Tuesday, March 28, 2017

INTELIGÊNCIA CONCORRENCIAL


Chamam-lhe "inteligência artificial" mas a designação é imprecisa porque um robô apenas se distingue de outros artefactos que a humanidade foi desenvolvendo ao longo de milénios, com o intuito de substituir o esforço humano na produção de bens e serviços, pela utilização dos desenvolvimentos científicos nomeadamente da área que, grosso modo, se designa por ciência da computação. Será o seu impacto nas relações sociológicas no futuro superiores, em termos relativos, à invenção da roda, do motor de combustão, da lâmpada de Edison, por exemplo? Sem dúvida, que sim, porque a humanidade cresceu exponencialmente e o planeta, em termos de distância-tempo, encolheu. 

A globalização, apesar das reacções violentas que suscita, vai continuar, salvo se a humanidade se auto liquidar. O planeta não é extensível e não há muros de pedra ou cimento que sustenham a inevitável e crescente mobilidade das pessoas entre todos os cantos do mundo. Globalização significa concorrência, competitividade, e competitividade determina, além do mais, redução do trabalho humano necessário para os mesmos volumes de produção. E os robôs, sem exigências,  salariais nem quaisquer outras, para além de manutenção mínima, não são entes inteligentes mas artefactos concorrentes do emprego humano concebidos e produzidos pelo homem. 

O futuro pacífico da humanidade, se não estiver comprometido pela escassez de recursos naturais - a água, por exemplo - passa pela introdução de meios e políticas que amorteçam os conflitos sociais decorrentes da crescente escassez do trabalho a nível mundial. Não haverá trabalho para todos mas a solução não passa pela destruição dos robôs. O estado social, que tantos diabolizam nestes tempos em que o populismo cresce como escalracho, é a única via para a humanidade sobreviver à crescente e generalizada redução do emprego. Não, por acaso, começam a a parecer propostas de pagamento de salários condignos a quem opta por aceitar não trabalhar. 

Contudo, o crescimento exponencial observado no gráfico, nos últimos cinco anos, e previsto até ao fim desta década, não parte de uma base relativamente reduzida, há quatro décadas. Em 1980, escrevia Jean-Jacques Servan-Schhreiber em "O Desafio Mundial": Há hoje cerca de sessenta mil robots no total, no mundo, instalados em fábricas, como os que vimos na Toyota. A sua localização é a seguinte: 6000 robots na Alemanha Federal, 3200 nos Estados Unidos, 600 na Suécia, 300 em França, 180 na Grã-Bretanha, uma centena, ou menos, em meia dúzia de outros países, e 47000 no Japão". 

A deslocalização da indústria não foi apenas pressionada pela concorrência salarial. A liderança japonesa na indústria automóvel contou bastante com a robotização. Quando o sr. Trump promete aos desempregados de Detroit recuperar a indústria automóvel norte-americana e criar milhares e milhares de novos empregos, e abolir o incipiente estado social norte-americano, em que empregos está a pensar Mr. Trump?

Seguramente no dele, da família dele, e dos amigos mais chegados.  

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O gráfico é copy/paste deste  artigo publicado esta semana no Economist.

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