da Caixa no défice das contas públicas. E a questão que se levanta aqui é a omissão do ministro das Finanças sobre o assunto quando anunciou o défice do ano passado. Uma omissão tanto mais grave quanto  é certo que ficámos a saber na quinta-feira que os prejuízos da Caixa em 2016 ficaram aquém daqueles que tinham sido previstos pela administração anterior que preparou, apresentou e conseguiu obter a aprovação de Bruxelas para a recapitalização da Caixa sem reflexos no valor do défice, segundo foi tornado público. 

Se tudo isto era conhecido,  e foi tornado público, como se explica que o INE e o Eurostat só irão analisar o impacto da recapitalização da CGD no défice das contas públicas nunca antes do fim deste mês de Março? Que a oposição tenha assobiado para o ar, compreende-se, porque parte dos prejuízos acumulados também ocorreu durante os seus quatro anos de governo,  mas o atraso de Bruxelas só pode explicar-se pela confusão de critérios que estão, e sempre estiveram, na origem dos incidentes financeiros que abalaram a União Europeia e, sobretudo, a Zona Euro. 


Friday, March 10, 2017

EMOCIONANTES

A história baseia-se na obra autobiográfica "A Long Way Home", de Saroo Brierley"

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A ver "Lion - A Longa Estrada para Casa " ocorreu-nos o filme do iraniano Maji Majidi, " "Filhos do Paraíso", nomeado para o Oscar "Melhor Filme Estrangeiro" em 1999.
Um filme a não perder quando voltar a uma sala de cinema ou a passar num dos canais de televisão.


Thursday, March 09, 2017

ACERCA DA CONFUSÃO DE NOMES

Afirmou ontem o sr. Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, que "qualquer negociação sobre o descongelamento das carreiras terá de passar pelo pagamento do retroactivo aos trabalhadores da função pública". "O Governo tem de assumir as suas responsabilidades pagando o que deve aos trabalhadores". - cf. aqui

Só os trabalhadores da função pública, sr. Arménio Carlos? 
E os pensionistas e os reformados que viram as suas pensões e reformas cortadas? 
E os trabalhadores dos sectores privados que viram os seus salários reduzidos e os seus horários de trabalho mantidos ou aumentados, não são gente neste país?   

Por outro lado, o sr. Arménio Carlos, e todos quantos neste país lêem pela mesma cartilha, confundem, para nos confundir, o Governo com o Estado e o Estado com os contribuintes. 
Porque o sr. Arménio Carlos sabe, toda a gente sabe ou deveria saber, que o Governo não paga nada, o Estado não paga nada, quem paga são os contribuintes, entre os quais, valha a verdade, também o sr. Arménio Carlos é suposto incluir-se. 

O Governo, este governo, qualquer governo, sr. Arménio Carlos, não paga, manda pagar. 
Manda a quem? Aos contribuintes!
De modo que o que o sr. Arménio Carlos, o sr. Mário Nogueira, a srª. Ana Avoila, quando reclamam melhores condições e retribuições para a função pública, se essas condições são aceites pelo governo quem paga são os contribuintes.

Se os senhores jornalistas não confundissem, também eles, governo com Estado e Estado com contribuintes, o sr. Arménio Carlos seria obrigado a mudar o tom das suas exigências.  

Wednesday, March 08, 2017

O JOGO DA CABRA CEGA

Os magistrados são quase todos bons ou muito bons, a Justiça é que não dá por isso.

"Em 140 magistrados avaliados, só dois foram considerados medíocres" - cf. aqui



Tuesday, March 07, 2017

ATENÇÃO A PUTIN

Há cinco anos, Putin foi reeleito presidente da Rússia.
A propósito, escrevi isto.
Hoje, o Financial Times publica aqui* um artigo que denuncia a teia tecida por Putin e os admirados e admiradores, populistas da extrema esquerda à extrema direita, que já lhe caíram na rede. 

Entretanto, passados cinco anos, a União Europeia não só não se uniu como ameaça agora desintegrar-se. O presidente da Comissão Jean-Claude Juncker apresentou há dias "O Livro Branco sobre o Futuro da Europa" - vd. aqui-, que pretende ser um conjunto de propostas alternativas submetidas à discussão pública dos povos dos países membros da União.

Como seria de esperar, porque os tempos não favorecem a coragem nem a frontalidade mas a demagogia populista-nacionalista, as primeiras reacções que o documento recebeu foram críticas à metodologia subjacente às intenções da Comissão. Juncker passou-se:  

“Gritamos aos quatro ventos que o debate é necessário e que é preciso ir ao encontro dos cidadãos e dos eleitores – que são cidadãos e não apenas eleitores – e quando o fazemos somos criticados. Então merda. Eu diria merda se não estivesse no Parlamento Europeu. O que que querem afinal que façamos?”, disse um veemente Juncker. - cf. aqui

Putin regozija-se, os putinistas rejubilam, cada qual para o lado que está virado. 
Jerónimo de Sousa, por exemplo, estará de costas voltadas, também, por exemplo, com Marine Le Pen, mas ambos esperam, e não escondem que esperam, que os nacionalismos submirjam as melhores intenções, que são poucas e débeis, para garantir a unidade dos europeus e, só desse modo, assegurar a continuidade da paz na Europa. 

Putin joga simultâneas em tabuleiros num e noutro lado do Atlântico num jogo em que os seus peões se multiplicam reproduzindo-se por contágio.
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* Transcrevo o artigo citado por considerar que deve merecer a mais alargada divulgação possível. Pela minha parte, esse possível é mínimo, é o que posso.

President Vladimir Putin’s ruling party has signed a co-operation deal with Italy’s far-right Lega Nord, deepening Russia’s ties with Europe’s populist movements. 
The deal marks the Kremlin’s latest attempt to develop formal links with populist groups ahead of elections this year in which the right is set to make gains. United Russia, the main pro-Kremlin party, signed a similar agreement late last year with the far-right Freedom party of Austria, whose leader Heinz-Christian Strache was narrowly defeated in December’s presidential election. The leader of Germany’s anti-immigration Alternative for Germany (AfD) party, Frauke Petry, also held talks with United Russia’s Viacheslav Volodin, speaker of the Duma, the lower house of parliament, during a visit to Russia last month. Moscow officials have hailed the rise of anti-establishment populist parties in Europe and Donald Trump’s victory in the US as signs that western governments will fail in their attempts to isolate Mr Putin’s regime following the 2014 annexation of Crimea. Gideon Rachman Le Pen, Trump and the Atlantic counter-revolution The two leaders share much, including nationalism, populism and protectionism Common cause in a conservative backlash against liberal values and criticism of the EU’s handling of the migrant crisis have allowed Moscow to build good relationships with European far-right parties including France’s National Front, Hungary’s Jobbik and Italy’s Lega Nord, or Northern League. Many of those parties approved of Russia’s annexation of Crimea and sent monitors who praised glaringly flawed elections in both Crimea and rebel-held eastern Ukraine. Although it is unclear what the Lega Nord agreement will entail, Sergei Zheleznyak, deputy Duma speaker, touted Russia’s willingness to lead a global anti-terror coalition alongside western nations as a priority for the Kremlin. “Russia is [Europe’s] neighbour,” Mr Zheleznyak said in a statement. “So it’s particularly strange that Europe isn’t making use of the unique experience fighting terrorism that we’ve built up in our country. Live event: The rise of the right Join FT Commentators in London on March 16 to discuss the rise of right-wing nationalism in Europe. Matteo Salvini, Lega Nord chairman, said his anti-immigration and anti-euro party would work “so that Italy has real parliamentary elections, just as open as in your country [Russia]”. The two parties will also develop ties in the Council of Europe, the Organization for Security and Co-Operation in Europe, and promote business links. Members of Lega Nord made up the bulk of an Italian delegation that visited Crimea in October, prompting protests from Ukraine. Claudio D’Amico, a senior Lega Nord member, was one of several European far-right politicians who monitored the rubber-stamp referendum that followed Russia’s annexation of the peninsula. The Netherlands, France and Germany will all hold general elections this year, with far-right parties expected to perform strongly.

Monday, March 06, 2017

ADEUS, EUROPA


Um filme de espantosa actualidade
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A CAIXA DE LOUÇÃ

O Prof. Louçã afirmou, em entrevista publicada aqui, que o plano de negócios da Caixa Geral de Depósitos é errado. E, do meu ponto de vista, é. Mas por algumas razões diferentes das apresentadas por Louçã. 

Do que conheço das suas linhas gerais, por terem vindo a público algumas apreciações críticas do documento, o plano de negócios elaborado pelo sr. António Domingues e a sua equipa conforma-se com as exigências do BCE, como condição sine qua non para a recapitalização da Caixa, em grande parte com dinheiros públicos, não ser considerada ajuda do Estado e, portanto, não agravar o défice das contas públicas. E as exigências do BCE impõem que a Caixa seja governada segundo critérios idênticos aos que estão subjacentes à banca privada. Com uma condição espúria: a suposta independência concedida à administração da Caixa sobreleva qualquer outra dominante em bancos de capitais privados, coibindo o governo em funções, enquanto representante do accionista, o Estado, entidade onde convergem os interesses e responsabilidades de todos os portugueses, de decidir em qualquer matéria que restrinja a capacidade pretensamente quase ilimitada da administração proceder como entender. Comentei aqui esta vertente do documento.

Critica Louçã que a seguradora Fidelidade tenha sido vendida (foram as perdas da Caixa que obrigaram esta e outras alienações de activos) e a Caixa amputada de um sector primordial como complemento da actividade bancária. A questão é, no mínimo, discutível e, de momento, inoportuna.

Defende Louçã que a Caixa não deverá reduzir a sua rede balcões, e, se as actividades em Espanha foram um desastre, há balcões no estrangeiro junto de comunidades emigrantes que justificam a presença da Caixa junto dessas comunidades.  
O acidente espanhol, sem que o condutor tenha sido julgado e condenado, mas transferido e promovido, deveu-se a arriscados créditos concedidos que se revelaram incobráveis. Se a Portugal faltam recursos financeiros parece absurdo que a Caixa exporte fundos que deveriam promover o crescimento em Portugal. Se a intenção é a canalização das poupanças dos emigrantes para Portugal, a forma mais eficaz é a recuperação da confiança perdida pelo sistema financeiro, tendo a Caixa enormes culpas no cartório. E não é visível, nem Louçã demonstra o contrário, que  a Caixa possa sair do atoleiro onde a meteram sem reduzir custos, o mesmo é dizer, sem dispensar os meios excessivos.

Mas é sobretudo a missão da Caixa, que Louçã não aborda nesta entrevista, que deveria merecer um debate avaliador do nível de consenso possível sobre o que se espera de um banco público, administrado como banco privado, que justifique a sua razão de existir. Do ponto de vista de Louçã, a propriedade pública sustenta-se em princípios ideológicos que sobrelevam quaisquer outros, tão inamovíveis quanto os sacrossantos direitos da propriedade privada defendidos pelos ultra liberais. Qualquer discussão balizada por cerradas barreiras ideológicas é inútil. 

Louçã poderia, por exemplo, defender que a Caixa, como banco público, fosse exemplar no repúdio de actividades especulativas, as eufemisticamente designadas operações de intermediação em fundos de investimento, ou transacções com offshores. Há muito tempo já, anotei neste caderno de apontamentos a necessidade de criar "bancos verdes", não poluídos, nem susceptíveis de virem a ser, de activos tóxicos; e que só esses poderiam contar, em última instância, do respaldo dos contribuintes. 

Poderia, mas nisso cairia em contradição com as suas convicções ideológicas, um chapéu de abas mais largas que as da teoria económica em que Louçã é catedrático.

Friday, March 03, 2017

UM HOTEL COM A PIOR VISTA DO MUNDO




"Banksy abriu um hotel na Cisjordânia. 
Que tem “a pior vista do mundo” 
 vd. aqui ou aqui.
Arte, guerra, muros, turismo, quatro temas em reunião perversa.

Wednesday, March 01, 2017

TRUMP E A DEFESA DO ATAQUE

Os noticiários do mundo, vd. aqui, p.e., dão hoje destaque ao discurso de Mr.Trump ontem no Congresso, e os títulos não divergem: Mr. President Trump baixou o tom e amaciou as mensagens, mas confirmou o que já vinha anunciando: mais 10% da despesa com a defesa para o Pentágono,  54 mil milhões de dólares, outro tanto a menos para todos os departamentos não directamente envolvidos na defesa e segurança do país, o mesmo é dizer, menos para a protecção social, menos para a saúde, menos para a educação, menos para a defesa do meio ambiente.
Confirmou ainda, sem detalhar, um enorme programa de investimentos em infraestruturas que será suportado pelo crescimento económico que, promete Mr. President, triplicará ao longo do seu mandato. 

Que fará o Pentágono com tanto dinheiro? 
O Pentágono é que sabe o que deve fazer, responde Mr. Presidente, que, no entanto, já garantiu que "a América vai ganhar todas as guerras". 
Resumindo: segundo Mr. Trump, a melhor estratégia é aquela, antiga e nem sempre bem sucedida, que  garante que a melhor defesa está no melhor ataque.

Foi muito aplaudido.
Aconteça o que acontecer, nunca ninguém poderá um dia atribuir a Mr. President Trump a inteira responsabilidade das consequências deste programa dito em tom mais manso mas não menos agressivo. 



Mr. Putin ouviu e disse que logo se verá.